@MASTERSTHESIS{ 2019:982683626, title = {Os coletivos criminais de Porto Alegre entre a “paz” na prisão e a guerra na rua}, year = {2019}, url = "https://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/10345", abstract = "No ano de 2016, inúmeros homicídios se concentraram, em efeito dominó, por alguns bairros de Porto Alegre. Desde o início da década de 80 e até 2018, esse foi o ano em que houve maior número de homicídios na capital, tornando-a uma das mais violentas do país. Algumas das características presentes nessas mortes sugeriam que algo estava ocorrendo nas relações do crime. Concomitantemente, na Cadeia Pública de Porto Alegre, principal prisão do estado e onde convive uma multiplicidade de grupos criminais, os homicídios entre presos vinham caindo consideravelmente. De forma geral, a reflexão que serviu de estímulo a esse trabalho circunda as relações existentes entre os grupos criminais e a violência letal. Analisando o universo social da prisão, bem como o cenário de alguns dos bairros do município, busca-se compreender o caldo de relações sociais que possibilitou a coexistência entre um processo de “pacificação” da prisão e a recente emergência de um ciclo de mortes do lado de fora de suas muralhas – investigando, nesse interim, a presença da violência como recursivamente reproduzida nas ações de integrantes de agrupamentos. Para tanto, foram feitas entrevistas com um conjunto de atores sociais: presos, policiais, atores do sistema de justiça, adolescentes cumprindo medida socioeducativa em meio fechado e aberto e moradores de regiões de periferias. Ainda, utilizou-se de dados advindos da observação de bocas de venda de drogas e de grupos online de moradores de bairros com forte presença de coletivos criminais, da sistematização de conversas informais e da análise documental. No primeiro capítulo, recuperase o processo compreendido entre o surgimento da Falange Gaúcha na Cadeia Pública – primeiro grupo da capital, cuja emergência foi acompanhada de incessantes instabilidades como motins, rebeliões e homicídios entre presos – até a acomodação atual das relações sociais internas, que desvelou na “pacificação” da prisão. Essa análise é feita levando-se em conta as táticas empregadas pelos policiais a fim de assegurarem a “ordem” no estabelecimento, as mudanças percebidas nos mercados da droga, no âmbito da legislação e no aprisionamento. No segundo capítulo, busca-se reconstituir o que os interlocutores chamaram de a guerra, a fim de compreender as relações que desaguaram nesse período do crime em Porto Alegre. Tal reconstituição abrange as transformações percebidas nas redes de tráfico nos últimos anos, especialmente marcadas pela constituição de embolamentos – frentes de alianças – através do apoio, um mecanismo que prevê a reciprocidade no crime. Pode-se perceber que, com a guerra e a partir das negociações internas ao presídio, o crime polarizou-se entre dois grandes embolamentos – Bala na Cara e Antibala – redimensionando conflitos microlocais e englobando os grupos da capital em torno do binômio aliados e contras. A reordenação dessas dinâmicas provocou impactos para a circulação urbana da juventude periférica do município, acirrou a produção de identidades coletivas constituídas, pelos grupos, em oposição aos contras e alterou os padrões para o uso da violência, que se tornaram muito mais extremos e adquiriram um caráter simbólico, com fins de tocar o terror nos contras. Por meio dos atentados e da “caça” aos contras, orientados antes a enfraquecer a moral do embolamento inimigo do que a cobrar indivíduos específicos, ampliaram-se as vítimas em potencial e foi inaugurado um ciclo retaliatório de violência letal. Assentada sobre outros arranjos, foi possível constatar que a “pacificação” da prisão decorreu não da alienação do uso da violência como recurso estruturante dos grupos, mas de acordos feitos com os agentes do Estado e entre diferentes grupos criminais, acomodando interesses de todos eles a partir da máxima de que a guerra existe, mas deve ser travada na rua. Assim, a “paz” resultou da priorização, por parte dos coletivos, dos benefícios adquiridos pelos fluxos entre o dentro e o fora, o que contribuiu para que substituíssem a lógica da conquista prisional pela do gerenciamento dos contras – lançando mão do espaço, da autonomia e do poder internos, pactuados com a administração em troca da manutenção da “ordem”, para se fortalecerem na rua e capitalizarem-se no crime.", publisher = {Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul}, scholl = {Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais}, note = {Escola de Humanidades} }