@PHDTHESIS{ 2020:1135415053, title = {Associação de maus-tratos na infância e declínio cognitivo no idoso}, year = {2020}, url = "http://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/9216", abstract = "O envelhecimento populacional ocorre de sobremaneira nos países em desenvolvimento. Tal fato modifica o perfil de saúde e doença na população, prevalecendo as doenças crônico-degenerativas sobre as agudas e infecciosas. Dentre as alterações de características crônicas, destaca-se o declínio cognitivo, altamente prevalente no mundo, e que está presente nas síndromes demenciais, representando um problema de saúde pública. Essa alteração afeta a capacidade funcional do indivíduo no seu dia a dia, implicando perda de independência e autonomia. A Organização Mundial de Saúde (OMS) destaca que o impacto é mais intenso em países de baixa e média renda, o que está relacionado ao subdiagnóstico e subtratamento no contexto da atenção básica (AB). Além disso, outros fatores contribuem para a complexidade do declínio cognitivo na faixa idosa, dentre os quais destaca-se a comorbidade com transtornos depressivos, contribuindo para a severidade do quadro psiquiátrico. Nas últimas décadas, a violência passou a ser uma das principais causas de morbimortalidade, principalmente na população de adolescentes e adultos jovens das grandes cidades. Entretanto, existem poucos estudos sobre maustratos na infância, tendo como enfoque as consequências no idoso. A presença de maus-tratos na infância também é um problema de saúde pública e que frequentemente desempenha um impacto restritivo na infância e durante toda a vida, estando associada a um diverso número de transtornos psiquiátricos e alterações comportamentais. Este é um estudo transversal com coleta prospectiva que objetivou examinar as possíveis associações entre maus-tratos na infância e o declínio cognitivo em uma amostra aleatória estratificada de idosos cadastrados pelo programa Estratégia Saúde da Família (ESF) do Município de Porto Alegre. Para o desenvolvimento do trabalho, os dados utilizados são provenientes de duas etapas de coleta: 1) etapa de rastreamento: com coleta de dados sociodemográficos, multidimensionais de saúde e de Sintomas Depressivos Clinicamente Significativos (SDCS) com: a Escala de Depressão Geriátrica de 15 itens (EDG-15) em visita domiciliar por Agentes Comunitários de Saúde (ACS), o Vellore (instrumento de rastreio para comprometimento cognitivo), o 8 questionário Informant Questionnaire on Cognitive Decline in the Elderly (IQCODE) para quem apresentasse alteração no Vellore, o Questionário para Atividades da Vida Diária – Activities of Daily Living Questionnaire (ADLQ); e 2) entrevista especializada com: avaliação diagnóstica de transtornos psiquiátricos, utilizando-se a versão brasileira validada do Mini International Neuropsychiatric Interview 5.0.0 plus (M.I.N.I. 5.0.0 plus BR) – admitindo-se os critérios da 5ª edição revisada do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) como padrão ouro; avaliação cognitiva, através do Exame Cognitivo de Addenbrook Revisado – Addenbrooke’s Cognitive Examination-Revised (ACER) e do Mine Exame do Estado Mental (MEEM), que está contido no ACE-R; avaliação dos sintomas neuropsiquiátricos, feita pelo Questionário de Inventário Neuropsiquiátrico – Neuropsychiatric Inventory Questionnaire (NPI-Q); e avaliação sobre presença e tipo de maus-tratos na infância, usando-se o Childhood Trauma Questionnaire (CTQ). O presente trabalho objetivou: 1) estudar a prevalência de maus-tratos na infância de pacientes idosos cadastrados no ESF do município de Porto Alegre- RS, Brasil; 2) analisar os tipos de maus-tratos mais frequentes nessa população; 3) estimar a presença de sinais e sintomas comportamentais e psicológicos em pacientes com declínio cognitivo; 4) estudar as prevalências de transtornos cognitivos e a sua relação com a presença e o(s) tipo(s) de maus-tratos na infância. Como produto deste trabalho, um artigo científico de revisão integrativa e um artigo de reflexão bioética foram produzidos e já publicados e outros dois estão em processo de confecção, cada qual investigando um dos objetivos acima descritos. No trabalho de revisão integrativa, fizeram parte da amostra um total de 10 artigos. Com base nos resultados obtidos, foi possível concluir que os maus-tratos na infância possuem associação com o declínio da função cognitiva no idoso. Já o artigo de reflexão bioética, do qual fizeram parte 09 artigos, pode possibilitar a conclusão de que os maus-tratos na infância e na velhice possuem semelhanças, sobretudo em relação ao agente agressor. Nos outros dois trabalhos, a serem publicados ainda, foram coletados os dados de 274 idosos, existindo 59,8% dos pacientes com demência conforme o MEEM, 37,5% conforme o ACE-R e 69% de declínio cognitivo conforme o ACER. Há uma diminuição do escore dos subdomínios atenção e orientação do ACE9 R na medida em que aumenta a carga de maus-tratos – CTQ (rs= -0,14; P= 0,024). Na faixa de 70 a 79 anos, com escolaridade de 8 a 11, houve correlações estatisticamente significativas, inversas e de moderadas a forte entre CTQ e os domínios atenção e orientação, viso espacial e o MEEM (rs= -0,56, P= 0,011; rs= -0,57, P= 0,008; rs= -0,48, P= 0,032, respectivamente). Na faixa dos maiores de 80 anos, na escolaridade de 4 a 7 anos, houve uma correlação estatisticamente significativa, inversa e forte entre CTQ e ACE-R (rs= -0,66, P= 0,014) e entre CTQ e viso espacial (rs= -0,63, P= 0,022). Houve diferença na distribuição de CTQ para a renda, sendo que sujeitos com renda de 2 a 4 salários mínimos tinham maior pontuação no CTQ (maior carga de maus-tratos) se comparados a sujeitos com 4 salários mínimos ou mais. Indivíduos com companheiro tinham pontuações menores de CTQ (menor carga de maus-tratos) quando comparados com indivíduos sem companheiro, e esta diferença foi estatisticamente significativa (P= 0,019). Quando comparados os pacientes com e sem demência para o MEEM e para o ACE-R, pacientes com demência tem pontuações mais altas no NPI (sintomas neuropsiquiátricos) em relação a pacientes sem demência (P<0,001), assim como os pacientes com declínio cognitivo tiveram pontuações mais altas no NPI que pacientes sem declínio (P<0,001). Houve uma correlação direta e estatisticamente significativa entre o CTQ total e o NPI (rs= 0,13, P= 0,032). À medida que aumenta CTQ, aumenta o NPI. Dentre os pacientes sem demência pelo ACE-R, houve uma correlação estatisticamente significativa e direta entre CTQ total e NPI (rs= 0,20, P= 0,012). À medida que aumenta a carga de maus-tratos, aumenta a presença de sintomas neuropsiquiátricos. Além disso, os maus-tratos na infância apresentaram evidente relação com o desencadeamento e perpetuação de transtornos psiquiátricos e ansiosos ao longo do ciclo vital. Quando analisada a relação entre o CTQ e a presença ou não de transtornos psiquiátricos, foi possível detectar que pacientes com depressão, com risco de suicídio, com transtornos ansiosos, com transtornos de ansiedade generalizada, e com a presença de algum transtorno tiveram pontuações significativamente maiores que pacientes sem cada um destes transtornos. Pacientes com transtornos ansiosos têm maior carga de maustratos na infância do que pacientes sem transtornos ansiosos atuais ou na vida. 10 Os transtornos mais associados à maior carga de maus-tratos foram a agorafobia e a fobia social. E houve um aumento do número de transtornos ansiosos na velhice para sujeitos que tiveram maior carga de maus-tratos na infância. Com o envelhecimento populacional e o aumento do declínio cognitivo no mundo, cada vez mais torna-se importante a ampliação do conhecimento acerca desta patologia e de suas associações com a presença de maus-tratos na infância. Os resultados evidenciados neste estudos são preocupantes e lançam luz para importantes problemas de saúde pública. Entretanto, a operacionalização de equipes de saúde locais trazem esperança para um modelo de implementação estratégica de ações em saúde mental do idoso, já que apontam que “profissionais leigos” podem ter um papel fundamental na detecção precoce da presença de alterações cognitivas na comunidade e na AB. Os estudos permitiram examinar problemas importantes de saúde, trazendo dados de alta prevalência de declínio cognitivo e de demência, bem como da ocorrência de maus-tratos na infância nessa população. Assim, fazse necessário a implementação de um modelo estratégico e ativo de ação para abordagem preventiva na saúde mental de idosos, pois utilizando ferramentas de baixo custo (escalas de rastreamento), é possível a identificação de casos de alteração cognitiva, em fase inicial, de casos severos, bem como auxiliar na identificação daqueles idosos que possam ter sofrido algum tipo de maltrato na infância.", publisher = {Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul}, scholl = {Programa de Pós-Graduação em Gerontologia Biomédica}, note = {Escola de Medicina} }