ESCOLA DE COMUNICAÇÃO, ARTES E DESIGN ? FAMECOS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO MESTRADO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL MATHEUS PASSOS BECK SCHADENFREUDE: O ENQUADRAMENTO DA RIVALIDADE NO AGENDAMENTO DA DOR DO OUTRO Porto Alegre 2018 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL 0 MATHEUS PASSOS BECK SCHADENFREUDE: O enquadramento da rivalidade no agendamento da dor do outro Porto Alegre 2018 MATHEUS PASSOS BECK 1 SCHADENFREUDE: O enquadramento da rivalidade no agendamento da dor do outro Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Comunicação Social da Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, como parte dos requisitos para a obtenção do título de mestre. Orientador: Prof. Dr. Jacques Alkalai Wainberg Porto Alegre 2018 MATHEUS PASSOS BECK 2 SCHADENFREUDE: O enquadramento da rivalidade no agendamento da dor do outro Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Comunicação Social da Faculdade de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, como parte dos requisitos para a obtenção do título de mestre. Aprovado em: ____ de _______________ de ______. BANCA EXAMINADORA: __________________________________ Prof. Dr. Jacques Alkalai Wainberg - PUCRS __________________________________ Profa. Dra. Juliana Tonin - PUCRS __________________________________ Prof. Dr. Arlei Sander Damo - UFRGS 3 Para Laion Espíndula e Zenilda Vieira Ribas (in memorian) AGRADECIMENTOS 4 Dado que nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo, eu, como parte do continente, preciso estender a autoria desta dissertação a todos que, de alguma maneira, cruzaram por mim, formando, deformando e reformando o que sou. Ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em especial ao meu professor e orientador Jacques Alkalai Wainberg, por ter dado a segurança necessária para que seguisse meus próprios passos. Aos professores Juremir Machado da Silva e Arlei Sander Damo, orientadores de outrora e fontes de inspiração desde sempre, e a professora Juliana Tonin, por terem aceito o convite e se disponibilizarem a avaliar este trabalho. Aos professores Antonio Hohlfeldt, Cláudia Moura, Cristiane Finger, Cristiane Freitas, André Pase, Cristiane Mafacioli, Dóris Hausen, Roberto Ramos, Valderez Lima, Vera Wannmacher e todos aqueles que contribuíram para a minha formação neste Mestrado. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), cujo incentivo foi determinante para a realização desta dissertação. Aos colegas do Grupo de Pesquisa Comunicação, Emoção e Conflito (GPCEC) e da Sessões do Imaginário, pelas luzes nascidas das discussões que ajudaram a clarear meu caminho. Aos colegas da Especialização em Jornalismo da UFRGS, em especial à Andreza Stefani e ao Gustavo Bandeira, pelas orientações acadêmicas, mas, principalmente, pela paciência e pelo ombro amigo em momentos difíceis. Ao Matheus Schenk, pelo sonho do Non Sense Football, assim como a todos os colegas de Zero Hora, Ulbra TV, TXT, VF Promoções, Polo Sul e demais lugares pelos quais passei. Aos amigos Renato, Alexandre, Rogério, Antônio, Romildo, André, Odorico, Marcelo, Edilson, Pedro, Walter, Bruno, Arthur, Jaílson, Michel, Cícero, Luan, Ramiro, Luiz Fernando, Lucas, Éverton, Jael, Paulo, Matheus, Rafael, Leonardo e todos os demais que sublimaram todas as minhas expectativas no último biênio. Aos amigos Tomaz Zasso, Rafael Pesce, Fábio Brito, Adriane Adami, Shana Martini, Manuela Kanan, Aline Peres, Luiz Cabral, Marcelo Conter, Gabriel Saikoski, André Ávila, Rafaella Tedesco, Alan Santana, Manuela Cunha e Rafael Diverio — com quem nunca tive 5 qualquer tipo de rivalidade e que poderia estar em qualquer grupo (colega, amigo, irmão) pelo apoio que me ofereceu em todos os momentos difíceis desde 2003, às vezes com simples gestos, como o de me aceitar em uma ceia de Réveillon no mais complicado Ano-Novo. Às minhas afilhadas, Isadora e Mariana, as duas estrelas mais brilhantes que pulsam no meu coração. Ao meu avô, Edelson de Oliveira Passos, meu goleiro nos jogos de garagem; ao meu avô Rudy Beck, o legítimo Beckão do Interior que protegia todo o campo; à minha avó Zulma da Silva Vieira Passos, minha treinadora mais experiente; à minha avó Célia Goetz Beck, a mais forte de todas as fortalezas; às minhas professoras, Aldina Rodrigues e Edilce Biques, que não precisaram de educação formal para me ensinar sobre a vida. Aos meus irmãos, Igor Passos Henning, minha primeira e mais celebrada conquista, e Clarissa, Paula e Ana Clara, trio que personifica o fantasma foucaultiano que rege meus pensamentos. Ao meu pai, Valmir Beck, meu primeiro abraço no título brasileiro de 1996; e ao meu outro pai, Fernando Braf Henning Júnior, meu primeiro abraço no título da Libertadores de 1995. À minha mãe, Lúcia Helena Vieira Passos, meu primeiro abraço na Copa do Brasil de 2016, na Copa do Mundo de 1994 e muitos outros antes mesmo de eu existir; à minha outra mãe, Vera Lúcia Vieira Passos, meu primeiro abraço colorado e minha maior fã (quando, na verdade, eu sou seu maior fã). À minha Fernanda Figueiredo Blauth, que me faz sentir vencedor desde 2015, e não apenas eu, mas o Uke, a Bedi e a She também. Por fim, dedico esta dissertação à minha tia-avó Zenilda Vieira Ribas, que era a maior crítica daqueles que amava, mas também era sua primeira e maior defensora; e ao amigo Laion Espíndula, o sorriso mais fácil das salas de aula e das salas de imprensa da Dupla Grenal, eterno camisa 4 do meu time. “And I thank the Lord for the people I have found” Elton John 6 “Dream the dreams of other men You'll be no one´s rival Dream the dreams of others, then You will be no one´s rival” Eddie Vedder “A gente briga, mas a gente se ama” Zenilda Vieira Ribas RESUMO 7 A emoção deixou de ser um conceito marginal para ocupar boa parte da literatura recente na Comunicação Social. Dentro do jornalismo, ela gera repulsa, atração e, especialmente, incertezas sobre sua real função. O que nos parece inconteste, entretanto, é seu constante uso retórico na construção de discursos. Nesta presente pesquisa, cabe-nos investigar a construção discursiva do conceito de rivalidade no futebol por meio das emoções. Em particular, o emprego da Schadenfreude, o regozijo com o insucesso alheio, como elemento constitutivo das narrativas esportivas. Como objeto, analisaremos as “narrações torcedoras” dos aplicativos Gremista Gaúcha ZH e Colorado Gaúcha ZH, nas quais os jornalistas se posicionam ao lado do público ao qual direcionam suas mensagens, em oposição à narração convencional do rádio e da imprensa. Para esta investigação, será adotado como procedimento a Análise de Discurso (AD), baseada nos conceitos de Charaudeau (2004a; 2004b; 2015) e Pêcheux (1990; 1995), com o intuito de identificar as visadas discursivas, o destinatário idealizado pelo enunciador e as referências ao rival. Como metodologia, será adotada a Hermenêutica de Profundidade (HP) conforme as designações de Thompson (2011). Este trabalho fundamenta-se ainda nos conceitos jornalísticos de McCombs (2009), Traquina (2000; 2008) e Wolf (2012), sócio-esportivos de Caillois (1990), Damo (2002; 2015), Elias e Dunning (1992), Franco Júnior (2007), Giulianotti (2010), Helal (1990; 1997; 2001) e Huizinga (2010), e psico-sócio-antropológicos sobre emoção de Damásio (2000), Ekman (2011) e Rezende e Coelho (2010). Palavras-chave: Comunicação. Discurso. Futebol. Emoção. Grenal. ABSTRACT 8 Emotion ceased to be a marginal concept to occupy much of the recent literature in Social Communication. Within journalism, it generates revulsion, attraction, and, especially, uncertainties about its real function. What seems incontestable, however, is its constant rhetorical use in the construction of discourses. In this present research, we must investigate the discursive construction of the concept of football rivalry through emotions. In particular, the use of Schadenfreude, the joy with other's failure, as a constituent element of sports narratives. As an object, we will look at the "cheering narratives" of the Gremista GZH and Colorado GZH applications, where journalists stand next to the audience to whom they direct their messages, as opposed to conventional radio and press narration. For this investigation, Discourse Analysis (AD), based on the concepts of Charaudeau (2004a; 2004b; 2015) and Pêcheux (1990; 1995), will be adopted as a procedure in order to identify discursive visions, the addressee idealized by the enunciator and references to the rival. As a methodology, Depth Hermeneutics (HP) will be adopted as assigned by Thompson (2011). This work is based on the journalistic concepts of McCombs (2009), Traquina (2000; 2008) and Wolf (2012), socialsports of Caillois (1990), Damo (2002; 2015), Elias and Dunning (2000), Helal (1990, 1997, 2001) and Huizinga (2010), and psycho-socio-anthropological about Emotion of Damásio (2000), Ekman (2011), and Rezende and Coelho (2010). Keywords: Communication. Speech. Football. Emotion. Grenal. LISTA DE ILUSTRAÇÕES 9 Figura 1 – Narração Uol Esporte.............................................................................................. 99 Figura 2 – Narração Gremista GZH ......................................................................................... 99 Figura 3 – Narração Colorado GZH ......................................................................................... 99 Figura 4 – Tom emocional do Grenal 410 .............................................................................. 100 Figura 5 – Emoções positivas do Grenal 410 ......................................................................... 101 Figura 6 – Emoções negativas do Grenal 410 ........................................................................ 102 Figura 7 – Narração Uol Esporte............................................................................................ 107 Figura 8 – Narração Gremista GZH ....................................................................................... 107 Figura 9 – Narração Colorado GZH ....................................................................................... 107 Figura 10 – Tom emocional do Grenal 411 ............................................................................ 108 Figura 11 – Emoções positivas do Grenal 411 ....................................................................... 109 Figura 12 – Emoções negativas do Grenal 411 ...................................................................... 110 Figura 13 – Narração Uol Esporte.......................................................................................... 117 Figura 14 – Narração Gremista GZH ..................................................................................... 117 Figura 15 – Narração Colorado GZH ..................................................................................... 117 Figura 16 – Tom emocional do Grenal 412 ............................................................................ 118 Figura 17 – Emoções positivas do Grenal 412 ....................................................................... 119 Figura 18 – Emoções negativas do Grenal 412 ...................................................................... 120 SUMÁRIO 10 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 11 2 EMOÇÃO E JORNALISMO ...................................................................................... 15 2.1 CONCEITOS DE EMOÇÃO.......................................................................................... 16 2.2 SCHADENFREUDE ....................................................................................................... 22 2.3 HISTÓRIA E VALORES DO JORNALISMO ............................................................... 26 2.3.1 Agendamento .................................................................................................................. 27 2.3.2 Enquadramento ............................................................................................................... 29 2.3.3 Gatekeeping..................................................................................................................... 32 2.3.4 Advocacy Journalism ...................................................................................................... 34 3 JOGO, ESPORTE E FUTEBOL ................................................................................ 36 3.1 CONFLITO E VIOLÊNCIA SIMBÓLICA .................................................................... 47 3.2 RIVALIDADE, O ENCONTRO DA IDENTIDADE COM A ALTERIDADE.............. 51 3.3 DISCURSO ESPORTIVO, NARRATIVA ESPORTIVA................................................ 53 3.4 DO GRENAL À GRENALIZAÇÃO................................................................................ 64 4 O DISCURSO SOBRE A DOR DO OUTRO ............................................................. 75 4.1 HERMENÊUTICA DE PROFUNDIDADE ................................................................... 77 4.2 ANÁLISE DE DISCURSO ............................................................................................ 80 4.3 PROPOSTA DE INVESTIGAÇÃO................................................................................ 85 5 GRENAL: EMOÇÃO MINUTO A MINUTO............................................................ 88 5.1 INTERSECÇÃO DAS LINGUAGENS ORAL E ESCRITA .......................................... 90 5.2 ANÁLISE DAS NARRATIVAS NEUTRA E TORCEDORA DO GRENAL................. 95 5.2.1 Grenal 410 ....................................................................................................................... 96 5.2.2 Grenal 411 .................................................................................................................... 102 5.2.3 Grenal 412 .................................................................................................................... 111 5.3 CONCLUSÕES ............................................................................................................ 121 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 126 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 129 ANEXO A – TRANSCRIÇÕES DOS GRENAIS 410, 411 E 412 ........................... 135 1 INTRODUÇÃO 11 Não existe futebol sem rivalidade, sem o rival, sem o outro. O embate com o antagonista. O confronto com o algoz. O jogo de bola, como outros esportes coletivos modernos, é, em sua essência, um duelo de forças opostas. Ganhar significa sobrepujar o oponente. Perder significa ser superado por ele. Tudo em equilíbrio de valências e igualdade de potências. Desde sua criação, na Inglaterra do século XIX, o esporte bretão coloca em disputa a hegemonia de polos opostos. Antes mesmo da unificação das regras e da padronização dos estilos que o levou para dentro das escolas públicas, o futebol já simbolizava as tensões sociais e políticas da sociedade inglesa (DUNNING, 2006). Quando começaram efetivamente os jogos de futebol, a rivalidade era entre instituições de ensino da elite burguesa. Mais adiante, com a popularização do esporte, ele passou a incluir uma disputa de classes, devido à sua inserção dentro da classe trabalhadora e a decorrente profissionalização (HOBSBAWM, 1968). E, nas últimas décadas daquele século, a exportação para países de fora da GrãBretanha fomentou o desenvolvimento de rivalidades internacionais carregadas de motivações políticas com a tentativa de propagação de um modelo econômico e cultural. A rivalidade é parte formadora da sociedade moderna, através das tensões entre suas camadas, sejam elas étnicas, geográficas, religiosas ou tantas outras (FRANCO JÚNIOR, 2007). O futebol, como representação e extensão dessa sociedade, também possui tensionamentos em sua formação. Em Glasgow, a rusga religiosa criou uma rivalidade histórica entre Rangers e Celtic. Quando um desses times vai jogar na capital Edimburgo contra o Hibernian ou o Heart of Midlothian, por exemplo, a disputa passa a ser geopolítica. Porém, quando, em algum momento, os jogadores se reúnem na Seleção Escocesa para enfrentar a Inglaterra, a rivalidade local é atenuada e as forças são igualadas para enfrentar um inimigo maior. Ela segue existindo, mas varia em maior ou menor grau. A construção da imagem do inimigo, aliás, é essencial para a formação de nossa própria identidade (HALL, 2002). Não é importante apenas criar nossa imagem pelo que somos senão pelo que não somos, ou quem não somos. A dicotomia da rivalidade, em verdade, se opõe à noção de alteridade, segundo a qual o sujeito não pode ser definido sem a presença do outro. O indivíduo não existe sem o contato com o meio social. Aplicando essa ideia ao futebol, Damo (2015) acrescenta, apropriadamente, que “adversários de um jogo são [...] parceiros de um evento. Afinal, o jogo suscita a presença de um outro contra quem, mas 12 também com quem, se joga” (p. 73). O jogo existe porque existe o outro. Se não o reconheço, talvez não reconheça a mim mesmo. Algumas rivalidades alcançaram dimensão tamanha que passaram, elas mesmas, a ser algo à parte dentro do universo do futebol. Tornaram-se, em si, fontes de histórias, de estatísticas, de conteúdo midiático, assuntos de reportagens, temas de pesquisas, entre outros tantos caráteres assumidos conforme a abordagem. Uma rivalidade pode explicar, por exemplo, determinado contexto social e todas as suas nuances. Quando este duelo é regional, denomina-se dérbi. É o confrontamento entre agremiações vizinhas, que compartilham um ambiente em comum. No mundo, há exemplos assim em São Paulo, Londres, Buenos Aires, Roma, Istambul, Cidade do México, Guangzhou, Melbourne, Amsterdã, Praga, Moscou, Damasco, Tel Aviv, Casablanca e Ilhas Canárias. Alguns dérbis recebem nomes próprios com referências à origem ou ao local da rivalidade: Dérbi Della Madonnina, entre Milan e Internazionale de Milão, na Itália; Clássico dos Milhões, entre Flamengo e Vasco, no Rio de Janeiro; Merseyside Derby, entre Everton e Liverpool, na Inglaterra; Revierderby, entre Schalke 04 e Borussia Dortmund, na Alemanha; o Superclásico, entre Boca Juniors e River Plate, na Argentina; Dérbi de Soweto, entre Kaizer Chiefs e Orlando Pirates, na África do Sul; Dérbi de Teerã, entre Persépolis e Esteghlal, no Irã; Old Firm, entre Celtic e Rangers, em Glasgow, na Escócia; New Firm, entre Brøndby e Copenhagen, na Dinamarca; os Clássicos Eternos entre Levski e CSKA Sofia, na Bulgária, entre Dínamo e Steaua Bucareste, na Romênia, ou entre Hajduk Split e Dínamo Zagreb, na Croácia; e Grenal1, entre Grêmio e Internacional, em Porto Alegre. Este último é o cerne do objeto de pesquisa desta dissertação. Não se sabe ao certo quando essa rivalidade nasceu nem como ou porque ela se acirrou. Pode ter sido desde o primeiro encontro, por uma questão de honra dos colorados, que não puderam inserir-se naquele círculo restrito e decidiram formar seu próprio clube. Que petulância dos novatos! Ou a partir do segundo embate, quando a canela de um centerforward tricolor deixou o gramado levando as marcas da botina de um back adversário. O fato é que não há um discurso tão estabelecido na imprensa (e, em geral, na cultura) gaúcha quanto o do Grenal. Ele serve como alegoria para embates políticos, premissa para escolhas econômicas. Ele foi, inclusive, tornado verbo para toda comparação dicotômica com traços recrudescentes que ocorrem no Rio Grande do Sul: grenalizar passou a significar colocar as coisas em polos opostos com alto grau de efervescência e baixa capacidade de raciocínio. 1 Para este estudo, será adotada a denominação sem hífen para o clássico em razão de padronização. É possível que fontes variadas utilizem outras formas, que serão adaptadas para melhor compreensão por parte do leitor. 13 Em mais de um século de rivalidade, são mais de 400 jogos entre os dois clubes. Desde que a expressão Grenal foi criada pelo jornalista Ivo dos Santos Martins, em 1926, e registrada nas páginas do Correio do Povo em 1933, a relação entre os rivais se estreitou e a rivalidade se arrefeceu. Autores como o colorado Luiz Fernando Veríssimo e o gremista Salim Nigri reiteradamente assinalaram interdependência entre os rivais (COIMBRA et al, 2009). A mídia contribuiu com uma parcela significativa no estabelecimento dessa rivalidade. Ajudou a construir a ideia de que o dérbi é um dos mais representativos do futebol brasileiro, destacando suas particularidades e ressaltando os elementos únicos dos clubes. Ofereceu, e oferece continuamente, insumos para a construção da imagem de um à semelhança do outro. Nos últimos tempos, porém, a discussão sobre a manutenção da rivalidade dentro dos estádios de futebol ganhou novos contornos devido aos sucessivos eventos de violência real e simbólica. Componentes como casos de racismo e homofobia, brigas entre torcidas e assassinatos nos campos brasileiros se tornaram justificativas para a exclusão de torcedores visitantes e a utilização da torcida única como maneira de preservar o espetáculo2. Algumas medidas menos radicais e mais amistosas, como a implementação da torcida mista em determinado setor dos estádios no Rio Grande do Sul3, são vistas como alternativas possíveis. O que, de certa forma, ressalta a contradição dos veículos de imprensa no posicionamento frente a esse fenômeno. Se, ao longo do tempo, a mídia ajudou a erguer as fundações da rivalidade, nos últimos anos o agravamento da irascibilidade envolvendo essas disputas se transformou em elemento principal para defender a urgência de apaziguar os espíritos envolvidos nos encontros entre os rivais. Dessa forma, este trabalho tem como objetivo desvelar como a mídia, em especial o portal GaúchaZH, enquadra a rivalidade Grenal dentro de sua agenda e de que maneira mantém a construção imagética de um clube em relação ao outro. Buscaremos identificar, por meio de análise das “narrações torcedoras” minuto a minuto dos aplicativos Gremista GZH e Colorado GZH, e da narração neutra do Uol Esporte (portal online pertencente ao Grupo Folha, com sede em São Paulo, que faz transmissões com perfil isento), os tipos de visadas dessas narrativas, qual é o destinatário idealizado na construção da mensagem e quais são os 2 GLOBOESPORTE.COM. Por determinação da Justiça, clássicos no RJ terão torcida única. Disponível em: . Acesso em: 2 mar. 2018. 3 DA SILVA, Jones Lopes. Grenal 404 termina empatado e o show fica por conta da torcida. Zero Hora. Disponível em: . Acesso em: 2 mar. 2018. 14 elementos emocionais presentes que relacionam um rival ao outro — especificamente, a emoção denominada como Schadenfreude. O termo se refere à sensação de alegria ou alívio com o fracasso do outro. É o resultado de um desejo pela falha alheia, pelo insucesso do rival. Em termos do folclore futebolístico, é o produto da tentativa de “secar” o desempenho do adversário. Uma das hipóteses que buscaremos verificar é a de que, mais do que isento e asséptico, o discurso da imprensa esportiva estimula a Schadenfreude em seu subtexto. Há, nas entrelinhas, um condicionamento de que a imagem de sucesso de um depende necessariamente do insucesso do outro. Não do desempenho esportivo de uma agremiação, por óbvio, mas do sentimento de satisfação de um torcedor com a desgraça do rival, mesmo que em minúcias, sem relação direta alguma. Outra possibilidade que será investigada é que a mídia de referência passou a assumir para si uma linguagem própria do aficionado, posicionando-se ao seu lado na elaboração da mensagem e direcionando a ele um texto ideal. A meta, neste caso, é testar a hipótese de que o reenquadramento midiático intenta captar o público pela emoção, embora se suponha que ele seja mais ponderado, estimulando ainda mais a polarização. Em um momento sócio-político no qual as instituições estão gradativamente se tornando mais mediatizadas, suspeitamos que a imprensa opte pelo drama emocional como estratégia comunicacional. Se em outras editorias jornalísticas isso pode ser prejudicial (não imaginamos uma seção alinhada com um partido liberal confrontando outra identificada com um partido conservador em suas matérias), no esporte, esse tipo de dramatização é aceito e, de certa maneira, naturalizado. O que, conforme procuramos mostrar com esta pesquisa, poderá isolar ainda mais os públicos. Como estratégia metodológica, este trabalho se sustenta na Hermenêutica de Profundidade (HP) para realizar a interpretação desse fenômeno. O estudo pretende analisar discursivamente a construção do público idealizado pelos jornalistas na redação de seus textos. Para isso, utilizaremos o conceito de “visadas discursivas” (CHARAUDEAU, 2004a), segundo o qual existe uma intencionalidade psico-sócio-discursiva que determina a expectativa com a troca linguageira. Ao mesmo tempo, contraporemos a ele através da experiência empírica de Darnton (1990), que supõe não haver uma imagem pré-definida ou pré-concebida de “público”. Para o autor, a complexidade das relações profissionais nas salas de redação e no cotidiano de apuração jornalística faz com o que os repórteres construam suas matérias baseados em si mesmos e com o intuito de aprovação interna. Em um momento social cada vez mais plural e múltiplo, a desconexão com uma audiência multifacetada pode interferir de maneira prejudicial e nociva para a produção de sentido do jornalismo. 2 EMOÇÃO E JORNALISMO 15 A emoção não é inimiga da razão. A emoção não é o lado fraco e negativo do ser racional. A emoção não é expressa nem sentida da mesma maneira pelas pessoas, em qualquer que seja o lugar. Aliás, não existe apenas um tipo de emoção. E, se emocionar não é, necessariamente, manifestar uma fraqueza. Por mais óbvias que pareçam, essas conclusões de senso comum escapam de grande parte das pessoas. Não é diferente com jornalistas, que se utilizam do conhecimento ordinário para, sem querer, propagar alguns mitos na condução de suas narrativas. A construção discursiva sobre a emoção no jornalismo é, senão uma das mais recentes, uma das mais necessárias investigações nas Ciências Sociais e da Comunicação Social. Por isso, buscaremos traçar, neste trabalho, os caminhos percorridos pelo jornalismo e pela emoção, seus pontos de intersecção e movimentos paralelos, até seus desmembramentos e momentos de oposição. O primeiro ponto será, com o auxílio dos conceitos buscados na Antropologia das Emoções (REZENDE; COELHO, 2010), encontrar elementos que definam a emoção a partir de sua socialização com o meio externo. O objetivo é entender por que ela não é universal. Por que, por exemplo, a manifestação pública de alegria é naturalizada em uma sociedade e tolhida em outra. Além disso, procuraremos compreender o quão indivisível é a noção do racional com o emocional, e como essas duas esferas atuam sincronamente. Por fim, chegaremos à catalogação das emoções (EKMAN, 2001) e às definições gerais do rol de sensações encontradas na ciência. Nesse ponto, nosso foco será na Schadenfreude, emoção que representa a satisfação com o fracasso alheio. Nossa hipótese, a ser validada ou não, é que as narrativas jornalísticas provocam reações distintas e manifestam sentimentos difusos. Logo, é possível que, para estimular um engajamento emocional em certos públicos, “celebre” a frustração de outros. Para isso, é determinante saber como esse conceito foi desenvolvido e de que maneira a moral de cada sociedade ajudou a defini-lo. Posteriormente, serão desenvolvidas as conceituações acerca do jornalismo e sua relação com a emoção na construção social da realidade. Os valores que definem uma notícia e alavancam o status de um acontecimento variaram ao longo da história da imprensa. O que começou de maneira mais afastada ganhou contornos sensacionalistas. Da mesma forma, o afastamento da massa para nichos representou um momento do jornalismo mais engajado. Por isso, quatro conceitos jornalísticos serão aprofundados como possibilidade de trazer argumentos para a discussão acerca do papel do jornalista: agendamento, enquadramento, 16 gatekeeping e advocacy journalism. A intenção é conceber qual a função assumida pelo jornalista na narração, relato ou descrição de um fato com qual tem ligações emocionais ou relações empáticas e para quem ele idealiza e intenciona direcionar sua fala. 2.1 CONCEITOS DE EMOÇÃO O que é emoção e como defini-la é um exercício que a filosofia se ocupa desde a era pré-socrática. Conforme Abbagnano (1998), “em geral, entende-se por esse nome qualquer estado, movimento ou condição que provoque no animal ou no homem a percepção do valor (alcance ou importância) que determinada situação tem para sua vida, suas necessidades, seus interesses” (ABBAGNANO, 1998, p. 311). As emoções, portanto, seriam expressões pessoais em âmbito exterior de algo que se manifestou internamente no ser. Em resumo, o expurgo e a socialização do sentimento. Existe uma definição simples, mas não simplista, que diferencia emoção de sentimento: as emoções são de dentro para fora, públicas, enquanto os sentimentos são voltados para dentro, privados. Damásio (2000) se aproxima dessa definição para concluir que todo organismo (não apenas o homem) não precisa necessariamente ter consciência para sentir ou se emocionar. Uma emoção pode ser desencadeada inconscientemente. Isso se refere a qualquer tipo de emoção. Não apenas às mais evidenciadas, como alegria, raiva ou medo, mas também as que subjazem a elas, como o alívio, a inveja ou a culpa. Por que é importante destacarmos isso? Porque, ao contrário do que o pensamento moderno supunha, que a emoção estava em polo oposto à razão, elas são indissociáveis. Controlar, identificar ou ao menos ter consciência de que uma emoção está presente não significa fazer um bem à razão. Segundo o autor, “não é verdade que a razão opere vantajosamente sem a influência da emoção. Pelo contrário, é provável que a emoção auxilie o raciocínio, em especial quando se trata de questões pessoais e sociais que envolvem risco e conflito” (DAMÁSIO, 2000, p. 63). Isso não significa que as emoções não possam levar a decisões irracionais. De maneira geral, é mais factível pensarmos em ambos como um sistema de cooperação mútua. Ao mesmo tempo, isso não significa que apenas o caráter biológico determine a presença das emoções. Nas ciências sociais, como é o nosso caso, a interação do sujeito com o meio coletivo é essencial no aprendizado e na assimilação de certos comportamentos, em como manifestar externamente esses sentimentos. E isso é um processo ininterrupto — exceto em casos excepcionais — ao longo da vida. Conforme propõem Rezende e Coelho, “as emoções tornam-se então parte de esquemas ou padrões de ação aprendidos em interação com 17 o ambiente social e cultural, que são internalizados no início da infância e acionados de acordo com cada contexto” (2010, p. 30). É possível, a partir dessa interpretação, chegarmos à conclusão de que a emoção não é universal. Se o meio interfere diretamente na pessoa, mesmo que ela esteja predisposta a sentir-se de determinada forma, a maneira como vai incorporar aquilo e ao mesmo tempo exteriorizar essas sensações podem variar. As autoras usam o exemplo de uma pesquisa norte-americana, na qual a tragédia de Hamlet, de William Shakespeare, foi apresentada a uma tribo africana. O objetivo era testar o alcance e a universalidade da obra, o que não foi verificado. Alguns elementos da narrativa, como a presença de um fantasma, os laços de parentesco, e, principalmente, o sentimento de ciúme e desejo por vingança eram inconcebíveis para o grupo. Portanto, eles não poderiam ser empáticos à definição de amor e orgulho da mesma maneira que a sociedade ocidental. Algo semelhante a isso foi a proposta de Marcel Mauss (1979) ao investigar as reações à morte em clãs não-tradicionais da Austrália. Nesses grupos primitivos, ele percebeu que “não só o choro, mas toda uma série de expressões orais de sentimentos não são fenômenos exclusivamente psicológicos ou fisiológicos, mas sim fenômenos sociais, marcados por manifestações não-espontâneas e da mais perfeita obrigação” (p. 147). As expressões exteriores das emoções pertenceriam, assim, a um ritual no qual a manifestação oral é demandada quase sub-repticiamente. Essas exteriorizações seriam, ao mesmo tempo, a expressão de um sentimento do indivíduo e sua integração a um processo maior de expressão de um posicionamento coletivo. Para Mauss, “todas as expressões coletivas, simultâneas, de valor moral e de força obrigatória dos sentimentos do indivíduo e do grupo, são mais que meras manifestações, são sinais de expressões entendidas, quer dizer, são linguagem” (p. 153). Logo, as emoções não poderiam ser interpretadas apenas como uma reação biológica, mas um ente integrante de um ato discursivo comum a mais pessoas. É importante destacar aqui que o discurso é entendido como uma construção cultural. Ou seja, o conhecimento é compartilhado e cria uma espécie de texto capaz de moldar os sujeitos e regular suas relações. Rezende e Coelho entendem o discurso, a partir de uma inspiração foucaultiana4, como uma fala quem mantém com a realidade uma relação não de referência, mas sim de formação. Ou seja, nela o real não preexiste ao que é dito sobre ele, mas, ao contrário, é formado por aquilo que se diz sobre ele. […] a emoção não seria apenas um construto histórico-cultural; a emoção seria algo que existiria somente em contexto, emergindo da relação entre os interlocutores e a ela sempre referida. É nesse sentido que se pode falar de uma “micropolítica da emoção”, ou seja, de sua capacidade para dramatizar, reforçar ou alterar as macrorrelações sociais que 4 Baseada na obra de Michel Foucault, filósofo francês, e suas concepções sobre as relações de poder em uma sociedade. 18 emolduram as relações interpessoais nas quais emerge a experiência emocional individual (REZENDE; COELHO, 2010, p. 78). Outra noção recuperada pelas autoras remete à Teoria dos Sentimentos Morais, de Adam Smith, e tem a ver com a relação dos sentimentos de um indivíduo com o que os outros sentem. Segundo a obra das antropólogas, alguns sentimentos “fariam um trabalho de inclusão/exclusão social” e são “capazes de realizar o trabalho micropolítico de dramatização, reforço e [...] alteração das macrorrelações sociais” (2010, p. 79). Por esse princípio, dependendo do que a outra pessoa esteja manifestando, pode suscitar no indivíduo determinada emoção conforme sua relação de empatia ou simpatia. A Schadenfreude está incluída nisso. Afinal, a alegria de um sujeito corresponde necessariamente à tristeza de seu antagonista. Expor ou suprimir esse sentimento conforme a moral estabelecida pelos participantes de um grupo está vinculado culturalmente ao meio social. Ao mesmo tempo, em uma análise mais eliasiana5, as antropólogas sugerem uma tendência contemporânea ao autocontrole emocional: A contenção emotiva e a necessidade de ajustar a conduta em função dos outros e de suas possíveis consequências produz uma forma cada vez mais racionalizada de agir. Nela, a dimensão de planejamento e cálculo se destaca não apenas no modo como o sujeito de comporta, mas também na maneira como ele lida com a conduta dos outros. Desenvolve-se uma visão psicologizada dos indivíduos, que contribui também para a previsão de comportamentos (2010, p. 106). Está aí uma noção primordial para a compreensão deste trabalho: perceber que as emoções, por serem externas (e externadas), podem ser também socializadas, postas em contato com o meio social. Elas podem ser compartilhadas com os outros de maneira direta, o que é natural, mas, podem, da mesma forma, ser mediadas. A mídia de massa, ao longo do tempo, assumiu o papel de condutor emocional para grandes públicos, e, diríamos até, de produtor de emoções. Mesmo hoje (principalmente, diriam alguns) ela não pode ser dissociada dessa função. Portanto, podemos supor que o futebol não apenas se utiliza da mediação dos meios de comunicação em seu processo de construção de espetáculo como é parte constituinte de um mesmo organismo no qual todas as células operam em simbiose. Mídia e sociedade moderna não podem ser entendidas como departamentos autônomos, independentes entre si: a sociedade moderna é, em última instância, uma sociedade "midiatizada". A mídia seria, assim, um espaço privilegiado de produção de discursos sociais e dos espetáculos esportivos modernos como um dos emblemas mais visíveis deste processo de "midiatização" de eventos culturais (HELAL et al, 2001, p. 151). Percebemos, então, que a mídia estimula a reação emocional aos acontecimentos e busca a resposta mais “autêntica” e “legítima” em relação aos fatos, mas espera que o controle 5 Baseada na obra de Norbert Elias, sociólogo alemão, que examinaremos com mais afinco no próximo capítulo desta dissertação. 19 da expressão dessas emoções e o balanceamento entre o que é positivo e o que é negativo parta exclusivamente da consciência individual e subjetiva. O que é impossível. Afinal, de acordo com Rezende e Coelho, “as experiências subjetivas estão atreladas a gramáticas culturais” (2010, p. 126). Entre esses discursos, o que nos cabe nesta investigação é o da apropriação das emoções na construção do discurso esportivo e o uso delas na estimulação à rivalidade. A mídia, por ser parte constituinte desse sistema, não pode esquivar-se da responsabilidade e considerar-se apenas um canal. Ela é produtora de sentido e, como tal, se apropria, reforça e até incita a manutenção de alguns discursos. O da alteridade, ou seja, da construção da imagem a partir do outro, é o que nos intriga aqui. Ademais, é o discurso de reforço de uma identidade a partir do fracasso alheio que nos desafia a compreender a manipulação dessas emoções. O impasse está, justamente, em entender como é feito o controle das emoções pela imprensa esportiva, que, como um legítimo gatekeeper, legitima a presença de algumas e impede a passagem de outras. No jornalismo esportivo, a emoção é tão celebrada quanto recriminada. Para alguns, é presente, inevitável e até necessária. Para outros, deve ser controlada e evitada a todo custo. Em uma balança, não é raro que grande parte do público e dos profissionais da área prefira que o lado mais pesado seja o da racionalidade. Que o bom jornalista seja aquele que reprime um impulso emocional, pondere sobre os estímulos que acabou de receber e transmita apenas aquilo que julgue racional. A ideia implícita à prática do jornalismo informativo é a de que a informação é o produto de um processo racional de apuração, no qual se cumpre uma série de procedimentos que minimizem os efeitos emocionais de um acontecimento. Como uma das categorias que mais se aproxima do entretenimento, o esporte é uma das partes que mais sofre com a pressão por esse afastamento. Barbeiro (2006) cita pelo menos 19 razões pelas quais a emoção é inexorável, porém incômoda. Como algo que não deveria estar manifestado no texto jornalístico, mas que está ali. Ele afirma, entre outras coisas, que “todo jornalista esportivo deve saber que as emoções são contagiosas”, que “a emoção deve estar na dose certa e sempre ser recheada de isenção” e que “quem torce modifica, altera, distorce. O torcedor tem o direito de torcer e distorcer à vontade. O jornalista não pode fazer nem uma coisa nem outra” (BARBEIRO, 2006, p. 4647). Em síntese, o princípio defendido pelo autor é que a emoção estará presente no ambiente, nas pessoas, nas relações e no objeto a ser descrito, mas nada disso deve afetar a capacidade de distanciamento crítico do jornalista. Para isso, ele argumenta, é necessário desenvolver uma autoconsciência a fim de compreender os sentimentos alheios. 20 Disso resulta o autocontrole emocional, ou seja, ser capaz de adiar a satisfação e reprimir a impulsividade. […] A chave para intuir os sentimentos dos outros – e relatá-los nas reportagens esportivas – está na capacidade de interpretar canais não verbais, tom de voz, gestos, expressão facial etc. Para se interpretar algumas dessas manifestações não é preciso ser psicólogo, apenas apurar o senso de observação. As demonstrações de emoções têm consequências imediatas no impacto que causam nas pessoas que as recebem […]. Alguns tentam minimizá-las, outros superdimensionálas. Cabe ao jornalista informar ao telespectador o que se passa realmente (BARBEIRO, 2006, p. 49). No entanto, essa avaliação costuma ser mais empírica do que científica. A primeira afirmação do autor sobre contágio mental é criticada desde as primeiras proposições dessa natureza feitas por Gustave Le Bon, que defendia que o comportamento individual tenderia a mudar se o indivíduo estivesse em uma multidão, como uma reação a um estímulo emocional do qual ele não conseguiria raciocinar. O emocional, inclusive, segundo essas conceituações, é atribuído a tudo que não é racional. A emoção acaba se tornando um termo que abarca todas as emoções, o que consideramos uma definição imprecisa. Logo, não se trata de ser ou não ser emocional. A questão está nos tipos de emoção presentes e na maneira como elas são manifestas. No futebol, em especial, as emoções não são respostas objetivas acionadas por gatilhos determinados. Elas pertencem a uma rede de relações com códigos próprios que produzem uma miríade de emoções. Algumas típicas daquele contexto, outras menos recorrentes. Damo (2015) chama de “comunidades de sentimentos” (p. 72) esse circuito que vai além dos eventos ocorridos entre os times no campo. Elas envolvem a torcida e a imprensa, entre outros grupos, em uma circulação própria de emoções. A expressão de ira contra a arbitragem, por exemplo, que poderia ser condenada ou reprimida em outro contexto, é admitida no contexto futebolístico. Assim como a ovação ao ídolo ou a catarse coletiva com o gol permitem que a alegria seja despejada para fora como uma maneira de libertação. As emoções experimentadas no espectro do futebol não são irracionais, tampouco geradas espontaneamente ou aleatoriamente. Não são nem mesmo irredutíveis às hipóteses psicologizantes, sobretudo aquelas que as explicam a partir do subterfúgio à regressão e à animalização "das massas" ou de outras reduções do gênero. O pertencimento clubístico é uma espécie de máscara e implica uma transição de uma personagem a outra. Particularmente, implica a identificação de um indivíduo a dada coletividade e, portanto, uma transubstancialização de indivíduo a persona (DAMO, 2015, p. 77). Como foi visto, exprimir certas emoções perante um coletivo futebolístico não apenas é uma decisão racional como funciona também como um tipo de engrenagem do sistema de pertencimento daquele grupo. É, inclusive, esperado que o sujeito aja daquela maneira. A Shadenfreude é uma das maneiras de se construir não apenas a identidade do torcedor como de desenvolver sua alteridade. Manifestá-la é uma condição aceita na conjuntura futebolística, e inclui-se aí o rival. Ele é um dos abalizadores desse posicionamento, afinal, quando for sua 21 vez de torcer contra o inimigo, ele poderá fazê-lo despudoradamente. Como determina Damo, “a persona clubística é igualmente estimulada a alegrar-se com a derrota do arquirrival e a calar diante de seu êxito. Rejeitar estas trocas é negar-se a viver a alteridade proposta pelo clubismo e, portanto, negar-se a participar de um potente circuito de jocosidades com forte conotação afetiva” (2015, p. 83). A presença inerente da emoção é, inclusive, um fator determinante à sobrevivência do indivíduo. E não apenas o indivíduo biológico, mas, principalmente, o social. Ekman (2001), entre outros, acredita que as emoções devem estar sempre presentes, pois, segundo ele, “nos preparam para lidar com eventos importantes sem precisarmos pensar no que fazer” (EKMAN, 2001, p. 37). Para o autor, o estímulo emocional antecipa a mente sobre o que virá a seguir, a fim de que possamos nos preparar sobre a maneira com a qual reagiremos. Isso, muitas vezes, é imediato e reflexivo, o que de maneira alguma é irracional. Se observamos uma cena que nos causa medo, por exemplo, ou nojo, ou alegria, poderemos controlar e agir de maneira racional perante aquilo. Porém, foi a existência da emoção em uma momentaneidade anterior que, originalmente, organizou nossa mente para atuar daquele modo. Dessa forma, é possível sublinharmos que, quando Barbeiro defende a isenção do jornalista, não se trata da maneira como ele recebe e interpreta o acontecimento. O que o autor sugere — e que questionaremos a seguir — é que, para o relato feito a partir desse momento, deve-se inocular os efeitos emocionais e transformá-los em notícia. No caso de uma matéria ou reportagem escrita, que as palavras selecionadas não carreguem um teor emocional exagerado, exacerbado, seja no conteúdo ou na forma gramatical como é exposto. Há, contudo, que façamos uma distinção, de acordo com o que preconiza Ekman: As palavras são representações das emoções e não as próprias emoções. A emoção é um processo, um tipo específico de avaliação automática, influenciado por nosso passado evolucionista e pessoal, em que sentimos que algo importante para nosso bem-estar está acontecendo e um conjunto de mudanças fisiológicas e comportamento emocionais influenciam a situação. As palavras são uma maneira de lidar com nossas emoções. Usamo-las quando nos emocionamos, mas não podemos reduzir a emoção a palavras (EKMAN, 2011, p. 31). Ora, se a palavra é uma representação da emoção, logo, a emoção não pode estar ausente. Pelo contrário. As palavras levam a emoção de um estado anterior para a forma como ela será representada. A escolha de uma palavra é, ao mesmo tempo, uma decisão racional e emocional que carrega em si as intenções com essa escolha. Portanto, é preciso que entendamos como o jornalismo de maneira geral e o esportivo em particular lidaram no curso da história com a representação linguageira das emoções. Para isso, é importante que 22 recuperemos alguns momentos históricos e conceitos específicos nos quais o cerceamento ou a libertação das emoções ocorreram. Mas, antes disso, que conheçamos a relação entre as emoções e as línguas e linguagens, e como isso afeta a construção jornalística conforme o contexto cultural no qual ele está inserido. 2.2 SCHADENFREUDE A representação das emoções varia conforme a linguagem. Ela sofre influência da cultura e, por isso, pode ser representada de maneiras diferentes em línguas distintas. Há algumas que, apesar de serem amplamente reconhecidas, não possuem tradução adequada em outras línguas. O termo italiano fiero – que representa o orgulho pelo próprio triunfo, quando não há competição com outrem –, e o iídiche naches – a satisfação pelo sucesso alheio, em especial dos filhos e descendentes –, por exemplo, não têm um equivalente cabível na língua portuguesa (EKMAN, 2011). Também não há, em português, uma palavra congruente ao termo alemão Schadenfreude, que significa a alegria que sentimos com o infortúnio do outro. Combinados, Schaden (dano) e freude (alegria) resumem o sentimento de regozijo quando algo de ruim acontece a outra pessoa. A palavra está presente em um provérbio alemão que contempla a seguinte máxima: Schadenfreude (o prazer com a desgraça alheia) é o maior dos prazeres, porque ele vem do coração6. Em português, a expressão popular que mais se assemelha com o sentido do termo é pimenta nos olhos do outro é refresco, embora não seja tão precisa em sua essência. As primeiras referências a esse tipo de emoção aparecem no Antigo Testamento, no livro de Provérbios, no qual já se apresenta uma carga de julgamento moral sobre a expressão. Segundo consta, “se teu inimigo cai, não te alegres, e teu coração não exulte se ele tropeça, para que Yahweh não veja isso, fique descontente, e dele retire sua ira” (BÍBLIA, p. 1057). Já no Livro de Jó, um integrante da tríade filosófica da Bíblia, o protagonista apresenta dessa forma, no capítulo 31, versículo 29, um dos motivos para sua contrição a Deus: “Se me alegrei com a desgraça do meu inimigo e exultei com a infelicidade que lhe sobreveio” (BÍBLIA, p. 841). 6 No original, Schadenfreude ist die schönste Freude, denn sie kommt von Herzen. 23 O rabino Harold S. Kushner, em sua interpretação desse texto, apresenta outra abordagem, na qual compreende a satisfação com o prejuízo alheio como consequência de isso não ter ocorrido consigo: Existe um termo psicológico alemão, Schadenfreude, que descreve a reação embaraçosa de alívio que sentimos quando algo ruim acontece a outro e assim nos poupa. O soldado em combate que vê o amigo morrer a alguns metros de distância enquanto ele permanece ileso, o aluno que vê o colega em apuros por ser apanhado colando durante uma prova — eles não desejam que seus amigos passem por dificuldades, mas não podem evitar o sentimento embaraçante de gratidão por aquilo acontecer a outro que não eles (KUSHNER, 1988, p. 44). Os primeiros registros em que essa emoção é conceituada negativamente aparecem em “Ética a Nicômaco”, de Aristóteles, sob a forma de ἐπιχαιρεκακία ou epikhairekakia. No texto, ela é equiparada a sentimentos e atitudes conceitualmente maléficas, e é tida como algo mau em si: Nem toda ação ou paixão admite a observância de uma devida mediana. Com efeito, a própria designação de algumas implica diretamente o mal, tais como a malevolência7 (epikhairekakia – expressão composta que significa analiticamente o ato de se regozijar com a infelicidade alheia), a imprudência, a inveja e, entre as ações, o adultério, o roubo e o homicídio. Todas estas e outras ações e paixões semelhantes são condenáveis como sendo más em si mesmas – não é o excesso ou a deficiência delas que condenamos. É impossível, portanto, agir corretamente ao praticá-las, estando nós necessariamente errados ao fazê-lo; tampouco agir certo ou errado no caso delas depende das circunstâncias – por exemplo, se alguém comete adultério com a mulher certa no momento certo e da maneira certa; o seu mero cometimento é errado (ARISTÓTELES, 2002, p. 74-75). Percebe-se que, para Aristóteles, sentir Schadenfreude é condenável, seja qual for o motivo e a quem quer que se direcione. A emoção é carregada de prejulgamento e dotada de uma necessidade de controle e supressão. No século XVII, o acadêmico inglês Robert Burton, da Universidade de Oxford, incluiu a epikhairekakia em sua “Anatomia da Melancolia” como uma afecção mista entre bem e mal, agrupada entre o ódio, o desejo de vingança e o zelo excessivo. Para ele, epikhairekakia é “composta de gozo e ódio, quando regozijamos com o infortúnio alheio e sofremos por sua prosperidade” (BURTON, 2011, p. 54). Nota-se, nessa explicação, certa aproximação com o naches por inversão do sentimento (sofrimento pela prosperidade alheia). No século XIX, Arthur Schopenhauer classificou a Schadenfreude ainda mais negativamente como um prazer malicioso com o infortúnio do outro, que é o pior traço da natureza humana. É um sentimento que se assemelha muito à crueldade, e difere dela, para dizer a verdade, apenas como teoria da prática. Em geral, pode-se dizer que toma o lugar que a piedade deve tomar — a piedade que é o seu oposto, e a verdadeira fonte de toda justiça e caridade real” (SCHOPENHAUER, 2004, p. 42-43). 7 Na citação, foi mantida a palavra exata usada na tradução do texto que serviu como base da pesquisa. No decorrer da dissertação, para efeito de padronização e adequação ao tema, será utilizado o termo em alemão – Schadenfreude. 24 Por sua vez, Friedrich Nietzsche amplia o entendimento para além da moralidade, mostrando a ambivalência de uma “alegria maliciosa”. Em seu pensamento, é importante a introdução do olhar sobre o outro como reflexo de si próprio, observando o semelhante como igual e, portanto, com sofrimento comparável. A Schadenfreude se origina do fato de que, em vários aspectos de que tem plena consciência, cada um se encontra mal, sente aflição, dor ou arrependimento: o mal que atinge o outro o equipara a ele, abranda a sua inveja. — Encontrando-se bem ele mesmo, ainda assim acumula a infelicidade do próximo como um capital em sua consciência, a fim de opô-la à sua própria desgraça, quando esta ocorrer; também aí tem Schadenfreude. Ou seja, a disposição para a igualdade estende a sua medida para o âmbito da felicidade e do acaso: Schadenfreude é a mais comum expressão da vitória e restauração da igualdade, também na mais elevada organização do mundo. Apenas depois que o ser humano aprendeu a ver nos outros humanos os seus iguais, isto é, depois da fundação da sociedade, existe Schadenfreude (NIETZSCHE, 2005, p. 194). O ponto destacado por último é essencial na percepção da Schadenfreude como uma emoção relacionada ao ser social. Ela é percebida apenas em sociedade. Logo, não é uma reação espontânea a um estímulo natural, mas uma resposta a uma construção social. Ao mesmo tempo, por elencá-la entre as emoções agradáveis, Paul Ekman (2011) retira o caráter moral e a considera natural ao ser humano. Para ele, não a Schadenfreude, mas o julgamento das sociedades ocidentais sobre a admissão de sentir essa emoção é uma interpretação moralista que varia culturalmente: A sensação que vivenciamos ao saber que nosso pior inimigo sofreu algo também pode ser agradável, um tipo diferente de satisfação em relação às consideradas até aqui. Em alemão, denomina-se Schadenfreude. Ao contrário das outras emoções agradáveis, a Schadenfreude é desaprovada por algumas sociedades ocidentais (não tenho conhecimento da atitude de sociedades orientais a esse respeito). Supostamente, não devemos nos exultar sobre nossos sucessos, nem saborear as desventuras de nossos rivais. Devemos considerar a exultação uma emoção agradável distintiva? Provavelmente não; ela é muito como o fiero, exibido na frente dos outros (EKMAN, 2011, p. 209). Em pesquisas contemporâneas, esse sentimento vem sendo investigado de modo mais profundo. Pesquisadores da Universidade de Kentucky revisitaram os estudos empíricos sobre Schadenfreude na literatura científica e identificaram pelo menos três tipos de manifestações mais comuns dessa emoção: quando o observador é beneficiado com o infortúnio do grupo rival, especialmente quando ele é altamente identificado com seu grupo; quando o infortúnio de outra pessoa é merecido; e quando um infortúnio ocorre por uma pessoa invejada (SMITH et al, 2009). Essa conclusão surgiu a partir de aferições em vários campos, principalmente do esporte. Quando uma equipe precisa que outra perca para se classificar, é provável que ali esteja manifestado Schadenfreude. A derrota do adversário é interpretada como sua própria vitória, em uma espécie de espelhamento que reforça a identificação do torcedor com o seu grupo. 25 Para muitos fãs, as reações aos êxitos e falhas da equipe são processadas em grande parte como se a pessoa faz parte da equipe e a equipe faz parte da pessoa. Assim, ganhos e perdas do grupo estão ligados a auto-avaliações e produzem emoções positivas ou negativas dependendo do resultado8 (SMITH et al, 2009, p. 532-533). Outra pesquisa, do Departamento do Cérebro e Ciências Cognitivas do Massachusetts Institute of Technology (MIT), mostrou que torcedores dos times de beisebol Yankees e Red Sox (considerada a principal rivalidade do esporte nos Estados Unidos) relatavam sentir prazer quando o adversário não conseguia marcar pontos contra sua equipe. Isso foi comprovado não apenas pelo relato dos adeptos, mas por registro de atividades em regiões cerebrais relacionadas à recompensa (CIKARA et al, 2011). O mesmo foi verificado quando o rival não pontua contra oponentes menos competitivos, de onde se depreende que um indivíduo pode acrescentar um valor positivo à falha do outro para permitir-se sentir Schadenfreude mesmo quando a competição não envolve somente os dois grupos rivais diretamente. Schadenfreude pode funcionar como um sinal de coesão do grupo em oposição aos concorrentes. Demonstrar prazer em vez da empatia em resposta ao infortúnio de alguém é um sinal claro para ao mesmo tempo agrupar e afastar os membros de que os interesses de alguém não estão alinhados com os da vítima9 (CIKARA et al, 2011, p. 151). Essa euforia com o fracasso de um terceiro grupo se provou insidiosa em outra pesquisa na área. Para Leach e Spears (2009), sentir prazer com uma parte que não afeta diretamente na derrota de seu grupo apenas evidencia o caráter egoísta da Schadenfreude e “representa uma séria ameaça às relações sociais, sejam elas interpessoais ou inter-grupais”10 (LEACH; SPEARS, 2009, p. 664). Em estudo semelhante, Leach et al (2003) constataram outras duas constantes: que a Schadenfreude é evidenciada em maior e menor grau conforme o interesse da pessoa naquele esporte e que possui interdependência com grupos específicos. Os que eram mais engajados com a competição esportiva sentiam-se mais incomodados com a Schadenfreude do que aqueles menos interessados. Eles chegaram a essa conclusão depois que os autores aplicaram o teste para avaliar a rivalidade da seleção da Holanda com a Alemanha (maior) e com a Itália (menor) no futebol. Ainda, segundo eles, eventos especiais, como a Copa do Mundo, tendem a aproximar grupos distintos e, ao mesmo tempo, aumentar a possibilidade de empatia ou de Schadenfreude. 8 No original, em inglês, “for many fans, reactions to the team’s successes and failures are largely processed as if the person is part of the team and the team is a part of the person. Thus, wins and losses by the group are linked to self-evaluations and produce either positive or negative emotions depending on the outcome”. 9 No original, em inglês, “Schadenfreude may function as a signal of ingroup cohesion in opposition to competitors. Demonstrating pleasure instead of empathy in response to someone’s misfortune is a clear sign to both ingroup and outgroup members that one’s interests are not aligned with those of the victim”. 10 No original, em inglês, “poses a serious threat to social relations, whether interpersonal or intergroup”. 26 Popp et al (2016) chegaram a conclusão semelhante no campo do marketing. Segundo pesquisa do trio, o crescimento de grupos que se posicionam contrariamente a determinada marca e que se exultam com o fracasso alheio também ajuda a reforçar o senso de pertencimento dos fãs àquela marca. Nesse estudo, os autores destacaram o ativismo de torcedores de equipes rivais do Bayern de Munique nas ações do clube e observaram a possibilidade de se atingir um público maior do que o pretendido inicialmente devido à maneira singular como o mundo do futebol funciona. Esse engajamento oposicionista de outros torcedores acentua valores, marcas e ideias do objeto inicial. Uma comprovação científica de extrema importância para o campo comunicacional, pois verifica que a mensagem construída para um determinado público pode atingir outros de maneiras distintas e, ainda assim, reforçar a mensagem original. Todas as intenções pretendidas para atingir um grupo podem esfacelar-se no caminho e acabar provocando em pessoas diferentes outra resposta distinta de seu objeto de referência — o que não é, em si, algo bom ou ruim. Ainda na área da comunicação, Sesen e Erturk (2016) identificam a Schadenfreude presente nos reality shows de moda. A violência simbólica contida nesse tipo de programa de televisão, as agressões verbais e não-verbais e o tratamento agressivo dos jurados e dos participantes foram observados como razões para o relativo sucesso deste subgênero, pois instigaria a satisfação do público com o fracasso alheio. Uma emoção tão natural quanto construída socialmente pela mídia. 2.3 HISTÓRIA E VALORES DO JORNALISMO Entre tantas mudanças ao longo da história do jornalismo, uma das mais sentidas e discutidas é o direcionamento das notícias. Desde os jornais diários do século XVII, na Alemanha, até as publicações digitais da contemporaneidade, houve uma série de variações sobre a função social do jornalista na construção de sentido da realidade. Ele deveria posicionar-se em relação ao que relata ou é um mero mediador entre o público e o que está explícito? Pelo senso comum e pela ideologia jornalística ainda latente, a segunda opção seria a mais reconhecida. Essa discussão, entretanto, emerge volta e meia na sociedade e nos círculos acadêmicos. E por diversas razões. Traquina (2008) ilustra isso com as diferenças entre os valores-notícia em períodos distintos. No início da imprensa, o extraordinário e as ações de pessoas da elite (as proezas da corte, por exemplo) compunham as principais notícias. No século XVIII e ao longo do século XIX, as publicações eram panfletárias e posicionadas de 27 acordo com o polo político que defendiam. Logo adiante, com o surgimento da penny press – os jornais baratos e sensacionalistas –, a descrição emocionada e humorística, com envolvimento humano entre o repórter e a história, começou a se destacar. Mais tarde ainda, a partir dos anos 1970, quase que em um retorno ao princípio dos tempos jornalísticos, as decisões do governo, crimes e desastres, e eventos relacionados a pessoas famosas voltaram a ocupar a maior parte das páginas dos jornais ou minutos na programação do rádio e da televisão. Esse perfil é o mais aceito entre os próprios jornalistas do mundo todo, conforme verificou Traquina em um estudo com cinco países. O jornalismo é sobretudo um serviço público em que os valores da autonomia e da liberdade estão no centro da sua profissão. […] Apesar de alguma variação, […] os jornalistas das cinco comunidades partilham uma cultura profissional em que o valor da objetividade é associado à sua atividade jornalística (TRAQUINA, 2008, p. 185). Como podemos perceber, houve um deslocamento contínuo da posição do jornalista na construção de relatos, embora sua função tenha permanecido, essencialmente, a mesma. O que variou foi a orientação para a qual destinava seu olhar e guiava seus procedimentos de apuração, redação e transmissão das mensagens. Se, em um determinado momento, ela chegou a ser subjetiva e destacadamente posicionada, em outros ela se tornou objetiva e imparcial — ao menos ideologicamente. No entanto, essa intencionalidade na construção dos discursos não é, na maioria das vezes, explícita. Uma hipótese levantada na segunda metade do século XX questionou a capacidade do jornalismo de condicionar o olhar e o pensamento do público, mesmo que cumprindo as “premissas” da profissão. 2.3.1 Agendamento Surgida na década de 1970, a Teoria do Agendamento ou Agenda-Setting recupera as ideias de Walter Lippmann de 50 anos antes para reafirmar que a mídia tem papel preponderante na construção cognitiva dos acontecimentos por parte do público. Essa teoria pressupõe que os meios de comunicação de massa estabelecem, ao longo do tempo, a agenda que será apreendida por esse público. Eles não determinariam o que o público faria (presunção se adequa melhor à Teoria da Agulha Hipodérmica e remonta ao período das guerras mundiais e dos estados totalitários). Entretanto, por repetição e insistência, sugeririam sobre o que pensar. Em resumo, a Teoria do Agendamento não supõe que a opinião pública é determinada pela mídia, mas corresponde aos assuntos que a mídia dá saliência. A abordagem surgiu de maneira quantitativa, elencando o espaço dado a certos temas dentro de um periódico. Porém, algumas características qualitativas surgiram ao longo do 28 desenvolvimento dessa ideia. Uma delas é a da acumulação, a frequência com que uma pessoa é exposta a um tema. A profusão de imagens reproduzidas por esses meios legitimaria e realçaria a importância desses conteúdos. McCombs (2009) foi um dos primeiros a correlacionar a agenda da mídia com a agenda política. Com isso, concluiu que “para todos os veículos noticiosos, a repetição do tópico dia após dia é a mais importante mensagem de todas sobre sua importância” (MCCOMBS, 2009, p. 18). O destaque ao ponto x em compensação ao obscurecimento de um ponto y geraria, a médio e longo prazo, uma natural assimilação da audiência como sendo aqueles os assuntos essenciais. A principal afirmativa da Teoria da Agenda é que os temas enfatizados nas notícias acabam considerados ao longo do tempo como importantes pelo público. Em outras palavras, a agenda da mídia estabelece a agenda pública. Ao contrário da lei das mínimas consequências, esta é uma declaração sobre um efeito causal forte da comunicação massiva no público — a transferência da saliência da agenda da mídia para a agenda pública (MCCOMBS, 2009, p. 22). Uma das principais contribuições dessa teoria foi focar nos efeitos que a mídia causa em seu público. Além do circuito básico de emissor, mensagem, canal e receptor, a noção de impacto e repercussão ganhou relevo. No entanto, McCombs não é inocente ao creditar apenas aos meios o poder de influenciar o público e cristalizar imagens em seu imaginário. As experiências pessoal e cultural geral nas quais o sujeito está inserido também são fatores constitutivos de uma tomada de decisão, que pode ser até a de rejeitar o que foi proposto. O que o autor parece acreditar é que, “na maior parte, esta influência de agendamento é subproduto inesperado da necessidade dos noticiários diários de focar a atenção em somente alguns tópicos” (MCCOMBS, 2009, p. 42). Apesar de a relação direta entre os assuntos considerados importantes pelo público e aqueles salientados pela mídia ter sido comprovada ao longo das décadas, verificar o processo de agendamento não é uma tarefa fácil. Até por isso, Wolf circunscreve o agenda-setting entre as práticas de construção da realidade com efeitos em longo prazo. Essa hipótese, na opinião dele, “coloca o problema de uma continuidade em nível cognitivo entre as distorções que se originam nas fases de produção da informação e os critérios de relevância, de organização dos acontecimentos, que os usufruidores de tal informação assimilam e tornam seus” (WOLF, 2012, p. 144). Esse impacto, ele sugere, se configura em dois níveis: a ordem do dia dos temas presentes na agenda da mídia e a hierarquização e prioridade desses elementos. Para isso, o autor indica que diversas fases ocupam o tempo de construção de uma notícia. Primeiramente, o objeto é focalizado e levado à luz dos acontecimentos. Depois, suas características são delimitadas, em um processo chamado de enquadramento (ver capítulo 2.3.2), no qual a interpretação é direcionada para alguns pontos. Mais tarde, um vínculo entre 29 o objeto e os panoramas social e político é estabelecido. E, por fim, a mensagem é personificada em alguns porta-vozes que ajudam distribuir e cristalizar o processo cognitivo entre a audiência. É importante localizar temporalmente essa afirmação para compreendermos essa teoria (ou função do jornalismo, para alguns) em um período em que as mídias massivas, como o rádio e a televisão, eram as principais detentoras de prestígio entre as pessoas. Elas estampariam um selo de legitimação das ocorrências ordinárias em um evento especial. A popularização da internet, anos mais tarde, segundo alguns teóricos, teria enfraquecido a hipótese do agendamento, pois o público poderia criar suas próprias agendas e, mais ainda, influenciar os meios a acompanhá-las. Outros, porém, sustentam que a tentativa de influência da mídia é constante e que o agendamento se fortaleceu nesse período. A nós, por enquanto, não interessa nos posicionarmos a essa ou aquela corrente. O importante é compreendermos alguns elementos constitutivos dessa teoria para tentar entender a proposta de Gaúcha ZH em seu novo posicionamento discursivo de aproximação com o torcedor de futebol. 2.3.2 Enquadramento Há, dentro da teoria do agenda-setting, alguns conceitos essenciais para nossa análise. A influência de um veículo de mídia não seria possível sem que alguns princípios fossem observados. McCombs (2009) atenta para quatro: o status de quem cria a mensagem, o reforço dos estereótipos, a construção da imagem e o papel de gatekeeping (o qual abordaremos mais adiante, no capítulo 2.3.3). O primeiro refere-se à condição de poder de afirmação do emissor. O segundo e o terceiro, aos atributos dos objetos que compõem a mensagem. E o quarto, ao fluxo de distribuição do conteúdo, que pode ser retido, filtrado ou vazado conforme a decisão do influenciador. Todos eles são importantes para a detecção de um processo de agendamento de uma ideia. Contudo, vamos nos atentar, de momento, a um quinto item. O enquadramento foi uma formulação recuperada da Psicologia e da Sociologia para ser incorporado ao léxico da Comunicação Social. Gregory Bateson (1972) consagrou o conceito de quadro como “um limite espacial e temporal de um conjunto de mensagens interativas” (BATESON, 1987, p. 197). Ele considera que a mente enquadra as ocorrências para conseguir relacioná-las com a realidade. É uma estratégia psicológica de contextualizar os acontecimentos particulares com o mundo real objetivo. 30 Mais tarde, os estudos de Erving Goffman (1974) apontaram para uma organização das experiências cotidianas em quadros a fim de localizar as perspectivas dos indivíduos perante a sociedade. Para que façam sentido, essas inúmeras ocorrências são enquadradas em episódios que adequam o que deve ser destacado e o que pode ser descartado. A aplicação desses quadros, segundo o autor, não depende de interpretações anteriores. Um enquadramento “primário é aquele que torna o que de outra forma seria um aspecto sem sentido da cena em algo que seja significativo” (GOFFMAN, 1986, p. 21). Ou seja, o enquadramento estabelece o que deve ser visto, percebido, captado e apreendido em um primeiro momento. É uma forma de organização em diversos níveis que ordena, identifica e rotula os acontecimentos ordinários em algo formatado, empacotado e acondicionado conforme a realidade vivenciada. Dentro dos estudos da mídia, “o enquadramento é um dispositivo interpretativo que estabelece os princípios de seleção e os códigos de ênfase na elaboração da notícia, na construção da estória” (TRAQUINA, 2000, p. 28). No processo de elaboração de uma reportagem, essa é uma das etapas que delimita o conteúdo e o enquadra conforme a perspectiva do emissor. Esse conceito advoga que todas as palavras, imagens, elementos gráficos, enfim, todo o texto jornalístico é carregado de sentido intencional capaz de moldar as interpretações do público. A forma como é feita a abordagem de determinado assunto denuncia a posição que está por trás da construção da mensagem. O ângulo e o foco dados a uma cobertura conduzem a um caminho a ser percorrido pelo interpretante. A notícia, a matéria, a reportagem, a informação, sejam elas quais forem, carregam a identidade de quem a construiu e a quem ele as direcionou. Enquadramento é a seleção de – e ênfase – nos atributos particulares de uma agenda da mídia quando se tratar de um objeto. Por consequência, como sabemos da evidência do agendamento de atributos, as pessoas também enquadram objetos, colocando vários graus de ênfase nos atributos das pessoas, nos temas públicos e noutros objetos quando elas pensam ou falam sobre eles (MCCOMBS, 2009, p. 137). Os enquadramentos, por vezes, parecem ser decisões intuitivas e naturais dentro do processo jornalístico de apuração e construção do relato. Cada notícia possuiria atributos de inegável valor que não poderiam ser suprimidos e outros de menor importância que podem ser desconsiderados. A seleção e a definição do quadro recaem sobre a figura do jornalista, profissional apto a contemplar todos esses predicados e produzir o material completo. Em certos momentos, o enquadramento é uma necessidade imprescindível para contextualizar o espectador dentro de uma história mais complexa. Identificar um enquadramento, que na maioria das vezes está implícito no texto, não é uma atividade corriqueira. Ele se apresenta, 31 normalmente, nos adjetivos empregados, na seleção de exemplos comparativos, nas metáforas utilizadas, nas associações livres e nas frases de efeito. Muitas vezes, a significação do quadro apresentado está no interdito. A análise do enquadramento é, portanto, interpretativa. A cobertura jornalística de um movimento social pode selecionar de entre um conjunto de estratégias de enquadramento as alternativas que bem entender. As notícias podem documentar o âmbito dos problemas sociais, criticar propostas alternativas para lidar com os problemas ou centrar-se nos esforços táticos dos ativistas e dos representantes do Governo para resolver as questões (MCCOMBS; SHAW, 2000, p. 131). O que não pode ser desconsiderado é que esse trabalho não é individual, não está isento da influência de outros atores (fontes, editores, público) e não previne ruídos comunicacionais. Além disso, o enquadramento gera efeitos, intencionais ou não, que foram orientados pela construção de uma lógica cognitiva. O simples ordenamento das informações demonstra escolhas perceptíveis de prioridades, “e as prioridades da cobertura jornalística influenciam as prioridades do público” (MCCOMBS; SHAW, 2000, p. 132). Efeitos esses que, ao que demonstram estudos mais recentes, estão cada vez mais associados diretamente ao enquadramento midiático. Investigações novas que exploram as consequências do agendamento e do enquadramento feito pelos media11 sugerem que os media não só nos dizem sobre o que é que devemos pensar, como também nos dizem como pensar sobre isso; portanto, consequentemente, o que pensar (MCCOMBS; SHAW, 2000, p. 135). A questão inquietante sobre tudo isso é que o jornalismo é percebido como uma atividade de racionalização. Ela poria em ordem as distorções da realidade e organizaria de forma a fazer sentido ao público. Só que não podemos mais desassociar a racionalidade da emoção, e o enquadramento é um ponto fundamental disso tudo. O economista Daniel Kahneman (2012) aplicou uma série de testes matemáticos e comprovou que, na maioria das vezes, o Sistema 1 do cérebro, que coordena a parte emocional, age antes do Sistema 2, que coordena a racionalidade. Logo, se uma situação é enquadrada de maneira tal, é possível que respondamos de acordo com o estímulo mais benéfico antes de avaliá-lo parcimoniosamente. Entre vários exemplos, ele indica que, conforme a situação, tendemos a aceitar apostar em um jogo no qual temos 10% de chances de ganhar do que em um em que temos 90% de chances de perder. O problema matemático é o mesmo. Um jogo no qual a possibilidade de ganhar é de 10% e a de perder, 90%. Porém, o grupo ao qual foi proposto que teriam 10% de chances de ganhar apostou mais do que o grupo ao qual foi informado que havia uma chance de 90% de perder. A recompensa imediata, estimulada emocionalmente, superou a reflexão e a ponderação racional. Segundo Kahneman, desvencilhar-se disso é uma empreitada inglória: 11 Media aparece aqui como sinônimo de mídia, meios de comunicação de massa. 32 Re-enquadrar é laborioso e o Sistema 2 normalmente é preguiçoso. A menos que haja um motivo óbvio para fazer de outro modo, a maioria de nós aceita passivamente os problemas de decisão tal como são enquadrados e desse modo raramente tem oportunidade de descobrir em que medida nossas preferências são delimitadas pelo quadro, mais do que delimitadas pela realidade (KAHNEMAN, 2012, p. 460). Sobre esse enunciado, reafirmamos nossa apreensão com os perigos de um enquadramento insidioso. A construção de uma notícia não é infalível, mas, ao mesmo tempo, não é imaculada. Criá-la prescinde, entre outras coisas, buscar atingir o outro e causar nele certos efeitos. Na imprensa esportiva, o cuidado com o outro tem que ser redobrado. Cooptar um público pela emoção pode causar no outro uma reação contrária e seu consequente afastamento. 2.3.3 Gatekeeping Na esteira da Teoria do Agendamento, uma das ideias mais instigantes do jornalismo e principalmente da atuação do jornalista é a do gatekeeper. A noção de que uma figura tem o poder de determinar o que é e o que não é possível de ser alçado do patamar de acontecimento para o nível elevado da notícia, deslumbra alguns e amedronta outros. Nenhum, entretanto, fica imune à caracterização do guardião que filtra o que deve e o que não deve passar para o grande público. Além disso, a teoria do gatekeeping é uma das que observa o circuito informativo a partir do jornalista, e é isso que nos cabe apurar nesta dissertação. Conceitualmente, o gatekeeper é mais um termo surgido na área da Psicologia na década de 1940 e que só foi assumido pelo jornalismo em 1950. Ele foi aplicado para justificar os filtros que as notícias recebem dentro da redação antes de serem formatadas e repassadas ao grande público. O gatekeeper selecionaria o material que teria atingido o estado superior e mereceria a publicação. Com o tempo, porém, essa teoria entrou em descrédito por não apresentar critérios mais profundos sobre essa seleção. De acordo com Pena, “estudos posteriores chegaram à conclusão que as decisões do gatekeeper estavam mais influenciadas por critérios profissionais ligados às rotinas de produção e à eficiência e velocidade do que por uma avaliação individual de noticiabilidade” (PENA, 2005, p. 134). Outra crítica que enfraqueceu o princípio do gatekeeping é que o acontecimento passaria necessariamente pela manipulação de um jornalista, o que interromperia o fluxo natural da informação, já alguém reconstruiria o que seria transmitido a seguir. O gatekeeping constituir-se-ia, portanto, em uma distorção involuntária [...] da informação, devida ao modo pelo qual se organiza, institucionaliza e desenvolve a função jornalística, as chamadas estruturas inferenciais, que não significam 33 manipulação, pura e simplesmente, eis que não são distorções deliberadas, mas involuntárias, inconscientes, que podem chegar, por isso mesmo, a níveis bem mais radicais e perigosos, na medida em que omitem ou marginalizam acontecimentos que, por vezes, poderiam ser efetivamente importantes e significativos ao menos para determinadas coletividades (HOHLFELDT et al., 2001, p. 206). Esse conceito, no entanto, é importante para nos alertar de um ponto importante no circuito comunicacional. Qualquer que seja o emissor, em algum momento, objetiva algo. Ele tem a intenção de atingir alguém com o que produz. Essa intencionalidade é concebida a partir do universo que cerca o produtor da mensagem. São seus conhecimentos prévios, sua experiência profissional e até mesmo seus instintos. E ele elabora com o intuito de impactar um público específico, que pode não ser o público real que irá receber a notícia, mas um público ideal reconhecido e que o legitima. Todavia, como não pode controlar essa instância, o gatekeeper tende a reproduzir aquilo que o afeta diretamente. De acordo com Wolf, “a principal fonte de expectativas, orientações e valores profissionais não é o público, mas o grupo de referência, constituído pelos colegas ou superiores” (WOLF, 2012, p. 187). Daí o perigo da pretensa objetividade, pois, mesmo sem a intenção declarada, é possível que haja ruído, visto que o emissor não conhece seu público. Ou melhor, o reconhece de maneira generalista, mediana e especulativa. Há uma forte corrente defensora da ideia de que as pessoas apreciam a filtragem de inúmeros eventos para o realce de algumas poucas notícias e esperam que essa mediação seja realizada por jornalistas. Ao mesmo tempo, com a circulação da informação em rede nos tempos atuais, os próprios membros da audiência se tornaram guardiões do que passa pelos portões e o que é barrado. Isso fortalece a ideia de que não há uma extinção do papel do gatekeeper. Ele apenas teria trocado de nome e ocuparia um novo cargo em um momento posterior no circuito comunicacional. Os membros da audiência se tornaram ativos em um processo de gatekeeping secundário, que inicia quando o processo usual de mídia termina. […] Quando aos departamentos editoriais, os dados duros que indicam o que as pessoas querem ler se levantam contra a atitude canônica de responsabilidade social de dar aos leitores aquilo que eles precisam ler. Não sabemos se os jornalistas prestam atenção à lista dos itens mais enviados ou se a utilizam para suas decisões de gatekeeping. O que realmente sabemos é que a linha pontilhada representando uma curva fraca de feedback da audiência nos modelos de comunicação agora pode ser solidificada. E sabemos que nem os processos de difusão nem os processos de gatekeeping terminam na mídia de massa. A audiência é uma força que precisa ser reconhecida quando estuamos o fluxo das informações (SHOEMAKER; VOS, 2011, p. 19-20). De toda forma, seja quem for, o gatekeeper, que antes ocupava uma posição central na circulação das notícias, agora está em um arranjo diferente. A tendência é que, com a internet, esse papel esteja mais propenso a ser afetado pelas emoções. Assumir essa condição e agir conforme sua própria ideologia soa como algo distante da função jornalística. Há, contudo, 34 uma corrente teórica que defende a transparência e a declaração explícita das intenções do jornalista. 2.3.4 Advocacy journalism O advocacy journalism ou advocacia jornalística prega o posicionamento claro e transparente do jornalista no exercício de sua função. Não apenas em relação ao viés editorial ou à ideologia empresarial ao qual estão ligados. Essa modalidade sugere um engajamento com a causa pela qual estão intercedendo, em oposição à pretensão de objetividade e isenção do jornalismo neutro. De acordo com Donsbach e Patterson (2004), “o ponto chave sobre o jornalista neutro é que ele ou ela, rotineira e consistentemente, não escolhe lado em disputas partidárias e políticas. Em contraste, o jornalista advocatício toma partido e o faz de maneira consistente, substancial e agressiva” (p. 265). Essa corrente está inserida no media advocacy, que inverte a lógica da produção noticiosa. Não é a imprensa que constrói a narrativa, mas são os grupos políticos e sociais que se utilizam da mídia para difundirem seus ideais e iniciativas. Ela também subverte outra lógica, que é não ser guiada somente pelo acontecimento, mas agendar a cobertura de assuntos relevantes socialmente. Por isso, o advocacy journalism costuma estar ligado à mídia alternativa e a grupos que advogam por causas específicas, como o antitabagismo, a ecologia, o combate à violência e à exploração sexual, a luta contra o feminicídio, entre tantas outras. “A media advocacy é considerada uma estratégia importante para afetar a mídia, que é entendida como atores críticos que influenciam atitudes e percepções sociais sobre problemas específicos, bem como a conscientiza e influi nas decisões entre o público, os jornalistas e os agentes políticos”, define Waisbord (2015, p. 1). O posicionamento explícito é, ao mesmo tempo, uma resposta a outros estímulos. A polarização política, a tendência mercadológica de especialização dos meios e a segmentação dos públicos são indícios de que encontrar nichos ao invés de buscar atingir uma audiência massiva tendem a ser uma solução mais palpável para o momento atual. Isso ofereceria um ambiente muito mais propício para que também o jornalista assuma sua identidade como construtor de sentido e agente social. Albuquerque et al. percebem uma decadência no modelo catch-all12 tanto no Brasil quanto na imprensa mundial. Segundo os autores, há uma lógica bastante reconhecida no cenário nacional que, “mesmo estando ainda mais comercialmente 12 Em tradução livre, pegar todos, termo que se refere à generalização do público. 35 orientadas, as práticas jornalísticas, no Brasil, não deixaram de assumir papel ativo e advocatício. Isso porque é possível observar uma coexistência entre uma cobertura pluralista com uma atuação ativa/advocatícia” (ALBUQUERQUE et al, 2015, p. 20). Logo, embora sugira uma tendência, o modelo advocatício não deve, ainda por algum tempo, suprimir ou substituir o modelo comercial estabelecido. Outro argumento que valida o posicionamento evidenciado é que o jornalista identificado com uma causa ou um lado também facilitaria o público na interpretação dos enunciados. Discernir o local de fala permite que a audiência organize mentalmente todas as posições a fim de chegar às suas próprias conclusões. Assim, o jornalista deixa de ocupar uma posição central de distribuição da informação para se tornar um entre outros atores. Entre as críticas a esse modelo está a compreensão de que, ao desobedecer ao princípio da objetividade, ele se aproxima da propaganda e da opinião mais do que do jornalismo. A apreensão é que o jornalista ignore conscientemente alguns fatos para construir sua própria noção de notícia. Outra contestação que sofre o advocacy journalism é que o envolvimento com as fontes fere a independência, outro valor sustentado pelo jornalismo de referência ou mainstream. A aproximação com uma das partes geraria questões éticas a serem resolvidas e atrapalharia na tomada de decisão editorial sobre o que transmitir e o que omitir. Não cabe, aqui neste trabalho, suscitar tais debates. O que urge entender é o exercício da função jornalística e como o jornalista compreende seu público. De maneira específica, o quanto ele, ao defender uma posição, não estimula emoções opostas em públicos diferentes — o que ele busca atingir e o que ele de fato atinge. 3 JOGO, ESPORTE E FUTEBOL 36 O futebol não é apenas um reflexo da sociedade. Como todo esporte moderno, ele foi forjado por ela e possui em sua essência as características fundantes inerentes a essa sociedade. Não é uma parte da sociedade. Ele é a própria sociedade, com suas significações e representações, ainda que varie e se desenvolva conforme o tempo, como a própria sociedade. Entendermos como o futebol se formou, ganhou protagonismo social e, principalmente, como se popularizou é determinante para compreendermos de que maneira ele atingiu o status que possui hoje. No entanto, antes do esporte constituído como tal, há o jogo. Entendido dessa maneira, como uma atividade lúdica, sem maiores e mais sérias intenções, com o propósito da pura diversão, pode-se considerar que os jogos estão presentes na história desde períodos imemoriais. Na verdade, há muitas teorias acerca dos jogos. Eles aparecem ora como uma simulação lúdica de ações sérias da vida, ora como um escapismo para os impulsos nocivos, entre outras suposições. Para o historiador holandês Johan Huizinga, entretanto, o jogo vai além do caráter biológico do expurgo, da eliminação de energia retida, e das análises lógicas que reduzem o divertimento do jogo a uma compensação de um desejo. Ele tampouco restringe o jogo a uma organização humana, visto que, segundo ele, animais também “brincam”, o que não o deixa restrito a certos graus de civilização. Huizinga defende, inclusive, que essa racionalização sobre o processo de jogar é posterior à própria noção do jogo, algo mais instintivo e intuitivo da natureza animal. A própria existência do jogo é uma confirmação permanente da natureza supralógica da situação humana. Se os animais são capazes de brincar, é porque são alguma coisa mais do que simples seres mecânicos. Se brincamos e jogamos, e temos consciência disso, é porque somos mais do que simples seres racionais, pois o jogo é irracional (HUIZINGA, 2010, p. 6). Irracional e emocional, poderíamos complementar. O jogo não é, portanto, um produto da cultura e do avanço civilizatório. Embora ele se adapte e sofra influência de acordo com a sociedade, conforme a concepção do pensador holandês, ele é anterior às regras e às organizações. Na vida social moderna, segundo Huizinga, a ligação com o ritual que existia nas sociedades mais arcaicas foi completamente eliminada, o esporte foi “dessacralizado” sob todos os aspectos e se tornou profano (p. 220). Em suma, o jogo é, para ele: Uma atividade livre, conscientemente tomada como “não-séria” e exterior à vida habitual, mas ao mesmo tempo capaz de absorver o jogador de maneira intensa e total. É uma atividade desligada de todo e qualquer interesse material, com a qual não se pode obter qualquer lucro, praticada dentro de limites espaciais e temporários próprios, segundo uma certa ordem e certas regras (2010, p. 16). O conceito é abrangente, por isso precisamos nos ater a alguns detalhes. Quando concebe o jogo como uma atividade livre, Huizinga entende que ele não pode surgir de 37 nenhuma obrigação, ao passo que isso entraria na ordem do trabalho. Da mesma forma, a nãoseriedade corresponde à brincadeira, à atividade extraordinária na qual o sujeito não está atrelado às suas obrigações cotidianas. Isso tudo ocorre em um espaço físico e temporal específico, com regulamentos característicos livremente consentidos, de maneira material ou imaginária. Um “círculo mágico”, como denomina o autor, no qual todas as ações têm um sentido próprio. Para que o jogo de cartas exista, por exemplo, é preciso que os jogadores façam as trocas e apostas correspondentes até uma determinada sequência de atos que culminam com a definição de quem saiu vencedor daquela rodada ou partida. O mesmo ocorre em um jogo de futebol, no qual as equipes com atletas em números equivalentes precisam trocar passes, realizar dribles e colocar a bola dentro da meta adversária para fazer os gols e vencer, perder ou empatar um confronto. Dentro dessa esfera, Huizinga acredita, o jogo deve ser fim em si mesmo. Nada pode ser gerado para além. Por isso, a citação de que nenhum ganho deve provir deste jogo exceto ele próprio. Outra característica particularmente importante para o autor é que o jogo deve estar acompanhado de um sentimento de tensão e de alegria. Ele precisa de um propósito em si para que ocorra, uma intencionalidade, seja ela puramente estética ou antagônica. A solução de um enigma, a finalização de um quebra-cabeças, a ultrapassagem da linha de chegada ou o alcance do maior número de pontos em uma apresentação definem o objetivo dos jogos. Logo, para Huizinga, o jogo abrange tanto as características lúdicas quanto agonísticas. A competição, para ele, é natural ao jogo, algo totalmente impossível de separar, como função cultural, do complexo “jogo-festa-ritual” (p. 36). Quem se deteve a esses critérios de agonismo com maior cautela foi o sociólogo francês Roger Caillois. Ele se coaduna a Huizinga em muitas ideias, como na percepção do jogo como um universo que deva ser resolvido em si mesmo, que não gere nada dali. Para Callois, assim como para Huizinga, o jogo não prevê a produção de nada novo, apenas deslocamento, o que o diferencia da arte e do trabalho, por exemplo. É uma atividade livre e voluntária, fonte de alegria e divertimento, “ocasião de gasto total: de tempo, de energia, de engenho, de destreza e muitas vezes de dinheiro” (1990, p. 25). Porém, em outros aspectos, Caillois foi mais sistemático. Ele estabeleceu quatro categorias para a sua teoria dos jogos: agôn, alea, mimicry e ilinx. O primeiro corresponde aos jogos competitivos, de embate entre duas ou mais forças, como o boxe, o futebol, o rúgbi, o polo aquático, o tênis, o turfe e a natação, entre outros. O combate pode ser direto ou indireto, pela soma de pontuação, por exemplo, ou pelo cumprimento de etapas, como no atletismo. Nesse caso, o objetivo é superar o outro, ser 38 superior em pelo menos uma qualidade (rapidez, precisão, resistência, força, equilíbrio). Ganhar equivale, necessariamente, a fazer com que o outro perca. A vitória, nesse âmbito, depende do corpo ou da mente dos competidores, de um treinamento especial para fortalecer os músculos do atleta de luta livre ou exercícios para ampliar a capacidade de memória de um jogador de xadrez. Há um esforço que é recompensado com a glória pela superação do inimigo. Ao segundo grupo (alea) referem-se os jogos de sorte — ou de azar, conforme a denominação. São aqueles nos quais a participação do jogador é mínima ou inexistente, e cujo acaso exerce uma influência maior no resultado. Um jogo de roleta e a loteria são exemplos disso. Não há um esforço para influenciar no destino da ação, apenas uma expectativa pela consequência da aposta. Pode haver um planejamento, uma preparação, até um estudo mais agudo, que não influencia, entretanto, na resultância. Não há, também, um terceiro desfecho senão o triunfo ou o insucesso. As lançar os dados, o jogador atinge aquela combinação que espera ou qualquer outra que não o beneficia. Não há empates. A terceira família (mimicry) reúne os jogos cujo objeto é o simulacro, a ilusão, a aceitação de um universo imaginário momentâneo. São as mímicas das crianças que simulam os gestos de um animal ou de uma máquina, por exemplo. O prazer está em, temporariamente, assumir o lugar de outro. Caillois reconhece que essa categoria contempla todas as característica do jogo (liberdade, suspensão do tempo, convenções próprias), exceto uma: a submissão a regras. Ao contrário, o regramento imposto pela mímica é justamente a abstração parcial da realidade. Por fim, o quarto e último grupo (ilinx) agrega as práticas que buscam a vertigem. O objetivo de jogos como a queda livre, a apneia, e até mesmo as brincadeiras de crianças que giram ou saltam de grande alturas até “se perderem de si” momentaneamente é a suspensão do controle pela consciência, entrar em uma espécie de transe. Esses jogos oferecem um pânico transitório para devolver, em seguida, o alívio e o conforto pela recuperação dos sentidos. Nesse caso, muitas emoções estão envolvidas. Peguemos o exemplo de um tobogã. A pessoa que se dispõe a brincar nesse equipamento tem, ou espera-se que tenha, a sensação de temor ao subir a escada e observar a grande distância do solo, é acometida pela forte descarga de adrenalina ao descer em grande velocidade e, no fim, tem o consolo de ter superado esse obstáculo. A “graça” dessa brincadeira é, justamente, dispor-se a sentir essa variedade de emoções como um objetivo em si mesmo. Contudo, há a possibilidade reconhecida abertamente por Caillois de jogos que combinem uma ou mais características acima citadas e se enquadrem em mais de uma 39 categoria. Um jogo de pôquer possui, quase de maneira equivalente, componentes tanto de habilidade e memória quanto de sorte. O acaso pode destinar que as melhores cartas caiam na mão do jogador, mas uma parcela determinante no sucesso na partida é saber criar alternativas caso as cartas não sejam tão boas. Logo, o pôquer associa o agôn à alea. A competitividade em derrotar o adversário com uma pontuação maior associada à ventura em ser contemplado com o material que facilite o cumprimento desse objetivo. Com a profusão dos jogos na sociedade contemporânea, é difícil mensurar e categorizar todos. Como nosso caso de interesse nesta investigação é o futebol, atenhamo-nos às características agonísticas deste. O futebol, seja qual for a origem escolhida (qualquer um de seus antepassados antigos ou o moderno esporte bretão), pressupõe um adversário. Esse é o princípio do agôn: uma simetria inicial que será desfeita ao longo do jogo. Toda partida de futebol começa com o placar zerado e duas equipes com igualdade de condições (11 jogadores, um mediador, campo com marcações definidas e proporcionais). Um equilíbrio idealizado, diga-se, mas essencial para que o jogo exista. De acordo com Caillois, o agôn: Aparece sob a forma de competição, ou seja, como um combate em que a igualdade de oportunidades é criada artificialmente para que os adversários de defrontem em condições ideais, suscetíveis de dar valor preciso é incontestável ao triunfo do vencedor. Trata-se sempre de uma rivalidade que se baseia numa única qualidade (rapidez, resistência, vigor, memória, habilidade, engenho etc.), exercendo-se em limites definidos e sem nenhum auxiliar exterior, de tal forma que o vencedor apareça como sendo o melhor, numa determinada categoria de proezas (1990, p. 3334). Segundo Caillois, os jogos de estádio têm contribuição fundamental para a obediência a regras em determinado espaço ao longo da história. Mais do que isso, as grandes civilizações (asteca, chinesa, grega, romana) tiveram nas competições e nos rituais esportivos papel central na difusão do mérito conquistado em igualdade de oportunidades. Nas sociedades modernas, o agonismo é percebido na competitividade da carreira escolar, profissional, universitária ou militar. A rivalidade está intrínseca à disputa. No entanto, isso não significa que o enfrentamento esteja isento a certos códigos. Caillois alerta que nem mesmo a guerra “é o domínio da violência pura, mas tende a ser o da violência regulamentada” (p. 14). O jogo, como um relacionamento entre duas partes, pressupõe certa regulamentação e etiqueta. No que se refere à guerra, o autor ressalta que os conflitos iniciam “por uma declaração que especifica solenemente o dia e a hora em que o novo estado de coisas entrará em vigor. E termina pela assinatura de um armistício ou de um ato de rendição cuja finalidade também é especificada” (p. 14). Logo, apesar de uma luta travada com o objetivo mortal de liquidar com a defesa inimiga, há uma norma que compreende o que pode e o que não pode acontecer no transcorrer das batalhas. O esporte, 40 como representação de uma violência simbólica, exige uma organização da contenda ainda maior. Até por essa competitividade extremada, o teórico literário contemporâneo Hans Ulrich Gumbrecht diz-se inclinado ao esporte como sublimidade individual e coletiva, ao que denomina arete (ou aretê). O termo se refere à busca pela “excelência com a consequência (mais que com o objetivo) de levar algum tipo de performance a seus limites individuais e coletivos” (2007, p. 56). Ele opõe essa designação ao entendimento de agôn, que, para ele, é “a domesticação de confrontos e tensões potencialmente violentos dentro dos parâmetros institucionais de regras estáveis” (2007, p.56). Gumbrecht reconhece que a arete, assim como o agôn, corresponde à competição, seja contra um adversário ou em busca de superar o próprio limite. Até mesmo por isso tem predileção pelo ideal de perfeição, pois ele remete à superação, embora nem sempre a superação dos adversários corresponda à busca pela excelência. Seja qual for o enquadramento do futebol — afinal, não seria o aperfeiçoamento dos desempenhos e das atividades uma constante do esporte? —, o primeiro passo para compreender a dimensão que ele ganhou na atualidade é localizá-lo espaço-temporalmente. Os esportes modernos, tais como o futebol, o rúgbi, o tênis e o polo aquático, se consolidaram no século XIX, na Inglaterra, não por acaso. Eles culminaram com o estabelecimento da civilização moderna e o rompimento com uma organização social tradicional. Essas tradições também eram representadas pelo esporte, e este, por consequência, apresentava em sua constituição as formas de relacionamentos sociais antigos. Basta observarmos os esportes praticados em períodos anteriores, como o pugilismo, a maratona e o pancrácio, eventos mais físicos e violentos, de pouca ou nenhuma organização. Até por isso, predecessores do futebol como o chinês tsu-chu ou cuju, do século III a.C., o grego epyskiros, do século I a.C., ou o calcio fiorentino, do século XVI, não são conceituados como o futebol que conhecemos (FRANCO JÚNIOR, 2007). É na era moderna que dois conceitos surgem e ganham o sentido assumido até hoje: lazer e esporte. Embora a palavra leisure (“oportunidade para fazer algo”), derivada do francês medieval leisour e, antes ainda, do francês antigo leisir e do latim licere, surja no século XIV, o conceito passou a ser sistematizado a partir do século XVIII. Esse período passou ser caracterizado por um novo sistema econômico, baseado na produção fabril, o fim do absolutismo e o início dos Estados-Nação e uma nova organização social por meio de classes, que deixou mais claras as disposições do cotidiano, dos tempos sociais e da vida em 41 si. Curiosamente, é nesse período que as manhãs e tardes de sábado se consagram como o recesso dedicado ao lazer, e as férias, bem como a indústria que as cercam, são concebidas: Desenvolve-se uma ideia que antes pareceria paradoxal: descansar não é mais não fazer nada, mas escolher entre um novo conjunto de atividades que se apresenta. Na verdade, paulatinamente, a dinâmica do tempo da produção (do trabalho) impregnará o lazer (não trabalho), um dos elementos que ajuda a entender (como causa e consequência) a nova excitabilidade pública (MELO, 2010, p. 57). É um período no qual se produz muito e se gasta pouco, ou melhor, não há onde lançar o capital acumulado exceto na própria empresa e produção. Por isso, investir nos intervalos de ócio passa a ser uma alternativa bastante razoável. Não dizemos com isso, contudo, que foi um processo fácil. Houve tensões e rupturas nas lutas de classe, tentativas de controle e cerceamento pelo poder dominante, que ajudaram a forjar um novo modelo social replicado mais tarde no restante do mundo. O esporte, como conceito, é relativamente novo. No Brasil, foi comum durante muito tempo a utilização do termo em inglês sport, que foi aportuguesado apenas em meados do século XX, em um processo que nos ateremos particularmente mais adiante. Porém, sua conceituação se confundia com desporto, derivado do italiano diporto, que significa “divertimento”. Nesse sentido, esporte e lazer passaram a ser confundidos e até mesmo combinados como sinônimos. Somente com o passar dos anos e estudos específicos distinguiram o esporte como uma atividade sistemática que envolve o corpo, uma conceituação abrangente e que, por isso, gera algumas contradições. O turfe, um dos esportes que demarcaram a primeira fase de atividades gratuitas, ainda exibia as marcas da confluência entre os meios urbano e rural. Não por acaso, ele teve uma influência muito grande no desenvolvimento do desporto brasileiro em diversos sentidos, devido à urbanização tardia. No começo, todavia, apesar da presença da competitividade, não havia uma imputação moral à prática esportiva. Ela passou a ter presença mais adiante, em uma segunda fase, com esportes como o atletismo, a natação e mesmo as lutas, que privilegiavam a saúde e estavam conformadas a regras e à disciplina. Essas práticas se popularizaram e estiveram presentes nas distinções entre as camadas sociais, fazendo com que outros esportes, como críquete, tênis e iatismo, se relacionassem de modo mais estreito com a burguesia e as novas elites. O divertimento e o prazer são evidentes, mas o fator moral já é mais presente. O avanço tecnológico ocasionou, em uma terceira fase, os esportes voltados a máquinas e outros dispositivos, como o ciclismo e o automobilismo. Se olharmos atentamente, os esportes até esse momento são, em sua maioria, práticas individuais. O desporto coletivo ganharia guarida nas public schools, e o futebol e o rúgbi destoariam como 42 os principais entre eles. De qualquer maneira, em todos eles, a ação corporal está no cerne das atividades, inclusive se considerarmos, mais recentemente, os e-games e jogos online. Retornando, historicamente, em relação às conceituações política e econômica, o futebol surge na transição de dois períodos. Em um momento anterior, a concentração de recursos, acumulação de capital e obtenção de lucro eram proibidos. A competição entre os detentores do poder econômico era coibida, a fim de não desestabilizar o sistema vigente. Porém, com o desenvolvimento tecnológico (primeiramente agrário, e, depois, mercantil e industrial), houve uma explosão demográfica e a aceleração do processo de urbanização, propiciando a instauração de um novo sistema econômico, baseado em bens e na livre concorrência: o Capitalismo. O futebol legitima o Capitalismo. Ele age dentro de uma postura neutra na aparência. A neutralidade é um modo de encobrir um posicionamento pró-sistema. Reproduz e propaga as relações de produção nos clubes, federações e confederações. Privilegia as minorias burguesas (RAMOS, 1984, p. 109). O esporte bretão — expressão que foi consagrada no Brasil ao longo do século XX — nasce, portanto, com os mesmos ideais: competição, expansão, lucro, crescimento, prosperidade. Ainda assim, sua definição conforme conhecemos hoje só se tornou mais bem definida no fim do século XIX. Classificado como pré-moderno pelo sociólogo britânico Richard Giulianotti, no futebol desempenhado até meados daquele século “vestígios da era pré-industrial ou pré-capitalista são ainda muito influentes. De modo geral, isso envolve a aristocracia ou a classe média tradicional, que exerce sua autoridade muito mais por convenções do que por meios racionais ou democráticos” (GIULIANOTTI, 2010, p. 9). Com o tempo, porém, essas características ficaram mais evidentes, independentemente de onde se consolidaram. As relações diádicas de futebol operam em todos os níveis — jogador, time, clube e nação — e […] são efetivamente enraizadas na ontologia social do jogo. A mistura de normas das sociedades europeia, latino-americana e da Ásia ocidental também serve para promover a competitividade e a sensibilidade em relação ao outro, propiciando assim a hermenêutica vital para justificar as rivalidades no futebol. Na Europa e na Ásia ocidental, temos os costumes capitalistas e culturais de individualismo social, de masculinidade competitiva na indústria e no comércio, legado do imperialismo de guerra e de seu consequente cultivo do nacionalismo, frequentemente disfarçado de uma convicção religiosa. Nas sociedades latinas do Mediterrâneo ou das Américas, podemos acrescentar os chauvinismos mais profundos da família ou da aldeia (GIULIANOTTI, 2010, p. 30). A transição do século XVIII e XIX também foi marcada pela intensa transformação no desenho do espaço físico, com a mudança das grandes áreas agrárias por ruelas e becos. Houve ainda uma alteração no controle do tempo livre para a prática de exercícios e outras atividades alternativas ao laboro. O historiador escocês Bill Murray (2000) destaca, ainda, o 43 investimento nas rodovias e no transporte hidroviário, que tiveram impacto direto na expansão e no compartilhamento das regras. Há, portanto, diversas características que nos permite localizar o futebol na gênese da modernidade. Duas delas, segundo o sociólogo Ronaldo Helal (1990), são determinantes para o conceito de esporte: a secularização e a racionalização. Ao contrário dos esportes individuais originários da Grécia, como o atletismo, por exemplo, nos quais a superação dos próprios limites tinha acepções divinas ou religiosas, os esportes ingleses eram seculares, ou seja, “surge(m) como um evento laico, profano, sem nenhuma relação com a divindade” (HELAL, 1990, p. 35). Eles passaram a ser disputados em locais variados, e não mais sagrados, e ganharam certo grau de autonomia, o que facilitou sua expansão a outras culturas e territórios. Além disso, o preestabelecimento das normas que regem um esporte fez com que o imponderável fosse minimizado e a organização e o planejamento fossem priorizados, abrindo espaço para a racionalização. Ela permitiu que houvesse um equilíbrio nas formas de disputa, a fim de valorizar as conquistas por méritos. Nota-se que esse é um período imediatamente posterior à Revolução Industrial, do apogeu da industrialização e da divisão dos métodos de produção. O Reino Unido havia abandonado o mercantilismo e apostado em um mercado de trabalho que idealizava a meritocracia. Os esportes coletivos passaram a representar, de certa forma, a organização social vigente, de segmentação da força produtiva (time fracionado por posições e funções) e de obtenção de lucro (o ganho de pontos, gols, vitórias e títulos). Os esportes adquiriram graus maiores de objetividade e suprimiram gradativamente a subjetividade. Racionalizar consiste, antes de mais nada, em se conformar às leis da razão. É um processo pelo qual se faz entrarem no campo da razão realidades que, anteriormente, estavam fora dela. No domínio da ação, a racionalização elimina considerações de ordem pessoal, afetiva ou emocional, buscando uma adaptação consciente, exata e eficaz dos meios aos fins pretendidos. Quando isso ocorre, a ação social passa, então, a ser governada por regras bem definidas, calculáveis e racionais, não dando margem ao desenvolvimento de raciocínios místicos nem ao surgimento de relações e atitudes imprevisíveis (HELAL, 1990, p. 44-45). A data de fundação do futebol conforme conhecemos é impossível de ser verificada, mas convencionou-se aceitar como oficial a data de criação da Football Association (FA), a federação de futebol da Inglaterra, em 26 de outubro de 1863. A partir de então, ele se disseminou pela Escócia e demais países do Reino Unido, pela Alemanha, em 1874, pela Holanda, em 1879, pela Itália, na década seguinte, e assim por diante. No Brasil, a data consagrada é de 14 de abril de 1895, devido ao jogo entre as equipes das companhias São Paulo Railway e The Gas Work Team, no ano seguinte à volta de Charles Miller a São Paulo. 44 O garoto brasileiro foi estudar na Inglaterra a fim de atender a um anseio do pai inglês e teria retornado com bolas e livros com as regras do futebol de Cambridge. Porém, a origem de fato é mais complexa do que isso. Há registros de que, desde meados do século XIX, marinheiros ingleses, holandeses e franceses de navios mercantes praticaram o esporte nas praias brasileiras. Em 1874 e em 1878, nas faixas de areia da Glória e de Laranjeiras, no Rio de Janeiro, as tripulações disputaram algumas peladas. Em 1875, trabalhadores brasileiros e britânicos se enfrentaram no Club Brazileiro de Cricket, também no Rio. A partir de 1882, o Brasil, ainda monarquia, passou a ter um plano de educação elaborado por Rui Barbosa que inseria jogos recreativos no currículo das escolas com objetivo semelhante ao das escolas da Grã-Bretanha — formar jovens saudáveis e com forte consciência moral. O Colégio Jesuíta São Luís, em Itu, inspirouse em exemplos franceses e ingleses e implantou um jogo com bola. Ainda não era o futebol conforme conheceríamos mais tarde, o qual só foi instituído oficialmente no liceu em 1894, mas dava indícios de que a prática atribuída a Charles Miller como pioneiro não era de todo desconhecida no país. Aliás, há quem confira essa honra ao escocês Thomas Donohoe (SANTOS NETO, 2002; MILLS, 2005; ROSSI; MENDES JÚNIOR, 2014). Ele desembarcou no Brasil no mesmo ano da inclusão do futebol na grade da escola São Luís e do retorno de Charles Miller, só que alguns meses antes. Desde então, passou a ensinar o futebol aos colegas de trabalho na Fábrica Bangu. Todavia, nunca preocupou-se em registrar nada, o que dificulta assegurar a precisão das datas. Para os historiadores do Bangu Atlético Clube, instituição que ajudou a fundar, em 1903, não restam dúvidas sobre o pioneirismo do “Seu Danau”. O importante nisso tudo é a percepção de que não existe um fato formador do futebol no Brasil. Ele teve episódios distintos que, somados, ajudaram a difundir e popularizar a prática. Tanto é que o intercâmbio entre o futebol gaúcho e os demais estados acontece posteriormente à instituição efetiva desse esporte. A fundação do Sport Club Rio Grande, em 19 de julho de 1900, é tida como o marco inicial do esporte no estado e reconhecido pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) como o Dia do Futebol Brasileiro. Porém, ele nasce em período anterior. O jovem imigrante alemão Johannes Christian Moritz Minnemann reuniu jovens para criar um clube e praticar o fußball no último ano do século XIX, mas especula-se que já fosse praticado pelo menos desde dois anos antes. A influência dos ingleses na formação do futebol gaúcho é muito semelhante aos casos paulista e fluminense. Tripulantes do navio Nymph foram os primeiros adversários estrangeiros que não os quadros “a” e “b” da agremiação (RAMOS, 2000). No entanto, é inegável a influência da Argentina e 45 do Uruguai na formação do futebol gaucho nos anos posteriores, principalmente entre os trabalhadores da região da campanha. O esporte brasileiro, assim como a cultura brasileira, possui mais de uma inspiração e vários “pais”. Em comum entre todas essas histórias está a vinculação do futebol com a camada de trabalhadores de classe média, em sua maioria imigrantes de países nos quais o esporte já estava consolidado. Daí sua estreita relação com a industrialização e o desenvolvimento em lugares em que havia uma quantidade razoável de praticantes. Para que houvesse o mínimo de competitividade entre eles, precisava haver uma quantidade razoável de jogadores, pelo menos o mínimo necessário para a realização de uma partida. Por isso, muitos clubes jogavam entre si, com um quadro confrontando o outro, já que não havia concorrência. Foram justamente essas tensões internas que geraram dissidências e ocasionaram a formação de novas agremiações. A função dos times de futebol era organizar a comunidade (masculina) da classe média, normalmente em torno de dois polos locais e rivais permanentes: a maioria das cidades industriais desenvolveu dois times competitivos principais. Na Escócia (como em Liverpool) ela tomou forma com clubes associados especificamente com os imigrantes irlandeses (católicos) e os escoceses nativos (protestantes): Glasgow Celtic e Rangers, Edinburgh Hibernians e Hearts of Midlothian (HOBSBAWM, 1968, p. 264). Até então, havia uma certa lógica que regia as disputas internas. Os torneios entre clubes só passaram a existir em 1871, com a criação da Copa da Inglaterra (FA Cup). Por mais de 15 anos, apenas clubes amadores, ou seja, que não recebiam remuneração para atuar, eram aceitos. A profissionalização do futebol na Inglaterra aconteceu somente em 1885 (HOBSBAWM, 1968). Isso porque, dois anos antes, o Blackburn Olympic, time de trabalhadores da classe média contratados por um industrial de Blackburn, Lancashire, conquistou a Copa da Inglaterra. A federação decidiu por bem legalizar o mecenato e regulamentar o pagamento a atletas para que atuassem em competições oficiais. A partir de então, o esporte passou a representar não apenas um lazer para acomodar a classe trabalhadora, mas um meio de enriquecimento e estilo de vida em si. Mais uma vez, o Brasil ingressou de forma tardia no processo. O profissionalismo do futebol brasileiro aconteceu apenas em 1933, quando a Liga Carioca de Football (LCF) passou a permitir a entrada de atletas profissionais no certame. Logo a seguir, a Associação Paulista de Esportes Atléticos (APEA) seguiu o exemplo da entidade carioca e ambas criaram a Federação Brasileira de Futebol (FBF), já extinta, mas reconhecida pela FIFA naquele momento. Essa reformulação do esporte no país coincide com a chegada de Getúlio Vargas ao poder e o início de um populismo que enxergava no futebol uma maneira de manifestação da 46 cultura nacional. Porém, se formos considerar a criação de uma legislação que regulamente a profissão, o futebol só alcançou a condição de profissionalismo em 1978, com a lei n. 6.354, que só entrou em vigor em março de 1979 (HELAL, 1997). Essa terminologia pode causar alguns enganos vez ou outra. Quando nos referimos ao esporte moderno, devemos retornar ao século XIX e à constituição das mais variadas modalidades. Quanto ao futebol moderno, é um termo que pode sofrer variações. Ele se refere eventualmente, ao mesmo tempo, à sua criação, em 1863, à sua profissionalização, cerca de 25 anos depois, e até mesmo à sua popularização, no início do século XX, com a expansão para o mundo todo. Em relação à sua organização social: A “modernidade” está relacionada à rápida urbanização e ao crescimento demográfico e político da classe trabalhadora. Estabelece-se uma divisão entre espaços masculinos (público, produtivo) e espaços femininos (privado, reprodutivo). Os acontecimentos internacionais passam a ter maior influência na vida social cotidiana. A identidade passa a ser fixada ao longo dos eixos de classe, gênero, idade, localidade e etnia (GIULIANOTTI, 2010, p. 9). A separação entre o football association e o football rugby é um exemplo dessa modernidade. Com antepassados em comum, o futebol e o rúgbi da forma como conhecemos hoje foram co-produzidos e tiveram suas regras unificadas em meados do século XIX. Essa unificação permitiu que eles fossem exportados e assimilados em outros lugares, facilitando o desenvolvimento dos esportes em locais e esferas sociais distintos. É sociologicamente mais plausível supor que o rúgbi e o futebol foram coproduzidos. Isto é, são compreendidos melhor como sendo produzidos não simplesmente dentro das escolas públicas isoladamente, mas dentro da esfera social mais ampla, formada por todas as escolas públicas num estágio particular de industrialização, urbanização e civilização da Grã-Bretanha, aproximadamente entre 1830 e 1850. Esse era um estágio onde as tensões entre as classes baixas e a burguesia cresciam intensamente e parece razoável supor que estas intensificações de tensões de classe e status se refletissem nas relações entre as escolas públicas, fazendo parte do desenvolvimento de maneiras diametralmente opostas de se jogar o football (DUNNING, 2006, p. 62). Acima de tudo, portanto, o esporte moderno passou a representar modos de conflito. As disputas passaram a ser embates entre duas ou mais forças distintas organizadas sob uma mesma égide. Desde uma escola contra a outra, uma universidade contra a outra, um clube contra o outro, até ao que eles simbolizavam: uma classe contra a outra, uma localidade contra a outra, uma origem contra a outra. E essas características agonísticas se acirrariam com o tempo em diversas instâncias. Por isso, um atributo essencial do futebol precisa ser esquadrinhado: o esporte como conflito e representação da violência. 3.1 CONFLITO E VIOLÊNCIA SIMBÓLICA 47 O esporte é uma forma de expressão física simbólica. Para alguns, expressão física extrema, com certo grau de violência contida e reprimida. Porém, como vimos, o regramento e o controle social passaram a arrefecer esse extremismo. Se no pancrácio as lutas poderiam ser interrompidas somente após a morte de um competidor, nos esportes modernos a violência foi restringida a alguns gestos que simbolizam a agressividade: fazer um gol, um ponto, alcançar a meta do adversário. Há uma anedota provocativa do humorista norte-americano Bill Maher13 segundo a qual a caça não seria um esporte, afinal, “como pode ser considerado um esporte se você tem todo o equipamento e seu oponente sequer sabe que um jogo está acontecendo?”. Ela não é, certamente, um esporte de concepção moderna. Não há o elemento agonístico de oposição e competição, ao menos em igualdade de oportunidades. Ao mesmo tempo, é possível supor que, para o espectador, espera-se tanto a vitória do time do qual é adepto quando da derrota do rival. Essa conjectura foi feita pelo biólogo Desmond Morris: Tem-se dito que a verdadeira motivação dessas atividades modernas se relaciona mais com a derrota do rival do que com o abatimento da presa; que a criatura em fuga desesperada representa, para cada um de nós, o membro da nossa própria espécie que mais odiamos e que gostaríamos muito de ver nesses mesmos apuros. Com certeza que há certa verdade nesta hipótese, pelo menos para algumas pessoas. Mas, quando se encara o conjunto dessas atividades, é evidente que a explicação é muito incompleta (2008, p. 202). No caso do futebol, a gênese “caçadora” está evidentemente presente, mas não contempla a resposta em sua completude. Há um certo consenso de que o esporte moderno se sustenta no controle sobre o corpo. Um regulação feita em duas partes: pelas instituições que determinam as regras sob as quais esse esporte se baseia e pelo próprio praticante, que refreia suas ações para que atue sempre dentro do que está predeterminado. Os sociólogos Norbert Elias e Eric Dunning, inclusive, afirmam que “o futebol, como outras modalidades de desportos de lazer, se apoia no equilíbrio precário entre o enfado e a violência” (ELIAS; DUNNING, 1992, p. 84). Pode soar contraditório, mas a modernização do desporto nada mais é do que uma maneira de controlar o lado primitivo do praticante. Ao invés de causar dano a outrem, ele leva a bola ao gol do oponente. No decurso do século XX, as competições físicas, na forma altamente regulamentadas a que chamamos "desporto" chegaram a assumir-se como representação simbólica da forma não violenta e não militar de competição entre Estados, e não nos devemos esquecer de que o desporto foi, desde o primeiro momento, e continua a ser, uma competição de esforços dos seres humanos que 13 Disponível em: . Acesso em: 15 mar. 2017. 48 exclui, tanto quanto possível, ações violentas que possam provocar agressões sérias nos competidores (ELIAS; DUNNING, 1992, p. 45). Mais uma vez, é possível transpor essa realidade do esporte para outros domínios da sociedade. Uma vida social mais ou menos harmônica depende do controle particular sobre as emoções e da sujeição às regras estabelecidas naquela conjuntura. Nas sociedades avançadas do nosso tempo, muitas profissões, muitas relações privadas e atividades, só proporcionam satisfação se todas as pessoas envolvidas conseguirem manter uma razoável harmonia e um controle estável dos seus impulsos libidinais, afetivos e emocionais mais espontâneos, assim como os dos seus estados de espírito flutuantes. Nestas sociedades, a sobrevivência social e o sucesso dependem, por outras palavras, em certa medida, de uma armadura segura, nem demasiado frágil nem demasiado forte, de autocontrole individual. Nas sociedades como estas há um campo de ação muito limitado para a demonstração de sentimentos fortes, de acentuadas antipatias e de aversões relativamente a outras pessoas, para a entrega a intensos acessos de cólera, a um ódio feroz ou ao impulso de atingir a cabeça de alguém (ELIAS; DUNNING, 1992, p. 68-69). Conforme os autores, essa contenção é relativamente simples para alguns e até mesmo para a maioria das pessoas, mas é extremamente custosa para outras, que mantêm esse autocontrole em permanente conflito. Porém, há poucas sociedades humanas sem confrontos simulados, “sem instituições sociais que proporcionam, por assim dizer, a renovação emocional por meio do equilíbrio entre os esforços e as pressões da vida ordinária, com as suas lutas a sério, os perigos, os riscos e os seus constrangimentos” (ELIAS; DUNNING, 1992, p. 73-74). O que houve, segundo eles, foram mudanças nos padrões sociais de autodomínio. Como os indivíduos foram conduzidos a cercear seus impulsos de acordo com o discurso vigente. O quadro do desporto, como o de muitas outras atividades de lazer, destina-se a movimentar, a estimular as emoções, a evocar tensões sob a forma de uma excitação controlada e bem equilibrada, sem riscos e tensões habitualmente relacionadas com o excitamento de outras situações da vida, uma excitação mimética que pode ser apreciada e que pode ter efeito libertador, catártico, mesmo se a ressonância emocional ligada ao desígnio imaginário contiver, como habitualmente acontece, elementos de ansiedade, medo – ou desespero (ELIAS; DUNNING, 1992, p. 79). Portanto, para Elias e Dunning (1992), não há como extrair as tensões do desporto, muito menos esperar que as emoções sejam extirpadas dele. Elas estão presentes, em maior e menor grau, sob diversas formas. Por isso, é importante perceber que a violência, o uso dirigido da força, estará sempre presente, mesmo que simbolicamente, da mesma maneira que está presente em outros espaços sociais. O cientista político Luis Fernandes é um dos autores que trata o futebol como metáfora da guerra. No texto “Futebol, Racismo e Identidade Nacional”, incluído no prefácio à 4ª edição do clássico O Negro no Futebol Brasileiro, de Mário Filho, ele especula que a identidade nacional esteja atrelada ao futebol devido à inexistência de conflitos bélicos, já que, “na ausência de um maior envolvimento brasileiro em guerras — matéria-prima para a 49 construção de fronteiras de identidade na formação dos estados nacionais unificados na Europa — o futebol forneceu um simulacro de conflito bélico para o qual era possível canalizar emoções e construir sentidos de pertencimento nacional” (2003, p. 13). Independentemente da validade da opinião, compartilhada por outras pessoas, é oportuno observar como o conflito com outrem é entendido também como uma forma de aglutinação de um grupo que partilha objetivos comuns. O que nos atrai é entender o ponto limítrofe entre essa aderência social e o embrutecimento particular. Futebol é jogo de caráter mais primitivo. É guerra simbólica que estimula a guerra concreta de torcedores. […] à medida que o futebol foi se integrando mais à lógica capitalista, o mesmo aconteceu com a violência ligada a ele. Porque violência é parte integrante de qualquer concorrência, econômica ou esportiva. É verdade que o esporte desenvolveu-se na sociedade moderna justamente para disciplinar a violência inata ao ser humano, porém muitas vezes gera o inverso (FRANCO JÚNIOR, 2007, p. 198-199). É enganoso pensar que, no futebol, a competição ocorre apenas entre clubes e seleções. A competitividade entre dois grupos é verificada de vários modos ao longo do tempo. Ela pode representar a rivalidade entre escolas, universidades, clãs, cidades, grupos étnicos e religiosos, e até entre classes sociais. Ao investigar a formação de coletividades rivais no futebol, Franco Júnior não localiza em apenas um elemento a motivação para que uma rivalidade se estabeleça de maneira mais forte do que outra. Entretanto, a combinação de certas características tende a intensificar algumas tensões permanentes. Independentemente de como se organiza a sociedade global, sempre há no seu interior tensões entre os grupos que a compõem, sejam eles tribos, linhagens, castas, estratos, classes, corporações. Tensões cujos graus variam de acordo com fundamento básico das diferenças: familiar (linhagens), étnico (tribos), institucional (estratos, corporações), econômico (classes), mítico (clãs), religioso (seitas, castas), psicológico (orgulho, arrogância, humildade, rancor), geográfico (bairros, cidades, regiões, países, continentes) (FRANCO JUNIOR, 2007, p. 200-201). Pelo viés psicológico destacado pelo autor, é possível dizer que a manifestação emocional do outro é essencial na construção da própria identidade e, com isso, na afirmação do indivíduo perante a sociedade. O torcedor pode não saber definir quem ele é e porque torce para aquela agremiação, mas sabe que não pertence à torcida adversária e renega o que ela representa. Como constata Franco Júnior, “o objetivo do torcedor é simultaneamente o seu clube e o outro. É ele mesmo e o torcedor rival” (2007, p. 210). Alimentar-se dessa rivalidade faz parte da construção subjetiva de um torcedor de futebol. É interessante constatar o quanto essa definição se aproxima do conceito de homem moderno de Stuart Hall (2002). Ao contrário do sujeito do Iluminismo, centrado no ser, unificado, dotado da razão e construído a partir da relação consigo mesmo, o sujeito 50 sociológico da modernidade reflete a complexidade do mundo moderno, na qual a identidade se estabelece, principalmente, a partir da relação com o outro, do homem com o mundo social. A noção do sujeito sociológico refletia a crescente complexidade do mundo moderno e a consciência de que este núcleo interior do sujeito não era autônomo e auto-suficiente, mas era formado na relação com “outras pessoas importantes para ele”, que mediavam para o sujeito os valores, sentidos e símbolos – a cultura – dos mundos que ele/ela habitava (HALL, 2002, p. 11). O homem do período moderno deixou de ser um sujeito mais individualista para se tornar mais interativo com a sociedade. Por isso, a exterioridade, os ambientes e os sistemas nos quais estava inserido passaram a ser cada vez mais importantes na concepção do ser humano. Não era mais apenas ele em si, mas seu estímulo e sua resposta ao externo que passaram a significar o indivíduo. A pessoa passou a fazer parte cada vez mais de coletividades, e as interações ficaram cada vez mais públicas. Daí uma concepção mais estruturalista, pois a relação do homem com a estrutura passou a ser algo quase indivisível. Um exemplo que mostra como a identificação com um clube transcende a questão esportiva foi demonstrado pela pesquisa de Chiweshe (2016) com os adeptos do Dynamos Football Club, time de Harare, capital do Zimbábue. Em seu artigo, ele critica a natureza apolítica e anestésica do futebol e enaltece o caráter socializador do esporte. O Dynamos conquistou seus principais títulos e serviu como elemento de unificação do povo a partir de 1980, com a independência do país. Segundo o pesquisador, apoiar o clube, mesmo contra os rivais locais, é “um tipo de casamento baseado em comunidades imaginárias de fãs que compartilham dos sucessos e fracassos de seus heróis esportivos14” (CHIWESHE, 2016, p. 12). O etnólogo Christian Bromberger classifica o futebol como “uma mistura de exaltação do mérito individual e da solidariedade coletiva, uma insistência sobre o papel da sorte, da trapaça e de uma justiça mais ou menos arbitrária” (2008, p. 246). Para ele, a explicação não está apenas no que acontece no interior do campo, mas no envolvimento entre os atores de outras esferas. Muitas vezes, a oposição que ocorre no gramado entre dois times representa uma solidariedade entre os torcedores fora dele. Logo, o conflito é o combustível para uma coesão social, e a violência, um estímulo para a integração entre grupos supostamente distintos. Já o sociólogo Roberto Da Matta (2006) entende que “os espetáculos esportivos promovem o abandono temporário das regras utilitárias que conformam a ideologia burguesa, propondo a separação entre meios e fins, essa norma de ouro da racionalidade moderna” (DA 14 No original, em inglês, a marriage of sorts based on imagined communities of fans sharing in the successes and failures of their sporting heroes. 51 MATTA, 2006, p. 147). Eles são, em si, o exercício contraditório de equilibrar os instintos pelo senso racional de justiça. Os estádios, arenas, autódromos e toda grande construção esportiva são símbolos dessa transição do período antigo para o moderno. Dentro deles, a competitividade abre uma brecha na racionalidade febril fora dela. 3.2 RIVALIDADE, O ENCONTRO DA IDENTIDADE COM A ALTERIDADE No futebol, como vimos, a competição é inata. Seleções, clubes e atletas competem o tempo todo, repetidas e incessantes vezes. Mas nem todos são considerados rivais. Aliás, essa caracterização compreende um pequeno grupo que pode se considerar rival de outrem ou que desperta oposição permanente de outra torcida. Richard Davies (2010), quando lista as 10 principais rivalidades dos Estados Unidos no século XX, por exemplo, seleciona níveis profissionais (Chicago Bears e Green Bay Packers, no futebol americano) e amadores (Yale e Harvard), entre clubes (Boston Celtics e Los Angeles Lakers, no basquete) e atletas (Joe Frazier e Muhammad Ali, no pugilismo). Como é percebido, a constituição de uma rivalidade é algo complexo e imprevisível. A rivalidade não é, em si, boa ou má. Ela pode apresentar consequências positivas e negativas. Estimular ou reprimir ações. Solidificar esta ou aquela característica identitária de um grupo. Berendt e Uhrich (2016) observaram em um estudo recente que a rivalidade tem implicações na autoestima de um grupo. Do mesmo modo, confirmaram que o aumento na desidentificação com o rival e na percepção de reciprocidade de rivalidade gera consequências positivas, como a coesão do grupo. Esse comportamento dúbio poderia, segundo os autores, ajudar os clubes e seus departamentos de marketing a estabelecer “diferentes estratégias de comunicação antes dos dérbis, procurando maneiras de se antecipar sem aumentar o risco de comportamento agressivo15” (BERENDT; UHRICH, 2016, p. 26). Havard (2014) foi um dos primeiros a fazer uma investigação qualitativa, e não apenas quantitativa, para examinar a constituição da rivalidade no ambiente esportivo. Aplicando seu método em entrevistas com fãs de basquete e futebol americano, ele verificou que a superação ao rival direto causava mais satisfação e alegria ao torcedor do que qualquer outro tipo de vitória. O pesquisador concluiu também que os torcedores costumavam acompanhar as partidas do rival como modo de compará-lo a seu time favorito. Além disso, os torcedores relataram satisfação quando o rival perdia seus jogos para terceiros. 15 No original, em inglês, different communication strategies prior to derby games, looking for ways to build anticipation without increasing the risk of aggressive behavior. 52 Em um profundo estudo sobre as características que ajudam a compor uma rivalidade, Tyler e Cobbs (2015) identificaram 11 elementos fundamentais: frequência de competição, momento decisivo, paridade recente, paridade histórica, estrelas, geografia, dominância relativa, competição por pessoal, similaridade cultural, diferença cultural e injustiça. Entre eles, a frequência emergiu como o fator preponderante para a cristalização de uma rivalidade. Em seguida, vieram o momento decisivo, a paridade recente e histórica, as estrelas e a competição pelo pessoal. Proximidade geográfica e semelhança cultural são destacadas, mas em menor grau. Dentro dessas categorias, é possível caracterizar o clássico Grenal como um dos principais do país e do mundo devido à sua recorrência. São 409 dérbis em 108 anos de história. Mais do que Corinthians e Palmeiras ou Vasco e Flamengo, para citarmos dois entre os clubes mais populares do Brasil, mas menos do que Remo e Paysandu ou Atlético Mineiro e Cruzeiro. Por que, então, ressaltaríamos o Grenal como sendo mais acirrado entre todos os clássicos? Para começar, a própria contabilidade das estatísticas é um indício de reforço constante dessa rivalidade. A existência de todo clube de futebol, como de todo clã, está baseada em autoimagem megalômana. É para alimentá-la que toda comunidade clubística mantém atualizada sua “contabilidade de guerra”: quantos títulos na história e na temporada, quantas vitórias sobre os principais rivais, quantos torcedores possui, quanto de público leva aos estádios e à frente dos aparelhos de televisão (FRANCO JUNIOR, 2007, p. 207). Esses fatores costumam encabeçar o conceito de que, quanto mais próximos, mais antagônicos são os rivais. Franco Júnior é um dos defensores de que “a rivalidade entre os clubes de uma mesma cidade tende a ser maior do que entre clubes de cidades diferentes. Quando só há dois grandes clubes na mesma cidade o antagonismo tende a ser ainda mais agudo” (FRANCO JUNIOR, 2007, p. 204). Wisnik corrobora esta ideia, e usa a rivalidade Grenal como exemplo da divisão das comunidades em “clãs totêmicos” e da disputa ritualística em um mercado de trocas agonísticas. Em todos os casos, a base é uma só: ganhar remete ao imaginário (a sensação plena e fugaz da completude), perder remete ao real (à experiência de um corte que devolve ao sentimento da falta), e empatar, ou voltar ao zero a zero do reinício, é o pressuposto simbólico do jogo, que o movimenta e o faz recomeçar. Quando vigora dentro dessas condições, o futebol é um elemento de elaboração de diferenças, um campo festivo e polêmico de diálogo não verbal, projetado no terreno da disputa lúdica, que atualiza a necessidade de que haja um outro para que eu seja, de que um outro me afirme ao me negar (WISNIK, 2008, p. 51). Essa relação, para os defensores desse pensamento, teria se estabelecido desde o princípio do esporte. Como precisavam viajar menos e os encontros eram mais recorrentes, o 53 estreitamento de uma rivalidade local entre clãs municipais era maior do que entre grupos distantes. Ao mesmo tempo, havia o senso de defesa e preservação do grupo. Os clubes de futebol estabelecem identidades culturais por meio da rivalidade e da oposição. As mais puras rivalidades crescem entre clãs municipais. Durante a infância do jogo, foi uma ideia de bom-senso econômico estabelecer dois times rivais da mesma localidade, cidade ou região. Esses “clássicos” garantiam multidões relativamente grandes, devido às curtas distâncias viajadas por torcedores locais. Culturalmente, os jogos dérbi se autopromoviam: os torcedores rivais viviam, trabalhavam e se reuniam uns com os outros, discutindo, rindo e teorizando indefinidamente sobre os encontros passados e futuros (GIULIANOTTI, 2010, p. 26). Chega a ser surpreendente e até um pouco irônico que essa justificativa seja atual ainda hoje. Afinal, muitos argumentam que as discussões anteriores e posteriores à partida sejam mais importantes do que o próprio jogo. Essa seria uma das razões para que a imprensa esportiva coloque em sua agenda a alimentação diária das rivalidades. Mais uma vez, a questão não é estabelecer a rivalidade como algo bom ou ruim. Ela pode servir como causa para agressão e violência ou como promoção à solidariedade. Porém, cabe a nós buscar entender como a mídia atua no fomento desses elementos que estimulam o antagonismo esportivo e por quê. 3.3 DISCURSO ESPORTIVO, NARRATIVA ESPORTIVA Simultaneamente ao esporte, foi gestado o discurso esportivo. Nesse universo, estão os atletas, os praticantes amadores, os espectadores e os promotores do espetáculo. Há uma distinção óbvia entre quem utiliza seu corpo na realização da atividade física, quem assiste a essas ações e quem media essa relação. Também é clara a percepção de que todas as partes coabitam em um mesmo todo. Umberto Eco (1984), em um texto de 1969, percebeu isso de maneira única. Para ele, a prática esportiva é um desperdício de energia que, se sistematizada e organizada, tende a libertar o corpo das exigências do trabalho. O lúdico seria um antídoto ao enfado da atividade laboral — algo bastante próximo dos autores que vimos até aqui. O homem, como todo animal, tem necessidade física e psíquica de jogar. Há então um desperdício lúdico ao qual não podemos renunciar: exercê-lo significa ser livre e livrar-se da tirania do trabalho indispensável. Se ao meu lado, atirando uma pedra, junta-se outro para atira-la mais longe ainda, o jogo toma a forma de "competição": também ela representa um desperdício de energia física e de inteligência que fornece as regras do jogo, mas esse desperdício lúdico redunda num ganho. As corridas melhoram as raças, as competições desenvolvem e controlam a competitividade, transformam a agressividade original em sistema, a força bruta em inteligência (ECO, 1984, p. 221-222). Ao mesmo tempo, esse universo próprio que é o desporto gerou compartimentos também próprios. O esporte, para Eco, é aquele que é praticado. Já o espetáculo esportivo, 54 que é o esporte jogado por outros e assistido por mim, seria o esporte ao quadrado. Argutamente, ele provoca afirmando que “os atletas competem por esporte, mas os voyeurs competem a sério” (ECO, 1984, p. 223). Por sua vez, o discurso sobre o esporte assistido, que é o próprio discurso da imprensa esportiva, seria o esporte ao cubo. Contudo, segundo o autor, à época da publicação, estamos em outro período, o do esporte à enésima potência, que é o discurso sobre a imprensa esportiva. Para Eco, esse discurso é o discurso fático por excelência. O discurso sem uma finalidade específica, mas essencial para criar uma boa atmosfera social e uma relação aprazível entre as partes. Ele, inclusive, utiliza o termo falação para se referir a esse discurso que tem o fim em si mesmo: A falação esportiva é algo a mais, um discurso tático contínuo que se apresenta enganadoramente como o discurso sobre a Cidade e seus Objetivos. Surgida como elevação à enésima potência daquele desperdício inicial (e calculado) que era o jogo esportivo, a falação esportiva é a magnificação do Desperdício e por isso o ponto máximo de Consumo. Sobre ela e nela o homem da civilização de consumo consome diariamente a si próprio (e a toda possibilidade de tematizar e julgar o consumo decorrente ao qual é convidado e submetido) (ECO, 1984, p. 226). Não há como precisar o momento exato do rompimento da cobertura esportiva das demais em um periódico. Historicamente, há descrições de práticas esportivas na Grécia Antiga, no Império Romano, na China medieval, assim como em diversas outras civilizações. Na era moderna, são dois os principais marcos da presença de um esporte em uma publicação da imprensa: 1733, nos Estados Unidos, quando o Boston Gazette relatou uma luta de boxe, e 1817, quando a primeira seção de esportes apareceu no jornal inglês The Morning Herald (CHOVANEC, 2014, p. 231). Já a cobertura de esportes pela mídia de massa remonta ao período da Inglaterra vitoriana. A primeira cobertura nacional de um esporte de massa, segundo Warwick (2003), foi a corrida de barcos entre as universidades de Oxford e Cambridge, na década de 1850, que marcou o início do jornalismo esportivo moderno. O futebol tem registros particulares desde o princípio de sua história, assim como o críquete, a canoagem, o rúgbi, o tênis, a natação, o ciclismo e o boxe. No total, ao final do século XIX, havia 23 esportes reconhecidos, disputados anualmente nas universidades. O aceleramento no processo de produção de notícias se deu, principalmente, a partir da década de 1880, com a expansão das redes telegráficas e o surgimento de equipes contratadas especificamente com o objetivo de relatar partidas. No princípio, os textos eram bastante técnicos. Não eram incomuns os relatos nos quais as explicações acerca das regras sobressaíssem a outras informações consideradas secundárias, como, por exemplo, a autoria dos gols. Descrever as dimensões do campo ou enquadrar o acontecimento entre os eventos 55 culturais da cidade eram valores primordiais se comparados com as ações internas de um jogo. Os primeiros artigos são caracterizados pela tentativa do jornal de fornecer aos leitores informações técnicas e circunstanciais sobre a localização física do campo e o comprimento das partidas. Além disso, a dêixis temporal em tempo real, a ausência de uma especificação clara do resultado e a falta de atribuição estão entre as outras características dos relatórios das partidas neste momento (CHOVANEC, 2014, p. 229). Todavia, é enganoso pensar que esse modelo foi permanente. O relato das partidas não seguia o padrão cíclico das coberturas de hard news, segundo Chovanec, mas uma sequência cronológica de cima para baixo, principalmente a partir dos anos 1920. A pesquisa dele ocorre em cima do jornal The Times, mas é perceptível a influência que esse modelo teve nas coberturas de outros jornais da época, até mesmo no Brasil. De fato, é possível concluir, conforme o linguista, que “o gênero de relatórios de partida — como um tipo particular de jornalismo esportivo na mídia impressa — dificilmente foi estático porque teve que responder a uma situação sociocultural em constante evolução que diferiu década após década desde 1860” (p. 248). Conceitualmente, a imprensa esportiva é uma especialização do jornalismo que aborda as notícias que envolvem o esporte. Para alguns, é apenas uma editoria ou seção de um noticioso que está submetida aos mesmos procedimentos de qualquer outra área. Porém, ao longo do tempo, o jornalismo esportivo cresceu e passou a ocupar um espaço de protagonismo dentro dos meios de comunicação. Na imprensa brasileira, o esporte começou sem espaço específico dentro dos periódicos. Quando aparecia, em geral, era sob duas formas: convites e convocatórias para eventos ou narrações do ocorrido no dia anterior. O primeiro registro de algo relacionado à imprensa esportiva no Brasil seria algo nesses moldes. No ano de 1847, um grupo de amantes de corridas de cavalo publicou no Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, uma carta divulgando o espetáculo organizado por eles. Nos anos seguintes, ações desse tipo se repetiram, sem que fosse algo sistematizado e que pudesse ser considerado como jornalismo esportivo (MELO, 2012). As narrativas apareciam normalmente associadas a outros temas, como política, economia e vida social. O Jornal do Brasil foi um dos pioneiros a dar destaque à temática esportiva, no início da década de 1890, quando os principais esportes ainda eram o turfe, o remo, o ciclismo e até mesmo as touradas. O modelo mais comum de publicações dessa natureza eram compêndios de regras ou guias de comportamento para os chamados sportsmen — denominação que abrangia não apenas os atletas de cada modalidade, mas o público engajado com determinado esporte. Eles tinham um intuito mais educativo ao segmento letrado da época do fim do Império sobre 56 como adotar uma vida disciplinada e dedicada ao esporte. Em março de 1888, Alcides de Almeida disponibilizou o primeiro fascículo do Guia dos Sportmen16 (sic) ou O Vademecum dos amadores de corridas, publicação na qual sugere um acompanhamento da rotina do turfe por parte do público apostador como maneira de melhor embasar suas apostas e aprimorar os conhecimentos sobre cavalos e cavaleiros. É uma das primeiras vezes em que uma obra editorial orienta e fragmenta a assistência entre meros apostadores e observadores do caráter lúdico e competitivo do esporte. A estratificação da própria assistência, ainda embrionária naquele momento mas indicativa de um processo que logo acometeria sobretudo o futebol, torna-se-á importantíssima na medida em que, paulatinamente, formará um matiz de sensibilidades no interior da legião de aficionados por esportes, cujos diferenciais de comprometimento aguçarão experimentações variadas de vivência e fruição por diversas modalidades, estimulando a formação de um ethos esportivo mais ampliado e, no caso do futebol, o aparecimento de formas de torcer diferenciadas (TOLEDO, 2000, p. 42). Os suplementos e materiais específicos sobre esportes surgiram através de iniciativas dos próprios esportistas, que almejavam difundir as práticas, as regras e os valores dos esportes. Em 1903, João Canabarro lançou A Canoagem — Revista Sportiva, que, ao contrário do que sinaliza o nome, recebia matérias de esgrima, atletismo, futebol e equitação, além dos esportes náuticos. Essa seria a primeira publicação concretamente estruturada com o viés esportivo. De acordo com Melo, “o discurso (da revista) é construído de dentro do campo esportivo, apontando de forma privilegiada os desejos, as tensões, os desafios dos que se dedicavam a definitivamente conformar a prática” (MELO, 2012, p. 45). Também em 1903, Mário Cardim editou o Guia de Football, no qual inseria estatutos, tabelas e resultados dos campeonatos disputados pela Liga Paulista, os nomes dos clubes participantes, regras e excertos dos primeiros manuais técnicos que aqui chegaram sobre como aprender a jogar (e assistir), nomes das posições distribuídas em campo, horários dos bondes que atendiam aos campos e propagandas que aludiam à importância das práticas físicas ainda associadas a um ethos não necessariamente esportivo, tais como o consumo de charutos e bebidas (TOLEDO, 2000, p. 43). Dois anos depois, foi fundada a Casa Sportman, no Rio de Janeiro, que reuniu e compilou, mais tarde, em 1916, o volume das Regras officiaes de todos os sports, que dedicava a maior parte ao regramento do futebol. O boom desses manuais, entretanto, aconteceu à época da profissionalização do futebol, em 1933, como uma bandeira empunhada pelos jornalistas de então. Toledo (2000, p. 46) destaca entre os principais trabalhos, os volumes sobre regras e arbitragens de Leopoldo 16 O autor referido cita a obra, na mesma tese, de duas maneiras diferentes: Guia do Sportman e Guia dos sportmen. 57 Sant’anna (primeira edição de 1929 e segunda, de 1930); os almanaques esportivos organizados por Thomaz Mazzoni, editados desde 1928, e os livros do mesmo autor sobre a evolução da arbitragem, publicados entre 1936 e 1940; os livros sobre fundamentos e técnicas de jogo de Afonso Várzea (Max Valentim), várias vezes editado, desde 1939; e os trabalhos de divulgação esportiva de Arthur Azevedo, em 1940; entre outros. Na obra de Mazzoni, o autor ressalta, em especial, um compilado de 1950 intitulado Regras e Arbitragem, no qual incorpora os “X mandamentos do torcedor, espécie de código disciplinar e de conduta esportiva que investia claramente na direção de uma performance desejável para o comportamento torcedor” (TOLEDO, 2000, p. 251). Entre eles, se sobressaia uma norma referente à rivalidade, segundo a qual é sugerido que “em cada ‘torcedor’ existe um selecionador [um técnico] que dormita: adormece-o por completo e verás que as cousas marcharão para melhor. Durante e depois do jogo evite discutir com os torcedores contrários” (MAZZONI apud TOLEDO, 2000, p. 252). Como perceberemos mais adiante, não seria a primeira vez na qual a imprensa preocupa-se em regular e formatar o comportamento do torcedor. A primeira publicação de sucesso a se consolidar no mercado como um periódico específico de esporte foi A Gazeta Esportiva, de Cásper Líbero. Ela nasceu em 1928, como um suplemento do jornal A Gazeta, de São Paulo, e se tornou um material independente em 1947. Foram décadas de existência, até a transformação em site, em 1998, e o posterior fechamento, em 2001. À Gazeta Esportiva atribui-se boa parte da culpa pelo estilo do jornalismo esportivo brasileiro e a responsabilidade pela solidificação de um vocabulário distinto do estrangeiro. Paulista, ela reivindicava um discurso esportivo especialista, em oposição ao discurso “literário” da imprensa carioca, estabelecido nas décadas anteriores, e sugeria a “educação” de um público esportista em seus editoriais. Zelando pela saúde do futebol como fenômeno urbano, o que era por si só imperativo cumprir com afinco, e ao tentar fazer frente aos cronistas da capital, sede da confederação de futebol, a disputa pela hegemonia do discurso especializado da crônica aparecia no discurso do jornal ampliando a já conhecida equação linear onde trabalho, seriedade, isenção parecia nortear mais uma vez o caráter do paulistanismo esportivizado levado a cabo nas coberturas futebolísticas e nas páginas de A Gazeta (TOLEDO, 2012, p. 72). Nela também se destacou o uso das fotos dos jogadores, que estimulava a assimilação dos corpos dos ídolos pelos torcedores, fixando suas imagens em um imaginário coletivo. Ampliava-se a ideia do momento “único” dos jogos, reproduzindo as imagens em outros momentos e familiarizando o esporte entre os adeptos. Seu principal opositor e concorrente 58 era o Jornal dos Sports, criado por Argemiro Bulcão. Ele surgiu depois da Gazeta, em 1931, mas foi o primeiro diário de notícias esportivas com esse caráter. O surgimento do Jornal dos Sports coincide com a centralização do poder no Rio de Janeiro, então capital da República, e o incentivo governamental aos espetáculos esportivos. Hollanda frisa que, “afora a escala atingida pela dinâmica esportiva profissional, não resta dúvida que o contexto econômico-político propiciou a afirmação dessa espécie paralela e autônoma de gênero jornalístico” (HOLLANDA; MELO, 2012, p. 82). Com a ideia de desenvolvimento de uma cultura nacional, o diário adotava uma retórica doutrinária, patriótica e heróica. O esporte como formador moral e promotor da saúde, com constantes elogios ao ideal olímpico e ao modelo do homem moderno. Ele também deu continuidade a um processo de aportuguesamento dos termos que havia começado em 1925, com O Estado de S. Paulo. Simultaneamente, em O Globo, Mário Filho abria espaço para o cotidiano e a vida privada dos jogadores, alçados à condição de ídolos, e pautando as coberturas dos demais periódicos. Ele levou esse perfil ao Jornal dos Sports quando o assumiu, em 1936, e estreitou as alianças com os dirigentes e patrocinadores dos esportes. Nessa época, eram comuns os torneios e concursos promovidos por publicações. Hollanda avalia que, “através dos esportes, Mário Filho contornava conflitos e criava consensos. Era-lhe lícito, dos bastidores do seu jornal, influenciar, de uma forma própria e muito sutil, os destinos esportivos brasileiros” (HOLLANDA; MELO, 2012, p. 97). Foi com essa habilidade que ele ajudou a promover encontros e a intensificar as rivalidades entre os clubes paulistas e cariocas, bem como entre a seleção brasileira e a dos vizinhos Uruguai e Argentina. Segundo Hollanda, “o Jornal dos Sports procurava arbitrar a forte rivalidade entre os estados do Rio de Janeiro e São Paulo e enfatizava a necessidade de desenvolvimento dos esportes na capital federal. Por outro lado, ainda no plano das rixas, a alteridade com países vizinhos sul-americanos parecia positiva no sentido de despertar e cativar o interesse dos leitores” (HOLLANDA; MELO, 2012, p. 86). Com a morte de Mário Filho, em 1966, o jornal passou por muitas mãos. O período coincidiu com a efervescência política do país e o surgimento de um novo periódico mensal, a revista Placar. Esses, segundo o autor, foram alguns dos fatores que contribuíram para o início do declínio da publicação. Ela precisou atender a outros assuntos, abriu mão da exclusividade do esporte e foi vendida, nos anos 1980, para sanar dívidas. A Placar, por sinal, é outra das mais longevas e bem-sucedidas empreitadas no jornalismo esportivo. A revista foi fundada em 1970 pela Editora Abril e, após um breve período fora do guarda-chuva do grupo nos anos 2000, readquirida por ela. Ela iniciou com periodicidade semanal e alinhada com a ideia de modernização do esporte nacional. O futebol, 59 evidentemente, era o condutor. Ao mesmo tempo que manteve muitas características das publicações antecessoras, como a exaltação aos ídolos e divulgação dos jogos do Campeonato Brasileiro, a Placar aguçou um perfil editorial bastante crítico ao governo (militar, na época). São célebres as grandes reportagens investigativas da revista, como a que expôs as falcatruas da Loteria Esportiva. Malaia, no entanto, destaca uma dicotomia no discurso jornalístico da publicação: Se estavam presentes mensagens de crítica à estrutura esportiva e à ligação do governo com a seleção brasileira, também havia um discurso editorial que se aproximava tanto da linha ideológica do governo, quanto do apoio à estrutura elitista da organização da sociedade brasileira. Tais perspectivas podem ser percebidas nos discursos da publicidade, no apoio à recém-criada loteria esportiva e em reportagens que revelam posturas elitistas na análise do futebol brasileiro (MALAIA, 2012, p. 165). É importante percebermos que não apenas um profissional, empresa ou obra estabeleceram as diretrizes do jornalismo esportivo brasileiro. Houve uma sucessão e até uma justaposição de elementos que ajudaram a alicerçar o caminho até o perfil atual. A Placar, por exemplo, ficou conhecida pelo apelo fotográfico consoante ao texto nas matérias. Os pôsteres dos times campeões eram peças exclusivas e concorridas. Porém, esse expediente nasceu anos antes com a Manchete Esportiva, do conglomerado midiático da família Bloch. Foi ela quem introduziu massivamente e consagrou a publicação de pôsteres das equipes nas páginas centrais. A revista apostava no fotojornalismo, com alguns destaques impressos em cor, tendo o texto como auxiliar na construção imagética do discurso. Ela existiu durante dois períodos, nas décadas de 1950 e 1970, concomitantemente ao período desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek, na segunda metade dos anos 50, e simultaneamente ao governo militar, entre 1977 e 1979, “um produto de uma indústria cultural de massas, cujos padrões de comportamento social, político e econômico seriam moldados de acordo com os interesses de uma classe média urbana em constante crescimento” (COUTO, 2012, p. 111). Embora se chamasse Manchete Esportiva, o esporte primordial era o futebol, com pouquíssimos destaques a outras modalidades, como o pugilismo ou o automobilismo. Essas não eram apenas subordinadas ao futebol, mas objetos de comparações constantes com aquele esporte que, de acordo com sua linha editorial, detinha o significado social maior para o brasileiro. O que revela duas contradições no nome. Manchete, em referência aos títulos das reportagens de uma publicação, ainda carregava algum sentido, pois os textos não eram longos. Porém, esportiva era uma denotação equivocada, pois, na verdade, ela reportava quase exclusivamente o futebol. 60 Por vezes, é razoável pensar que a ideia da construção da imagem do futebol brasileiro esteja atrelada ao desenvolvimento do rádio a partir do governo central, no Rio de Janeiro. A apreciação da história dessas revistas com suas miras voltadas para a fotografia, entretanto, revela a importância que a imprensa também teve para a consolidação do futebol como a paixão brasileira por excelência. Tanto que outra publicação dessa época, a Revista do Esporte, procurou fazer a transposição de um universo para o outro. Ela foi criada em 1959 por Anselmo Domingos como uma magazine especializada na vida pessoal das personalidades do esporte. O ênfase em notícias polêmicas e sensacionalistas era o mesmo da Revista do Rádio, publicação que originou a irmã esportiva. Durou até 1970, e pode-se considerar um caso de sucesso, pois conseguiu captar o momento e fazer com que três mídias (rádio, imprensa e televisão) coexistissem harmoniosamente. Missão semelhante à que o jornal Lance! se propôs a partir de 1997, quando foi fundado, em meio à revolução digital e à popularização da internet, ditando novos rumos ao jornalismo. Inspirado nos modelos do espanhol Marca e do argentino Olé, baseou-se em três princípios para se firmar no mercado brasileiro: estabilidade econômica com o controle da inflação; modernização da legislação esportiva; e abertura das leis que regulam a mídia, que passou a permitir a participação de capital estrangeiro em empresas nacionais. Sediado em São Paulo e no Rio de Janeiro, e munido de rotativas própria, teve alcance nacional. Ao mesmo tempo que testemunhou o fim da concorrência do Jornal dos Sports, atingiu alguns marcos, como ser o primeiro jornal totalmente colorido do país. Inclusive, no começo, o design e outros aspectos visuais suplantavam a primazia do texto. O objetivo era criar um periódico alinhado com o torcedor e antagônico com os jornais diários. O “jornal do hincha17” [...] deveria ser um lugar, primeiro, em que o leitor-torcedor encontrasse informações e seções diferentes, que o surpreendessem pelo enfoque original, “humano”, dado à notícia sobre o seu clube. O jornal deveria ser também um lugar para o torcedor encontrar prazer, não sofrimento. E, por fim, o jornal não deveria se preocupar em agradar o hincha no dia seguinte a uma derrota do seu time (STYCER, 2012, p. 196). Observando especificamente o jornalismo esportivo no Rio Grande do Sul, por meio da revisão feita por Hatje (1996), percebemos que a imprensa gaúcha, de maneira geral, acompanhou as tendências nacionais na formatação de seu perfil. As primeiras publicações dessa natureza foram pequenas notas sobre o Deutscher Turnverein (Clube Alemão de Ginástica), em 1867. A exemplo dos comentários acerca do turfe, no Rio de Janeiro, duas décadas antes, essas notícias eram técnicas e laudatórias à prática esportiva feita por profissionais da área. O primeiro profissional vinculado à área foi Archymedes Fortini, por 17 Do espanhol, “fã” ou “torcedor”. 61 volta de 1900, também com breves notas no Correio do Povo e no Jornal do Commércio. A pesquisadora afirma que Fortini e os demais jornalistas que começaram as coberturas esportivas no Estado, como Túlio de Rose, Cid Pinheiro Cabral, Amaro Júnior e Edison Pires, eram “jornalistas por instinto”, “autodidatas” e que “nutriam um profundo amor ao esporte seja como atletas ou aficcionados” (HATJE, 1996, p. 188). No princípio, não havia a especialização por modalidades, o que exigia profissionais polivalentes que cobrissem de 20 a 30 esportes diferentes. A tecnologia da informação era incipiente, com custos altíssimos de telefone e sem as facilidades oferecidas por recursos que surgiriam apenas anos mais tarde, como o fax e a internet. A maioria das matérias eram enviadas para a redação por ônibus ou trem. Além da cobertura, os jornalistas promoviam eventos, como rústicas e provas de carrinho de lomba, para reunir a sociedade, assim como faziam os grandes jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo. Segundo Hatje, “o esporte gaúcho deve às primeiras gerações de jornalistas esportivos boa parte do seu desenvolvimento, assim como a imprensa deve ao esporte boa parte do seu crescimento e desenvolvimento” (HATJE, 1996, p. 189). A primeira grande mudança sensível ao jornalismo esportivo gaúcho acontece em 1949, quando o jornal Folha da Tarde Esportiva, da Empresa Jornalística Caldas Júnior, se torna uma publicação diária independente. O período coincide também com as criações das primeiras escolas de jornalismo no estado, nos anos 1950, e a transição de um perfil de autodidatas para especialistas. Entre os jornalistas que se sobressaíram a partir dessa época, a autora destaca Rua Carlos Ostermann e seu “estilo mais intelectualizado e analítico” (p. 190). Nessas duas décadas até os anos 1970, conforme Hatje, a imprensa passou a se preocupar com outros aspectos do esporte, como os valores humanos, e os textos esportivos passaram a ter “característica radiofônica, embora ainda envoltos de muitos adjetivos e estrangeirismos” (p. 190). Outras duas particularidades desse período que foram determinantes para a construção de um modelo de jornalismo esportivo gaúcho nas décadas seguintes foram a instituição dos setoristas, que acompanhavam os clubes diariamente (naquele momento, o futebol já era o carro-chefe entre os esportes), e a expansão da indústria automobilística no país, que forçou a ampliação de uma cobertura sistematizada desta área. Ao traçar um perfil das publicações esportivas nesse momento no Rio Grande do Sul, a autora resume da seguinte maneira: 70% do espaço nos periódicos era destinado a notícias do esporte profissional e amador, 20% para entrevistas e 10% para reportagens longas e esporádicas. Outro marco na história da imprensa esportiva gaúcha foram as coberturas da Copa do Mundo da Suécia, em 1958, e do Chile, em 1962, pela Caldas Júnior. A imersão dos 62 profissionais na área passa a ser sequencial. De acordo com Hatje, “a influência do ambiente esportivo modela a vida dos profissionais da imprensa esportiva e se configura no comportamento pessoal e profissional” (p. 191). Porém, com a suspensão da Folha da Tarde Esportiva, em 1973, o espaço para uma publicação esportiva diária ficou cada vez menor. Ao mesmo tempo, os anos 1970 foram um período de profissionalização da função e estabelecimento de novas técnicas de redação. Os adjetivos e estrangeirismos, segundo a autora, “foram perdendo força em prol do texto simples, claro, conciso e objetivo, de forma a atingir um contingente cada vez maior de pessoas” (p. 192). O perfil do profissional polivalente mudava para atender outras valências. A partir de então, o jornalista esportivo passou a preocupar-se com aspectos que vão além do esporte, sejam eles sociológicos, médicos, políticos, culturais, econômicos, históricos ou geográficos. As relações entre os repórteres e as fontes deixa de ser (ou ao menos se espera) pessoal, os autores dos textos esportivos não são mais atletas, mas jornalistas profissionais, e a editoria de esportes começa a ocupar lugar nobre nas redações. De maneira geral, essas são as principais publicações do gênero no Brasil e no Rio Grande do Sul ao longo da história do jornalismo esportivo. Há, ainda, diversas obras que trataram e tratam do tema em outras áreas. Aliás, muitas figuras do meio literário passaram a se interessar pelo futebol desde o alvorecer do desporto moderno. João do Rio, pseudônimo de Paulo Barreto, Antônio de Alcântara Machado e Coelho Neto foram alguns dos primeiros a publicar crônicas esportivas nas duas primeiras décadas do século XX. Entre inúmeros autores, o escritor Graciliano Ramos, sob o codinome J. Calisto, em 1921 escreveu uma crônica na qual dizia que o futebol era “fogo de palha” e que tal esporte não prosperaria em uma sociedade “débil” como a brasileira de então (HELAL; SOARES; LOVISOLO, 2001, p. 123). Da mesma forma, Lima Barreto tornou célebre sua opinião, publicada na revista Careta um ano depois, na qual colocava o futebol em posição inferior em relação à rinha de galo, e afirmava que “o football não goza do privilégio de cousa inteligente” (MACHADO et al, 2014, p. 79). Hoje, elas são interpretadas com boa dose de comicidade. À época, porém, receberam apoio daqueles que enxergavam no esporte bretão um perigo para a cultura nacional. A crônica jornalística, inclusive, foi o principal formato escolhido para abrigar as narrações esportivas. O irmão mais novo de Mário Filho, Nelson Rodrigues, foi o maior expoente nacional desse tipo de narrativa. Ademais, Carvalho (2005) identifica em algum momento na transição da década de 1960 para 1970 uma mudança na estética e no apelo emocional das narrativas esportivas. Antes, segundo o autor, era uma construção mais 63 documental, em linguagem prosaica e testemunhal. Ao cronista esportivo cabia relatar objetivamente o ocorrido, sem ousadias textuais, pois “não havia praticamente televisão ao vivo, o espaço nos jornais era reduzido e a massificação ficava limitada aos conceitos impressionistas passados pelo rádio, então o grande veículo de comunicação para o esporte, especificamente futebol” (CARVALHO, 2005, p. 60). Mais tarde, porém, houve “uma imersão no mundo que exigia conexão com as emoções do jogo e com a faceta humana dos ídolos” (CARVALHO, 2005, p. 60). As pautas passaram a ser mais aprofundadas e emotivas. O jornalista esportivo passou a ganhar espaço nas redações e a desenvolver uma estética própria, forjada muito mais na aproximação com as outras áreas do que por uma formação baseada em alguma escola. Para Carvalho, foi “uma espécie de vingança para a mídia esportiva, durante tanto tempo tratada como subjornalismo” (CARVALHO, 2005, p. 60). A linguagem mais simples, a ordem direta, os neologismos, a variedade das pautas, a ampliação das especialidades e a dramatização do espetáculo passaram a fundamentar o modo de fazer do jornalismo esportivo. Essa opção pela humanização do jornalismo em oposição à mecanização anterior foi entendida como a maneira de diferenciar o texto jornalístico de outras narrativas esportivas. O modelo televisivo pressupunha uma dramatização maior dos acontecimentos, e o radiofônico primava pela instantaneidade e dinamicidade da informação. Nos jornais e nas revistas esportivas, o jeito de sobressair-se era aprofundar-se nas notícias, apresentando ângulos e recortes distintos, expandindo o fato para quantos caráteres fosse possível. A vantagem estava no privilégio da homologação das emoções. Se o rádio e a TV magnificavam uma ação gloriosa, com os exageros que pressupõem a comercialização das emoções ao vivo, os argumentos e bastidores que os jornais publicavam no dia seguinte eram a confirmação de tudo como efetivamente aconteceu, a verdade de todas as verdades, a explicação racional para todos os milagres (CARVALHO, 2005, p. 67). Ao mesmo tempo, esse período foi marcado pela ampliação do espaço publicitário na mídia. Um dos esforços foi aperfeiçoar o modelo a fim de distinguir um discurso jornalístico informativo de outro voltado ao aspecto mercadológico. Com as fronteiras cada vez mais turvas, a emoção passou a ser confundida com a comoção, e culminou com uma banalização da perspectiva humanista e uma fuga à vulgarização dos estereótipos. O resultado foi a automação do processo jornalístico. A manufatura de uma pauta deu lugar à pasteurização das mídias. Exceto por algum lugar na TV fechada, principalmente a partir dos anos 1990, os demais setores da imprensa voltaram-se à repetição. De certa forma, confirmando a previsão de Umberto Eco décadas atrás, de que a imprensa esportiva se tornou fática, retroalimentando a si mesma. 64 À internet, caberia conjugar as duas expectativas: equilibrar a emoção na construção do drama esportivo e atender à demanda pela instantaneidade da difusão das informações. Contudo, nem sempre é possível atender aos dois. E, de certa forma, a web ainda busca por uma linguagem própria que corresponda a essas necessidades. Ela incorpora os elementos de outras mídias em um processo de convergência direta, como as manchetes dos jornais em portais ou a disponibilização de áudios nos sites das rádios, e também oferece caminhos próprios, sejam pelas publicações imediatas em blogs e microblogs ou pela popularização das imagens com a profusão de memes18. As ferramentas de narração minuto a minuto são exemplos dessa tentativa de incorporar a informação imediata ao modelo narrativo consagrado pelo rádio e pela televisão. Como esse tipo de narrativa é relativamente recente (está estabelecida há menos de 25 anos), ainda sofre com o dilema sobre para qual lado pender, seja em sua formatação formal ou na linguagem adotada. O da emoção, todavia, ganhou força nos últimos anos e apresenta-se como tendência. Antes disso, no entanto, precisamos recuperar como a imprensa esportiva gaúcha enquadrou e ajudou a construir a rivalidade Grenal. 3.4 DO GRENAL À GRENALIZAÇÃO Grenal é o nome dado ao confronto entre o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e o Sport Club Internacional. Mas, para a comunidade gaúcha, é bem mais do que isso. Em uma de suas conhecidas crônicas, o jornalista Ruy Carlos Ostermann faz uma intensa analogia: “Perder o Grenal é perder a vida metaforicamente. Perder um braço, metade da perna, o baço, um pulmão, ficar caolho, contrair doença de pele. Quase morrer, é o que é. Não tem nada parecido em sofrimento e perda” (1998b, p. 123). Talvez, esse trecho dê indícios para duas breves conclusões: a rivalidade entre Grêmio e Internacional tem contornos taoístas, onde um é a negação completa do outro (mesmo que reconheça a semente do outro em si); e que a crônica esportiva gaúcha tem uma séria inclinação para o drama e o sentimentalismo. De todo modo, como dérbi, o Grenal existe desde 21 de julho de 1909, pouco mais de dois meses após a fundação do Inter, quando os clubes se enfrentaram no Estádio da Baixada, então domínio gremista, no bairro Moinhos de Vento. Porém, o termo só foi consagrado na 18 O termo “meme” foi utilizado pela primeira vez por Richard Dawkins no livro O Gene Egoísta para se referir à menor unidade de informação. Na internet, ele passou a referenciar toda ideia de fácil e rápida propagação, seja ela por imagens, sons, textos etc. 65 década de 1920 — o que poderia levar-nos a crer que, enquanto rivalidade, ele passou a existir tardiamente. Mesmo assim, consideraremos o antagonismo entre os clubes desde o primeiro embate. Já a grenalização, como produto dessa dicotomia, é um fenômeno recente. Antes de nos atentarmos a essas questões e diferenciarmos ambas as denominações, custa-nos recuperar alguns dados importantes sobre o clássico. Em 108 anos de encontros19, foram disputados 412 Grenais. O Colorado venceu 154 vezes, o Tricolor, 128, e houve 130 empates. A maioria dos confrontos ocorreu em torneios nacionais, estaduais e citadinos, mas houve também partidas válidas por certames sulamericanos, amistosos, e até por duas competições simultâneas. Arena, Olímpico e Baixada, do Grêmio, e Beira-Rio e Eucaliptos, do Inter, foram os principais palcos, embora houvesse partidas em campos menores de Porto Alegre, Erechim, Caxias do Sul, Rivera (Uruguai), Santa Cruz do Sul, Bento Gonçalves e Rio Grande. Em certa medida, tornou-se um campeonato à parte, com estatísticas próprias e a construção de um imaginário além do âmbito esportivo. Um espectro que foi apropriado por várias instituições. Entre elas, a torcida e a imprensa. No princípio, porém, não havia consenso sobre como se consolidaria essa rivalidade. Um indício, talvez, estivesse em uma carta enviada pelo primeiro presidente do Internacional, João Leopoldo Seferin, ao Sport Club Rio Grande, na qual disponibilizava a sede do clube, na rua General Caldwell, para os capitães e jogadores do time rio-grandino em sua ida a Porto Alegre para uma partida contra o Grêmio. O documento foi remetido em 23 de maio de 1909, pouco mais de um mês depois da fundação do Inter e quase dois meses antes do primeiro Grenal. Conforme registrou o jornalista David Coimbra em sua coluna no jornal Zero Hora, “essa é uma das provas de que já havia, entre os colorados pioneiros, certo ressentimento em relação ao Grêmio” (COIMBRA, 2009). Ainda assim, às vésperas do primeiro encontro, o jornal A Federação, em 17 de julho de 1909, refletia o entusiasmo recente com o esporte, embora não supusesse que aquele confronto se tornaria o mais disputado no Estado. O periódico lançava uma conclamação que, lida cem anos depois sob a luz de uma das mais ferrenhas rivalidades esportivas do Brasil, não deixa de soar irônica: “O encontro de domingo será o mais brilhante para o melhor conceito do 'foot-ball' entre nós e deverá ser exemplo para o maior estímulo e incentivo, que romperão as rivalidades que existem, dando ao foot-ball seu completo desenvolvimento” (COIMBRA et al, 2009, p. 5-6). 19 A pesquisa para a presente dissertação ocorreu ao longo de 2017, ano no qual aconteceu apenas um jogo entre Grêmio e Inter, o Grenal 412, dérbi que encerra a análise contida neste trabalho. 66 Já o jornal Correio do Povo, na edição de 18 de julho de 1909, sugeria que os espectadores não escolhessem um time para torcer, relembrando incidentes ocorridos em um outro jogo com outras equipes na semana anterior, quando um árbitro e um grupo de torcedores romperam com a etiqueta da época e proferiram “phrases pouco gentis” (COIMBRA et al, 2009, p. 5). No dia da partida, porém, não houve incidente sequer com os dois mil presentes, e o Grêmio venceu por 10 a 0. No segundo confronto, no ano seguinte, houve a primeira rusga entre atletas. O zagueiro colorado Volksmann acertou um chute no atacante gremista Booth e desencadeou uma briga generalizada. No terceiro encontro, em 1911, houve nova vitória tricolor, dessa vez por 10 a 1, e, pela primeira vez, uma contestação do resultado. O Internacional reclamou da transferência de um jogador do Grêmio durante a competição citadina, mas não teve a apelação acatada, e o título gremista foi confirmado. Aquele também foi o primeiro torneio a ter cobrança de ingressos, o que marcou uma transição de um período em que o futebol “deixou de ser a distração de alguns rapazes da elite e transformou-se em espetáculo” (COIMBRA et al, 2009, p. 20). Em 1913, depois de vencer seis clássicos seguidos, o Grêmio se desfiliou da Liga Porto-Alegrense. Por mais de dois anos, não houve o dérbi. Mesmo assim, as provocações prosseguiam, comprovando que “os times não precisavam entrar em campo para a rivalidade se aguçar” (COIMBRA et al, 2009, p. 22). Esse é o momento em que o estopim do antagonismo entre os clubes foi aceso (SOARES, 2014). O que começou com uma rusga em uma partida do Internacional com o Fuss-Ball (clube fundado concomitantemente ao Grêmio), na qual jogadores colorados proferiram uma série de impropérios ao árbitro, que calhou ser um associado do Tricolor, prenunciou uma disputa secular por poder. O Inter se manteve na Liga, enquanto o Grêmio reuniu os dissidentes e fundou a Associação de FootBall Porto-Alegrense. A dupla, então, popular entre os torcedores e próxima ao governo e à elite, passou a comandar o novo esporte na capital gaúcha. Somente em 31 de outubro de 1915, em um amistoso marcado durante a Primeira Guerra Mundial, o Inter venceu sua primeira partida contra o rival, goleando por 4 a 1. Mais duas vitórias coloradas no ano seguinte, e novo hiato de dois anos. Contudo, com a criação da Federação Rio-Grandense de Desportos, em 1918, Grêmio e Internacional passaram a fazer parte do mesmo grupo novamente. E mesmo que não houvesse partidas oficiais naquele ano, os rivais se encontraram em duas ocasiões. Na primeira, vitória colorada por 5 a 3. Na segunda, triunfo gremista por 1 a 0, que culminou com o meia Ribas, do Inter, agredido a facadas por um torcedor. Esse período ficou marcado pela abertura de contratações de 67 futebolistas sul-americanos. Ao menos em parte, já que também isso foi cercado de grande polêmica. O Grêmio havia recrutado alguns atletas após uma excursão ao Uruguai, o que causou inconformidade entre os demais integrantes da Federação. Estes criaram uma “lei de estágio”, na qual repudiavam a relação profissional entre clube e atleta e exigiam a presença unicamente de jogadores locais. Estrangeiros estavam proibidos, exceto aqueles que conseguissem provar residência fixa em Porto Alegre e contrato de trabalho no mercado local (SOARES, 2014, p. 128). Depois de vencer o primeiro encontro de 1919 até as duas vitórias de 1927, o Internacional venceu apenas um jogo contra o arquirrival. Nas demais partidas, dois empates e oito triunfos tricolores. Nessa década, foi cunhado o termo Grenal para designar o clássico entre Grêmio e Inter. O redator de esportes do Correio do Povo, Ivo dos Santos Martins, encontrou na contração de Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense e Sport Club Internacional uma maneira de economizar alguns toques na redação do texto no jornal. Equilíbrio até mesmo na quantidade de letras extraídas do prefixo de um e do sufixo de outro. A expressão passou a valer para o dérbi de 27 de junho de 1926, no qual o Tricolor venceu por 4 a 1. No entanto, ela só foi oficializada em 1933, quando o jornal publicou o nome pela primeira vez, coincidindo com o começo da profissionalização do futebol no Brasil. Na década de 1930, os periódicos destacavam o crescimento no número de adeptos de ambas as agremiações. Esse período foi marcado, principalmente, por uma incomum aliança da dupla em prol do profissionalismo, seguindo uma tendência nacional iniciada no Rio de Janeiro. O ano de 1935, com a morte de Eurico Lara, goleiro e ícone gremista da época, reapresentou, simbolicamente, o fim do amadorismo no futebol gaúcho. Profissionalismo tardio, já que, desde dois anos antes, o processo já estava em curso no centro do país. No entanto, foi o prenúncio de outro fato bastante relevante: Grêmio e Inter se rebelaram, não disputaram os campeonatos estaduais de 1937, 1938 e 1939, e iniciaram uma coalizão que redundaria na hegemonia da dupla por quase, pelo menos, seis décadas. Entre os dois, o Grêmio foi quem manteve a hegemonia no clássico — embora seja desse período a maior goleada colorada, um 6 a 0 em 1938, conhecida como a supremacia do sangue vermelho sobre a técnica tricolor (COIMBRA et al, 2009, p. 47-48). A vantagem só se inverteria em 1945, a partir do Grenal 89. A equipe colorada, apelidada de Rolo Compressor, conquistou oito títulos estaduais naquela década e passou a liderar o embate particular com o rival até a atualidade. Exceto por um breve período nos anos 1960 e 1970 e outro entre 2001 e 2002, o Inter passou a deter mais vitórias do que o rival. 68 O Grêmio igualou forças temporariamente na década de 1950, quando o clássico era hegemônico em nível regional. A construção do Estádio Olímpico, em 1954, simbolizou o começo de um período no qual os gremistas, a partir de 1956, conquistaram 12 títulos estaduais em 13 disputados. O Inter, por sua vez, revidou com a inauguração do Estádio Beira Rio, em 1969, e a conquista de oito títulos gaúchos desde aquele ano até 1976. A partir das décadas de 1960 e 1970, o clássico já era de nível nacional. O Inter ergueu três taças do Campeonato Brasileiro em apenas cinco anos (1975, 1976 e 1979). O Grêmio só conquistou sua primeira em 1981, dois anos após a última colorada. A maneira de reverter o quadro foi vencer, em nível continental, a Libertadores da América, e, em nível mundial, o Mundial Interclubes, ambos em 1983. Nessas conquistas, não havia o rival envolvido diretamente na disputa, mas obter esses títulos era uma maneira de sobrepujar simbolicamente as glórias do inimigo. Os títulos dos anos 1990, principalmente as Copas do Brasil, ficaram em segundo plano na comparação entre os clubes. Isso só voltaria a ocorrer quando o Internacional, nos anos 2000, conquistou duas Libertadores da América e um Mundial de Clubes, igualando o arquirrival. A corrida simbólica foi empatada, e só desbalanceada em 2017, quando o Grêmio assenhorou-se novamente da Libertadores. Em 2005, não houve um Grenal pela primeira vez em 83 anos, o que não se repetiu e, de maneira alguma, diminuiu o antagonismo entre eles. Alguns encontros, inclusive, têm história própria. O clássico da semifinal do Campeonato Brasileiro de 1988, vencido pelo Internacional, ficou conhecido como “Grenal do Século”, pois valeu ao Colorado uma vaga na Libertadores do ano seguinte. Já o “Grenal dos 100 Anos”, ganho pelo Grêmio em 2009, repetiu a vitória tricolor do primeiro já centenário dérbi. Identificar, portanto, traços que justifiquem a rivalidade é algo extremamente custoso. Em relação à origem dos clubes, não há algo claro que nos leve a crer que esse clássico ganhe relevo específico em comparação a outros no Rio Grande do Sul. Ambos tinham características associativas, ou seja, buscavam circular práticas, códigos de conduta, princípios e valores entre integrantes de uma mesma esfera social. Todavia, ao longo dos anos, construiu-se uma série de discursos que vinculam o Internacional às camadas populares e o Grêmio à elite local. Ao exemplificar as guerras clânicas entre comunidades espacialmente próximas e identitariamente afastadas, Franco Júnior (2017) dispõe o Grêmio como elitista e o Inter como popular. O segundo seria o clube dos excluídos, por não terem sido aceitos pela comunidade local, inicialmente, e o primeiro seria o supressor, que eliminou a possibilidade de abrir espaço para os forasteiros. No entanto, paralelamente, ele reconhece que esses 69 recortes sociológicos são mais imaginários do que concretos, visto que não se confirmam no que tange à fundação das duas agremiações. Conforme Damo, “nem o Inter e muito menos o Grêmio foram forjados a partir da mobilização popular, mas, de acordo com o contexto futebolístico da época, ambos são tributários de pessoas e grupos que, competindo entre si, buscavam se afirmar dentro de um mesmo universo sociocultural” (2002, p. 65-66). O jornalista Léo Gerchmann sublinha que “fundadores de Grêmio e Inter eram, todos eles, brancos, em média por volta de 20 anos. Predominavam comerciantes, comerciários, estudantes e funcionários públicos” (2015, p. 25). Ele advoga, ainda, que o clube tricolor é pioneiro na aceitação de negros, já que teve, entre 1925 e 1935, o atleta Adão Lima. O primeiro atleta negro do Colorado, Dirceu Alves, seria contratado apenas em 1928, iniciando um movimento de contratações que teriam mais a ver com a questão econômica de pagar salários menores a jogadores mais qualificados do que com a demanda emancipatória dos negros. Inclusive, o jornalista cita o fato de que, por determinadas décadas, o Inter também barrou a presença de negros e mulatos em seu clube. A opinião do autor pode ser considerada suspeita, por ser ele gremista e circunscrever os fatos em uma obra abertamente apologista da ideia de um clube pluricultural. Porém, confirma relatos históricos de ambos os lados comungados com outros autores que têm essa mesma percepção. Luís Fernando Veríssimo, escritor e adepto do Internacional, considera injusto o que chama de “preconceito com o preconceito do Grêmio” (2004, p. 22). Ele relata que, ao retornar o Brasil após a Segunda Guerra Mundial, em 1945, escolheu o Inter para torcer por simpatia ao “time dos pobres que regularmente batia no time dos ricos” (2004, p. 22). Contraditoriamente, afirma que “as diferenças sociais entre os dois clubes também não eram tão marcadas assim” (2004, p. 22), e que “o Inter tinha a maior torcida, mas ela incluía boa parte da elite branca da cidade junto com o povão, enquanto o Grêmio era mais classe alta e média ascendente” (2004, p. 26). Soares (2014) tem interpretação distinta, mas faz algumas ponderações necessárias. Ele concorda que o Inter era um clube de elite, assim como o Grêmio, e que, portanto, não pode ter sua fundação associada a uma revolta popular por representação frente ao poder constituído pelo rival. Segundo o autor, ambos tiveram, inclusive, “bênçãos da classe política” (p. 158). Contudo, verifica no Colorado um “menor rigor em sua composição social” (p. 157) e uma constituição mais plural entre as nacionalidades representadas. Por isso, Soares conclui que a identidade do clube pode não estar vinculada à origem, mas, devido aos acontecimentos posteriores, teve seu modelo identitário moldado pela sociedade na qual estava inserido. 70 Em ambos os discursos, os jogadores negros serviram apenas para fazer o trabalho dentro de campo, enquanto as direções mantiveram-se brancas, reproduzindo mais uma vez a sociedade na qual estão inseridos. Duas tradições inventadas a partir de uma adaptação cruel do mundo dos negócios, onde apenas os mais fortes sobrevivem, pois não é na natureza que esta expressão atingiu sua plenitude onipotente (SOARES, 2014, p. 162). O discurso acerca da questão racial começou, efetivamente, na década de 1920. Grupos de negros e mulatos (que se autorreferenciavam assim) formaram uma entidade, chamada pejorativamente pela imprensa da época de Liga dos Canelas Pretas, — oficialmente, Liga Nacional de Football Portoalegrense — para permitir que cidadãos de classes mais baixas jogassem futebol. Com a ascensão do profissionalismo e a atenuação dos traços aristocráticos, o esporte tornou-se mais popular. Os homens de maior poder econômico e político passaram a ocupar cargos diretivos, enquanto o número de atletas de origem humilde crescia. Desde então, o futebol já aparecia como uma possibilidade de ascensão econômica. O Inter, percebendo isso, aproveitou-se de sua ligação com os campos nas áreas baixas da cidade onde atuavam os times da Liga dos Canelas Pretas e contratou jogadores negros e mulatos, registrados oficialmente. Embora houvesse negros e mulatos em ambos os clubes, essa “oficialização” permitiu que os colorados se apropriassem do discurso de Clube do Povo e instituísse uma marca própria carregada até hoje. Independentemente do período em que ocorreu a adesão das camadas populares ao Internacional, houve uma concreta popularização do clube (no sentido de aproximação com as classes mais baixas), principalmente entre estudantes e moradores do Interior do estado (OSTERMANN, 1998; DIENSTMANN, 2002). Nos anos 1940, Vicente Rao, ex-jogador e também Rei Momo da cidade e Papai Noel em eventos natalinos, ajudou a disseminar uma maneira festiva de torcer com foguetes, serpentinas e bandeirolas. Esse período coincide também com o surgimento das primeiras torcidas organizadas, em São Paulo. Quando a torcida gremista aderiu a esse modo de torcer, Rao estendeu uma bandeira com os dizerem “Imitando crioulo, hein?”. Na década seguinte, ele também instituiu uma charanga que se perpetuou nas arquibancadas dos Eucaliptos e do Beira Rio (OSTERMANN, 1998a, p. 51). É um período em que a identificação entre torcida e jogadores se estreita, e até por isso se confunde como uma espécie de mito fundador do Clube do Povo — expressão cunhada por Ari Lund, jornalista do Diário de Notícias, mas consagrada por Rao. Da mesma forma que o futebol brasileiro teria nascido com o Maracanazo, em 1950, e o futebol moderno em 1953, com a vitória da Hungria sobre a Inglaterra, em Wembley, o torcedor colorado tem no Rolo Compressor a imagem de seu progenitor. 71 Há, entretanto, um episódio ocorrido nesse intervalo usado para difamar a ideia de que o Internacional sempre foi aberto aos negros. O Foot-Ball Club Rio-Grandense solicitou a adesão à Liga Metropolitana, o que só ocorreria por aclamação de todos os clubes. A única direção a dar voto contrário e que, por consequência, impediu a filiação do clube à Liga, foi a do Internacional. Isso teria feito aumentar o ressentimento de muitos integrantes daquela comunidade, a maioria mulata, com o Inter. Entre eles, Francisco Rodrigues, funcionário da Faculdade de Comércio e futuro presidente do Rio-Grandense, pai do compositor Lupicínio Rodrigues, que escreveria, em 1953, o hino tricolor (ROSSI; MENDES JÚNIOR, 2014). De todo modo, a narrativa do Grêmio como um clube racista versus o Inter, um clube agregador, se sustentou por muitas décadas. Não foram poucos que perpetuaram a ideia de que o Grêmio fora o último clube do Brasil a admitir negros (DIENSTMANN, 2002). O clube precisou criar um evento – a repatriação de Tesourinha – para romper com uma “tradição” do clube de não contratar jogadores negros. O termo foi utilizado no Correio do Povo de 5 de março de 1952 em referência ao fato de o Grêmio não ter atletas negros em seu quadro (DAMO, 2002 p. 102). Mesmo que o racismo não fosse institucionalizado oficialmente, o presidente Saturnino Vanzelotti precisou manifestar na edição do dia seguinte o posicionamento do clube frente ao que denominou “hediondo, improcedente e intolerável preconceito” (DAMO, 2002, p. 102). O gesto do presidente, segundo Coimbra et al., foi “o início de um doloroso processo, comandado por ele mesmo, cujo objetivo principal era acabar com a norma dos estatutos que impedia o clube de incluir em sua equipe de futebol atletas de cor” (2009, p. 66). O Grêmio não reconhece, oficialmente, nenhum documento que confirme esta afirmação. Porém, a necessidade de uma manifestação pública com décadas de atraso sugerem que nem sempre a discriminação foi fantasiosa. Mesmo que não tenha sido efetiva e tenha esmorecido ao longo das décadas, o descolamento do rótulo de clube intolerante foi um movimento buscado pelo Grêmio nos últimos anos. Em 2017, a pesquisa Top of Mind da Revista Amanhã20 constatou que o Tricolor é o clube mais lembrado pelos torcedores entre todas as classes sociais em comparação com o Internacional: 53,8% a 41,1% entre as classes A/B, 54,4% a 39,2% na classe C e 50,5% a 38,8% entre as classes D/E. Os dados mostram que, se em determinado momento da história fazia sentido o viés ideológico da raça alinhada à identidade do clube, com o tempo ele foi diluído e não demonstra ser impeditivo para a adoção de um clube do coração. Por isso, a 20 REVISTA AMANHÃ. Torcida engajada. Disponível . Acesso em: 30 jan. 2018. em: 72 partir de 2018, a camisa tricolor passou a estampar o slogan do Clube de Todos, uma forma de abrandar o passado e fortalecer a mensagem do presente. Entre os grupos étnicos formadores de ambas as agremiações também houve obscuridades, embora não haja distinção evidente entre eles. O Grêmio teve, entre seus fundadores, imigrantes ou filhos de imigrantes de origem lusitana, inglesa e alemã. O Inter, por sua vez, foi impulsionado principalmente pela atuação da família Poppe, paulistas com ascendência italiana. O próprio nome do clube, Internacional, faria uma alusão à Internazionale de Milão, local de onde emigrara o pai deles. De qualquer modo, isso não foi impeditivo que descendentes de uma ou outra nacionalidade ingressassem em um ou outro clube. Até porque a grande rivalidade da época era carnavalesca, entre as sociedades Esmeralda e Venezianos — a segunda, inclusive, deu ao Inter as cores vermelha e branca. De qualquer maneira, em algum momento, a ascendência germânica de alguns fundadores do Grêmio foi usada para exaltar ou detratar o clube em momentos diversos. Nos primeiros anos, com a necessidade de fixar não apenas a instituição, mas, também, o esporte na agenda do público, a vinculação dos imigrantes teuto-brasileiros a uma comunidade de homens trabalhadores foi importante para garantir reconhecimento aos integrantes da nova agremiação. Porém, a partir dos anos 1930 e principalmente nos anos 1940, com a Segunda Guerra Mundial, as sociedades originalmente alemãs passaram por flagelos. O caso mais emblemático desse período foi a mudança do nome da Deutscher Turnverein (Sociedade Alemã de Ginástica) — instituição fundada em 1867 e posteriormente renomeada para Turnerbund — para Sociedade de Ginástica Porto Alegre (Sogipa). Tanto que a equipe de futebol do clube, a Frisch Auf, fundada no mesmo ano que o Inter por um ex-atleta do Grêmio (George Black) e extinta em 1917, praticamente desapareceu da literatura e da memória esportivas porto-alegrense, tal qual o Fuss-Ball. Porém, deixou no imaginário a relação entre aqueles primeiros clubes com a comunidade teuto-brasileira. Tanto é que, em um livro oficial do Internacional, comemorativo aos 90 anos do clube, essa dicotomia aparece como fato verídico. Conforme diz a obra, a respeito a fundação do clube colorado, “no fundo da Assembleia Geral do dia 4 de abril já estava um ato que haveria de opor o Internacional, o clube dos portugueses açorianos, dos estudantes e dos comerciários, ao Grêmio, assim dito um clube de alemães” (1998a, p. 19). Seguindo nesta linha, o autor informa que Henrique Poppe, um dos fundadores do Inter, teria dito que se estava fundando um clube para brasileiros e estrangeiros, em “uma clara alusão à política de discriminação dos outros clubes de futebol de Porto Alegre” (p. 20). 73 Essa suposta discriminação, de acordo com Soares (2014), não possui fundamento. Em primeiro lugar, porque, ao contrário do Turnerbund, não havia cláusula no estatuto que impusesse obrigatoriedade de comprovação de origem teutônica. A permissão para inclusão no quadro associativo era dada a partir de atestados de “bom cidadão”, que, mesmo que tivesse a ver com a questão da classe social, não impingia restrição em relação à ascendência. Além disso, embora houvesse dois terços de descendentes de alemães no grupo de fundadores do Grêmio, a ata de fundação e os demais documentos eram redigidos em português — ao contrário do Sport Club Rio Grande, por exemplo, três anos antes, gestado em um clube chamado Tiro Alemão (RAMOS, 2000). Isso, segundo Soares, comprova a intenção dos fundadores em dar ao clube uma identidade gaúcha e brasileira. Portanto, a questão de origem parece ser bem menos importante na oposição entre Grêmio e Internacional se comparada entre esses clubes e outras entidades contemporâneas. Negros versus brancos, amadores versus profissionais, alemães versus brasileiros. A rivalidade Grenal sempre foi dicotômica. Uma das mais expressivas apesar de menos comentada foi a relação entre “proprietário” e “inquilino” de seu patrimônio. O Grêmio exaltava a compra do Estádio da Baixada, enquanto o Inter, por anos, alugou espaço para jogar na Rua Arlindo e na Chácara dos Eucaliptos. Depois, quando adquiriu o Estádio dos Eucaliptos, foi a vez de os colorados debocharem da precariedade do fortim gremista. Coube ao Grêmio, a fim de modernizar-se, construir o Estádio Olímpico, superado em tamanho pelo Beira-Rio, posteriormente suplantado pela Arena do Grêmio, e assim por diante. A comparação seguiu até aos modelos de aquisição das propriedades, se por empréstimo ou por doação, se construído por empreiteiras ou com o dinheiro do quadro social. Ora um clube estava em uma situação privilegiada, ora era vítima das acusações do outro — o que não fixa logicamente uma característica de um clube ao outro. É possível concluirmos até que seja essa alternância justamente a constante da rivalidade, a ponto de Coimbra et al concluírem que “Grenal é feito de ciclos de histórias que se repetem, de alegrias e tristezas, comédias, épicos, dramas e tragédias que vão e voltam, sempre e sempre” (2009, p. 247). Mais até do que o azul versus o vermelho, o mosqueteiro versus o saci, a técnica versus o sangue. Não há um fator exclusivo que determine o porquê de uma rivalidade tão acirrada. O que presumimos neste trabalho é que, em mais de 100 anos de Grenal, a imprensa teve e tem papel não apenas como palco desses embates, mas como estimuladora da rivalidade a seu contento. O evento Grenal passou a ter fins econômicos e políticos próprios, apropriados pela mídia, e isso utilizando a emoção do torcedor em relação ao adversário. Como o intuito desta dissertação é identificar os elementos emocionais 74 presentes nas narrações torcedoras dos aplicativos Gremista Gaúcha ZH e Colorado GaúchaZH, buscaremos encontrar nessas narrativas midiáticas subsídios que corroborem a hipótese de um discurso construído permanentemente com a intenção de sustentar essa rivalidade. Em suma, tentaremos apurar como a mídia se apropriou do sentimento oposicionista do torcedor ao rival para angariar um público maior, ao mesmo tempo que utilizou essa força para constituir a grenalização tal como percebemos hoje. 4 O DISCURSO SOBRE A DOR DO OUTRO 75 Em fevereiro de 2015, às vésperas do Grenal 404, o Grupo RBS anunciou uma nova funcionalidade dos aplicativos Gremista ZH e Colorado ZH. A ferramenta ofereceria, a partir de então, as “narrações torcedoras”, uma transmissão no formato minuto a minuto com uma linguagem adaptada à maneira de torcer dos estádios. O objetivo era, conforme a própria empresa, “aproximar o público, levando ao usuário do aplicativo a narração de quem torce para o seu time”21. Ao mesmo tempo, as transmissões ao vivo do site e do aplicativo de Zero Hora permaneceriam com uma narração neutra. A iniciativa foi premiada internacionalmente pela Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias (WAN-IFRA), que concedeu à empresa a láurea de Melhor Produto Novo ao ecossistema Gremista Gaúcha ZH e Colorado Gaúcha ZH22. O momento escolhido para o lançamento da ferramenta foi concomitante à implantação da torcida mista, termo que passou a denominar o setor dos estádios Arena e Beira-Rio que recebe torcedores de ambos os clubes em um mesmo espaço. Em uma matéria da seção De Fora da Área, os jornalistas Marcelo Gonzatto e Guilherme Mazui (ambos de outras editorias), responsáveis pelas “narrações torcedoras”, assinaram um pedido de integração e civilidade, sugerindo que “conseguimos, quase todos, identificar o limite da rivalidade e diferenciar a eterna flauta […] da falta de respeito. Teremos chance de provar isso neste domingo, embora saiba-se não ser fácil mudar anos de apartheid futebolístico”23. Esse foi um dos vários passos da empresa de comunicação no processo de convergência midiática. O conteúdo do jornal Zero Hora, que já estava também na internet, passou a ganhar espaço em novos dispositivos (como os serviços móveis), com linguagens próprias. A integração entre os veículos se intensificou em 2016, quando o Grupo RBS incorporou os profissionais de esporte do jornal Zero Hora e da Rádio Gaúcha no mesmo circuito de cobertura diária (radialistas contribuindo para as matérias do jornal e jornalistas participando de programas e boletins da rádio). E, em 21 de setembro de 2017, essa 21 GRUPO RBS. Zero Hora terá narração torcedora dos jogos nos apps Colorado ZH e Gremista ZH. Disponível em: . Acesso em: 22 jun. 2017. 22 LATAM Digital Media Awards 2015. Disponível em: . Acesso em: 22 jun. 2017. 23 GONZATTO, Marcelo; MAZUI, Guilherme. Colorado ZH e Gremista ZH: não somos todos monstros. 28 fev. 2015. Disponível em: . Acesso em: 22 jun. 2017. 76 integração chegou aos smartphones com a ampliação das funcionalidades dos aplicativos e a renomeação de ambos para Gremista Gaúcha ZH e Colorado Gaúcha ZH24. A reconfiguração da empresa explicita ao menos três características importantes: a adaptação a uma tendência comunicacional, a qual os meios passaram a ser complementares e convergentes entre si; a obediência a um movimento mercadológico que prioriza a economia e otimiza a força de trabalho; e o estabelecimento de um posicionamento discursivo que se apropria da rivalidade entre os clubes gaúchos para direcionar suas narrativas a um público singular. Essa terceira é a que nos importa prioritariamente nesta dissertação, pois abre algumas possibilidades de problematização em relação ao novo fazer jornalístico e ao rompimento com uma estrutura antiga. A ideia principal contida neste trabalho pressupõe que a imprensa esportiva gaúcha engendra, em seu discurso, a preservação – senão a estimulação – da rivalidade entre os clubes e seus torcedores. Entre os objetivos desta pesquisa, está a identificação de elementos textuais que comprovem a importância da rivalização na construção do discurso jornalístico. Por isso, é importante destacar não apenas os componentes discursivos de uma transmissão minuto a minuto. A inscrição temporal sócio-histórica do futebol – em especial do clássico Grenal no Rio Grande do Sul – e da imprensa esportiva gaúcha contemporânea como promotora deste dérbi é essencial para a compreensão geral das escolhas feitas pelos jornalistas. Em seguida, será ocupado o espaço para a análise da elaboração das narrações, com ênfase no público ideal projetado pelos profissionais. Foram selecionadas nove coberturas de três Grenais (410, 411 e 412) por três meios distintos – narração neutra do Uol Esporte e narrações torcedoras dos aplicativos Gremista Gaúcha ZH e Colorados Gaúcha ZH –, que tiveram seus textos decupados, colocados lado a lado e analisados diretamente por nós e por um software, que possibilitou a comparação dos tons emocionais entre eles. Por fim, a interpretação desses itens na concepção de um discurso unificado nos permitiu uma compreensão integral do processo jornalístico de construção da narrativa futebolística emocional, voltada para o estreitamento da relação de rivalidade entre o público-torcedor dos aplicativos. 24 ZH ESPORTES. Assinantes terão conteúdos exclusivos nos apps Gremista Gaúcha e ZH e Colorado Gaúcha e ZH. 4 maio 2017. Disponível em: . Acesso em: 22 jun. 2017. 4.1 HERMENÊUTICA DE PROFUNDIDADE 77 A metodologia que oferece mais insumos para esta investigação é a Hermenêutica de Profundidade (HP). A HP, conforme descrita por Thompson (2011), é uma maneira de “interpretação da ideologia” por meio das formas simbólicas (THOMPSON, 2011, p. 378). Para ele, “interpretar a ideologia é explicitar a conexão entre o sentido mobilizado pelas formas simbólicas e as relações de dominação que este sentido ajuda a estabelecer e sustentar” (THOMPSON, 2011, p. 379). Essa metodologia, o autor também denomina como hermenêutica da vida quotidiana ou de interpretação da doxa, expressão utilizada para se referir à construção da crença ou opinião popular em oposição ao saber “verdadeiro”, a episteme. Isso é possível por meio da análise em três níveis. A primeira é a análise sócio-histórica. Por meio dela, é possível examinar “os padrões de posse e controle dentro das instituições dos meios de comunicação”, “as relações entre instituições de comunicação e outras”, “as técnicas e tecnologias empregadas na produção e transmissão”, “o recrutamento de pessoal” e “os procedimentos rotineiros” (THOMPSON, 2011, p. 393). Em um esquema, Thompson sugere que a investigação se preocupe com as situações espaço-temporais da formação da mensagem, com os campos de interação entre os atores comunicacionais envolvidos, com as instituições sociais compreendidas, bem como com a estrutura social na qual ela se enquadra, e com os meios técnicos de transmissão dela. O objetivo, nessa fase, é “reconstruir as condições sociais e históricas de produção, circulação e recepção das formas simbólicas” (THOMPSON, 2011, p. 366). No nosso caso, é preciso apresentar o quadro da rivalidade entre Grêmio e Inter pela imprensa, desde o primeiro clássico, em 1909, passando pela definição do dérbi como Grenal, nas décadas de 1920 e 1930, até chegarmos ao momento atual. Além disso, explicaremos como a imprensa, de maneira geral, construiu um padrão discursivo típico do jornalismo esportivo gaúcho e brasileiro e como o portal Gaúcha ZH, em particular, passou a segmentar as narrações torcedoras nos aplicativos Gremista ZH e Colorado ZH, orientando sua mensagem para um público engajado específico. Essa mudança, surgida após uma Copa do Mundo no Brasil e com anseios tecnológicos próprios, representa não apenas uma estratégia comunicacional, mas um posicionamento discursivo essencial para compreendermos a importância dada pelo veículo à oposição entre os dois clubes. O segundo passo, dentro da HP, é a análise formal ou discursiva, nas quais pelo menos cinco modos analíticos são oferecidos por Thompson: semiótica, análise de conversação, análise sintática, análise narrativa e análise argumentativa. Eles variam conforme o objetivo 78 ou circunstância da investigação científica, mas podem ser aplicadas simultânea ou complementarmente. Nossa escolha para este trabalho recai na análise discursiva, que é entendida pelo autor como “a análise das características estruturais e das relações do discurso”, sendo discurso entendido aqui como “as instâncias de comunicação correntemente presentes” (THOMPSON, 2011, p. 371). Ao contrário da semiótica, que se preocupa mais com os símbolos contidos na mensagem, a análise discursiva se preocupa com a formação de sentido entre um processo comunicacional que vai desde uma conversação informal a um editorial ou programa de televisão. Dentro da análise do discurso, Thompson ressalta alguns métodos de interpretação, como a análise de conversação. O princípio desse método ou técnica é “estudar instâncias da interação linguística nas situações concretas em que elas ocorrem” (THOMPSON, 2011, p. 372). Outra possibilidade é a análise sintática, que, segundo o autor “se preocupa com a sintaxe prática ou a gramática prática […] que atua no discurso do dia a dia” (THOMPSON, 2011, p. 372). Uma terceira possibilidade é a análise da estrutura narrativa, que possui “um enfoque bastante comum nos campos da análise literária e textual, no estudo do mito e, em menor proporção, no estudo do discurso político” (THOMPSON, 2011, p. 373). Por fim, a análise argumentativa se foca nas “formas de discurso, como construções linguísticas supraproposicionais, que podem abranger cadeias de raciocínio que podem ser reconstruídas de várias maneiras” (THOMPSON, 2011, p. 374). Esta dissertação sustenta-se sobre a Análise de Discurso (AD) de Charaudeau (2004a; 2004b; 2015; 2016) e Pêcheux (1990; 1995). Em Charaudeau, dois conceitos são importantes. O primeiro é a identificação das visadas discursivas contidas em cada discurso. Essas visadas, que o autor denomina enjeu, “correspondem a uma intencionalidade psico-sócio-discursiva que determina a expectativa do ato de linguagem do sujeito falante e por conseguinte da própria troca linguageira” (CHARAUDEAU, 2004a, p. 5). Isso pressupõe que, em um contrato comunicacional, o emissor ou o sujeito comunicante tem uma intenção em relação ao seu receptor ou destinatário com seu ato. Logo, a primeira etapa de nossa análise será identificar as visadas presentes no circuito, sejam elas de informação, demonstração, incitação, prescrição, solicitação, instrução ou outra. Outro conceito são os modos de organização dessas visadas, ou seja, de entender qual delas dentro do contrato comunicacional é a dominante. Isso significa que podemos ter, ao mesmo tempo, mais de uma visada contida no processo, mas que a maioria delas está subordinada a outra ou outras. Em uma notícia jornalística, por exemplo, podemos ter situações de demonstração, prescrição e instrução simultaneamente. No entanto, elas podem estar subordinadas à visada de informação que 79 busca esclarecer determinado assunto a um público que o desconhece. Para isso, importa-nos demasiadamente apoiarmo-nos na ideia de antecipação de Pêcheux (1995). Segundo ele, o que for emitido pode ser aceito ou rejeitado, mas está concebido a partir de conhecimentos anteriores do destinatário, o que funda a estratégia discursiva a ser adotada. Antecipar-se no processo comunicacional não quer dizer que esse será o efeito resultado ao final dele. Porém, ele sugere que um efeito tal no destinatário seja esperado pelo comunicador, o que influenciaria diretamente na construção de uma recepção ideal por parte do emissor. Em nossa pesquisa, esta identificação é importante para buscarmos compreender como é construída a referenciação de um clube em relação ao outro e por que a estimulação da rivalidade pela narração emocional, que torce pelo fracasso alheio, é essencial na construção da identidade do torcedor. Não alcançaremos, porém, à reação da audiência, visto que isso se daria por outra metodologia. Além do mais, se todos os integrantes do público fossem vulneráveis às estratégias do emissor e não pudessem reagir ao estímulo emocional, haveriam ardis infalíveis, o que não se sustenta logicamente. A última fase da Hermenêutica de Profundidade é chamada de interpretação/reinterpretação. Ela se difere da análise formal ou discursiva, pois, segundo Thompson, “ela procede por síntese, por construção criativa de possíveis significados” (THOMPSON, 2011, p. 375). Segundo ele, essa fase: Transcende a contextualização das formas simbólicas tratadas como produtos socialmente situados, e o fechamento das formas simbólicas tratadas como construções que apresentam uma estrutura articulada. As formas simbólicas representam algo, elas dizem alguma coisa sobre algo, e é esse caráter transcendente que deve ser compreendido pelo processo de interpretação (THOMPSON, 2011, p. 375-376). Portanto, ao mesmo tempo que é um processo de interpretação, é um processo de reinterpretação feito por sujeitos que não são isentos ou alheios ao campo simbólico. Thompson destaca que “os seres humanos são parte da história, e não apenas observadores ou espectadores delas” (THOMPSON, 2011, p. 360), por isso há a necessidade de reinterpretar a análise, a fim de minimizar os conflitos intrínsecos a ela. Quando classificamos algo como novo, isso acontece porque reconhecemos o que houve anteriormente, e não podemos comparar com algo que ainda não surgiu. Para avaliarmos as mudanças discursivas adotadas por Gaúcha ZH com os novos aplicativos, compararemos o método narrativo atual com o sistema neutro de Uol Esportes, praticado há mais tempo e compartilhado por outros portais. É essencial que uma observação mais afastada dos objetos seja feita posteriormente para que não haja presunção de certo ou errado, mas, a compreensão de algo maior, que é a assimilação do jornalismo como construtor da realidade social. 80 Na investigação social, o objeto de nossas investigações é, ele mesmo, um território pré-interpretado. O mundo sócio-histórico não é apenas um campo-objeto que está ali para ser observado; ele é também um campo-sujeito que é construído, em parte, por sujeitos que, no curso rotineiro de suas vidas quotidianas estão constantemente preocupados em compreender a si mesmos e aos outros, e em interpretar as ações, falas, e acontecimentos que se dão ao seu redor (THOMPSON, 2011, p. 358). Afinal, as ciências sociais, como a comunicação e o jornalismo, são disciplinas interpretativas, de verdades efêmeras. O conhecimento é construído. Logo, essa metodologia nos dá a liberdade para a leitura de um processo construído por métodos mais empíricos e pragmáticos. Além disso, a HP reconhece o texto como algo mais complexo do que somente o registro verbal. A linguagem, de acordo com essa metodologia, abarca inúmeras partículas, conscientes e inconscientes, que interferem na elaboração de um significado. A isso Thompson (2011) denomina “formas simbólicas”. O estudo das formas simbólicas é fundamental e inevitavelmente um problema de compreensão e interpretação. Formas simbólicas são construções significativas que exigem uma interpretação; elas são ações, falas, textos que, por serem construções significativas, podem ser compreendidas. Esta ênfase fundamental sobre os processos de compreensão e interpretação retém seu valor hoje. Pois nas ciências sociais, como em outras disciplinas relacionadas com a análise das formas simbólicas, a herança do positivismo do século XIX é forte (THOMPSON, 2011, p. 357). Nesse caso, embora sejam de suma importância, não serão analisadas apenas as palavras ou o texto verbalizado nas narrações, mas também as pontuações, a hierarquia da diagramação, as figuras de linguagem, os cognomes, os tempos verbais, a quantidade total dos termos usados e os termos repetidos. Enfim, tudo que produza sentido na “narração torcedora” às três narrativas. 4.2 ANÁLISE DE DISCURSO As relações sociais e práticas do dia a dia obedecem a certas lógicas e, por isso, produzem sentido. Isso significa dizer que nada é tão aleatório que não possa ser programado e, assim, construído. No caso da mídia é a mesma coisa. Um simples ato de comunicação, uma simples troca de informação está submetida a certos regulamentos que compõem a própria ação. Comunicar depende de quem está comunicando, por que meio, a quem, sob qual contexto e com qual propósito. Ainda, se a mensagem está na linguagem adequada, se obedece a determinada etiqueta social, se o momento é oportuno ou indesejado. Ou seja, creditar ao acaso a responsabilidade por qualquer ato comunicacional é inautêntico e inverídico. 81 A prática jornalística, especificamente a construção de narrativas, que é o que nos preocupa neste trabalho, também depende desses elementos. Como uma forma simbólica passível de interpretação, ela carrega, em seus procedimentos de apuração e redação, uma tentativa de efeito objetivado pelo autor da mensagem, seja ele um repórter de televisão, um comunicador de rádio ou um editor de jornais e revistas. Há uma instância receptora considerada ideal a quem essa mensagem é construída. Porém, embora esteja presente nos estudos de emissão e recepção, muitas incertezas ainda recaem sobre a quem o narrador direciona sua mensagem. No nosso caso, para quem ele está narrando os acontecimentos em uma transmissão esportiva. Mais ainda, de que maneira ele constrói sua matéria para transmiti-la. Quem é o público ideal deste jornalista? Partindo da ideia de Charaudeau (2015), de que “a informação é [...] a transmissão de um saber, com a ajuda de uma determinada linguagem, por alguém que o possui a alguém que se presume não possuí-lo” (CHARAUDEAU, 2015, p. 33), pressupomos que o jornalista está em posição de poder em relação à audiência. Ele outorga a si mesmo a capacidade e a responsabilidade de transmitir determinada informação a quem não tem ou imagina não tê-la. Logo, há um jogo de cena em que as duas instâncias performam suas ações: alguém que supõe que o outro não saiba algo passando a ele o que este supõe não possuir. Em relação à mídia de referência, isto é mais evidente. Uma edição de um jornal e até mesmo uma única reportagem contêm uma quantidade tamanha de dados que possuem uma miríade de significados. Seria ingênuo acreditarmos que essa mensagem está vazia de sentido, que é absolutamente isenta e, mais ainda, que não haja qualquer intencionalidade na elaboração dela. Ao mesmo tempo, não queremos suspeitar que todo discurso de informação, como é o texto jornalístico em sua essência, possui um caráter manipulador explícito. Apenas evidenciamos que, na encenação do discurso jornalístico, a construção dos significados não acontece de maneira unilateral, e seus efeitos, embora previstos na elaboração da mensagem, não podem ser controlados. Nas mídias, os jogos de aparência se apresentam como informação objetiva, democracia, deliberação social, denuncia do mal e da mentira, explicação dos fatos e descoberta da verdade. Entretanto, e por isso mesmo, os discursos de explicação não podem pretender à verdade absoluta e menos ainda à profecia. Nenhuma sociedade evolui pela simples ação das palavras de ordem – ainda que fossem provenientes de um sistema totalitário; de predições – ainda que fossem baseadas em análises científicas; ou de profecias – ainda que tivessem a força das crenças religiosas (CHARAUDEAU, 2015, p. 29). Nesse momento, essa discussão ganha importância à medida que a maioria das instituições percebe a importância de serem mediatizadas. Antes restrita a um grupo onipotente e legitimado, a transmissão das informações na contemporaneidade é feita por diversas pessoas e por diversos meios. A profusão com que essas maneiras cresceram fez com 82 que os meios de comunicação de massa, em especial a imprensa de referência, buscassem novas estratégias para obter a atenção do público. O que, mais uma vez, corrobora nossa presunção de que a construção de um discurso não é asséptica nem isenta. Comunicar, informar, tudo é escolha. Não somente escolhas de conteúdos a transmitir, não somente escolha das formas adequadas para estar de acordo com as normas do bem falar e ter clareza, mas escolha de efeitos de sentido para influenciar o outro, isto é, no fim das contas, escolha de estratégias discursivas (CHARAUDEAU, 2015, p. 39). Se entendermos a construção dos significados como algo interligado em rede, proveniente de vários lugares e repassados a vários outros, podemos concluir que essas estratégias discursivas são essenciais ao processo de significação. Não são a própria mensagem, mas afetam o conteúdo à medida que interferem na forma como ele é transmitido. Por isso, a importância de ressaltarmos o enquadramento da informação na produção jornalística. De maneira especial, atentarmos a quais os critérios utilizados para dar vulto a um acontecimento e alçá-lo ao status de notícia. A informação não existe em si, numa exterioridade do ser humano, como podem existir certos objetos da realidade material (uma árvore, a chuva, o Sol) cuja dignificação, certamente, depende do olhar que o homem lança sobre esses objetos, mas cuja existência é independente da ação humana. A informação é pura enunciação. Ela constrói saber e, como todo saber, depende ao mesmo tempo do campo de conhecimentos que o circunscreve, da situação de enunciação na qual se insere e do dispositivo no qual é posta em funcionamento (CHARAUDEAU, 2015, p. 36). Charaudeau (2004a) chamou essa intenção pretendida pelo enunciador (no nosso caso, o jornalista) de visada discursiva. Ela se refere ao propósito objetivado pelo emissor na construção da mensagem. Entretanto, ele destaca que essa característica deve ser percebida sempre pelo viés de quem enuncia, mas, ao mesmo tempo, ser legitimada por quem recebe. As visadas correspondem a uma intencionalidade psico-sócio-discursiva que determina a expectativa (enjeu) do ato de linguagem do sujeito falante e por conseguinte da própria troca linguageira. As visadas devem ser consideradas do ponto de vista da instância de produção que tem em perspectiva um sujeito destinatário ideal, mas evidentemente elas devem ser reconhecidas como tais pela instância de recepção (CHARAUDEAU, 2004a, p. 5). Há várias visadas que variam conforme sua circunstância. Em geral, há uma visada principal, apesar de que as estratégias aceitem a presença de mais visadas em uma mesma construção textual. No jornalismo, a visada de informação (ou seja, de transmitir a informação de quem a detém para quem não a possui) é dominante, embora para cada matéria possam ser utilizadas visadas de instrução (em reportagens de segurança), de incitação (principalmente dentro do gênero argumentativo das seções de opinião), de demonstração (ao utilizar-se dos exemplos estatísticos, por exemplo), entre tantas outras. Para Charaudeau, há uma visada dupla mais ou menos recorrente, quer seja: 83 De informação, para responder à exigência democrática que quer que a opinião pública seja esclarecida sobre os acontecimentos que se produzem no espaço público; de incitação, para responder à exigência de concorrência comercial que quer que este discurso se enderece ao maior número e, desse modo, procure captá-lo (CHARAUDEAU, 2004a, p. 6). Essa incitação é, para o autor, uma maneira mais ou menos natural de equilibrar as forças sociais. Toda construção comunicacional carrega um grau de tentativa de convencimento do outro de que sua mensagem é autêntica e importante. Conforme Charaudeau, “toda sociedade precisa gerir as relações de força que se instauram na vida coletiva à custa de discursos persuasivos cuja finalidade não é o 'verdadeiro', mas o 'crer verdadeiro'” (CHARAUDEAU, 2016, p. 145). O que não deve ser perdido de vista é que a relação entre emissor e receptor obedece a um “contrato comunicacional”, segundo o qual “todo domínio de comunicação propõe a seus parceiros um certo número de condições que definem a expectativa (enjeu) da troca comunicativa, que sem o seu reconhecimento não haveria possibilidade de inter-compreensão” (CHARAUDEAU, 2004a, p. 6-7). Isso sugere que, mesmo que discorde ou rechace o conteúdo, o destinatário reconhece no enunciador o direito de utilizar quais forem as formas de construir sua mensagem. Essa distinção é importante para que compreendamos que, de outra forma, não haveria como um jornalista captar sua audiência se utilizasse os mesmos recursos e estratégias dos outros. Uma mesma receita para produzir seu conteúdo seria fatal ante a concorrência e, provavelmente, acabaria por destruir um dos valores do jornalismo, que é a pluralidade e a independência. Se a situação de comunicação midiática desse diretamente instruções de forma, todos os jornais, mais ou menos, se pareceriam. Se eles são diferentes, é em razão da escolha das formas (ao mesmo tempo reveladoras de certos posicionamentos). Mas se eles são reconhecidos ao mesmo tempo como jornais de informação, é porque eles respeitam o essencial das restrições discursivas de descrição e de comentário do acontecimento, através de um trabalho que utiliza procedimentos de ordem narrativa, descritiva e argumentativa adequadas. Daí podemos ver igualmente que estes procedimentos também não são tipos discursivos; eles são aquilo que diz o termo de procedimento: um instrumento a serviço da realização das restrições discursivas (CHARAUDEAU, 2004a, p. 7). Em um ensaio no qual relata sua experiência em redações jornalísticas, o historiador Robert Darnton (1990) questiona a construção imagética do destinatário ideal dos jornalistas. Para ele, mesmo que as empresas de comunicação determinem seu nicho de mercado e estabeleçam sua audiência de acordo com pesquisas de opinião e recepção, os produtores das notícias não objetivam esse público na elaboração de suas pautas. Nunca escrevemos para as “imagens das pessoas” invocadas pela ciência social. Escrevíamos uns para os outros. Nosso principal “grupo de referência”, como se poderia dizer na teoria da comunicação, encontrava-se espalhado em torno de nós na sala de redação, ou “buraco da cobra” como dizíamos. Sabíamos que os primeiros a cair em cima de nós seriam nossos colegas, pois os repórteres são os leitores mais vorazes, e precisam conquistar seu status diariamente, ao se exporem a seus colegas de profissão (DARNTON, 1990, p. 78). 84 É preciso ressaltar que a opinião do autor é originada de sua experiência prática e elaborada em um ensaio empírico. Porém, é válido destacar que a idealização do público na construção de uma reportagem é algo menos trabalhado tanto pelas pesquisas em comunicação como nas teorias do jornalismo em relação a outros domínios do campo. E mesmo que tenha sido concebida pelo autor em tempos de comunicação massiva, essa ideia ainda é válida na era das redes sociais. Algumas práticas da profissão ainda se sustentam da mesma forma, como a relação entre jornalistas e fontes, por exemplo. Darnton acredita que “o noticiário corre em circuitos fechados: é escrito sobre e para as mesmas pessoas, e às vezes em código privado” (DARNTON, 1990, p. 92), o que atrapalharia a construção desse público ideal. Se acrescentarmos a isto isso a especialização e a segmentação da profissão, além do surgimento de novos integrantes desse sistema, como os assessores de imprensa, é admissível que o autor tenha razão. Um dos pesquisadores a apontar esse conflito no campo teórico, Hagen (2006) afirma que um dos perigos é esse afastamento do jornalista com seu público, e a poluição desse sistema pode provocar repetições de modelos. Segundo ele, o jornalista, em relação a seu público: Imagina-o a partir de si mesmo, através de sua cultura, de seus mitos, de suas experiências de vida e projeta essa imagem no leitor. No jornalismo com abordagem, principalmente, nas soft news, em que o relato biográfico/autobiográfico produz um deslocamento entre o público/privado e o real/imaginário, o texto produzido apresenta um efeito em que a reversibilidade é constitutiva e geradora da escrita (HAGEN, 2006, p. 11). Se pensarmos o esporte como uma editoria mais próxima ao entretenimento do que ao hard news, essa concepção se prova urgente. Afinal, não estaria o jornalista buscando reconstruir no público o que está construído em sua mente? No caso de rivalidades e dicotomias tão fortes como o futebol no Rio Grande do Sul, isso não influenciaria na construção das notícias? A questão não é enxergar se há uma manipulação explícita de um jornalista que tem afeição por um clube em detrimento ao outro. O problema, como evidenciado anteriormente, é buscarmos entender se não há um condicionamento na escrita feita a partir desta idealização de que o público é dual e necessariamente ligado a um ou outro time, Grêmio ou Inter. A análise de discurso, portanto, visa avaliar como a construção do texto jornalístico pode suscitar interpretações díspares mesmo, e principalmente, quando é emocional e engajada com um público supostamente participativo. Para Pêcheux, o controle total da situação emocional não possível e é justamente nessa intencionalidade que a análise de discurso se faz necessária: 85 A consequência do que precede é que toda descrição […] está intrinsecamente exposta ao equívoco da língua: todo enunciado é intrinsecamente suscetível de tornar-se outro, diferente de si mesmo, se deslocar discursivamente de seu sentido para derivar para um outro (a não ser que a proibição da interpretação própria ao logicamente estável se exerça sobre ele explicitamente). Todo enunciado, toda sequência de enunciados é, pois, linguisticamente descritível como uma série (léxico-sintaticamente determinada) de pontos de deriva possíveis, oferecendo lugar a interpretação. É nesse espaço que pretende trabalhar a análise de discurso (PÊCHEUX, 1990, p. 53). Sobre emoção, em especial, a análise de discurso, de acordo com Charaudeau e Maingueneau (2004b), costuma ocorrer por dois vieses: psicológico e da linguagem. A nós, neste trabalho, cabe a segunda possibilidade. Nesse caso, os autores enfatizam a necessidade de se distinguir uma comunicação emotiva de uma comunicação emocional. Para eles, a narrativa emotiva é intencional, enquanto a emocional não é intencional, ou seja, “a emoção desloca o discurso – ou o reestrutura” (CHARAUDEAU; MAINGUENEAU, 2004b, p. 188). Além disso, eles sugerem que o analista de discurso não pretenda oferecer critérios de avaliação, mas buscar explicar o funcionamento dos elementos emocionais na construção do discurso. A assimilação do jornalismo esportivo como mais emocional do que racional fez com que Gaúcha ZH assumisse essas características e invertesse a lógica jornalística de um jornalismo mais afastado para um jornalismo engajado. Para tanto, propomos uma estratégia para tentar entender como o portal Gaúcha ZH se apropria de uma rivalidade presumida para dirigir seu discurso a um público idealizado. 4.3 PROPOSTA DE INVESTIGAÇÃO Recuperando os capítulos anteriores, a emoção não pode ser dissociada da formação identitária do ser humano. Da mesma forma, ela não está alheia às relações sociais e às trocas comunicacionais. Há emoção, em diversos níveis, em todos os tipos de relacionamento. Desta forma, o que buscamos investigar nesta pesquisa foram dois elementos: o tom emocional dos textos das narrações e como a emoção está implicada na construção dos discursos de Gremista Gaúcha ZH e Colorado Gaúcha ZH. Em especial, foi verificada a presença ou não de Schadenfreude nas narrações analisadas. A primeira etapa será fazer o levantamento das transmissões minuto a minuto de três Grenais (410, 411 e 412) dos aplicativos Gremista Gaúcha ZH e Colorado Gaúcha ZH e do Uol Esporte — que funcionará como uma espécie de “grupo de controle” para servir na comparação com os outros dois. A escolha se deu pelo período em que os clássicos ocorreram, 86 justamente na transição dos modelos de narração dos aplicativos25. Das nove transmissões no total, foram capturados os textos e reinseridos em uma tabela ordenada minuto a minuto. O objetivo foi poder comparar lado a lado as descrições de cada lance por veículos diferentes. Observamos que, por se tratar de interfaces diferentes, o mesmo lance pode ter sido registrado em momento diferente conforme o meio. Por isso, buscamos agrupar de maneira mais ou menos lógica ou relatos de acordo com seu conteúdo. Na análise, buscamos a adequada contextualização das partidas, bem como os elementos que as cercaram e os efeitos práticos dos resultados no círculo futebolístico. Em seguida, os textos de cada narração foram traduzidos para o inglês e aplicados à análise do Linguistic Inquiry and Word Count (LIWC). O LIWC é um programa online de contagem de palavras e investigação linguística que realiza a leitura de determinado texto a fim de identificar as emoções refletidas nele. Ele analisa o material em busca de estilos de pensamento, preocupações sociais e até mesmo partes de um discurso. A ferramenta foi desenvolvida por pesquisadores com interesse na área de psicologia cognitiva, social, clínica e de saúde. Por isso, as categorias de linguagem criadas tentam capturar os estados psicológicos e sociais das pessoas. Nosso objetivo com essa análise foi avaliar o tom emocional presente nas narrações e os percentuais de emoções positiva e negativa envolvidos. Esclarecemos que, como não há versão em português do instrumento, o texto precisou ser traduzido para a língua inglesa, o que compromete parte da análise, já que ela funciona por porcentagem e um termo convertido para outra língua pode ter somado ou diminuído outras palavras. De todo modo, os números absolutos em si não nos interessam, mas traçarmos um perfil objetivo e estatístico de como as emoções ocuparam espaço nas narrações. Isso foi feito a partir da segmentação do tempo de jogo em intervalos de 15 minutos e perscrutando o conteúdo desses períodos. Entendemos, todavia, que o LIWC não se sustenta isoladamente. Ele é uma ferramenta estatística de apoio para uma análise mais ampla, pois possui algumas limitações. Uma delas é a restrição da língua. Como possui em seu vernáculo termos apenas em inglês e espanhol, as palavras precisam ser traduzidas, e algumas distorções podem ocorrer na tradução do português para o inglês. A verificação é semântica, ou seja, preocupa-se com a avaliação objetiva dos significados e suas atribuições emocionais (nunca é negativo, sempre é positivo). Forma, contexto, etiquetas são inspeções que ocorrerão a posteriori. Além disso, ele verifica a média entre os vocábulos e o total do trecho analisado para definir os percentuais de emoções positivas e negativas e o tom emocional — que é uma média harmônica entre as emoções. 25 A pesquisa se desenvolveu ao longo de 2016 e 2017, o que exclui os Grenais 413 e posteriores, ocorridos após o fechamento do presente trabalho. 87 Portanto, por mais que os intervalos de 15 minutos concentrem ações significativas para serem apreciadas, é preciso fazer outra análise, mais afastada, do todo da partida. Por fim, foi necessária uma análise discursiva formal em cada narração, para a identificação dos modos de organização dominantes em cada uma, e a investigação sobre o quanto a presença do rival ou da rivalidade Grenal esteve presente no texto. Entre esses itens, quais foram as visadas pretendias em cada narração, qual a dominante entre elas e se houve intencionalidade no uso das emoções. Em um momento posterior, também sublinhamos o percentual de palavras utilizadas e quais os termos mais recorrentes, como uma maneira de estabelecer visualmente a noção de como se comportam e se repetem os modelos adotados, seja o neutro de Uol Esporte ou torcedores de Gremista Gaúcha ZH e Colorado Gaúcha ZH. Ressaltamos que a proposta de investigação não é, de forma alguma, um modo de definir como e se o público-alvo é atingido pelas construções narrativas das narrações minuto a minuto neutra ou torcedora. Também não é um tratado sobre como “secar” o adversário. O foco da análise está na instância produtora do conteúdo, na forma como ela idealiza seu destinatário e como orienta seu discurso a fim de captar a audiência emocionalmente. Com a especialização e a profissionalização, eles (os jornalistas) vêm reagindo cada vez mais à influência do grupo de colegas, que supera em muito a influência de qualquer imagem que possam ter de um público em geral. Ao ressaltar essa influência, não tenho a intenção de minimizar outras. Sociólogos, cientistas políticos e especialistas em comunicação têm produzido uma vasta literatura sobre os efeitos dos interesses econômicos e tendências políticas o jornalismo. No entanto, pareceme que eles não têm conseguido entender a maneira como trabalham os repórteres. O contexto do trabalho modela o conteúdo da notícia, e as matérias também adquirem forma sob a influência de técnicas herdadas de contar histórias. Esses dois elementos na redação da notícia podem parecer contraditórios, mas estão juntos no "treinamento" de um repórter quando ele é mais vulnerável e maleável (DARNTON, 1990, p. 109). Esta proposta não é definitiva. Ela apresenta uma contestação ao modelo vigente e uma sugestão de aprimoramento, principalmente para a formação dos profissionais em um campo cada vez mais especializado e desafiador. A particularidade evidenciada pela rivalidade do futebol, ainda mais no Rio Grande do Sul, estado com dois dos principais clubes do país e com uma imprensa de referência das mais relevantes, instigou-nos a buscar a compreensão do que parece ser uma tendência no campo: a estimulação das emoções nos meios e nos gêneros jornalísticos. 5 GRENAL: EMOÇÃO MINUTO A MINUTO 88 Dois mil e cinco foi o primeiro ano de popularização da Web 2.0. A velocidade das redes não era alta, a maioria dos lugares não oferecia Wi-Fi gratuitamente e tampouco existia internet móvel como 3G ou 4G. Foi uma época de proliferação das chamadas lan houses, espaço de locação de computadores que oferecia um serviço de acesso temporário à internet. Mesmo assim, o recurso era limitado. Não era possível jogar online ou carregar vídeos de longa duração. O YouTube, por exemplo, foi registrado apenas em fevereiro daquele ano. Dessa forma, a única maneira de um estudante brasileiro que morava em Londres acompanhar o jogo entre Grêmio e Náutico, em 26 de novembro daquele ano, foi por meio de uma transmissão minuto a minuto. A cobertura minuto a minuto de um evento é uma entre diversas linguagens comunicacionais apropriadas pelo jornalismo. Embora não reservada apenas a reportagens esportivas e de entretenimento, é natural que façamos uma relação direta entre essas áreas e esse modo narrativo. Resumidamente, o linguista Andreas Jucker descreve os comentários de texto ao vivo como “relatos escritos de eventos esportivos que são produzidos e publicados de forma incremental na Internet enquanto o evento está se desenrolando e, portanto, são uma nova forma de narrativa em tempo real” (2010, p. 58). Assim como as demais técnicas jornalísticas, a ideia de transmitir um acontecimento em tempo real por meio de textos tem pontos favoráveis e pontos contrários. Essa estratégia facilita o repasse das informações em lugares sem a estrutura adequada para a transmissão de uma grande quantidade de dados, como vídeo via streaming, por exemplo. Também é uma alternativa de cobertura multimídia de eventos por veículos que não possuem os direitos de transmissão. Ela permite o acesso a pessoas que não possuem equipamentos adequados para o consumo dessas informações. Consolida o material em um local fixo, o que permite uma breve recuperação e o acompanhamento de modo linear dos fatos, entre outros fatores positivos. Ao mesmo tempo, o suporte é limitado, sem a concomitância de elementos multimídia suntuosos, exceto por componentes gráficos mais ordinários. A concepção de “tempo real” é relativa, pois, na verdade, é apenas um pequeno recorte temporal destacado textualmente. A noção de interatividade é, também, restrita, pois o narrador assume a função de gatekeeper de maneira mais explícita, filtrando o retorno das opiniões da audiência conforme seu desejo. Em suma, a narração minuto a minuto possui tantos dilemas quanto soluções. 89 Naquele 2005, a cobertura minuto a minuto foi o expediente encontrado pelo jornalista gaúcho para acompanhar a rodada final da Série B do Campeonato Brasileiro. Para ele, o fuso horário de três horas e a ausência de áudio e vídeo eram detalhes superáveis pela instantaneidade da informação. Ele precisava saber se o time empatara ou ganhara, resultados que garantiriam o acesso à Primeira Divisão no ano seguinte, ou se perdera, o que manteria o clube na Segunda Divisão. Mesmo assim, ele assegura que a falta de uma intermediação mais portentosa deu “contornos ainda mais dramáticos” ao evento. No lance de um pênalti para o Náutico, no primeiro tempo, ele leu apenas a breve descrição de uma “simulação pífia” do atleta do Náutico. Como não havia nenhum recurso extra para acessorá-lo em sua interpretação, o relato causou-lhe ainda mais ansiedade, chamando a atenção dos outros frequentadores da lan house. No segundo tempo, com a tensão ainda presente, ele acompanhou a narração de outra penalidade máxima a favor do adversário. O detalhamento do lance, na atualização seguinte, seguido de novas atualizações que citavam expulsões recorrentes, apenas deixaram-no mais tenso. Ele relembra que, nos cerca de 25 minutos entre a marcação da penalidade e a cobrança, nem todos os minutos foram preenchidos com descrições. Os intervalos entre um relato e outro eram completados por um silêncio que representava uma passagem de tempo mais lenta do que realmente era. Quando a narração informou que a cobrança seria realizada, ele se concentrou na frase que apareceria a seguir na tela, e não conteve a euforia ao saber que o goleiro do Grêmio havia defendido o pênalti. Porém, nada foi mais confuso para ele do que ler, em seguida, que o Tricolor havia marcado um gol. Pela sequência dos fatos (quatro expulsões, um pênalti contra e cerca de 10 minutos de tempo regulamentar com apenas sete jogadores em campo), era improvável que o Grêmio ainda anotasse um tento. Ele passou até a duvidar da narração. Como contava apenas com a descrição textual, não pôde conter a ansiedade em buscar outros recursos, o que era impossível naquelas condições. O alívio veio somente dez minutos depois com a ligação telefônica de um amigo confirmando a excepcionalidade dos fatos que envolveram o que seria conhecido mais tarde como a Batalha dos Aflitos. O caso escolhido e relatado acima serve para exemplificar que a narração minuto a minuto, bem como qualquer outra transmissão consagrada, seja do rádio ou da televisão, possui particularidades. A audiência reage ao que é produzido nela de maneira diferente da forma como reage em outras modalidades de cobertura, com estímulos distintos. O que, de certa forma, altera também a maneira emocional como o público se relaciona com a plataforma. A partir disso, podemos admitir que essa é uma técnica consagrada no jornalismo, em especial nas coberturas esportivas. Os principais veículos de comunicação online do Brasil 90 oferecem interfaces diferentes para uma forma comum e familiar: a transmissão das partidas minuto a minuto. Portanto, cabe-nos investigar como esse método se constituiu e quais são as tendências para seu uso futuro dentro da comunicação social. No primeiro sub-capítulo, recuperamos historicamente o desenvolvimento dessa ferramenta, bem como sua adaptação ao meio esportivo. Exploraremos o entendimento de que a narração minuto a minuto surge no cruzamento das culturas oral e escrita, e que, por isso, incorpora características de ambas as práticas. Em seguida, analisaremos três narrações de três partidas entre os rivais Grêmio e Internacional: os Grenais 410 e 411, válidos pelo Campeonato Brasileiro 2016, e 412, válido pelo Gauchão 2017. A narrações torcedoras dos aplicativos Gremista Gaúcha ZH e Colorado Gaúcha ZH são colocadas lado a lado, minuto a minuto, à narração do Uol Esporte, alegadamente um veículo neutro. Assim, averiguamos os itens narrativos, linguísticos e emocionais existentes nos três relatos, buscando diferenças e similitudes entre eles. Por fim, aplicamos os três discursos na ferramenta LIWC (Linguistic Inquiry and Word Count) para observar os tons emocionais e as cargas emocionais positiva e negativa envolvidas na narrativa. O objetivo é buscar elementos que aproximam ou distanciam uma narração da outra e enxergar de que maneira a rivalidade entre os clubes é explorada, confirmando ou não nossa suposição de que os meios de comunicação manipulam as emoções como forma de validar o discurso baseado na Schadenfreude, ou seja, na satisfação pelo infortúnio alheio. 5.1. HISTÓRIA E LINGUAGEM DA COBERTURA MINUTO A MINUTO Nas décadas de 1990 e 2000, antes de que a Web 2.0 apontasse no horizonte da comunicação, nasceu um tipo de narrativa que combinava características espontâneas da linguagem oral com a precisão e concisão da linguagem escrita. A transmissão minuto a minuto dos acontecimentos, como se convencionou chamar, combinou a urgência da atualização dos fatos com a incapacidade da rede em carregar grandes quantidades de dados, como áudio e vídeo, por exemplo. Dessa forma, a criação de um espaço que transmite um determinado evento em frases textuais objetivas consagrou um modelo que, mesmo com o posterior aperfeiçoamento das comunidades virtuais, se mantém como uma forma própria de narrativa jornalística. No caso específico do esporte, a narração minuto a minuto é descrita pelo linguista Andreas Jucker (2010, p. 57), de modo geral, como “uma maneira de transmissão em tempo 91 real de uma partida esportiva enquanto os eventos estão transcorrendo”. Outros termos para minuto a minuto encontrados na literatura, em inglês, são over-by-over, real-time news, realtime data, event tracker, live ticker, minute-by-minute report e matchcast. Todos eles possuem particularidades, por isso, neste estudo, sintetizamos os significados na expressão “minuto a minuto”. Esse modelo, no entanto, não se restringe ao esporte. Ele é utilizado pelos veículos de mídia no relato de uma miríade de ocorrências em uma também vasta possibilidade de motivações: eleições, protestos, trânsito, festivais, anúncios públicos, guerras, entre inúmeras outras. Entretanto, ele é associado costumeiramente à transmissão esportiva, vide alguns elementos característicos, como o recorte temporal pré-determinado e a familiaridade com os papéis desempenhados pelos atores da ação, no caso, narradores, comentaristas e ouvintes/leitores. Até por isso, as narrações minuto a minuto importaram aspectos tanto da narração radiofônica como da exposição do jornalismo impresso. Jucker, aliás, considera a narração minuto a minuto “uma nova forma de comunicação na interseção da oralidade e do letramento” (2010, p. 58). Ele sugere muitas similitudes entre essa narrativa e a radiofônica, mas apresenta também algumas diferenças. A principal, para ele, é a efemeridade. Enquanto o áudio não pode ser recuperado assim que é transmitido (exceto pelo armazenamento e posterior publicação no formato podcast), os comentários verbais textuais ficam registrados e é possível uma recuperação passo a passo do que ocorreu, comprovando, assim, sua perenidade. Em uma alegoria grosseira, é como se as palavras orais fossem entalhadas em pedra ou tipografadas no papel imediatamente após serem proferidas, sem possibilidade de edição. Um passo atrás da narração radiofônica no imediatismo, mas muitos passos adiante de um resumo diário de um jornal. Com o tempo, outros elementos foram aderidos à descrição textual, como imagens, gráficos, estatísticas, vídeos, listas, comentários e outras figuras que complementam a narrativa. Há, contudo, segundo o autor, dois atributos que dão identidade própria ao modelo narrativo do minuto a minuto: estratégias discursivas e de personalização que criam uma impressão dialógica no texto e, também, o uso de linguagem informal e coloquial. Conforme Jucker, essas características se referem aos “métodos que são usados para relacionar as mensagens comunicadas mais diretamente ao destinatário e, assim, criam a impressão de uma comunicação um-para-um que obscurece a situação de comunicação um-para-muitos subjacente a toda comunicação de mídia de massa” (p. 61). Embora não seja tão comum nas ferramentas utilizadas na imprensa brasileira, caixas de comentários e interação por e-mail são algumas dessas estratégias comuns de interação. 92 Elas permitem que o expectador da transmissão comente e compartilhe o conteúdo em tempo real. Há, no entanto, uma liberdade relativa, visto que cabe ao narrador a função de filtrar o material que é veiculado. No caso da narração torcedora dos aplicativos Colorado Gaúcha ZH e Gremista Gaúcha ZH, não tem espaço específico para a convivência com o público. A narração concentra-se na descrição, por parte do narrador, dos acontecimentos. No máximo, adiciona comentários “oficiais” de outros integrantes da empresa de comunicação, como do analista de arbitragem, do repórter do jornal ou do comentarista da partida. Tempo do evento e tempo da narração são coextensivos, portanto, o narrador do minuto a minuto, assim como o locutor da rádio, não está ciente do que pode ocorrer. A consequência disso é a opção pelo tempo pretérito nos relatos, o que não é, de fato, uma regra imutável, como veremos mais adiante. De acordo com Jucker (2010, p. 66), duas particularidades linguísticas se destacam nas narrações: a prosódia e a paralinguagem. Associadas à linguagem oral, elas se apresentam também na fala escrita para dar ritmo e entonação ao que é dito, uma variação fonológica que, para o autor, remete aos comentários de rádio sem roteiro (2010, p. 68). Segundo ele, tanto os comentários de texto ao vivo quanto os comentários de rádio sem script derivam sua estrutura de texto mais ou menos diretamente da estrutura do evento, e o tempo de narração é co-extensivo com o tempo do evento, enquanto que os narradores de narrativas pessoais têm mais liberdade para escolher uma estrutura apropriada para resumir o material e ignorar eventos sem importância (2010, p. 75). Se, na narração de rádio, o locutor precisa preencher o tempo da ação descrevendo, por exemplo, a condução de bola, a distribuição tática, a sensação da torcida, na narração escrita, o autor pode selecionar os eventos-chave do lance, como o domínio e a conclusão, para resumir o fato. Essas narrações permitem lacunas, como diagnostica Jucker. Ainda assim, existe a concepção de que todos ou a maioria dos eventos ocorridos no tempo de um minuto sejam relatados, o que exige do narrador a descrição de ações que, caso fosse resumir em uma reportagem ao fim do jogo, poderiam ser sintetizados em menor espaço temporal. Nesse caso, mesmo momentos em que a bola não está em jogo ou em que a partida esteja distante de seu clímax demandam algum tipo de explicação. A prescindibilidade de um fluxo contínuo altera também o conteúdo do que é informado. Isso é perceptível na comparação entre o rádio e a televisão. Na narração radiofônica, os hiatos para comentários e inserções de outros elementos são muito mais breves. Na transmissão televisiva, como há a imagem em movimento dos eventos, o narrador pode concentrar-se em trazer outros componentes, e até usar o silêncio como ingrediente narrativo para aumentar a dramatização. Já a narração textual do minuto a minuto não precisa da descrição constante e tampouco possui o auxílio da imagem. Nela, a seleção das palavras e 93 estruturação de um texto conciso são técnicas para reter a audiência. Uma espécie de gramática própria é desenvolvida com esse intuito. O uso de maiúsculas para remeter ao texto dito em voz alta, por exemplo, é uma tática muito utilizada. Aplicar uma variedade de pontuações (reticências, exclamações, interrogações) é outro artifício. Onomatopéia é outro estratagema contumaz, bem como a repetição de letras e palavras que sugiram ênfase e continuidade. Interessa-nos, no entanto, outros aspectos discursivos presentes nesse tipo de narrativa. A carga emocional dessas narrações é uma delas. A distinção dos tons emocionais conforme a mídia que a transmite ocorre a partir do momento em que uma nova tecnologia surge. Fernández (1974) destacou as características presentes ou ausentes em cada tipo de narrativa. Segundo ela: Indiscutivelmente, a imprensa falada tem importante contribuição a dar às versões super-sensibilizadas de emoção: entoação expressiva, ritmo da narração; efeitos fônicos […]; o tom interjetivo […] – todos elementos responsáveis pelo grau superlativante dado ao conteúdo da mensagem. A imprensa escrita, por sua vez, sem dispor dos recursos da linguagem oral, não deixa de apelar para a afetividade da língua, quer por vias de associações por similaridade, quer por contiguidade (p. 107108). Esses traços emocionais são, para ela, uma forma de cativar o público. A “coloração emocional”, conforme denomina, “não (é) determinada especificamente pelo estado de alma do emissor. A utilização de uma linguagem predominantemente afetiva é, incontestavelmente, um fator de apelo: exploração consciente ou inconsciente de associações que despertam estados de alma no receptor, permitindo, assim, que a mensagem o atinja com mais eficácia” (p. 112). Essa análise é bastante prática, porém, converge com a opinião aclamada sobre as distinções entre os meios e as linguagens utilizadas por eles. Em um estudo sobre a relação entre o futebol e a guerra, tema já mencionado neste trabalho, o linguista sueco Gunnar Bergh (2011) constatou que a terminologia bélica usada nas narrativas esportivas se estende às narrações minuto a minuto. Segundo ele, essa é uma maneira efetiva para os jornalistas transformarem o jogo em um cenário de guerra, direcionando, assim, seu discurso ao consumidor em um nível mais básico e emocional. Isso é feito de modo a aumentar o ritmo e a contundência da narração, usando várias formas de linguagem dramática e simbólica. Analisando as transmissões minuto a minuto dos sete jogos finais da Eurocopa 2008 pelo portal do jornal The Guardian, Bergh contabilizou 21.101 vocábulos empregados no total, uma média de 3 mil palavras por narração. Entre as expressões com terminologia bélica, foram encontrados 672 termos. Ou seja, uma em cada 30 palavras eram relacionadas com a imagem da violência e da guerra. Termos de ação e atividade/estado/resultado representaram 94 45% e 38% do total, respectivamente, enquanto menções relativas aos agentes e atributos corresponderam a 7% e 10% do total. Com isso, o pesquisador percebeu que: Há mais conexão conceitual entre guerra e futebol do que apenas expressão metafórica, como é indicado pelo fato de que o narração futebolística muitas vezes contém uma seleção mais ampla de vocabulário que é apenas marginalmente relevante para o domínio da guerra como tal, mas que tem um papel importante para o jogo na adição de ritmo e um toque violento ao drama do jogo (2011, p. 91). Bergh não concebe, entretanto, que o locutor ou o narrador estejam necessariamente cientes disso. Para ele, os narradores “tendem a empregar este princípio cognitivo em suas cabines para facilitar a compreensão do jogo, ao mesmo tempo que tentam aumentar sua atratividade, complementando instâncias de metáfora com várias formas de intensificação de terminologia que adiciona ação e suspense, bem como ritmo e vigor ao comentário” (2011, p. 91-92). Isso significa que a criação do conflito é intencional, mesmo que inconsciente, como forma de aumentar o drama agonístico. A prática esportiva, o fazer jornalístico, especificamente o esportivo, neste caso, costuma escorar-se nessas ideias preestabelecidas. Contudo, a manutenção dessa lógica ajuda, também, a sustentar um discurso esportivo tipificado. Esse discurso próprio das narrativas esportivas é denominado pelo professor Jan Chovanec, da Masaryk University, em Brno, na República Tcheca, como “male gossip” ou fofoca masculina26 (2006). A expressão refere-se à maneira como se estabelecem as relações comunicacionais entre os atores da comunidade do futebol, que transcendem os praticantes e chegam aos comentaristas e torcedores. Convencionou-se a interpretar a fofoca como uma maneira de cultura oral entre mulheres sobre atividades corriqueiras. Houve, no entanto, estudos que aproximaram esse modo relacional com os homens e o futebol. Segundo Chovanec, a fofoca masculina se caracteriza, principalmente, pelo diálogo interno “em torno do humor, da irreverência, do exagero e da ironia, com um papel importante desempenhado pela linguagem e outras formas de utilização criativa do código” (2006, p. 34). O estabelecimento de um conflito se torna, nesse caso, um expediente importante para posicionar os envolvidos em relação de poder, no qual alguém “valida” o discurso de outrem. Embora essas trocas sejam baseadas no conflito e na competição, não são manifestações de alguma animosidade velada. Pelo contrário; elas se formam como parte inseparável do discurso tipicamente masculino, em que esse comportamento linguístico é relativamente comum como parte de “fofocas masculinas” aproveitadas de atitudes oposicionistas e negativistas. A intenção final de uma competitividade verbal tão bem humorada é alimentar um senso de comunidade entre os participantes do discurso, ou seja, produzir vínculos sociais (CHOVANEC, 2006, p. 34). 26 A expressão “male gossip” é relativamente consagrada na literatura. Por isso, para este estudo, manteremos ambas as formas: a versão original, em inglês, e a tradução para o português, “fofoca masculina”. Para mais informações sobre a relação entre o discurso masculino tipificado e o esporte, ver JOHNSON, 1994. 95 Não é incomum, portanto, que vejamos termos do vocabulário popular e típico das arquibancadas nas narrações minuto a minuto. O objetivo dessa estratégia é encenar um tipo de relacionamento com o leitor que ocorreria em outro espaço, mas com uma mesma comunidade que compartilha os mesmos sentimentos. Em uma arquibancada ou mesa de bar, por exemplo. Uma interação na qual o narrador pressupõe um entendimento por parte do leitor e, por intuição, dirige as palavras que supõe querer serem lidas. Segundo Chovanec, “em vez de fornecer qualquer informação substancial, as conversas encenadas almejam a função interpessoal no desenvolvimento e promulgação de um sentimento de relações pseudopessoais dentro da comunidade imaginária de pessoas envolvidas no consumo do comentário minuto a minuto como um texto de mídia” (2006, p. 23). De maneira geral, isso ocorre também com outros gêneros jornalísticos. Uma instância de recepção imaginada pelo emissor ou construtor da mensagem está sempre presente. No entanto, as narrações minuto a minuto diferem da cobertura de hard news pela concepção de sua audiência. Se um jornal pode encomendar pesquisas e outros meios de projeção do perfil de seu público-alvo, no minuto a minuto esportivo essa comunidade costuma ser imaginada, ou melhor, socialmente construída previamente por experiência adquirida das outras plataformas, distinguindo seus participantes como pertencentes àquele ambiente. A grosso modo, quem ocupa esses espaços “entende” do assunto. Não raro, segundo Chovanec, “os minuto a minuto utilizam meios freqüentes de personalização sintética [...] para reduzir a divisão entre os participantes discursivos. Desta forma, eles criam o senso de uma comunidade imaginária” (2006, p. 25). Para que fique mais claro, observamos a construção dessa comunidade nas narrativas desenvolvidas pelos aplicativos Gremista Gaúcha ZH e Colorado Gaúcha ZH. A seguir, destrinchamos nove narrações de três Grenais, a fim de entender o modelo narrativo emocionalmente carregado em oposição ao modelo neutro tradicional. 5.2. ANÁLISE DAS NARRATIVAS NEUTRA E TORCEDORA DO GRENAL Analisaremos a seguir, caso a caso, as narrativas de três clássicos Grenal de 2016 e 2017, os Grenais 410, 411 e 412, produzidas pelas narrações neutras do Uol Esporte e torcedoras dos aplicativos Gremista Gaúcha ZH e Colorado Gaúcha ZH. O objetivo é colocálas lado a lado, minuto a minuto, e perceber as concordâncias e incongruências entre os lances descritos. Nas análises, incluiremos também os gráficos com a evolução do tom emocional e das cargas de emoções positivas e negativas envolvidos na narração, bem como uma 96 amostragem dos termos mais recorrentes em cada uma, capturados pelo software online de contagem de palavras TagCrowd. As transcrições das nove narrações estão disponíveis nos anexos desta dissertação, por contenção de espaço. 5.2.1 Grenal 410 O Grenal 410, válido pelo primeiro turno do Campeonato Brasileiro de 2016, ocorreu às 11h do dia três de julho, no Beira-Rio. O Grêmio venceu por 1 a 0, gol do meia Douglas, encerrando um jejum de quatro anos sem vitória nos domínios do adversário e consolidando o Tricolor na terceira colocação na 13ª rodada da competição. O Internacional, que ocupara o primeiro lugar semanas antes, terminaria o ano entre os rebaixados à Segunda Divisão. Aquela, entretanto, não era a preocupação no momento, conforme explicita a apresentação do jogo feita pelo Uol Esporte. Ela apontava que ambas as equipes vinham de desempenhos irregulares e contavam com desfalques importantes – dois pelo lado colorado e quatro pelo lado gremista. Já na narração do aplicativo Gremista Gaúcha ZH, teve como assunto de interesse principal uma declaração do técnico do Inter, Argel Fucks, que enviou um arquivo de áudio para um amigo dizendo que “passaria o trator” no adversário. O aplicativo Colorado Gaúcha ZH foi mais eloquente e evasivo, suprimindo a questão da provocação e dando enfoque à formação tática com três volantes pretendida pelo treinador, além de exaltar as iniciativas da torcida local, com bandeiras e um mosaico com o símbolo do clube. No primeiro tempo, a narração neutra do Uol Esporte utilizou poucas onomatopeias e palavras em caixa alta para remeter a arroubos de emoção. Esses expedientes foram usados em apenas cinco lances, entre eles, o gol do Grêmio, aos 19 minutos. Todos os 46 minutos da etapa inicial foram preenchidos com descrições. Mesmo em momentos de interrupção, a narração incluiu alguma informação relevante, como a posse de bola das equipes, aos 24 minutos. No minuto 31, o narrador descreveu a primeira jogada de Gustavo Ferrareis, recém promovido no lugar de Fernando Bob, como lance de pênalti reivindicado pelos colorados. Porém, nem as narrações Gremista Gaúcha ZH ou Colorado Gaúcha ZH consideraram faltoso o lance. Esse fato exemplifica o perfil adotado pela narração, que completou as lacunas temporais ora com relatos no tempo presente das ações de jogo, ora com comentários em tempo pretérito acerca do desempenho dos times e dos atletas. Em dado momento, a exposição “a bola passa perto do travessão” foi sublinhada imediatamente por “Grêmio ainda não foi ameaçado em seu próprio gol”. 97 Já a narração Gremista Gaúcha ZH abusou das palavras em letras maiúsculas, para manifestar alguma exacerbação, em, pelo menos, 12 ocasiões. Na descrição do gol, todos os termos aparecem em caixa alta (GOOOOL DO GRÊMIO! DOUGLAS É O NOME DO TRATOR!). O ensejo foi oportuno para ironizar a declaração do treinador adversário. Esse foi, no entanto, um dos raros momentos de provocação ao adversário. No minuto 24, inclusive, o narrador limitou-se a relatar que o “Inter troca passes no campo de defesa”. Nem mesmo no lance em que Fernando Bob recebeu cartão amarelo ou que Luan e Artur se envolveram em uma altercação houve qualquer espécie de revanchismo. O mesmo temperamento foi adotado pelo narrador do Colorado Gaúcha ZH. A narração foi tão crítica quanto motivadora nos lances do Internacional. Se, aos quatro minutos, arriscou um incentivo (“Vamo Inter!”), nos três minutos seguintes fez duas observações negativas da postura do time em campo (“O Inter ainda não conseguiu sair jogando pelo chão. Só apelou aos lançamentos de longa distância até agora. Aí fica complicado” e “Artur errou o domínio, mas conseguiu se recuperar na dividida com Giuliano. Quase uma bobagem na defesa”). No gol do rival, restringiu-se a dizer “Bah. Gol do Grêmio. Douglas”. Se, em média, a narração colorada utilizou o mesmo número de palavras que a narração neutra (pouco mais de 800), houve mais momentos de “silêncio”. Nove dos 46 minutos não teve suas lacunas preenchidas com informações. A narração gremista, por outro lado, teve apenas cinco intervalos vazios, embora tenha utilizado cerca de 100 palavras menos na etapa inicial. A narração do app Colorado Gaúcha ZH também não usou do expediente das palavras em letras maiúsculas, e aplicou poucas onomatopeias. O segundo tempo começou depois de intervalos bastante sucintos, com poucas incitações das narrações torcedoras e da narração neutra. O Uol Esporte manteve a mesma norma e recheou os 48 minutos da etapa final com informações, mesmo que somente com as substituições realizadas e estatísticas de finalização a gol. A maioria dos espaços foi contemplada com orações simples e objetivas. Em apenas um caso foram usadas três frases para descrever um mesmo lance. Contudo, usou mais ou menos o mesmo número de palavras em caixa alta do que a narração Gremista Gaúcha ZH: oito vezes. Nada insidioso, apenas sentenças taxativas, como “QUE PERIGO!” ou “PASSOU PERTO!”. No segundo período, a narração Gremista Gaúcha ZH usou aproximadamente uma centena de palavras a mais do que as duas outras narrações, mesmo que a maior parte das ações de jogo tenha partido do Internacional. Aliás, destaca-se que, do ponto de vista do narrador, foi adotado um perfil quase neutro. Os lances propostos pelo Inter foram descritos a partir de um ponto de vista do protagonista, mesmo que do rival (“Sasha está caído no 98 gramado. Jogador parece ter se machucado em lance com Marcelo Oliveira.”). A narração chegou a, em determinados instantes, descrever o que ocorria no banco de reservas do adversário (“Argel chama Valdívia para conversar. Atacante deve entrar em instantes na partida. Substituição no Inter. Sai Seijas, entra Valdívia”), mas, o mesmo não ocorreu em relação aos suplentes gremistas. O equilíbrio foi suspenso com posicionamentos favoráveis ao Grêmio em orações exclamativas (“ABRE O OLHO!”, “SEGURA, GRÊMIO!” ou “ASSIM NÃO!”). Com isso, somente três intervalos não foram preenchidos com relatos. A narração Colorado Gaúcha ZH “silenciou” cinco vezes mais no segundo tempo. Quase um terço do tempo de jogo não foi completado com texto sobre as ações da equipe do Inter. Isso se explica, em parte, pelas tímidas iniciativas do time em campo. Mas também ressalta o tom crítico dos resumos em cada comentário. Um lance, aos 36 minutos, que foi descrito como uma tentativa de bola alçada na área interceptada pela zaga gremista nas demais narrações, rendeu à narração torcedora do Internacional duas apreciações: “Não está com cara de que o Inter vai reverter esta situação. Que coisa” e “É brabo. O Grêmio tem a pior defesa pelo alto do mundo. Mas aí, no Gre-Nal, acerta tudo. O Inter não conseguiu ganhar vantagem em nenhum cruzamento”. Mais uma vez, o artifício da caixa alta e das onomatopeias foi utilizado parcamente. No fim da partida, os relatos condiziam com o resultado. Na narração neutra, destaque para o fim do jejum gremista, a queda da performance colorada e ainda um aparte sobre um cartão amarelo recebido pelo lateral Edilson, que retirou a bandeirinha de escanteio do lugar. A narração gremista, embora também ressaltasse isso, não fez qualquer alusão à provocação do jogador, que estaria “dançando valsa” com o objeto, devolvendo uma “corneta” do colorado Eduardo Sasha. A única ironia ficou com a indireta ao caso do “trator” e o trocadilho com o nome do dérbi (“Termina a partida! É o trator gremista! O Tricolor vence por 1 a 0 o Gre-Nada e fica, agora, na vice-liderança!”). A narração colorada, por sua vez, não destacou a infração, e restringiu-se a criticar o desempenho do time (“Terceira derrota seguida, Internacional. Ridículo, Internacional. Obrigado pela companhia, coloradas e colorados. Mas não deu. Tá complicado, bem complicado”). Em geral, as três transmissões tiveram um total semelhante de palavras utilizadas: em torno de 1,7 mil termos. As narrações do Uol e do Colorado Gaúcha ZH tiveram, inclusive, o mesmo número de palavras diferentes: 367, contra 323 da narração Gremista Gaúcha ZH. Cabe destacar que, nas narrações do Uol e do aplicativo Gremista Gaúcha ZH, a palavra mais repetida é “bola” (30 e 39 vezes), e na do Colorado Gaúcha ZH é “Inter” (34). Porém, se colocadas lado a lado, há um equilíbrio. Na narração gremista, “Inter” aparece 32 vezes, 99 apenas duas a menos. Os jogadores cujos nomes são repetidos mais vezes são “Marcelo Grohe” (26 vezes no Uol, 29 no Gremista GZH e 10 no Colorado GZH) e “Vitinho” (14 vezes no Uol, 16 no Gremista GZH e também 16 no Colorado GZH). Por outro lado, chama a atenção que as narrações neutra e torcedora de Uol e Gremista Gaúcha ZH se equivaleramm em termos como “gol”, “área”, “escanteio”, “direita” e “esquerda”, ao passo que, na narração do Colorado Gaúcha ZH, “vamo” ou “vamos”, somados, apareceram tanto ou mais vezes (Ver figuras 1, 2 e 3). Figura 1 – Narração Uol Figura 2 – Narração Gremista Figura 3 – Narração Colorado Esporte GZH GZH Fonte: elaborada pelo autor Fonte: elaborada pelo autor Fonte: elaborada pelo autor Combinados os termos, é possível supor que, devido à circunstância de uma derrota iniciada na primeira metade da etapa inicial, coube à narração torcedora do app Colorado Gaúcha ZH buscar refletir o sentimento de encorajamento ao time. Enquanto isso, as outras narrações se detiveram à descrição dos lances ocorridos em campo, repetindo termos técnicos e expressões comuns à crônica esportiva. Também é digno de relevo o fato de que os pronomes pessoais não são recorrentes. Ambas as narrações torcedoras designam o adversário pelos nomes oficiais e variações (“Grêmio”, “gremista”, “Internacional”, “Inter”). Além disso, os substantivos e os verbos sobressaem-se aos adjetivos, que não aparecem entre os termos mais recorrentes. Podemos concluir, portanto, que a visada discursiva preponderante na narração neutra do Uol Esporte é de informação. O mesmo é verificado nas narrações Gremista Gaúcha ZH e Colorado Gaúcha ZH: visada de informação como a dominante. Porém, outros tipos estão subordinados a ela em ambas as narrações torcedoras: incitação (“SAI FORA!” e “VAMO INTER!”) e solicitação (“CUIDADO, GRÊMIO! O Inter pressiona muito” e “Bom, Internacional. Vamos nos resolver. Tem jogo pela frente, é no Beira-Rio, e precisamos vencer”). É importante observar que essas orações se referem diretamente aos atores da ação e, indiretamente, aos interlocutores, no caso, a audiência dos aplicativos. O narrador atua 100 como um procurador do torcedor que outorga a si mesmo o direito, além de informar, de incitar e solicitar realizações às equipes. Em relação ao tom emocional de cada narração (Ver figura 4), alguns detalhes são evidenciados. O mais latente deles é que as três narrações estão abaixo da média do LIWC para escrita profissional. Isso demonstra que, na maior parte do tempo de jogo, os três narradores se mantiveram mais imparciais e pessimistas. Entre eles, as narrações torcedoras sustentaram um tom emocional ainda mais baixo do que a narração neutra. Isso explica que houve, em parte, um equilíbrio entre os termos positivos e negativos utilizados. Reparemos que a narração de Gremista Gaúcha ZH mantém-se isenta por quase toda a partida, mesmo no segundo intervalo, quando acontece o gol, e exalta-se apenas na parte final, com o resultado consolidado. Já a narração de Colorado Gaúcha ZH oscila na parte final do primeiro tempo, exatamente após o gol do adversário, momento em que as críticas ao comportamento do time e as palavras de ordem para reagir são mais evidentes. No fim, o tom baixa e termina de maneira mais pessimista do que as demais. Figura 4 – Tom emocional do Grenal 410 Fonte: Elaborada pelo autor Sobre as emoções positivas envolvidas nas narrações (Ver figura 5), há um comportamento interessante por parte do narrador gremista. Ele mantém um número menor de termos positivos do que os demais e, até mesmo, em relação à média desse tipo de texto. Porém, na parte final, permite-se exaltar-se e sobe a média acima dos outros. O colorado, ao contrário, tem um pico de exaltação na parte final da primeira etapa, mas volta a baixar e se 101 iguala ao tricolor no final. É possível que essa discrepância se explique pela limitação do léxico do programa e para distorções na tradução da terminologia futebolística do português para o inglês. Como já alertamos, a ferramenta não possui dicionário em português para fazer a análise. Ao mesmo tempo, a repetição de palavras positivas indefectíveis (“bom”, “boa”, “bem”), somada a pedidos de motivação (“vamo”, “vamos”), são justificativas plausíveis para a identificação de um tom mais otimista do narrador colorado. Figura 5 – Emoções positivas do Grenal 410 Fonte: Elaborada pelo autor Entre as emoções negativas (Ver figura 6), outro padrão é ressaltado. Mais uma vez, as três narrações mantêm uma linha mais ou menos equilibrada acima da média dos relatos profissionais. Isso significa que mais palavras de cunho negativo foram usadas. Na maior parte do tempo, as narrações torcedoras apresentam termos mais negativos do que a narração neutra de Uol Esporte, ou pelo menos número semelhante. A variação de desempenho que chama mais a atenção é a queda na metade do primeiro tempo por parte da narração do app Colorado Gaúcha ZH. O período coincide com pelo menos sete minutos de silêncio intercalados, nos quais não houve nenhuma descrição dos acontecimentos, e que tem interferência na média final da performance. Ainda assim, justificam-se as baixas de termos negativos entre as narrações neutra e gremista em comparação com a colorada na parte final do jogo. Palavras menos tipificadas com a carga negativa, como o “não”, que se repetiu 13 vezes na narração do Colorado Gaúcha ZH, deixam o tom das demais bem mais amenos e próximos à média geral. Figura 6 – Emoções negativas do Grenal 410 102 Fonte: Elaborada pelo autor Essas análises permitem-nos concluir que os discursos engendrados nas três narrações foram emocionais, ou seja, valeram-se das emoções na descrição dos acontecimentos. Isso pode ser dito até mesmo sobre as narrações torcedoras, que atuaram de modo mais tênue e próximo à narração neutra de Uol Esportes, sem uma intenção explícita do apelo às emoções. Apesar disso, ambas demonstraram inclinação para outras visadas além da informação, como a prescrição e a incitação, para manifestar seus sentimentos. Dessa maneira, alicerçando-nos das duas formas de análise, percebemos certa equiparação entre os três modelos no tratamento das informações, ao mesmo tempo em que identificamos uma abordagem levemente hostil entre os rivais, sem haver, no entanto, nenhuma animosidade notória que possa ter sido traduzida em Schadenfreude — exceto, ponderemos, a provocação final da narração de Gremista Gaúcha ZH, que ironiza a declaração do técnico adversário sobre o trator e faz troça com o nome do rival. 5.2.2 Grenal 411 No segundo turno do Campeonato Brasileiro 2016, Grêmio e Inter se enfrentaram, pela 32ª rodada, na Arena do Grêmio. A partida aconteceu no dia 23 de outubro e registrou o sexto maior público daquela edição da competição: 47.622 espectadores. Apesar da expectativa criada, o jogo terminou em 0 a 0. 103 O mote da narração do Uol na apresentação da partida foi o reencontro entre os técnicos Celso Roth, do Inter, e Renato Portaluppi, do Grêmio, seis anos após o Grenal 383, em 2010, que terminou em 2 a 2. Já a narração do aplicativo Gremista Gaúcha ZH informou apenas que o atacante Miller Bolaños seria titular e o meia Douglas seria poupado. Isso foi feito com uma frase despojada (“Hj ele vai ver o jogo no bar, tomando uma gelada merecida”), e precedeu uma provocação ao adversário (“Vamos detonar os colorados!!!”). O app Colorado Gaúcha ZH também foi provocativo na introdução do jogo (“Este é o Gre-Nal 411. Lembrando dos números: são 154 vitórias coloradas, 128 derrotas e 128 empates. Nosso maior rival no clássico é o empate, portanto”), mas ponderou abordando o momento pelo qual passava o clube, que então lutava contra o rebaixamento. O Uol Esporte manteve o modelo de repassar uma informação a cada minuto, completando todas as lacunas dos 46 minutos do primeiro tempo. Uma particularidade que diferencia essa transmissão à do clássico anterior é que, mesmo nos comentários, o tempo utilizado foi o presente do indicativo. A maioria dos relatos ocorreu com apenas uma frase, combinando várias orações. Ainda assim, usou mais ou menos o mesmo número de palavras da narração colorada, em torno de 800, e cerca de 250 mais do que a narração gremista. A transmissão de Gremista Gaúcha ZH, aliás, usou frases mais curtas e orações mais objetivas (“Fechou o tempo. Bolaños acertou o William. Reservas deles estão furiosos. Uiiii!”). Em relação aos intervalos, deixou pelo menos um quinto das lacunas temporais incompleto. A partir dessa narração, conforme podemos inferir, o narrador do app abdicou de citar o nome oficial do clube adversário e passou a se referir ao Inter apenas pelo pronome em terceira pessoa (“Edílson solta uma bomba lá do meio de campo na cobrança da falta, mas não acerta o gol deles”). Percebe-se, também, um princípio de incitação e posicionamento mais engajado. Em certos momentos, o narrador comentou e direcionou palavras de ordem ao time (“Jogo bem fraquinho ainda. Renato, manda essa gurizada dar a vida aí. Aqui é Grêmio, p****”) e ao árbitro da partida (“Luan tenta o domínio e é atropelado pelo Anselmo. Cadê o cartão, juiz?”), como se estivesse na arquibancada torcendo. Tanto que, em determinados momentos, minimizou uma ação faltosa e se posicionou em defesa do jogador gremista (“Maicon deu no tornozelo do Valdívia. Bom pro rapazinho do Instagram ficar esperto”), ainda que concordasse com a descrição de que foi uma infração violenta efetivamente. No aplicativo Colorado Gaúcha ZH, o engajamento com a torcida foi ainda mais explícito (“O senhor juiz começou a inventar com um minuto de jogo, parabéns. Vitinho tomou uma falta, e o árbitro marcou falta do nosso camisa 11”). Porém, o narrador seguiu utilizando o nome do clube rival, sem guinar para a omissão completa, como no caso gremista 104 (“Agora o Grêmio tem falta para cobrar: Paulão derrubou Bolaños”). Os “silêncios” sem qualquer descrição textual foram ainda mais extensos: cerca de um quarto dos minutos não tiveram relatos. Além disso, o estratagema de palavras em caixa alta e onomatopeias foi usado mais parcimoniosamente (“O Inter consegue o primeiro escanteio: Marcelo Oliveira mandou para trás o lateral de Ceará. VAMOS LÁ, COLORADO!”) — apenas uma vez em cada narração torcedora e duas na narração neutra, na etapa inicial. Devido à falta de qualidade futebolística no período, as três narrações fizeram avaliações semelhantes. O Uol, de maneira mais direta e afastada, apenas comentou que, “em partida marcada pela falta de agressividade e criatividade de ambas as equipes, Grêmio e Inter vão para o intervalo em igualdade no clássico”. Já os aplicativos Gremista Gaúcha ZH e Colorado Gaúcha ZH se permitem ser mais incisivos. O narrador colorado informou e qualificou negativamente o clássico (“termina um primeiro tempo horroroso na Arena”), enquanto o narrador gremista fez uma súplica (“Tomara que eles encontrem o futebol no intervalo”), referindo-se a ambas as agremiações. Na etapa final, mais uma vez a quantidade de palavras das narrações neutra do Uol e torcedora do Colorado Gaúcha ZH foi similar (em torno de 750 termos), enquanto a narração Gremista Gaúcha ZH seguiu abaixo da média (menos de 450 termos). Mais uma vez, o que diferenciou a narração do Uol Esporte em relação às demais foi a opção por um posicionamento discursivo mais sanitizado e indeterminado do que os demais. Na descrição de um lance violento, logo aos dois minutos, a narração neutra noticiou como uma pequena rusga (“Edilson e Eduardo Sasha se desentendem, mas Geromel acalma os ânimos dos atletas”). A narração colorada, por outro lado, criticou acintosamente a atitude do lateral Edilson (“E rola mais uma discussão, após uma disputa de Sasha com Edílson. O lateral deles deixou o braço no nosso atacante”), enquanto a narração gremista ironizou, mesmo que reconhecendo a gravidade do lance (“Edílson ponderou com o cotovelo. Sasha ficou chateado”). O lance emblemático dessa partida aconteceu entre os minutos 15 e 22 do segundo tempo. Edilson atingiu o rosto de Rodrigo Dourado com três socos, em um lance que havia começado como uma leve discussão entre Kannemann e Vitinho. A narração do Uol Esporte isentou-se de apontar algum culpado, citando, de modo generalista, que “os jogadores começam a se desentender e trocam socos”. Em seguida, afirmou que Dourado “levou a pior e ficou com dores na boca”, sem indicar, entretanto, o que causou a lesão. Somente depois disso informou que Edilson foi expulso, sem dizer o motivo. A narração neutra também 105 buscou equilibrar as reclamações, mencionando as contestações do time do Grêmio (“Indignação gremista por ninguém dos visitantes receber vermelho”). As descrições das narrações torcedoras quase apontam para um acontecimento totalmente diferente. O aplicativo Gremista Gaúcha ZH sugestionou que Valdívia simulou uma falta e iniciou a confusão. Ele, no entanto, não participou em mais nenhum momento do relato (“Valdívia se atira e fecha o tempo”). Em um primeiro instante, o narrador isentou o lateral gremista de responsabilidade, informando que “Edílson ponderou com socos no Dourado, que se assustou”, para, em seguida, responsabilizá-lo e, ao mesmo tempo, absolver a instituição, “Edílson foi expulso. Olha, foi merecido. Três socos. Grêmio é maior que isso”. Por fim, resumiu o ocorrido com um grifo crítico: Que várzea! Quando o Gre-Nal melhorou, brigas estragaram o Clássico. A narração do app Colorado Gaúcha ZH foi mais completa que a demais. Ela citou, desde o princípio, que houve uma agressão a Dourado (“Falta, e falta boa para o Inter! E agora rola pancadaria! Dourado tomou um soco!”) e contextualizou o lance logo no minuto seguinte (“Valdívia tomou a falta na frente da área. Vitinho foi cobrar o cara do Grêmio e, na sequência, Geromel acertou um soco no Dourado”). Mesmo que a informação tenha sido equivocada — na verdade, Geromel não se envolveu no entrevero —, ela foi consertada rapidamente (“Aliás, foi o Edílson, deu três socos no Dourado. Tem que ser muito expulso”). A ocasião pareceu despertar um sentimento colérico no narrador colorado. Ele passou, a partir de então, a desaprovar as ações da arbitragem (“E Vitinho leva cartão amarelo. Agora o time deles fica numa pressão absurda” e “Esse árbitro não podia nunca mais apitar um jogo”) e a tratar com ironia as manifestações dos torcedores gremistas (“Para usar termos leves, o vermelho foi pouco. E o Inter tem uma falta boa para cobrar. Tem torcedor que aplaude isso. Bom... merecem o que têm”) — naquele momento, o Grêmio ainda padecia por um período de 15 anos sem títulos expressivos, ciclo que se encerraria com o título da Copa do Brasil, dois meses depois do Grenal em questão. Do reinício da partida até os 30 minutos, praticamente não houve relato de lances ocorridos em campo pelas narrações torcedoras. Ao mesmo tempo, observando a narração neutra, percebe-se que o jogo transcorreu e vários acontecimentos foram destacados. A narração Gremista Gaúcha ZH permaneceu suspensa em cinco dos 10 minutos seguintes, enquanto a narração Colorado Gaúcha ZH usou as lacunas para tecer julgamentos sobre o árbitro (“Funcionou bem a pressão do Grêmio. Quero ver se vai ter choradeira de arbitragem depois. Que palhaçada, que coisa ridícula”, “Bom, vamos voltar para o jogo depois de toda a palhaçada. Cuidado ao sofrer faltas, Inter, pois podemos ser expulsos por isso” e “Sasha 106 tentou driblar Geromel e Kannemann e foi atingido. Óbvio que o juiz não deu nada, pois pelo jeito a orientação foi para o Inter apanhar quieto”). Como foram dados oito minutos de acréscimo para corrigir o tempo perdido com a briga, o jogo avançou até os 53 minutos. Nos 10 minutos finais, porém, a narração gremista esteve silente na maior parte do tempo. Exceto pelas substituições, os lances eram pouco descritos (“Escanteio!” foi o único relato no minuto 51). A narração colorada completava seus espaços com informações de outros jogos que interessavam ao torcedor colorado, pois evolvia equipes que disputavam a fuga do rebaixamento com o Internacional (“Terminaram Palmeiras 2x1 Sport e Vitória 0x1 Cruzeiro, ótimos resultados para o Inter”). Comparando com a narração neutra, todavia, sabe-se que outras iniciativas essenciais para a narrativa seguiam acontecendo (“DEFENDEU!! William recebe no lado direito da área, finaliza rasteiro e Grohe pega firme” e “Guilherme recebe na direita e tem chute desviado para escanteio”). No fim, o Uol Esporte foi comedido na avaliação da partida (“Apita o árbitro! Em dia de quebra de recorde de público da Arena do Grêmio, Grêmio e Inter fazem um jogo abaixo da expectativa e empatam sem gols”), ao passo que as narrações torcedoras aproveitam o espaço para se posicionar criticamente. O Gremista Gaúcha ZH depreciou a qualidade técnica do jogo (“Fim de jogo. Mais um Gre-Nal nas nossas vidas. Pena que esse foi ruim, sem uma vitória do nosso Tricolor!”). Já o Colorado Gaúcha ZH aproveitou para alfinetar o rival (“Nada de gols em um Gre-Nal marcado pela palhaçada da arbitragem. Obrigado por terem acompanhado o jogo pelo Colorado ZH. VAMO INTER! Ah, só para terminar: 154 vitórias do Inter, 129 empates e 128 derrotas. O empate é maior do que eles”). O desenfreamento nas críticas do narrador colorado tornou a narração mais eloquente que as demais. Foram mais de 1,7 mil palavras utilizadas no total, sendo 391 diferentes. A narração neutra aproveitou mais de 1,6 mil palavras, sendo 366 diferentes, e a gremista, ainda menos: pouco mais de mil palavras, sendo 297 diferentes. Mas não apenas a brevidade da narração do Gremista GZH chama a atenção. Ao contrário do padrão anterior, o narrador deixou de usar o nome do Internacional para se referir ao rival. Embora “Grenal” seja citado recorridas vezes, o Inter é sempre citado na terceira pessoa (“eles” e “deles”). O pronome, aliás, só é menos repetido do que os termos “bola” e “Bolaños”. Por outro lado, o Colorado Gaúcha ZH segue utilizando “Grêmio” para se referir ao adversário. O termo reincide 16 vezes, a metade do número de citações ao próprio nome do clube, “Inter”, e menos vezes apenas do que os termos técnicos “bola” e “jogo”. Mais uma vez, na narração neutra do Uol Esporte, as palavras mais recorrentes são também os termos comuns ao futebol: “bola”, 107 “área”, “ataque” e “campo”, além dos nomes dos atletas, verbos e substantivos (Ver figuras 7, 8 e 9). Figura 7 – Narração Uol Figura 8 – Narração Gremista Figura 9 – Narração Colorado Esporte GZH GZH Fonte: Elaborada pelo autor Fonte: Elaborada pelo autor Fonte: Elaborada pelo autor As três narrações desse Grenal tiveram comportamentos bastante semelhantes em relação aos tons emocionais (Ver figura 10). Os três iniciaram acima da média na apresentação da partida e se mantiveram abaixo durante o transcorrer do jogo. Apenas a narração gremista demonstrou uma curva ascendente na metade final do primeiro tempo, o que é explicável pelas orações curtas e pouco uso de adjetivos para qualificar as ações. Outro detalhe é que, ao contrário do dérbi anterior, no qual as oscilações foram maiores, dessa vez houve certa contiguidade entre as narrações torcedoras e a narração neutra. Embora, na maioria dos intervalos, a narração de Uol Esporte tenha se mantido abaixo das demais, gráfico mostra a proximidade entre os tons dela e das narrações de Gremista Gaúcha ZH e Colorado Gaúcha ZH. Figura 10 – Tom emocional do Grenal 411 108 Fonte: Elaborada pelo autor Entre as emoções positivas desse Grenal (Ver figura 11), a inconstância foi a constante. As três narrações oscilaram acima e abaixo da média de palavras positivas para o texto profissional. A narração do Uol Esporte começou neutra e terminou baixa. A narração do aplicativo Gremista Gaúcha ZH iniciou neutra, se manteve acima da média por quase toda a partida, mas caiu e encerrou abaixo da média. E a narração do app Colorado Gaúcha ZH esteve acima da média no princípio, se manteve neutra no primeiro tempo, alternou-se no segundo, fechando o ciclo abaixo da média. A análise deste gráfico é uma das mais complicadas de se fazer, porém, destaca algumas características que são importantes serem ressaltadas. Intervalos mais longos, sem descrição por parte das narrações torcedoras, permitem que os termos mais positivos e otimistas, quando apareçam, interfiram na proporção final. Da mesma forma, a ausência de uma terminologia positiva faz com que o intervalo pareça mais pessimista percentualmente. Além disso, como a partida foi pobre do ponto de vista esportivo, justifica-se a queda nas frases mais gentis para a descrição dos fatos na parte final do jogo, assim como uma excitação maior em momentos de disputa acirrada. Figura 11 – Emoções positivas do Grenal 411 109 Fonte: Elaborada pelo autor Entre as emoções negativas (Ver figura 12), o comportamento das três narrações também foi alternado, mas manteve um padrão mais coeso do que em relação às emoções positivas. As três iniciaram abaixo da média e terminaram bastante acima. Na maior parte do jogo, as narrações se estabeleceram entre dois e quatro pontos percentuais. Apenas a narração do aplicativo Gremista Gaúcha ZH terminou acima, em torno de cinco pontos percentuais. Assim como na comparação anterior, as frases mais sucintas das narrativas podem sugerir um desequilíbrio maior entre os termos positivos e o total de palavras utilizadas. De qualquer modo, vale salientarmos que as narrações torcedoras estiveram em compasso com a narração neutra, usando terminologia pessimista em quantidade semelhante, inclusive com algumas coincidências em momentos do jogo. Isso representa, de certa forma, que não houve exagero por nenhuma parte no relevo dos lances. Pelo contrário, em alguns momentos, como na briga entre Edilson e Rodrigo Dourado, as narrações torcedoras, mesmo utilizando termos mais negativos, serviram à informação de forma mais precisa do que a narração isenta de Uol Esporte. Figura 12 – Emoções negativas do Grenal 411 110 Fonte: Elaborada pelo autor Postos em perspectiva, os gráficos que simbolizam três aspectos das narrações indicam que, assim como no Grenal 410, houve presença destacada das emoções no Grenal 411. Dessa forma, podemos aferir que as narrativas são emocionais, sem intencionalidade explícita, embora alguns elementos de uma rivalidade mais hostil estejam presentes nas narrações torcedoras. A omissão do nome do rival por parte da narração gremista é uma delas. As críticas acintosas à arbitragem, no caso colorado, é outra. Apesar de não ser um padrão narrativo, essas provocações ganharam mais espaço a partir desse clássico. Em relação às visadas, a narração neutra de Uol Esporte segue sendo predominantemente de informação. Já entre as narrações torcedoras de Gremista Gaúcha ZH e Colorado Gaúcha ZH estão presentes as visadas de prescrição (“Vamos botar mais raça, Grêmio!” e “Atenção aí, gurizada. Que perigo…”), incitação (“Vamos detonar os colorados!!!” e “É hora de ser, mais do que nunca, colorado!”) e informação, sendo esta a predominante. Cabe ressaltar que as incitações e solicitações são do campo da retórica. Não indicam diretamente um posicionamento de ordem, para mandar fazer ou fazer acreditar que o objeto da narração, no caso, os jogadores, técnicos e árbitros, tenham de fazer. Essas estratégias discursivas funcionam como uma estratégia para se posicionar junto ao interlocutor – o torcedor – e ser legitimado por ele devido ao seu engajamento. 5.2.3. Grenal 412 111 O Grenal 412 aconteceu no dia cinco de março de 2017, às 18h30, na Arena do Grêmio, em Porto Alegre. A partida foi válida pela 6ª rodada do Gauchão e representou o único encontro entre as equipes no ano, já que elas disputaram três torneios concomitantes (Campeonato Gaúcho, Primeira Liga e Copa do Brasil), mas cruzaram-se apenas no primeiro. O jogo terminou empatado em 2 a 2. Porém, teve abordagens e leituras diferentes conforme a narração para cada torcida. O pré-jogo da narração neutra de Uol Esporte destacou que ambos os times passavam por momentos ruins dentro do campeonato. O Grêmio começara a rodada como 3º colocado e o Inter, 5º, posições inesperadas para os clubes da Capital em contraste com os do Interior27. A transmissão destacou que o Tricolor poderia ter a estreia de Lucas Barrios, recém contratado, mas estaria desfalcado do capitão Maicon. Já o Colorado entraria com a equipe completa, embora despistasse sobre a presença do capitão D’Alessandro e do lateral William. As narrações torcedoras optaram por uma abordagem bem mais emocionais e provocativas. A narração do aplicativo Gremista Gaúcha ZH observou que a torcida presente no estádio cantava uma versão da música Arerê, de Ivete Sangalo, sem, contudo, desvelar o conteúdo total do cântico, que aludia ao rebaixamento do Internacional na temporada anterior do Campeonato Brasileiro. Provocações dessa natureza, aliás, foram constantes na narração. No período anterior ao apito inicial, algumas referências ao fato foram feitas, por exemplo, ao chamar o rival de “Binter” (incluindo a letra correspondente à divisão do clube no cenário nacional) e de “time da Segundona”. Outro coro da torcida também foi incorporado à transmissão (“Aonde estão? Ninguém os vê! Vão jogar a Série B…”). Por outro lado, as menções ao elenco gremista eram sempre elogiosas e exageradas. Foi relembrada a conquista da Copa do Brasil no ano anterior (“AÍ ESTÁ O GRÊMIO! RESPEITEM O PENTACAMPEÃO DA COPA DO BRASIL!”). Os jogadores foram enaltecidos na divulgação da escalação com a utilização de cognomes de louvor autoexplicativos, como “Paredão Grohe”, para o goleiro Marcelo Grohe, “Deus Geromito”, para o zagueiro Pedro Geromel, “The Killer Bolaños”, para o atacante Miller Bolaños, e, “Luanel Messi”, para o meiaatacante Luan. Até mesmo o técnico Renato Portaluppi foi louvado como “Renato do povo, Renato da gente, Renato Gaúcho, Renato Portaluppi!”. Contudo, antes de iniciar a cobertura 27 Apenas como registro histórico, o vencedor do Campeonato Gaúcho 2017 foi o Novo Hamburgo, que eliminou o Grêmio na semifinal e derrotou o Internacional na decisão. 112 propriamente dita, a narração faz uma ponderação dirigida ao torcedor: “Gremistada, corneta é sempre bom. Mas sempre com amizade! Fica sempre o pedido de #PazNosEstádios!”. A narração do aplicativo Colorado Gaúcha ZH foi mais econômica em número de caracteres, mas não foi menos efusiva nas descrições. Tanto que começou com uma postagem quase totalmente em caixa alta (“Boa tarde, nação colorada! VAMOS PARA MAIS UMA BATALHA! E DIGO PRA VOCÊS: O PAPAI VOLTOU!!!!!! D'ALESSANDRO ESTÁ DE VOLTA AO NOSSO INTER! Pode tremer, gremistada! O PAPAI VOLTOU!”). Em seguida, ironizou os cânticos gremistas sobre o rebaixamento do Inter, recordando que o clube mandante também já fora rebaixado (“essa turminha de pijama resolveu homenagear os seus anos de série B?”). A ironia foi usada mais de uma vez no registro do local de disputa da partida (“Arena OAS está cheia para ver o nosso show”), atribuindo a propriedade da Arena à construtora que realizou a obra e não ao Grêmio. Já os jogadores colorados foram exaltados. D’Alessandro foi chamado de “o exterminador de gremistas” e “o terror de todos os gremistas”. O próprio clube era referido como “O PAPAI” e “o único campeão mundial FIFA no RS”. Mais uma vez, assim como na narração de Gremista Gaúcha ZH, uma observação apaziguadora resumiu o momento: “Aqui tem zoeira, corneta e muita amizade com o lado azul. Vamos ao estádio sem briga, sem violência!”. Os 48 minutos de jogo do primeiro tempo foram, praticamente todos, preenchidos com a descrição de algum acontecimento: 42 da narração neutra, 36 da narração gremista e 34 da narração colorada. Em apenas um, o 11º minuto, não houve referência qualquer em nenhuma narração. Vale observar que, embora os relatos da narração do Uol Esporte fossem mais recorrentes, as frases usadas para descrever cada lance eram mais curtas e objetivas, preferencialmente no tempo presente do indicativo e em ordem direta (“Pedro Rocha invade a grande área”, “Paulão chega de carrinho”). O pretérito foi usado apenas quando fez referência a algum registro anterior. O uso de exclamação repetiu-se apenas quatro vezes, palavras em caixa alta ocorreram três vezes e somente uma onomatopeia foi utilizada para representar a sensação de alívio (“UUHH! Pressão do Inter. Carlinhos chuta de longe, Marcelo Grohe espalma e salva o Grêmio”). Os clubes foram sempre citados pelo nome oficial, Grêmio e Inter, ou Internacional. Nem mesmo alcunhas consagradas, como Tricolor ou Colorado, foram aproveitadas. A mesma regra valeu para os jogadores e para o árbitro Leandro Vuaden, que foram mencionados pelo nome. A narração Gremista Gaúcha ZH foi bem menos sucinta nas descrições, recorrendo a diversas orações no relato de um mesmo lance. O tempo verbal variou muito mais do que na narração neutra, ora no presente (“Michel leva cartão amarelo”), ora no pretérito (“Luan fez 113 boa jogada e chutou”), inclusive entre os modos indicativo (“O escanteio parou nas mãos do goleiro”) e imperativo (“Olha o senhor Leandro Vuaden aparecendo!”). Expressões em letra maiúscula repetiram-se sete vezes, e a mesma onomatopeia foi empregada em um lance de quase gol (“UHHHH! Bolaños aproveitou o erro e chutou pertinho do gol!”). Houve a recorrência de pontuações mais variadas do que na narração neutra: exclamação para dar ênfase (“E foi MUITO pênalti!”), reticências para dar ideia de continuidade (“Juiz deu a falta... ok, né”), aspas para sugerir ironia (“Marcelo Oliveira agora coloca a Arena abaixo com um balãozinho no tal do ‘príncipe’!”, em referência ao jogador Charles, do Inter) e interrogação para demonstrar um questionamento retórico (“O que o senhor Leandro Vuaden fez agora????”). O rival nunca foi descrito pelo nome oficial, mas pela terceira pessoa (“eles”, “deles”) ou por apelidos desabonadores: “time de Segunda Divisão”, “Binter”, “time de Série B” e “time de Segundona”. Os atletas também foram referidos por apelidos pejorativos: D’Alessandro foi creditado como “chiliquento”, “atacante de fala fina” e “parceiro de apito”, e William como “aquele lateral de cotovelos altos” (em referência a um lance em outro clássico, no qual o lateral acertou uma cotovelada em Miller Bolaños e fraturou os ossos da face do jogador gremista). Em outros momentos, o protagonista da ação sequer foi citado (“Mais uma vez eles tentam chegar, mas não é à toa que estão na Série B. As jogadas de ataque não têm perigo nenhum”, em lance envolvendo o jogador Carlinhos). Em contrapartida, os atletas gremistas receberam apelidos que os exaltavam: Geromel foi nomeado “capitão Dom Pedro Geromito” e Bolaños, “Miller the Killer”. O gol gremista, no minuto 22, foi descrito em três momentos. No primeiro, frases curtas com várias palavras em caixa alta e com repetição de letras para dar a ideia de fluxo contínuo na descrição do gol, seguido de uma provocação ao rival (“GOL GOL GOL GOL GOOOOOL DO GRÊMIO! MILLER THE KILLER BOLAÑOS! QUE CONTRA-ATAQUE MARAVILHOSO! Depois de uma jogada perigosa deles, a bola parou no Pedro Rocha, que deu um passe primoroso para Miller the Killer chutar no ângulo! AONDE ESTÃO? NINGUÉM OS VÊ!”). Os dois momentos seguintes recuperam essa ideia com dados estatísticos e nova incitação dos ânimos da torcida: “Bolaños faz o primeiro gol de um equatoriano na história dos clássicos!” e “Esse baile vai longe! Vamos dançar que a Ivete tá aí: ARERÊ…”. Em contraste, a narração neutra foi bem mais econômica (“GOOOL DO GRÊMIO! Contra-ataque, Pedro Rocha toca para Bolaños, na área, bater de primeira”) e não se ateve a esses desdobramentos nos minutos posteriores. Em outro lance de destaque da etapa, logo nos minutos iniciais, a narração chegou a sugerir que houve uma penalidade preterida pela arbitragem. Em dois momentos, questionou uma decisão e incriminou o árbitro 114 e a Federação Gaúcha de Futebol: “Olha o senhor Leandro Vuaden aparecendo! Pedro Rocha tomou um carrinho de Paulão e caiu, mas o árbitro deu apenas escanteio. E foi MUITO pênalti!” e “O escanteio parou nas mãos do goleiro... bem, o trabalho da FGF já começou! Mas tudo bem, é sempre assim. O time de Segunda Divisão precisa de um árbitro de primeira para tentar algo. Vamos superar, como sempre, contra tudo e contra todos! Vamos, Tricolor!”. Mais adiante, no minuto 28, sugestionou outro equívoco da arbitragem (“O que o senhor Leandro Vuaden fez agora????”) para, em seguida, corrigir sua posição, com base no comentário remoto do analista de arbitragem da Rádio Gaúcha (“Bolaños leva amarelo não sei muito bem por que. Explica o Diori Vasconcelos que é porque ele estava impedido em um lance em que levava vantagem após falta em Luan”). A narração do aplicativo Colorado Gaúcha ZH obedeceu o mesmo regramento, apenas invertendo o objeto de suas figuras de linguagem. O Grêmio foi citado indiretamente como “turminha do pijama”, “pessoal de pijama” e “time de pijamas”. Os jogadores também receberam apelidos nada elogiosos: Ramiro foi mencionado como “volantezinho de meio metro” e “pintor de rodapé”, Kannemann como “zagueirinho argentino” e Geromel como “Gelomel”. Enquanto isso, os jogadores colorados eram referidos de maneira exultante: D’Alessandro como “PAPAI D’Ale”, Rodrigo Dourado como “EL DORADÓN”, Danilo Fernandes como “Muralha” e Charles como “Príncipe”. A variação temporal também ocorreu na narração colorada. Algumas vezes, as orações apareceram no presente (“Inter troca passes”) e no pretérito (“Clima esquentou”), e modos indicativo (“PAPAI VOLTOU. E mostrou pro Jaílson que aqui não é brinquedo”) e imperativo (“BORA, INTER!”) também se alternaram. Repetições de pontuações e de letras nas palavras foram recursos usados para demonstrar exagero, assim como as orações escritas em caixa alta. Da mesma forma, chamou atenção a maneira direta como o narrador dirigiu-se à arbitragem, questionando as marcações. No minuto 18, por exemplo, o árbitro foi interpelado (“Vuaden? Tá dormindo?”), e, dois minutos depois, teve sua decisão contrariada (“TINHA QUE SER EXPULSO! Vuaden aplicou o cartão amarelo para um boneco de pijama que juntou o PAPAI. D'Ale reclamou e com razão”). Outra detalhe que devemos observar é o direcionamento da narração a um interlocutor idealizado como se comungasse dos mesmos sentimentos de apreensão e medo. Entre os minutos 34 e 37, apenas um deles foi preenchido com um relato (“Se eu der uma desaparecida é porque a tensão tomou conta. Precisamos de um gol, Inter”). Desse modo, o narrador justificou o silêncio na atualização em tempo real ao mesmo tempo que criou uma imagem de ansiedade ao não postar nenhum texto. Mais adiante, 115 entre os minutos 41 e 44, recorreu ao mesmo estratagema (“Quero que vá para o intervalo de uma vez! Parei de narrar, parei de falar porque tá difícil, amigos”). No intervalo, as três narrações foram sucintas. O que diferiu a narração neutra das demais foi a não utilização do verbo no imperativo para incitar a torcida. Enquanto o Uol Esporte apenas resumiu a etapa inicial (“Grêmio soube aproveitar melhor os lances de ataque e vence parcialmente o Internacional”), os aplicativos Gremista Gaúcha ZH (“Vamos, Grêmio!”) e Colorado Gaúcha ZH (“Pra cima deles, Inter!”) usaram desse artifício. A segunda etapa, da mesma forma, teve mais descrições por parte da narração neutra: apenas três dos 48 minutos do período não foram preenchidos com relatos. A narração gremista teve 37 informes e a colorada, 38. É preciso salientar que, nesse tempo, houve substituições em ambos os times, mas apenas a narração neutra fez todos os apontamentos sobre isso. As narrações torcedoras nem sempre reforçaram textualmente as trocas de jogadores da equipe rival. Apenas notificaram pelos ícones gráficos dos aplicativos, sonegando eventualmente uma informação básica para o entendimento da partida. Por exemplo, quando, no minuto 16, saiu o volante Michel para o ingresso do meia Fernandinho, as narrações neutra e gremista indicaram, mas a colorada não completou o espaço com nenhum aviso. O atleta só foi mencionado dois minutos depois, e isso aconteceu apenas porque Fernandinho marcou o gol. Mesmo assim, na referência ao lance, o narrador do Colorado Gaúcha ZH não citou o nome do atleta, deixando o dado incompleto (“Ah, não. Gol deles. O desgraça que tava no banco até agora entrou e, de fora da área, chutou. Tá de aniversário, só pode”). Em relação às regras de linguagem utilizadas nas narrações, o segundo tempo foi semelhante ao primeiro. O tratamento lisonjeiro aos atletas de sua própria agremiação e hostil ao rival se repetiu. O atacante Roberson, do Internacional, apareceu como “Robershow” na narração colorada e como “RoBerson” (com destaque para o B em letra maiúscula) ou “traidor de 2009” (rememorando a passagem do jogador pelo Grêmio) na narração gremista. Da mesma forma, Lucas Barrios surge como “homem-gol” na narração Gremista Gaúcha ZH e, na narração Colorado Gaúcha ZH, como “um argentino, que não é mais argentino, que virou paraguaio, que defendeu o Palmeiras e, coitado, agora tá aí”. As insinuações de erros de arbitragem, bem como reivindicações de marcações a favor de seus times, prosseguiram nas narrações torcedoras, em contraste com a narração neutra, que não se posicionou em nenhum lance polêmico. Quando a decisão do árbitro era favorável ao seu time, ele era elogiado (“Cartão amarelo para o Gelomel. Puxou o Brenner. Justo, tá certo, Vuaden!”). Ironicamente, no minuto 29, o volante Anselmo, do Inter, levou o cartão amarelo, mencionado 116 objetivamente pelo Uol Esporte, mas celebrado pelas outras duas narrações com conotações similares. O fato foi descrito pela narração gremista como algo já esperado (“Anselmo levou amarelo por dar uma porrada no Bolaños. Eles continuam batendo... vieram só para isso”), percepção idêntica à narração colorada (“Adivinhem? Anselmo levou amarelo! hahaha que dúvida, né?”). Nos dois gols do Internacional, em um intervalo de dois minutos, houve outro fato curioso. Entre os minutos 10 e 15, a narração do Colorado Gaúcha ZH foi feita majoritariamente com palavras escritas em caixa alta, demonstrando euforia e, em dado momento, sequer descrevendo os lances (“Teve confusão, mas não consigo narrar para vocês! CADÊ ESSA TORCIDINHA QUE NEM ESTÁDIO TEM? CADÊ, NÃO OUÇO NINGUÉM!”), sugerindo que o narrador comemorava os tentos da mesma maneira que os torcedores. Colocadas lado a lado, é perceptível pelas outras duas narrações que houve uma confusão em campo e dois jogadores, Luan e Nico López, foram advertidos com o cartão amarelo — informação recuperada na terceira narração somente três minutos mais tarde, sem, entretanto, nomear o jogador gremista (“Amarelo para o rapaz aquele que só cai e acha que é amigo do Neymar”). No fim, as três narrações resumiram a partida como equilibrada e cujo resultado foi justo. As narrações torcedoras, evidentemente, ainda incitaram a torcida. O aplicativo Gremista Gaúcha ZH relembrou que os clubes disputariam competições de diferentes status em 2017 (“Fim de papo! Um bom Gre-Nal, no fim das contas. Tudo igual no placar — mas nós vamos para a América, e não para a Série B, segundinos! Saudações tricolores a todos! Obrigado pela parceria, gremistada!”), ao passo que o Colorado Gaúcha ZH enalteceu a volta do capitão D’Alessandro e a reconstrução da equipe após o rebaixamento no Brasileirão (“ACABOU! FIM DE JOGO! Inter mostrou atitude! Vamos em frente, que o ano está só começando! PAPAI D'ALE agradeceu os torcedores! É demais um Gre-Nal com o nosso capitão de volta!”). Nesse novo modelo de cobertura, podemos perceber que as narrações torcedoras foram mais eloquentes nas descrições (Ver figuras 13, 14 e 15). O Uol Esporte utilizou cerca de 1,3 mil palavras, 100 a menos do que a do Colorado Gaúcha ZH e 400 a menos do que a Gremista Gaúcha ZH. Foram apenas 290 palavras diferentes, bem menos do que as 405 usadas pelo app colorado e as 414 do aplicativo gremista. Além disso, os termos mais repetidos na transmissão neutra foram, justamente, os nomes dos clubes: “Grêmio", 36 vezes, e “Internacional” 30. Afora eles, somente substantivos (“campo”, “bola”, “área”, “ataque”), nomes próprios (“Bolaños”, “D’Alessandro") e alguns verbos (“afasta”, “tenta”). 117 Figura 13 – Narração Uol Figura 14 – Narração Gremista Figura 15 – Narração Colorado Esporte GZH GZH Fonte: Elaborada pelo autor Fonte: Elaborada pelo autor Fonte: Elaborada pelo autor Já nas narrações torcedoras, o nome do clube adversário não foi sequer citado. No Gremista Gaúcha ZH, Grêmio apareceu 29 vezes, mas Inter ou Internacional, nenhuma. No Colorado Gaúcha ZH, a mesma coisa: Inter se repetiu 22 vezes, mas Grêmio sequer foi mencionado. Em compensação, as referências indiretas ou pejorativas saltaram aos olhos. O pronome “deles” foi um dos cinco com maior reincidência na narração gremista, aludindo ao rival. Já na narração colorada, os termos “pijama” e pijamas”, remetendo ao apelido depreciativo da camisa tricolor, apareceram 12 vezes, e “deles”, quatro. As alcunhas também foram reprisadas, o que indica uma insistência na afirmação do herói ou do vilão. No Gremista Gaúcha ZH, por exemplo, “Killer” (trocadilho com o nome de Miller Bolaños) foi um dos 50 termos que mais apareceram. No Colorado Gaúcha ZH, a denominação “volantezinho” para se referir a Ramiro, do Grêmio, apareceu mais vezes do que alguns jogadores do próprio Inter – mencionados pelo nome ou por algum cognome honroso, como “Papai D’Ale”. As manifestações explicitamente emotivas são percebidas no gráfico do tom emocional alcançado pelas narrações (Ver figura 16). O caso do aplicativo Gremista Gaúcha ZH é emblemático. Depois de iniciar em um nível bastante acima dos demais, ele oscilou — ora acima, ora abaixo da média – até encerrar relativamente no mesmo patamar da média desse tipo de escrita. Ao passo que a narração do app Colorado Gaúcha ZH manteve um tom um pouco acima da narração neutra de Uol Esporte, ainda que abaixo da média, até finalizar abaixo de todos os demais. Já a transmissão neutra se sustentou em uma linha quase linear, que começa e termina no mesmo degrau. Disso tudo, podemos aferir que a narração neutra manteve um equilíbrio maior do que as narrações torcedoras, que variaram bastante. Inclusive, nos períodos em que a narração neutra tem um pico mais alto, as demais baixam, indicando uma tendência de estilos diferentes dos dois modelos – isento e torcedor. Figura 16 – Tom emocional do Grenal 412 118 Fonte: Elaborada pelo autor. O gráfico das emoções positivas ajudam a explicar o padrão que difere esses modelos (Ver figura 17). As linhas das narrações torcedoras de Gremista Gaúcha ZH e Colorado Gaúcha ZH se mantêm acima ou na média durante todo o primeiro tempo. No segundo, porém, elas caem, com a narração colorada terminando, inclusive, abaixo da média. Enquanto isso, a terminologia menos positiva da narração neutra de Uol Esporte deixou a linha abaixo da média por grande parte do jogo, vindo a crescer apenas no terço final. É sugestivo que apenas em um intervalo, por volta dos 30 minutos da etapa inicial, a narração isenta alcance o mesmo patamar de termos otimistas da narração colorada, justamente no período que saiu o primeiro gol gremista, cujo nível de otimismo chega a ser o dobro das demais. Além disso, vale destacar que o momento extra-campo vivido pelo Grêmio, oriundo de uma conquista nacional em contraste com o rebaixamento do rival, foi refletido nas narrações. A reincidência de termos de conotação assertiva como “vamos” e “gol” colaboraram para isso. Figura 17 – Emoções positivas do Grenal 412 119 Fonte: Elaborada pelo autor. Ao passo que os termos correspondentes a emoções negativas foram menos recorrentes na narração gremista se comparada às outras narrações. A palavra “não”, termo negativo por excelência, repetiu-se 10 vezes a mais na narração colorada, o que se reflete no gráfico das emoções negativas (Ver figura 18). Exceto pelo início da transmissão do aplicativo Gremista Gaúcha ZH, no qual a narração voltada ao torcedor do Grêmio ficou no zero, em todos os demais intervalos as narrações tiveram um pessimismo acima da média. Mais uma vez, as narrações torcedoras mantiveram níveis de termos negativos abaixo da narração neutra e demonstraram comportamentos opostos. No intervalo entre os 15 e 30 minutos do segundo tempo, enquanto a linha da narração isenta decaiu, as linhas das narrações engajadas subiram. Esses indícios, apesar de não serem infalíveis, demonstram uma lógica própria de modelos distintos. No momento em que um permite-se abusar de certa terminologia mais negativa, o outro busca o equilíbrio para não explicitar um posicionamento. Se compararmos os três em relação aos clássicos anteriores, o distanciamento entre as linhas e o afastamento das narrações torcedoras em relação à narração neutra serão ainda mais evidentes. Figura 18 – Emoções negativas do Grenal 412 120 Fonte: Elaborada pelo autor. Por essas razões, a definição das visadas incluídas nas narrações é trabalho ainda mais árduo. Podemos garantir que, na narração de Uol Esporte, a visada de informação está claramente presente como predominante. Todavia, essa afirmação não é definitiva em relação às narrações torcedoras. Há a visada de informação, evidentemente, mas ela está imiscuída a tantas outras. Em ambas as narrações, de Gremista Gaúcha ZH e de Colorado Gaúcha ZH, verificamos a visada de incitação (“Aqui não, meu amigo!” e “Pode tremer, gremistada!”), de prescrição (“Chega de brincar, Grêmio” e “Não te bobeia”) e até de solicitação (“Gremistada, corneta é sempre bom. Mas sempre com amizade! Fica sempre o pedido de #PazNosEstádios!” e “Vamos ao estádio sem briga, sem violência!”). Justamente esse novo tipo de visada, no qual o interlocutor está em posição de dever responder, marca a diferenciação entre os modelos. Nas demais visadas, bem como nas narrações dos outros dois clássicos, a orientação da fala é meramente retórica, com o intuito de legitimar o narrador perante o público e de informar o acontecimento de modo emocional. Nesse dérbi, entretanto, a manipulação das emoções está mais latente, e o uso da Schadenfreude, a estimulação do sentimento de regojizo com as falhas alheias, é mais evidente. O narrador admite a presença da audiência, como se a convidasse para participar da transmissão de modo engajado ideologicamente. Ironicamente, não há mecanismos de participação presentes nos quais o fã possa manifestar sua concordância ou não com o conteúdo das mensagens. 5.3 CONCLUSÕES 121 Esta dissertação não é, nem pretende ser, um tratado sobre a “secação” no futebol. Para tanto, precisaríamos associar essa metodologia a outra, que tivesse o público como objeto. Tampouco podemos afirmar, pelo que foi visto até aqui, que há uma manipulação deliberada das emoções por parte da mídia, o que presumiria uma onipotência dessa instância e total subordinação da audiência, algo que não acreditamos. No entanto, algumas coisas podem ser ditas sobre a construção discursiva buscada nos modelos narrativos que têm na emoção elemento fundamental. Antes de tudo, as visadas pretendidas pelas narrações minuto a minuto tanto de Uol Esporte quanto dos aplicativos Gremista Gaúcha ZH e Colorado Gaúcha ZH são prioritariamente de informação. Há uma intencionalidade do narrador de fazer o torcedor saber algo que ele deve saber. Ela é dominante em relação às outras, que, entretanto, estão presentes. Porém, a função delas é retórica. As intervenções de prescrição e incitação são dirigidas ao objeto da narração, no caso, aos jogadores, técnicos e árbitros. Em relação ao público-leitor, elas atuam como motivadores de engajamento e de legitimação do intermediador, como se este estivesse em posição de igualdade para transmitir-lhe algo também no âmbito emocional. A visada de solicitação, a única direcionada diretamente ao torcedor (que pode estar acompanhando a transmissão em qualquer lugar, até mesmo no estádio), sugere que ele, apesar de tudo que leia, contenha seus arroubos emocionais e não reaja de maneira violenta. A violência, nessa situação, deve ser simbólica e ficar no campo da linguagem. A escolha pela narração torcedora parece apontar para uma intencionalidade de dar ao público uma alternativa de identificação, de reconhecimento de uma imagem identitária como mediador, em vez de oferecer um caminho de orientação de fruição. Ou seja, o narrador é antes um semelhante, com quem a audiência comunga suas expectativas, do que um relator, um escrevente, um descritor dos acontecimentos. Não é possível dar certeza, visto que não fizemos a investigação a partir da esfera receptora, mas é plausível concluir que o receptor, ou perceptor da realidade, entende que o narrador está no mesmo patamar de poder que ele e, logo, as sensações emocionais que ele percebe e transmite são iguais às que ele sentiria. Nisso, observamos um empecilho. Os jornalistas que fazem as narrações torcedoras não são identificados normalmente: nem com o clube para o qual intercedem, tampouco com a função de narrador. Eles se apresentam como torcedores que realizam a intermediação do jogo para o fã. Essa é, ao 122 menos, a intenção, ao se idealizar um profissional que articularia a narração do evento com a mesma paixão e carga emocional que o seu público. No entanto, à revelia do que passa na mente do público, esse narrador pode ser qualquer um. Pode ser um jornalista sem identificação qualquer com nenhum clube em questão ou até mesmo um torcedor do clube rival. É possível que, em algumas narrações torcedoras, o narrador de uma partida do Grêmio no aplicativo Gremista Gaúcha ZH seja colorado, e vice-versa. Não censuramos essa possibilidade, afinal, não há nenhum impeditivo de que um adepto de um time atue na função jornalística de informar sobre outros times. O problema está em, no caso de não haver uma relação estreita do narrador com o clube pelo qual advoga, ele precisar realizar uma performance na qual atua como torcedor fanático dessa agremiação. Nesse caso, há uma semi-transparência no exercício da tarefa. Se o objetivo é carregar os relatos com as emoções de um torcedor, por que não assumir a identificação com o clube? De que maneira um jornalista que não possui vinculação emocional com determinada equipe conseguirá transparecer envolvimento com o drama de uma partida? E se o narrador não é, de fato, um torcedor daquele time, qual é a validade da dramatização feita por ele acerca do universo que descreve? Não estaria ele, também, realizando uma performance na redação de outras notícias em outros espaços do jornal ou da rádio, fora do ambiente dos aplicativos? Como ele consegue se despir de uma personagem em um lugar e assumir um papel em outro sem macular sua função? Charaudeau (2015) diria que, na mídia, a informação sempre surge em um jogo de aparências. Miller complementaria, afirmando que “a realidade só vale pela aparência que ela produz” (BENTHAM, 2008, p. 100). No nosso caso, embora suspeitemos que a estratégia tenha sido fundamentada de modo empírico, ela demonstra que, ao portal Gaúcha ZH, o que importa é mais o efeito de verdade que passa com o posicionamento do seu narrador do que uma autenticidade “verdadeira”. Por outro lado, esta investigação nos apontou que isenção demais também pode atrapalhar o processo de apuração. No caso do Grenal 411, a narração neutra de Uol Esporte evitou a todo custo se posicionar em relação à briga entre Edilson, do Grêmio, e Rodrigo Dourado, do Inter. Por excesso de zelo, despejou frases a esmo (“jogadores começam a se desentender e trocam socos” e “Rodrigo Dourado levou a pior e ficou com dores na boca”) e acabou por deixar de informar como ocorreu a agressão do jogador gremista e contextualizar as duas expulsões. É possível que, por se tratar de um assunto de grande comoção, como são as paixões clubísticas, o narrador tenha buscado um distanciamento do objeto a ser descrito. 123 Porém, o que seria algo bom em outras ocasiões, acabou prejudicando na construção da informação. Outro fator que chama a atenção nesta análise é a que concerne à plataforma das narrações torcedoras. Uma narrativa que poderia ser automatizada, e cujas tendências mercadológica e tecnológica apontam para isso, foi apropriada por um veículo, manipulada e personalizada. Isso denota um posicionamento discursivo da mídia, que optou por uma narração dramática e emocional, em contraste com outras mais neutras e assépticas. Afinal, um profissional da área é deslocado para a cobertura exclusiva do evento. No caso de um clássico Grenal, ao menos dois jornalistas são retirados da cobertura diária para atuarem exclusivamente como narradores pelos 90 minutos da partida, algo difícil de se imaginar em outras situações. Isso contraria as escolhas econômica (de contenção de gastos e lucro) e tecnológica (automação da informação e tendência mercadológica) da empresa privada. Por outro lado, denota um posicionamento político de valorização do embate entre os rivais para fortalecer a rivalidade Grenal, algo que é buscado em outras instâncias. Façamos um exercício para tentarmos entender como funciona essa personalização da experiência do usuário. O leitor que baixa um dos aplicativos, em princípio, não sabe do conteúdo do outro. Se ele é colorado, acessará prioritariamente o conteúdo destinado ao Internacional, e vice-versa. Ele acompanhará as notícias do seu clube e as transmissões das partidas contra os adversários sob o ponto de vista torcedor. Porém, em um Grenal, ambos possuem a ferramenta, que tem a mesma origem, mas conteúdos diferentes. Dessa forma, é improvável que o adepto do Inter saiba que a narração gremista incitou a torcida rival (“Vamos detonar os colorados!!!”) da mesma forma que o fanático pelo Grêmio tenha conhecimento que a narração colorada ironizou seu clube do coração (“O empate é maior do que eles”). Assim, podemos concluir que a empresa não disponibiliza mais uma cobertura abrangente com o objetivo de alcançar um público maior, mas direciona suas ferramentas para captar a atenção e o engajamento de certos nichos. As narrações torcedoras corroboram as escolhas que a audiência faz em outras plataformas da internet, como redes sociais e serviços de streaming, nas quais o usuário customiza os serviços que lhe são oferecidos. O que acontece majoritariamente no segmento de entretenimento, o esporte, na confluência do espetáculo com a notícia, começa a indicar uma tendência. O modelo torcedor de Gaúcha ZH esboça alguns entendimentos também sobre as coberturas minuto a minuto. Como uma narrativa localizada na intersecção entre o oral e o escrito, a narração minuto a minuto herda e mantém o perfil dramático das narrativas de publicações anteriores do país. O Brasil, apesar de se inspirar em projetos estrangeiros, 124 desenvolveu características próprias para seu jornalismo esportivo. Da mesma forma, o jornalismo esportivo gaúcho tem particularidades que o diferencia da imprensa nacional, e muitos desses elementos foram incorporados pela transmissão via internet. Por outro lado, obedece a um paradigma comum à prática em outras esferas nacionais e internacionais. A narrativa é baseada no conflito e no “male gossip”. Mesmo que as narrações sejam feitas por jornalistas mulheres, e mesmo que essas mulheres representem uma parcela significativa de mulheres na audiência, e ainda que transmitam ou simulem os sentimentos compartilhados por outras torcedoras nos estádios, as escolhas gramaticais recaem majoritariamente ao modo discursivo masculino. Elas reproduzem um modelo que se consolidou na imprensa esportiva gaúcha, brasileira e mundial ao longo dos anos. Transcrevem o que é verbalizado nos ambientes esportivos (arquibancadas, vestiários, mesasredondas), locais ocupados, em sua maioria, por homens. Essa constatação não é uma contestação. É possível que, para inserirem-se nesse universo, elas precisem ceder na negociação do jogo de poder, e pode ser que a linguagem seja a moeda escolhida. Porém, reforça a tendência de reproduzir nas narrativas digitais uma lógica que se estabeleceu em toda a história da imprensa esportiva. A linguagem é, a todo momento, conflituosa. Enquanto uma narração incita (“VAMO, INTER!”), a outra suplica (“Renato, manda essa gurizada dar a vida aí. Aqui é Grêmio, p****”). A omissão da palavra de ordem (presumivelmente “porra”, como interjeição de ira) tenta atenuar a força da língua, mas sua representação por asteriscos busca manter a espontaneidade e virulência da linguagem oral falada nos estádios de futebol. O que não é esperado que aconteça em uma locução radiofônica ou narração televisiva, é permitido no ambiente digital. Especificamente no que concerne ao universo do Grenal, a supressão da referência ao rival é, muitas vezes, uma forma de reforço da rivalidade. Observamos que, do clássico 410 ao 412, a menção ao adversário foi do nome oficial a apelidos nada elogiosos ou apenas o pronome na terceira pessoa. As propositais ignorância e omissão do nome do adversário explicitam, justamente, o contrário: o nome já é sabido e, mais do que isso, tão presente que não precisa ser repetido. Uma negação que reafirma a importância deste para seu antagonista no processo de alteridade, de identificação por meio da oposição. O Grêmio, para o colorado, não é um rival senão o rival. O mesmo vale em reverso. O Inter está tão presente na realidade gremista que, mesmo quando não é aludido, sabe-se que é a ele que se refere quando se fala “neles”. 125 Todas essas razões nos levam a crer que, sim, a Schadenfreude é manipulada, estimulada e almejada pelas narrações torcedoras. Segundo Ekman, não há “dúvida de que podemos nos emocionar com a leitura apenas”, mas “é surpreendente que algo que surgiu tão tarde na história da nossa espécie — a escrita — possa gerar emoções” (p. 51). A busca dessa emoção é subjacente aos relatos escritos. Quando o narrador gremista descreve uma falta (“Maicon deu no tornozelo do Valdívia. Bom pro rapazinho do Instagram ficar esperto”), o faz do ponto de vista do agressor, que, no caso, é do seu time, e busca um motivo para a ação, a fim de justificar a atitude que resultou na desgraça do adversário. O mesmo pode ser dito das alcunhas elegidas pelos narradores. Quando um atleta do Tricolor é mencionado como jogador do “time de pijama”, é com o objetivo de fazê-lo sentir-se menosprezado e, ao mesmo tempo, enaltecer os próprios jogadores. Além disso, a orientação do olhar do narrador a partir do próprio time — o atacante que chuta, o goleiro que defende, o volante que faz ou recebe a falta —, em contraste com a suposta neutralidade das narrações isentas, onde normalmente quem está com a bola é o protagonista da jogada, demonstra a necessidade do outro para a construção identitária do indivíduo, a partir do compartilhamento social das emoções. O drible não terá efeito dramático se não houver uma vítima desse ato que possa ser humilhada pela ousadia (“Agora é Pedro Rocha quem dá o chapéu, no volante deles”). As consequências objetivas do jogo interessam menos que os efeitos subjetivos que elas possam ter sobre mim. Logo, a imprensa tem responsabilidade como operador discursivo. Se considerarmos a ambivalência do esporte no processo civilizatório, onde, por um lado, uma instituição regula e oferece as regras, e, por outro, o sujeito precisa de autocontrole para coexistir na sociedade, podemos perceber uma narrativa que transita entre ambas e não vincula-se a nenhuma. A narração torcedora estimula a rivalidade e alimenta o engajamento no ato de torcer. Ao mesmo tempo, se afasta da possibilidade de ser responsabilizada pelo discurso, sob a pretensão de ser entretenimento. Nesse caso, coloca a necessidade de cerceamento a outras instituições (justiça desportiva, federações) e cobra o discernimento dos torcedores na interpretação do texto. Um sistema que, se considerarmos como um encadeamento de sentimentos e emoções envolvidas, nem sempre é possível ser moderado. Afinal, recordando Kahneman (2012), o reenquadramento de algo que já nos foi apresentado é mais difícil, requer que o Sistema 2 modifique “o modo como o Sistema 1 funciona, programando as funções normalmente automáticas de atenção e memória” (p. 32). Isso exige educação e reprogramação a longo prazo, e é pouco provável que os estímulos emocionais mais violentos sejam contidos a todo instante. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 126 Entre todas as concepções acerca da Schadenfreude, a do rabino Harold S. Kushner é a única que apresenta um viés distinto. Não se trata apenas da alegria em ver a desgraça de seu inimigo. A emoção representa, também, o alívio de o infortúnio não ter acontecido consigo. É como se a falha pudesse acontecer com um sujeito, mas não ocorre. Um indivíduo não celebra que o amigo sofra um acidente automobilístico, por exemplo, mas dificilmente conseguirá conter o conforto de que aquilo não sucedeu consigo. Isso cria a ilusão de causalidade, segundo a qual não há acaso. Se algo de ruim aconteceu ao outro, é porque ele tomou alguma atitude que resultou naquilo – uma conversão irregular, uma desobediência à sinalização de trânsito, uma rápida desatenção. Logo, se eu me comportar de maneira diferente, evitarei que o mesmo aconteça comigo – embora não haja nada que assegure isso com certeza. Censurar a vítima é uma maneira de assegurarmos a nós mesmos que o mundo é melhor do que parece e que ninguém sofre sem que haja uma boa razão. Ajuda os afortunados a considerar sua fortuna como merecida, e não simplesmente uma questão de sorte. Faz com que todos se sintam melhor – à exceção da vítima, que passa a sofrer em dobro com a condenação social acrescida à sua desgraça original (KUSHNER, 1988, p. 45). Talvez, seja uma forma moralista de justificar esse sentimento sem culpa, pois esta é direcionada à vítima. Assim, ela não apenas padece do dano, mas é corresponsabilizada pelo acontecimento. Peguemos os casos de violência contra a mulher como exemplo. Uma parcela significativa da sociedade procura no comportamento da vítima motivações para o crime. Como se isso isentasse essas pessoas do remorso por sentirem-se confortadas pelo abuso ter ocorrido a outrem e não a si mesmas. A sensação é normatizada, permitindo que o sujeito manifeste satisfação com a tragédia alheia, individualize a culpabilidade e preserve a ordem “natural” da sociedade. A Schandefreude se torna, nesse caso, um elemento construtor social da identidade do indivíduo. Ora, não é algo semelhante ao que acontece no futebol? Não é normal ficarmos contentes quando o rival perde, mesmo que isso não interfira na performance do nosso time? A Schadenfreude é alicerce da rivalidade. A sociedade nos outorga a liberdade parcial de ficar satisfeitos com a derrota do adversário e, até, de torcer para isso. A mídia gaúcha, ao longo de quase 110 anos de história dos Grenais, aprendeu a estimular e a se apropriar disso. O que nasceu com uma origem comum, se tornou um dos maiores antagonismos entre clubes no mundo. Em levantamentos que ocorrem recorrentemente, o dérbi de Porto Alegre aparece como um dos mais hostis do planeta. A revista esportiva britânica Four-Four-Two, em 2016, elegeu o Grenal como o oitavo maior 127 clássico do mundo, destacando que, “no Rio Grande do Sul, permanecer neutro é impossível”28. De maneira geral, a reportagem faz o resgate histórico dos clubes e reafirma a rivalidade entre eles. Porém, não aponta provas ou indícios que justifiquem isso. É como se alimentar o revanchismo entre Grêmio e Inter ajudasse a construir uma narrativa própria. O que a imprensa descobriu foi que, em vez de desconstruir os mitos que envolvem o Grenal, atiçá-los é bem mais recompensador. Assim, nos últimos anos, o portal Gaúcha ZH, do Grupo RBS, principal conglomerado de comunicação do Sul do Brasil, instituiu as narrações torcedoras, transmissões minuto a minuto das partidas voltadas para os torcedores gremista e colorado. No lugar no equilíbrio e da parcimônia, o envolvimento emocional e a estimulação agonística são as características das coberturas. A mídia é, portanto, partícipe desse processo de acirramento da rivalidade. O que soa contraditório é o suposto afastamento quando a hostilidade deixa de ser simbólica e passa a ser tangível. Em um artigo de opinião no jornal Zero Hora, o jornalista Leonardo Oliveira critica a especulação de que o Brasil de Pelotas, no Campeonato Brasileiro da Série B, em 2017, haveria facilitado para o Internacional, escalando seus jogadores reservas29. Ele afirma que a sugestão é “fruto de uma rivalidade cega que vivemos, em que qualquer ato gera desconfiança e reverbera em um estalar de dedos na potência das redes sociais”. Sem entrarmos no mérito dela, a crítica é generalista. Abrange todos que questionaram a decisão do técnico Rogério Zimmermann de poupar alguns atletas. Além disso, o profissional se esquiva de responsabilidade, colocando a justificativa na conta de uma rivalidade etérea. Como se ela não estivesse presente mas interferisse na percepção da realidade de todo mundo. Como se ela existisse, mas, não fosse construída socialmente por diversos agentes, inclusive pela imprensa. Enfim, que os produtos da rivalidade são culpa daqueles que não conseguem compreendê-la. Mas não é o mesmo veículo que usa dessa rivalidade para desenvolver sua estratégia discursiva? O mesmo portal no qual o artigo está hospedado não é aquele segmentado para um público de gremistas e outro de colorados? O adepto que torce contra o rival também não 28 PARKINSON, Gary. FourFourTwo's 50 Biggest Derbies in the World, No.8: Gremio vs Internacional. 29 abr 2016. Disponível em: . Acesso em: 14 mar. 2018. 29 OLIVEIRA, Leonardo. Leonardo Oliveira: Só mesmo na nossa rivalidade prospera o boato de que o Brasil-Pel facilitou para o Inter. 27 jun. 2017. Disponível em: . Acesso em: 14 mar. 2018. 128 é um dos alvos que esse emissor idealiza em sua audiência? Essa é uma das contradições da hipermodernidade das quais o jornalismo não soube se desvencilhar: até onde vai o engajamento e onde começa o autocontrole? Baudrillard foi um dos que provocaram essa discussão sobre o espetáculo esportivo: Decorre ainda de outra lógica, que é a iniciativa da inversão dos papéis: espectadores […] tornaram-se atores. Substituem os protagonistas (os jogadores) e, sob o olhar da mídia, inventam seu próprio espetáculo […]. Ora, não é isso que se exige do espectador moderno? Não vivem pedindo que ele se torne ator, que abandone sua inércia de espectador e intervenha no espetáculo? Não é o leitmotiv de toda a cultura de participação? […] Os romanos tinham a franqueza de oferecer tais espetáculos, com as feras e os gladiadores, diretamente em cena; nós só os oferecemos nos bastidores, acidentalmente, por arrombamento, censurando-os em nome da moral (BAUDRILLARD, 2008, p. 85). Concluímos, neste trabalho, que a mídia busca a atenção do receptor por meio das emoções e projeta o engajamento em um perceptor idealizado, através de sensações positivas acionadas pelo menosprezo ao adversário. Talvez, o próximo passo desta investigação seja observar o comportamento do público em relação ao rival. Comparar suas reações a estímulos positivos originados da vitória do seu time com os estímulos positivos originados da derrota do rival. Controlar suas respostas a isso é impossível. Contudo, pode auxiliar os meios no enquadramento mais adequado das informações sem prejudicar a sedução dos espectadores. REFERÊNCIAS 129 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1998. ALBUQUERQUE, Afonso; LYCARIÃO, Diógenes; MAGALHÃES, Eleonora. Jornalismo Parcial Feito para Vender: A decadência do padrão “catch-all” pelas leis do mercado. In: CONGRESSO DA COMPOLÍTICA, 7., 2015, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: PUC, 2015. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução, estudo bibliográfico e notas Edson Bini. Bauru: Edipro, 2002. BARBEIRO, Heródoto. Manual do Jornalismo Esportivo. São Paulo: Contexto, 2006. BATESON, Gregory. 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Dewson Fernando Freitas da Silva apita o clássico, auxiliado por Emerson Augusto de Carvalho e Tatiane Sacilotti dos Santos Camargo. O time de Argel já está confirmado, mas antes de falar dos titulares, temos uma mudança no banco: Mike sofreu uma entorse no tornozelo no aquecimento e não fica à disposição de Argel. Alisson Farias entra como opção. O Inter vai de Muriel; William, Paulão, Ernando e Artur; Dourado, Bob, Fabinho, Seijas e Sacha; Vitinho. O tricolor, que não vence há quase quatro anos na casa do rival, venceu na rodada passada, mas também vinha de sequência irregular nos jogos anteriores. O Grêmio está em 3º lugar, com 21 pontos. O Grêmio entra no gramado do Beira-Rio! Fala, Roger: "Muda pouca coisa no nosso jogo (os três volantes). A gente tem que ter cuidado, mas é clássico”. É um time bem mais fechado, com três volantes, e só Seijas e Sacha responsáveis por levar a bola à frente. Vamos ver se dá certo a escolha do Argel. Ambos os treinadores terão desfalques importantes. Argel Fucks segue sem contar com Danilo Fernandes e Aylon, lesionados. Paulão e Gustavo Ferrareis são dúvidas para hoje. Pelo lado gremista, Roger Machado continua sem Pedro Geromel, Wallace Reis e Maicon, machucados. Bressan cumpre suspensão. Com direito a bandeirão e estádio cheio, os times entram em campo para a execução do hino nacional. Começa o jogo! Bola rolando no Beira-Rio! O Beira-Rio está lindo, cheio e pintado de vermelho, como deveria ser sempre. É dia, é manhã de Inter! Dez minutos para a bola rolar. E o nervosismo pré Gre-Nal está à toda! Vamo Inter! Os times estão na boca do túnel. Só esperando entrar em campo. TIMES EM CAMPO! VAMO INTER! Sobe o símbolo mais lindo do mundo na arquibancada do Beira-Rio! Hora dos hino nacional brasileiro. Cena bonita na entrada em campo: Paulão levou a filhinha, recém-nascida, ao gramado. Grande capitão! Vamos pro jogo! Quase tudo pronto. Começa o jogo! Saída com o Grêmio! 1º TEMPO 1º TEMPO Saída do Grêmio. Pelo meio, Luan parte em jogada individual, passa por dois e para na marcação em seguida. Inter recupera a bola e se posta no ataque. Falta em cima de Luan na saída do campo de defesa. Luan é acionado pela direita, tanta partir em velocidade e sofre falta. Grêmio tem a posse de bola na intermediária. Falta já cobrada. Grêmio troca passes no campo de defesa. 1º TEMPO O Inter, por conta do horário, escolheu atacar para a direita (o antigo gol do placar) neste primeiro tempo. O Inter busca o ataque pela esquerda, mas não consegue chegar. Nestes primeiros dois minutos, forte a marcação colorada no meio-campo. Deve ser a tônica do jogo, na verdade. O time visitante procura se manter com a posse de bola nos minutos iniciais. Internacional dá poucos espaços para infiltração. WALACE! Seijas domina na intermediária e é desarmado pelo volante! Seijas partiu para cima de Walace, mas foi desarmado na intermediária, próximo à área. 1 Uol Esporte Gremista GZH Colorado GZH 4’ PARA FORA! Jailson QUE BOLA, JAÍLSON! O Bola longa para Sasha, mas descola bom passe para volante encontrou Luan, na ele estava na banheira. Luan, que invade a área esquerda. O camisa 7 Vamo Inter! pela esquerda, bate avança e chuta, mas a bola colocado e a bola passa vai à esquerda do gol de sobre o gol de Muriel. Muriel. 5’ Pela ponta esquerda, WALACE DE NOVO! Vitinho Uhhh... Boa jogada do Éverton protege contra dois, dominava perto da grande Grêmio. Jaílson encontrou toca para Marcelo Oliveira e área, tentando encontrar Luan nas costas da zaga, e ele não consegue cruzar. espaço, e o volante chega ele tentou surpreender pra acabar com a festa. Muriel, mas mandou longe. É aí que está o perigo, nas jogadas rápidas com o Luan. Temos que ter atenção sempre com o camisa 7. 6’ Vitinho recebe pela direita, Jaílson erra passe e entrega O Inter ainda não conseguiu busca o drible contra a bola para o Inter. sair jogando pelo chão. Só Walace e o volante do apelou aos lançamentos de Grêmio leva a melhor. longa distância até agora. Aí fica complicado. 7’ Giuliano recebe de Douglas Inter troca passes no campo Artur errou o domínio, mas pelo meio e vai ao chão em defensivo. conseguiu se recuperar na disputa física. O árbitro dividida com Giuliano. manda seguir. Quase uma bobagem na defesa. 8’ Jogo muito truncado nesses Vitinho avança pela direita e Vitinho recebeu lateral na primeiros minutos, com os Fred tira. Escanteio para o direita e cavou o escanteio dois times marcando forte e Inter. para cima do Fred. Vamos dando pouca liberdade. lá, Colorado! 9’ Escanteio para o SAI FORA! Seijas cobra e Seijas cobrou bem, muito Internacional pela direita. Paulão pula para o bem, mas Paulão subiu bem Seijas cobra aberto, Paulão cabeceio. A bola passa por marcado e mandou para sobe mais que a zaga e cima do gol de Grohe. fora, sem perigo. Pelo manda por cima do gol. menos foi uma chegada colorada! 10’ Éverton é acionado pela Everton corta para o meio e E agora é o Grêmio com esquerda, puxa para dentro manda o chute! A bola escanteio: Everton tentou e chuta. A bola desvia e sai desvia e Grêmio ganha chutar e saiu prensado em pela linha de fundo. escanteio. William. 11’ Luan cobra escanteio na Luan levanta na área e No corner, Ernando afastou pequena área, a defesa Ernando tira. No rebote, e Giuliano mandou longe o afasta e Giuliano, de Giuliano pega de primeira, rebote. primeira, pega muito mal na mas a bola vai longe do gol bola. de Muriel. 12’ De longa distância, Eduardo SEM CHANCE! No rebote, Sasha ficou com a sobra de Sasha domina no peito e Sasha manda em direção ao um balão para frente e bate fraco para defesa gol gremista, mas Grohe conseguiu o chute, meio tranquila de Marcelo Grohe. agarra a bola com mascado, de canhota. Foi tranquilidade! no meio do gol, e Grohe defendeu. 13’ Eduardo Sasha trama boa Mais uma vez Sasha. Ele Sasha agora foi na jogada pela esquerda, avança pela esquerda. Na individual: primeiro tabelou avança em diagonal e bate entrada da área, chuta de pela esquerda com Vitinho e para fora, sem perigo. perna direita, colocado, mas recebeu na frente, e depois a bola passa por cima do gol arriscou o chute, por sobre o de Grohe. gol. 14’ Artur domina pela esquerda, O Inter arrisca. Artur, de Olha o Artur! Sasha fez mais arrisca de fora da área e longe, manda a bomba. uma boa jogada pelo meio e Marcelo Grohe agarra sem Marcelo Grohe fica com ela! viu o lateral livre pela dificuldades. esquerda. Ele arriscou de muito longe, chutou forte, e Grohe encaixou. 15’ Jailson tenta partir em Giuliano tenta a tabela com A marcação colorada velocidade pela direita e Jaílson, mas a bola vai forte encaixou. Depois de um tabela com Giuliano, mas a demais e o garoto não início confuso, agora devolução sai pela lateral. alcança. Lateral para o Inter. ninguém mais domina a bola no meio a não ser o Inter.  E Vitinho cava outro escanteio. Vamos lá, Inter. 16’ Vitinho cobra escanteio no Na sequência, Everton Cobrou muito mal o primeiro poste e a zaga chega pela esquerda, mas é Vitinho. E, na sobra, Artur corta pelo alto. Na desarmado por William. tentou lançar alguém na sequência, lançamento de esquerda, mas mandou pra Paulão direto para fora. fora, em tiro de meta. 2 Uol Esporte Gremista GZH Colorado GZH 17’ Jailson lança procurando OPA! Luan tenta chegar na Muriel foi bem na cobertura Luan na ponta direita, mas a bola, mas Muriel abandona agora, depois de um balão bola chega forte demais. o gol e dá uma de zagueiro, da defesa do Grêmio. E fazendo a proteção. O ainda deu uma encarada no atacante gremista dá um Luan na sequência. É isso empurrão no goleiro e os aí. dois se estranham. 18’ BATEU FRACO! Em bom contra-ataque tricolor, Giuliano parte com liberdade pelo meio, serve Luan e ele bate para defesa fácil de Muriel. 19’ GOL DO GRÊMIO! Everton QUE PENA! No contra- William errou no meio e recebe de Luan, bate ataque, Douglas encontra permitiu o contra-ataque do cruzado, Muriel dá rebote e Luan. O atacante chuta Grêmio. Por sorte, o chute Douglas aproveita. fraco, sem dificuldades para de Luan foi bem ruim, e Muriel. Muriel fez a defesa. 20’ Falta a favor dos donos da GOOOOL DO GRÊMIO! Bah. Gol do Grêmio. casa pela faixa central. DOUGLAS É O NOME DO Douglas. Lance que pode levar perigo TRATOR! ao gol gremista. 21’ William levanta na área, a Lance do gol gremista: Outro contra-ataque rápido zaga tira de cabeça e na Everton recebe nas costas do Grêmio. Luan lançou sequência, é marcada falta de William. Chuta cruzado, e Everton, que chutou e Muriel de ataque do jogador Muriel deixa a sobra para deu rebote para frente, no colorado. Douglas, que balança as meio do gol. Douglas entrou redes! mais rápido e mandou para a rede. 22’ Após sofrer falta na intermediária, Vitinho fica no chão e sente dores, mas se recupera rapidamente. 23’ Artur lança direto na área para Eduardo Sasha, Marcelo Grohe sai do gol e fica com a bola. O Inter tinha acertado a marcação, mas não dá para deixar dois contra-ataques em sequência. E o rebote que o Muriel deu foi bem complicado também... podia ter feito a defesa, ou então mandado para o lado. Ele deixou no meio da área. 24’ Posse de bola: Internacional Inter troca passes no campo Bom, Internacional. Vamos 54% x 46% Grêmio. de defesa. nos resolver. Tem jogo pela frente, é no Beira-Rio, e precisamos vencer. 25’ William carrega a bola pela Falta nele, o autor do gol E agora Fernando Bob faz direita, cruza na entrada da gremista, Douglas, o uma falta perigosíssima em área e Fred rebate. GRISALHO! No campo de Everton, na entrada da área. defesa do Grêmio. A dois passos da risca. 26’ Everton domina após jogada Cartão amarelo para Bob E Bob toma amarelo pela de Marcelo Oliveira, gira por falta em Everton. falta. para o meio, parte em direção a área e sofre falta. Lance perigoso a favor do tricolor. 27’ Cartão amarelo para A falta é na entrada da área. Luan cobrou a falta e a bola Fernando Bob. A chance é boa! Luan bate a desviou na barreira, saindo falta. A barreira sobe bem e em escanteio. Demos sorte. é escanteio para o Grêmio. 28’ Luan bate, a bola desvia na Luan cobra o escanteio, no barreira e passa por cima do primeiro poste, e a zaga do gol. Inter afasta. 29’ No escanteio, Luan cobra Substituição no Inter. Sai E muda o Inter: sai por baixo e a defesa afasta. Fernando Bob, entra Fernando Bob, entra Inter vai sentindo Gustavo Ferrareis. Gustavo Ferrareis. dificuldades para sair jogando. 30’ Inter já vai mexer: Gustavo Gustavo Ferrareis avança Ferrareis entrou no jogo e já Ferrareis no lugar de pela esquerda, passa para tentou cavar um pênalti. Fernando Bob. Vitinho, que devolve a bola. Podia ter seguido com a Ele cai no gramado, dentro jogada, né, guri. da área, mas não houve falta! Vamos, Grêmio! 3 Uol Esporte Gremista GZH Colorado GZH 31’ Vitinho toca na área, Gustavo Ferrareis tenta girar e vai ao chão. Colorados pedem pênalti. 32’ Em nova tentativa de UUUUUUH! O GRISALHO ligação direta no ataque do QUASE MARCA O Inter, a bola sai pela linha de SEGUNDO! Everton, pela fundo. esquerda, avança dentro da área colorada e encontra Douglas mais atrás. Ele chuta, e por pouco não marca mais um. 33’ UUUHHH! Everton passa Paulão recupera bem para o Meu Deus do céu. Everton por William, invade a área, Inter, entorta Jaílson e chuta aprontou um salseiro na rola para o meio e Douglas mal. A bola é desviada e é zaga colorada e tocou para bate forte. A bola passa escanteio para o Inter. o Douglas, que chutou por perto do travessão. cima. O gol matou o Inter. 34’ Bem posicionado no campo Escanteio cobrado. Sem ofensivo, Grêmio ainda não chances para o Inter. foi ameaçado em seu próprio gol. 35’ Escanteio para o Inter após Everton, pela ponta Paulão fez boa jogada boa jogada de Paulão. No esquerda, consegue agora: driblou no meio e levantamento, Marcelo escapar de dois colorados, arriscou o chute, que saiu Oliveira faz o corte. mas para em Paulão. O desviado. Escanteio para o zagueiro é derrubado e é Inter. falta para o Inter. 36’ FUROU! Após cruzamento Vitinho, na direita, consegue Mais um córner para o Inter, pela esquerda, Eduardo arrancar escanteio. Thyere agora pela esquerda. Sasha fica livre na segunda mandou para a linha de trave, mas erra a fundo. finalização. 37’ Gustavo Ferrareis parte QUE É ISSO?! Vitinho cobra Mas Sasha... Bem cobrado para cima pelo meio, mas o escanteio, a bola quica no o canto pelo Vitinho. Fred despacha pela lateral. gramado e sobra para Ferrareis desviou no Sasha, que fura! ASSIM primeiro pau, e a bola NÃO, NÉ? Fred e Edílson sobrou livre para o camisa brigam. O árbitro chega nos 9, que furou no chute. dois para advertir, e eles fazem as pazes. 38’ Pela ponta esquerda, Seijas MARCELO OLIVEIRA! Boa jogada de Seijas com procura espaço e é travado Gustavo Ferrareis aparece Ferrareis, mas na hora de por Edilson no cruzamento. na cara do gol e o lateral entrar na área, a zaga manda pra longe! afastou. 39’ Artur comete falta dura em Artur faz falta feia em Luan. Agora Artur fez falta em Luan, discute com o O atacante se levanta, Luan no campo de ataque atacante e toma amarelo. irritado, e "peita" o colorado, para evitar o lateral. Paulão entra no meio contra-ataque, e os dois e dá uma chamada em começam a bater boca. Luan. Primeiro bolinho do jogo. 40’ Luan também é amarelo. Cartão amarelo para Artur. Artur leva amarelo pela Cartão amarelo para Luan. discussão. Luan também levou amarelo pela ceninha. 41’ William é acionado pela Seijas dá de calcanhar para ponta, cruza, a bola viaja William. O lateral cruza para demais e Marcelo Grohe a área, e Marcelo Grohe defende. agarra a bola sem problemas! 42’ Rodrigo Dourado chega de Ataque rápido do Inter. O Inter tem que mudar muita trás, recebe pela ponta William chega pela direita, coisa no segundo tempo. O esquerda e é desarmado na tenta o cruzamento e a bola time até melhorou após a sequência. bate em Fred. O zagueiro entrada do Ferrareis, mas fica caído no gramado. segue com muitos erros. 43’ Pela esquerda, Gustavo Inter tenta. Sasha recebe na Boa tentativa do Ferrareis Ferrareis leva para a linha área e chuta de perna pela esquerda, partiu para de fundo e cruza rasteiro em direita. A bola vai por cima cima e mandou na área. cima de Marcelo Grohe. do gol de Grohe. Grohe fez a intervenção. 44’ Após erro de Douglas na Teremos um minuto de saída de bola, Eduardo acréscimo. Sasha bate de primeira da entrada da área e manda para fora. 4 45’ 46’ INTERVALO 0’ 0’ 2º TEMPO 1’ 2’ 3’ 4’ 5’ 6’ 7’ 8’ Uol Esporte Walace recebe de Douglas, toca no meio para Luan e ele perde a bola no drible. Gremista GZH Luan recebe próximo da área colorada, mas Paulão chega para cortar. Colorado GZH Sasha! Boa chance, após uma jogada trabalhada pela direita, e na sobra Douglas atravessou mal na frente da área. Sasha recebeu alta e arriscou o chicotaço, mandando por cima. Termina o primeiro tempo! Grêmio se impõe nos primeiros minutos, larga na frente e vai segurando as armas ofensivas do Internacional. Fim do primeiro tempo! Fim de primeiro tempo. Ai ai ai, Inter... INTERVALO INTERVALO INTERVALO Grêmio volta para a segunda etapa sem modificações. Volta a campo o Inter. Vamos lá, Colorado. E agora volta o outro time. Começa o segundo tempo! 2º TEMPO Começa o segundo tempo! 2º TEMPO Começa o segundo tempo! Vamos, Inter! Nenhuma mudança em nenhum dos times no intervalo. 2º TEMPO Saída do Internacional. Vitinho domina pela ponta direita, gira e consegue o escanteio. Primeiro escanteio do segundo tempo. Para o Inter, no lado direito. Vitinho levanta na área, e Fred afasta!  Na sequência, Artur, pela ponta esquerda, tenta o cruzamento e arranca mais um escanteio. E agora Vitinho cava mais um escanteio. Foi só o que ele fez no jogo até agora. Vamos aproveitar um, né. No cruzamento, Fred afasta de cabeça. A bola sobra na esquerda com Paulão, que deixa com Artur. O lateral cruza em cima da marcação. Seijas cobra o escanteio. A bola vai em Sasha, que pega muito mal na bola e manda longe do gol de Grohe. Ainda bem! É impressionante: jogando contra uma defesa que sempre erra na bola aérea, o Inter não consegue acertar um cruzamento sequer. PEGOU MAL! Seijas levanta na área, a zaga corta parcialmente e Eduardo Sasha bate para longe do gol. Everton, no lado esquerdo, tenta o cruzamento. Paulão afasta de cabeça. Sasha domina pela direita, parte com espaço, aciona Gustavo Ferrareis e ele passa pela bola. Falta em Edílson, no lado direito de ataque do Grêmio. ASSIM NÃO! Falta é muito mal cobrada e a bola fica com o Inter. William recebe de Sasha pela direita, tenta o cruzamento e Marcelo Oliveira bloqueia. William avança pela direita, Fred vai bem na cobertura e manda a bola para fora, escanteio para o Inter. O Inter tem uma mudança tática neste segundo tempo: Seijas e Ferrareis inverteram a posição. O venezuelano joga agora pela esquerda, e o 31 vai pelo meio. QUE PERIGO! Seijas bate escanteio fechado, Marcelo Grohe sai mal, se complica e a zaga consegue aliviar. Escanteio cobrado. Marcelo Grohe afasta, a bola fica no bate-rebate na área e mais um escanteio. O escanteio é cobrado, e Grohe tira mais uma vez. Mas o gol que o Inter perdeu! A bola ficou viva na área após o erro de Grohe e ninguém conseguiu concluir pro gol. Inter adianta a marcação e dificulta a saída de bola gremista. Vitinho, pela ponta direita, faz cruzamento fechado. Grohe, seguro, fica com a bola! Pressão do Inter. Ferrareis, pela esquerda, consegue um escanteio. Edílson mandou para a linha de fundo. Vitinho foi para a direita e tentou o cruzamento rasteiro, mas mandou muito fechado. Grohe defendeu. E o Inter ganha mais um córner. Em tiro de canto, Vitinho levanta na pequena área e Paulão desvia sem perigo. Vitinho cobra o escanteio. Paulão sobe e cabeceia. A bola quica no gramado e vai pela linha de fundo. Vitinho mandou alto na área, e Paulão cabeceou sem perigo. 5 Uol Esporte Gremista GZH Colorado GZH 9’ Cartão amarelo para Rafael Cartão amarelo para Thyere leva amarelo por Thyere, que acertou Seijas Thyere. Jogador fez dura uma carnificina para cima do em disputa pelo alto. falta em Seijas. Seijas. Era para ser expulso... mas nem isso dá certo para o Inter hoje. 10’ Seijas cobra falta pela Seijas cobra a falta. A bola esquerda, a bola sobra na vai da ponta esquerda para direita para Eduardo Sasha a direita, com Sasha. Ele e ele cruza muito mal. chuta muito mal e a bola nem leva perigo a Grohe. 11’ PASSOU PERTO! Gustavo QUE SUSTO! Ferrareis Uhhhh! Boa, Ferrareis! Boa Ferrareis parte com espaço encontra espaço e chuta de jogada do meia, que pelo meio, arrisca de longe perna direita. Por pouco, avançou sozinho e arriscou e a bola passa à esquerda não marca. A bola passa à de longe, com muito perigo. do gol de Grohe. esquerda do gol de Grohe. 12’ Agora pela direita, Gustavo UFA! Ferrareis leva a bola Valdívia deve vir para o Ferrareis tenta girar e ao fundo e cruza para a jogo. É de ti que manda na área, mas para área, mas não tinha precisamos, guri. Vamos lá, ninguém. ninguém do Inter para ficar Inter... com ela. 13’ Luan faz boa tabela com William cobra lateral e Everton, mas prende a bola Ernando arrisca de cabeça. e é desarmado. A bola vai à esquerda de Grohe. Luan e Jaílson tabelam, em jogada promissora. Mas aí Rodrigo Dourado chega e desarma Luan. 14’ Vitinho dá um belo drible CUIDADO, GRÊMIO! O Baita jogada do Inter! pela meia direita, bate Inter pressiona muito. Vitinho fez o drible e bateu cruzado, a bola explode na Vitinho carimba a defesa. prensado, e na sobra a zaga e Fabinho cruza em Cruzamento do Fabinho, e tentativa de Sasha saiu em cima da marcação. Sasha erra. Escanteio para escanteio. o time de Argel. 15’ UUUHHH! Paulão passa por ABRE O OLHO! Paulão, UHHHHHHHHHH! Paulão, Fred na área e bate cruzado pela esquerda, constrói a não pode perder esse gol! para fora. Por pouco não faz melhor oportunidade do Uma baita jogada do um belo gol. Inter. Chuta cruzado, na capitão, que passou pela cara de Grohe, e ela quase defesa e tirou do Grohe, entra, mas passa pelo gol e mas mandou para fora de vai pela linha de fundo. dentro da pequena área. Depois, irritado, socou 10 vezes a grama. 16’ Internacional ganha mais Cartão amarelo para Vitinho. Vitinho leva amarelo por volume de jogo e pressiona Atacante do Inter deixou o falta em Edílson. E Grohe na segunda etapa. Grêmio pé em Edílson. Cartão leva amarelo por cera. chega pouco ao ataque. amarelo para Marcelo Grohe. 17’ Cartão amarelo para Argel chama Valdívia para Muda o Inter: sai Seijas, Marcelo Grohe por cera. conversar. Atacante deve entra Valdívia. Vamos lá, entrar em instantes na Valdívia, seu pokolindo. partida. Substituição no Inter. Sai Seijas, entra Valdívia. 18’ Sai Seijas e entra Valdívia. Sasha está caído no gramado. Jogador parece ter se machucado em lance com Marcelo Oliveira. 19’ Eduardo Sasha fica no chão Giuliano faz o cruzamento Vitinho, meu filho, tu podias após disputa aérea e recebe para a área, mas Artur tira ganhar pelo menos uma atendimento. de cabeça. jogada, não é? Sem cavar escanteio ou lateral. 20’ Finalizações: Internacional Na sequência, Edílson O Grêmio agora sai para o 12 x 8 Grêmio consegue pela direita. Luan ataque e consegue um cobra e a zaga do Inter escanteio. Atenção aí, afasta. defesa. 21’ Douglas toca na ponta A bola sobra novamente direita para Edilson, ele para o Grêmio. Luan, na cruza e a bola bate em direita, arrisca e manda a Artur. bola para a linha de fundo. 22’ Grêmio procura diminuir o Rodrigo Dourado erra passe ritmo da partida enquanto e dá um presente para troca passes. Douglas! 6 Uol Esporte Gremista GZH Colorado GZH 23’ Valdívia acelera pela ponta Falta de Fred em Valdívia, Uhhh! Boa jogada do esquerda, Edilson chega no na saída do campo de ataque: Dourado lançou na carrinho e faz o corte. ataque gremista. área, a bola foi escorada e Valdívia soltou o chute, mas parou na zaga. 24’ Rodrigo Dourado invade a Contra-ataque rápido do Ferrareis avançou o campo área, tenta a jogada, a bola Inter. Ferrareis arranca pela todo sozinho e tocou atrás sobra para Valdívia e ele esquerda e recua para para o Vitinho. Só que o bate em cima de Rafael Vitinho. Ele chuta de perna chute do pequeno Vitor... Thyere. direita, e pega muito mal na Nada. bola, sem perigo para Grohe! 25’ Gustavo Ferrareis faz boa AH, MARCELO OLIVEIRA! jogada pela esquerda, recua O lateral arrisca de longe, para Vitinho e ele bate mal. mas manda por cima do gol, sem chance alguma. 26’ Marcelo Oliveira é lançado Substituição no Grêmio. Sai Muda o Grêmio: sai pelo meio, domina no peito Douglas, entra Miller Douglas, entra Bolaños. E e bate sem qualquer perigo. Bolaños. Substituição no muda o Inter: sai Sasha, Inter. Sai Sasha, entra muito mal hoje, e entra Anderson. Anderson. 27’ Sai Douglas, entra Miller Marcelo Oliveira deixa o Vitinho cavou boa falta em Bolaños. braço e atinge Vitinho. Falta cima de Marcelo Oliveira. para o Inter. Essa é pra mandar na área! 28’ Sai Eduardo Sasha para a Falta cobrada. Zaga do E nada de aproveitar, nem entrada de Anderson. Grêmio afasta. na falta e nem na sobra. Ferrareis, no chão, tentou o chute, mas saiu mal e Grohe fez a defesa. 29’ Falta de Marcelo Oliveira sobre Vitinho pela direita. No cruzamento, Jailson corta de cabeça. 30’ QUE PERIGO! Gustavo Ferrareis recebi um bom cruzamento no primeiro poste, desvia fraco e Marcelo Grohe agarra. 31’ De fora da área, Vitinho Inter pressiona muito. E o Inter pressiona... Vitinho enche o pé, mas pega forte Vitinho, pela direita, chuta e recebeu de Anderson e demais. Bola por cima do Marcelo Grohe faz a defesa. arriscou, mas mandou longe gol. Antes, Ferrareis, dentro da do gol. pequena área, chutou fraco. 32’ O jogo continua muito Substituição no Grêmio. Sai Muda duas vezes o Grêmio: pegado no Beira-Rio. Everton, para entrada de sai Jaílson, entra Ramiro… Jogadores não aliviam nas Pedro Rocha. Substituição E sai Everton, um azougue, divididas e nas disputas no Grêmio. Sai Jaílson, e entra Pedro Rocha. físicas. entra Ramiro. 33’ Sai Everton, entra Pedro Anderson ganha de Edílson, Rocha. pela esquerda, e faz o cruzamento. Vitinho tenta dominar no peito, e a bola fica com o Grêmio. 34’ Sai Jailson para a entrada Ramiro encontra Pedro de Ramiro. Rocha na frente, mas William faz a cobertura. 35’ Anderson escapa pela Falta de Vitinho em Walace. O jogo agora é lá e cá... só esquerda, deixa Edilson que ninguém entra na área. para trás, lança na entrada da área e Vitinho domina, mas não conclui. 36’ Vitinho dribla Marcelo William levanta na área, e Não está com cara de que o Oliveira, adianta muito a Thyere afasta de cabeça. Inter vai reverter esta bola e comete falta em situação. Que coisa. Ramiro. 37’ Pela direita, Gustavo Anderson é lançado na É brabo. O Grêmio tem a Ferrareis levanta buscando pequena na área, e Marcelo pior defesa pelo alto do Valdívia e Fred afasta pelo Grohe agarra a bola. mundo. Mas aí, no Gre-Nal, alto. acerta tudo. O Inter não conseguiu ganhar vantagem em nenhum cruzamento. 7 Uol Esporte Gremista GZH Colorado GZH 38’ Anderson recebe bom No lance, Anderson se passe, divide com Marcelo choca com o goleiro Grohe, comete falta no gremista, que fica caído no goleiro e toma o amarelo. gramado sentindo dores. 39’ Após o lance, o goleiro Cartão amarelo para Anderson leva amarelo por tricolor recebe atendimento Anderson. falta em Grohe. médico e se recupera. 40’ Inter roda a bola no campo ofensivo. Grêmio segura o resultado. 41’ QUASE! Vitinho parte em SEGURA, GRÊMIO! Vitinho Uhhhhhhhhhh! Olha o jogada individual, bate passa por todo mundo, Vitinho de novo! Passou por cruzado e a bola passa à arrisca o chute e arranca dois zagueiros, e no chute direita. escanteio. Thyere desviou! 42’ UUUHHH! Em escanteio Escanteio cobrado por Mas o gol que o Dourado fechado pela esquerda, dois Valdívia. A bola quica no perdeu agora... Valdívia jogadores do Inter tentam o gramado e por muito pouco cobrou bem, a bola subiu na desvio e quase conseguem. não entra no gol gremista, pequena área e Dourado porque Dourado não não chegou em tempo. alcançou o cabeceio. 43’ PASSOU PERTO! Luan BOA! Bolaños faz grande Luan recebeu na área, virou domina na área, faz o giro, passe para Luan. O para cima do William e chuta e a bola passa rente à atacante invade a área e chutou para fora. trave esquerda. manda o chute. A bola passa perto do gol de Muriel. 44’ Cartão amarelo para Cartão amarelo para Ramiro leva amarelo por Ramiro. Ramiro. Jogador deu um falta em Anderson. carrinho em Anderson, na esquerda de ataque do Inter. 45’ Falta de Fred sobre Vitinho Valdívia cobra a falta. Grohe Valdívia cobrou a falta na pela direita. William levanta, agarra ela com área, mas nas mãos do Ernando chega de trás e tranquilidade. Inter tem falta Grohe. E mais uma falta cabeceia para fora. pela esquerda. Segura, pela lateral, agora na direita. Grêmio! Vamos lá, caramba. VAMO INTER! 46’ Pedro Rocha escapa pela Muriel sai do gol e vai para o William mandou na área, direita, faz boa jogada e ataque também. William mas Ernando errou a bate cruzado nas mãos de cobra a falta. Ernando sobe cabeçada, bem marcado, e Muriel. bem, de cabeça, e manda a mandou para fora. Não vai bola pela linha de fundo. rolar. Teremos três minutos de acréscimo. 47’ Escanteio para os donos da PEDRO ROCHA! Jogada Pedro Rocha fez boa jogada casa pela esquerda. Valdívia individual. Ele partiu em pela direita e chutou no cobra aberto por baixo e a velocidade, pela direita. Na meio, e Muriel fez a defesa. defesa afasta o perigo. área, chutou para Muriel agarrar a bola. 48’ Fim de jogo! FIM DE JOGO FIM DE JOGO Levantamento na área do Grêmio. Thyere tira de cabeça e Inter tem mais um escanteio. Muriel na área novamente. Valdívia cobra. Ernando tenta, mas a bola sobra para Fred afastar. FIM DE JOGO FIM DE JOGO Apita o árbitro! Após quatro anos, Grêmio vence no Beira-Rio e chega momentaneamente à viceliderança, a um ponto do Palmeiras. Inter, que perdeu a terceira seguida, vai ficando em 4º lugar. Depois do apito final, Edilson leva cartão amarelo após a comemoração da vitória. Termina a partida! É o trator gremista! O Tricolor vence por 1 a 0 o Gre-Nada e fica, agora, na vice-liderança! Obrigado pela companhia e até a próxima! Edílson levou cartão amarelo após o término da partida. Lateral arrancou a bandeirinha de escanteio. Agora, sim, até a próxima, pessoal! Fim de jogo. Terceira derrota seguida, Internacional. Ridículo, Internacional. Obrigado pela companhia, coloradas e colorados. Mas não deu. Tá complicado, bem complicado. Abraços! 8 0' 0' 0' 0' 0' 0' 1º TEMPO 1’ 2’ 3’ 4’ Grenal 411 Uol Esporte Gremista GZH Colorado GZH Renato Gaúcho e Celso Roth se encontrarão em Gre-Nal seis anos depois. E muita coisa mudou desde o clássico 383, quando empataram em 2 a 2 no Olímpico. Boa tarde, gremistada. Hoje vamos mandar eles pra Série B. Boa tarde, coloradas e colorados! É dia de Inter, é dia de Gre-Nal! Vamos nessa. VAMO INTER! Neste domingo (23), na Arena, Grêmio e Internacional terão treinadores que fugiram do perfil público construído por eles. Renatão deu uma folga pro Maestro. Hj ele vai ver o jogo no bar, tomando uma gelada merecida. Vamos seguir na nossa recuperação, desta vez vencendo no estádio deles. É hora de ser, mais do que nunca, colorado! Ou seja, o Roth contra Renato da 32ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2016 não será como antes. Seis anos se passaram e os treinadores amadureceram dentro e fora de campo. Miller Bolaños vai pra partida. Estamos com time definido, e com novidades: São Danilo; Ceará, Ernando, Paulão e Geferson; Anselmo, Dourado, William, Valdívia e Sasha; Mitinho. O resultado poderá ou não influenciar no placar do clássico que começa às 17h (horário de Brasília) deste domingo. A massa vermelha já está no seu lugar, pronta para apoiar o Inter. Estamos com vocês, gurizada. É a torcida colorada que mantém o Inter vivo! Equipes já no gramado da Arena Grêmio para o clássico. Este é o Gre-Nal 411. Lembrando dos números: são 154 vitórias coloradas, 128 derrotas e 128 empates. Nosso maior rival no clássico é o empate, portanto. Hinos do Rio Grande do Sul e do Brasil devidamente executados. Quase tudo pronto para a bola rolar! Bola rolando. Vamos detonar os colorados!!! Times prontos no túnel para o jogo. VAMO INTER! Times em campo! É hora de GreNal! Tirem as crianças da sala! Tudo pronto para o jogo. Inter, nós somos gigantes! VAMOS LÁ! COMEÇA O GRE-NAL! Saída com o Grêmio. 1º TEMPO 1º TEMPO 1º TEMPO Saída do Grêmio, mas o Inter já retoma a bola e tem lateral no campo de ataque. Muitas trombadas e pouca bola nos primeiros minutos. E o Inter começa buscando o ataque. Jogada pela direita de ataque, e Ceará e William tentaram a combinação até o camisa 2 perder a bola. Após sequência de divididas Pedro Rocha tenta o toque duras, o árbitro marca falta para Bolaños, mas erra o a favor do Grêmio. passe. O senhor juiz começou a inventar com um minuto de jogo, parabéns. Vitinho tomou uma falta, e o árbitro marcou falta do nosso camisa 11. Grêmio trabalha a bola no campo de defesa. Internacional marca firme. Lançamento longo para Bolaños. Paulão dá um chute para o alto. Ganhamos o lateral. Jogo de muito bate-rebate por enquanto. Nenhum dos times consegue segurar a bola no chão nestes três primeiros minutos. Vitinho tenta passar entre dois marcadores, perde o controle da bola e acaba fazendo falta. Valdívia achava que ia puxar um contra-ataque. Walace apareceu e acabou a brincadeira. Grêmio tentou chegar nos passes rasteiros com Bolaños, mas Paulão afastou para longe. Na sequência, Ramiro aproveitou bola mal afastada do zagueiro colorado, mas não conseguiu cruzar. 9 Uol Esporte Gremista GZH Colorado GZH 5’ Edilson tenta passe Pressionamos a saída de Agora o Grêmio tem falta diagonal para Luan na bola, Ramiro roubou a bola para cobrar: Paulão entrada da área, mas a bola e se empolgou. Saiu pela derrubou Bolaños. passa pelo atacante e linha de fundo sozinho. Paulão corta. 6’ Pedro Rocha tabela com Fechou o tempo. Bolaños E já temos a primeira Luan, mas a bola acaba acertou o William. Reservas confusão: William foi marcar saindo pela linha de fundo deles estão furiosos. Uiiii! Bolaños e tomou um antes do cruzamento para sopapo. O juiz não deu trás. nada, e o banco colorado reclama muito. 7’ CONFUSÃO! William Bolaños deu um soco na E agora o replay mostrou comete falta em Bolaños e, barriga do William. Mas o que Bolaños acertou um na sequência, confusão se que é um golpe na barriga soco no camisa 2 colorado. generaliza no gramado. pra quem levou na boca de um colega de time? 8’ Após tumulto, bola volta a Recomeça a peleia. O juiz conversou com os rolar a favor do time da dois jogadores, mas não casa. deu mais nada. E ainda marcou falta para o Grêmio. Tá bem arranjado esse senhor. 9’ William dá chutão para trás Lançamento para William e Na falta, a zaga colorada e a bola vai nas mãos de Marcelo Oliveira dá um afastou a bola cruzada por Danilo Fernandes. Torcida e carrinho pra fazer o Luan. jogadores do Grêmio pedem desarme. recuo, mas nada acontece. 10’ Paulão fica com sobra no Luan tenta o lançamento Ceará mandou o lateral na campo de ataque e tenta para Ramiro, mas a bola foi área, mas a zaga afastou. avançar pelo campo, mas com muita força. Na sobra, o Inter tentou acaba perdendo a bola e concluir e não conseguiu. comentando falta em Jogo muito combatido neste Edilson. início. 11’ Tentativa de passe de Luan Escanteio para eles. Grêmio tentou chegar com para Ramiro termina em tiro Luan, procurando Ramiro, de meta para o mas a bola foi funda, longe Internacional. do gol de São Danilo. 12’ Ceará cobra lateral Vamos tomar cuidado aí, O Inter consegue o primeiro devidamente na área e gurizada. escanteio: Marcelo Oliveira Marcelo Oliveira corta para mandou para trás o lateral escanteio de cabeça. de Ceará. VAMOS LÁ, COLORADO! O escanteio provocou um salseiro na área, mas o Inter não conseguiu concluir de jeito para o gol. 13’ Ramiro tenta passe por Walace subiu muito e Finalmente, depois de 13 cima da marcação para afastou o perigo. minutos, o juiz percebeu que Luan, mas a bola desvia na pode marcar faltas para o zaga e sai em lateral para o Inter. Vitinho tomou um Grêmio. chute no meio de campo. 14’ Edilson ergue demais o pé e Edílson dá um chegada Boa tentativa de Sasha com acaba cometendo falta em firme em Vitinho, que fica no Valdívia, aos trancos e Vitinho. chão se contorcendo feito barrancos, mas Kannemann minhoca. mandou para lateral. E, no lance, Geromel pegou Sasha, mas claro que o árbitro não deu nada. 15’ Valdívia ajeita para Ceará Ceará arrisca de longe. Lá Primeiro chute a gol do finalizar de fora da área, na torcida mista. Sem Inter: no lateral, Valdívia mas o lateral manda longe perigo. recebeu e tocou para Ceará, do gol. que arriscou de longe. A bola passou à direita de Grohe. 16’ Jogo sem chances boas de Gre-Nal chato ainda. Vamos gol até aqui. Equipes botar mais raça, Grêmio! sentindo o peso do clássico. 17’ Ramiro é lançado na direita Ramiro divide com Boa jogada de Geferson na do ataque, mas na dividida Geferson, fica caído e pede marcação: tirou de Ramiro, com Anselmo, o jogador falta. Esqueceu de tentar a sem falta, e mandou o Inter colorado leva a melhor e sai jogada. para o campo de ataque. jogando. 10 Uol Esporte Gremista GZH Colorado GZH 18’ Ceará é apertado por Pedro Pedro Rocha desarma Rocha quando pensava em Ceará, que ia tentar o fazer cruzamento, mas a cruzamento. Boa, garoto! bola rebate no lateral e fica em posse do Grêmio. 19’ Walace erra na saída e dá a Vitinho tenta uma jogada Ahhh, Vitinho... ganhou no bola de presente ao Inter pelo lado, mas todo mundo corpo da marcação mas, ao em boa posição de campo. chegou na marcação e tentar o toque para trás, acabou com a palhaçada. mandou fraco, e a zaga tirou. 20’ Porém, o Inter não aproveita. O Grêmio tenta contra-atacar e também não transforma em finalização. Vai dando certo, por enquanto, a opção de Roth por Valdívia, William e Sasha na frente. O Inter tem posse de bola e consegue trocar passes. Só falta achar um espaço para entrar na área. 21’ Luan recebe no meio- Luan tenta o domínio e é Agora Anselmo tirou a bola campo, mas antes de girar atropelado pelo Anselmo. de Luan, mas o juiz inventou sofre falta de Anselmo. Cadê o cartão, juiz? uma falta. Pelo jeito, o senhor árbitro foi bem instruído para o jogo, hein? Gol que ajuda o Inter: o Palmeiras faz 1 a 0 no Sport em São Paulo. 22’ Maicon arrisca direto na Edílson solta uma bomba lá Edílson achou que ia vencer falta da intermediária e do meio de campo na Danilo Fernandes com um manda pra fora. cobrança da falta, mas não chute do meio da rua. Aí, acerta o gol deles. não, camarada. 23’ Valdívia cobra falta na área e Walace sobe para afastar. Anselmo agora fez falta em Pedro Rocha. Cuidado, defesa, que a bola vem na área. 24’ Luan avança pelo ataque, Luan perde um bom contra- mas tem passe interceptado ataque. Errou o passe pro por Rodrigo Dourado. Pedro Rocha. 25’ Novo levantamento, agora Edílson lança a bola na área Edílson mandou na área, e de Edilson, afastado de deles e Danilo Fernandes Danilo tirou de soco. soco por Danilo Fernandes. afasta. 26’ Após contra-ataque, Vitinho Miller Bolaños tenta um Vitinho ainda não entrou no perde o controle da bola e toque por baixo das pernas jogo. Recebeu na frente, comete falta em Walace. do Ceará, mas não acerta. mas errou na tentativa de driblar. É quem está destoando do setor ofensivo. 27’ Luan faz grande jogada Miller Bolaños empurra Valdívia se desencontrou individual e leva o Grêmio Ernando e o juiz marca a nos últimos cinco minutos. para a área, mas Bolaños falta. Está perdendo nas peca na hora de devolver divididas. Te liga, guri. Tu é para o camisa 7. bola, volta pro jogo. 28’ Bolaños é lançado dentro da área ofensiva, mas acaba empurrando Ernando e cometendo falta ao tentar dominar. 29’ Luan aplica drible de efeito Jogo bem fraquinho ainda. no meio-campo, mas se vê Renato, manda essa obrigado a recuar gurizada dar a vida aí. Aqui novamente para a defesa na é Grêmio, p**** sequência. 30’ Cruzamento de Edilson Cruzamento na área deles e Dourado foi muito bem acha Pedro Rocha na o juiz marca "perigo de gol". agora. Walace arriscou o segunda trave, mas o Pedro Rocha só disputou a chute de longe, e o camisa jogador gremista comete bola pelo alto, nem teve 13 se jogou na frente da falta no ataque. contato pra enxergar uma bola para afastar. falta. Só o juizão viu alguma coisa. 31’ Geromel coloca a bola para Bola rolando. Vamos lateral ao ser apertado por detonar os colorados!!! Vitinho. 11 Uol Esporte Gremista GZH Colorado GZH 32’ Grêmio trabalhando a bola no campo de defesa, mas o Inter sobe alguns de seus homens de frente para apertar. Que jogo bem ruim, pelamor. Gol do Sport contra o Palmeiras em São Paulo. 33’ Ceará dá a bola de presente Bolaños arrisca um chute da O Grêmio consegue um para Bolaños, mas na hora entrada da área. Acerta as escanteio. Ceará errou na de girar o atacante não é costelas do Paulão. origem do lance, e na efetivo e perde a bola. sequência mandou para o corner. Mas nós temos Danilo, e o Paredão tirou o perigo para longe. 34’ Em cobrança de escanteio, UHHH! Luan cobra Bolãnos deixou para Luan, Danilo Fernandes sai da escanteio, Kannemann tenta que arriscou de longe, e a pequena área para cortar. cabecear e a defesa deles bola desviou em Anselmo afasta. para sair em escanteio. Na cobrança, Valdívia tomou um empurrão, paralisando o jogo. 35’ Luan arrisca de primeira de Boa jogada! Bolaños escora fora da área, a bola desvia e e Luan chuta com perigo. passa perto do gol. Escaneio. Cobrança na área, Marcelo Oliveira disputa com Valdívia. Juiz dá falta para eles. 36’ Pedro Rocha recebe de Pedro Rocha tenta um Luan na esquerda, mas passe de costas para Luan, acaba apertado pela que não alcança a bola. marcação e atrasando todo o ataque gremista. 37’ UH! Valdívia recebe em Valdívia chuta de longe e Primeiro chute liberdade na intermediária, Grohe faz a defesa, sem definitivamente no gol: em finaliza rasteiro e Marcelo nenhuma dificuldade. contra-ataque rápido, Sasha Grohe defende firme. passou pela zaga e tocou para Valdívia, que arriscou de longe. O chute saiu fraco, e Grohe fez a defesa tranquilo. 38’ Bolaños consegue giro na Bolaños arrisca de fora da Agora o Grêmio respondeu. entrada da área, finaliza área. Goleiro deles defende. Bolaños chutou de longe, forte, mas Danilo Fernandes com força, e Danilo segurou consegue encaixar firme. no meio do gol. 39’ Edilson tenta pela direita, Edílson se empolga, vai à Mais uma falta inventada mas acaba perdendo o linha de fundo, e perde a pelo juiz. Pelo jeito, o Inter domínio da bola e cedendo bola. Tiro de meta pra eles. não pode marcar que é falta. tiro de meta. Por favor... 40’ Sequência de divididas no meio termina em lateral para o Internacional. Em Salvador, Cruzeiro faz 1 a 0 no Vitória. Bom resultado para nós. 41’ Na cobrança de Ceará para Ernando, a defesa gremista aperta e consegue afastar de perto da área. 42’ Rodrigo Dourado comete Luan toca para Bolaños, que falta em Bolaños na saída cai antes de dominar. Tá de bola do time da casa. faltando força. 43’ Luan tenta passe por Marcelo Olivera cruza em elevação que chegaria em cima de William. Bola Pedro Rocha, mas Paulão parece ter saído, mas juiz corta de cabeça. mandou seguir. 44’ Edilson avança pelo ataque, mas na dividida com Eduardo Sasha o próprio lateral comete falta. Vamos chegando ao final de um primeiro tempo de muitas faltas e poucas jogadas trabalhadas dos dois times no Gre-Nal 411. Jogo bem murrinha até agora. 45’ Teremos um minuto de Maicon deu no tornozelo do Teremos mais um minuto acréscimo. Valdívia. Bom pro rapazinho até o final do primeiro do instagram ficar esperto. tempo. 46’ Valdívia cobra falta e acerta Fim do primeiro tempo. barreira de um homem só. Graças a Deus! 12 INTERVALO 0’ 0’ 0’ 2º TEMPO 1’ 2’ 3’ 4’ 5’ 6’ 7’ 8’ 9’ Uol Esporte INTERVALO Gremista GZH INTERVALO Colorado GZH INTERVALO Apita o árbitro! Em partida marcada pela falta de agressividade e criatividade de ambas as equipes, Grêmio e Inter vão para o intervalo em igualdade no clássico. Tomara que eles encontrem o futebol no intervalo. E termina um primeiro tempo horroroso na Arena. Por enquanto, nada de gols e nada de nada no Gre-Nal. Sem alterações. Valdívia: "Um pouco difícil, mas vamos voltar para o segundo tempo e ficar mais com a bola”. Começa o segundo tempo! Recomeça a peleia. Vamos, Grêmio! Os times vão voltando para o segundo tempo. Por enquanto, sem modificações. 2º TEMPO 2º TEMPO 2º TEMPO Saída do Internacional! Rodrigo Dourado recebe falta de Maicon no meiocampo. Sasha levou um toquinho, pra ficar esperto. Começa o segundo tempo! Bola com o Inter. VAMO, COLORADO! Edilson e Eduardo Sasha se desentendem, mas Geromel acalma os ânimos dos atletas. Edílson ponderou com o cotovelo. Sasha ficou chateado. E rola mais uma discussão, após uma disputa de Sasha com Edílson. O lateral deles deixou o braço no nosso atacante. Marcelo Oliveira faz boa jogada individual, mas peca no momento que tenta inversão. Geromonstro! O Geromito desarmou Sasha dentro da nossa pequena área. UHHHH! Grande contraataque do Inter! Combinação de todo o time e, no passe de Vitinho, Geromel desarmou Sasha na hora H! VAMO INTER!!! Contra-ataque rápido do Internacional com Vitinho, que acha Sasha na grande área, mas o atacante não chega a finalizar. Anselmo recebe o primeiro amarelo do jogo. Anselmo faz uma falta desleal. Leva o amarelo. Valdívia mandou mal a cobrança na área. Ainda não acertou nenhum cruzamento o nosso camisa 29. Anselmo leva amarelo por falta em Luan. E está fora do jogo contra o Santa Cruz, no próximo sábado, no Beira-Rio. Em cobrança de falta, Edilson tenta levantamento e bola vai nas mãos de Danilo Fernandes. UUUH! Vitinho é lançado por Dourado nas costas da defesa, finaliza de primeira e leva perigo ao gol de Grohe. Luan cobra falta na área deles. Direto nas mãos do goleiro dos caras. Edílson tentou mandar direto, mas São Danilo segurou a redonda. Em São Paulo, o Palmeiras faz 2 a 1 sobre o Sport e ajuda o Colorado. Escapamos! Vitinho recebeu de Dourado na frente do Grohe. Sorte que ele mandou por cima do gol. UHHHHHHHHHH! VITINHO, MEU FILHO, FAZ ESSE GOL! Dourado fez uma jogadaça e atravessou o campo todo, tocando para o camisa 11, que chutou de canhota por cima do gol. Ramiro busca jogo no meiocampo, mas acaba recebendo falta de Geferson. PRESSÃO DO INTER! VAMO COLORADO! Ramiro recebe novo passe, agora longo e em profundidade, livre na área, mas seu domínio é ruim e não deixa a bola próxima do pé. Ramiro recebe um baita lançamento, mas faltou perna pra tentar fazer o gol. O Grêmio tentou chegar com Ramiro nas costas da zaga, em lançamento de Maicon, mas ele não dominou. Nenhum perigo. 13 Uol Esporte Gremista GZH Colorado GZH 10’ QUASE!!! Maicon cobra Pedro Rocha faz boa jogada Agora Anselmo manda a escanteio na área, pela esquerda e ganha o escanteio. Atenção aí, Kannemann consegue escanteio. UHHHHH! gurizada. Que perigo... cabeçada e quase marca. Bolaños cruza na cabeça do Kannemann subiu mais do Kannemann, mas a bola que a zaga e mandou saiu ao lado da trave. pertinho do gol de Danilo. Paulão, para variar, sendo batido na bola aérea. Aí complica. 11’ PERIGO! Valdívia cobra Vai ter Cebola no molho do E a massa colorada canta falta na área, Dourado Grêmio! Renato chama alto na Arena! VAMO consegue desvio e assusta Everton, o Cebolinha. INTER! Valdívia acertou um Marcelo Grohe. Dourado perde a chance. cruzamento, em cobrança Juiz já tinha parado. de falta, mas Dourado estava impedido no lance. 12’ Everton entra, sai Pedro Troca: Everton entra no Muda o Grêmio: sai Pedro Rocha. lugar de Pedro Rocha. Rocha, entra Everton. 13’ Edilson levanta a bola na Luan toca para Ramiro, que O Grêmio agora tentou área e Bolaños consegue cruza. Paulão dá uma chegar, mas Paulão afastou cabecear, mas não leva raquetada na bola. o perigo. Estamos errando perigo. na marcação das jogadas pelos lados, principalmente pela esquerda da defesa. 14’ Anselmo tenta surpreender Valdívia se atira e fecha o Falta, e falta boa para o e arrisca de três dedos de tempo. Inter! E agora rola fora da área, mas manda pancadaria! Dourado tomou longe. um soco! 15’ CONFUSÃO! Inter ganha Edílson ponderou com Valdívia tomou a falta na falta no campo de ataque e, socos no Dourado, que se frente da área. Vitinho foi por causa do lance, os assustou. cobrar o cara do Grêmio e, jogadores começam a se na sequência, Geromel desentender e trocam acertou um soco no socos. Dourado. 16’ Tudo começou com Vitinho e Kannemann. Rodrigo Dourado levou a pior e ficou com dores na boca. Aliás, foi o Edílson, deu três socos no Dourado. Tem que ser muito expulso. 17’ Edilson está expulso! Edílson foi expulso. Olha, foi Edílson é expulso pelos três merecido. Três socos. socos no Dourado. Foi Grêmio é maior que isso. pouco. 18’ Pelo Internacional, Vitinho Vitinho leva o amarelo pelo E Vitinho leva cartão recebe apenas amarelo. início da confusão. amarelo. Agora o time deles fica numa pressão absurda. 19’ Edilson ainda está dentro do Que várzea! campo. Indignação gremista por ninguém dos visitantes receber vermelho. Para usar termos leves, o vermelho foi pouco. E o Inter tem uma falta boa para cobrar. Tem torcedor que aplaude isso. Bom... merecem o que têm. 20’ Agora sim Edilson deixa o Troca: Jaílson entra no lugar Esse árbitro não podia gramado. de Bolaños. nunca mais apitar um jogo. 21’ Jailson entra, sai Bolaños. Rodrigo Dourado leva o Mudou o Grêmio: saiu vermelho. Bolaños e entrou Jaílson. 22’ Após muito tempo, Rodrigo Recomeça o jogo. Que palhaçada. Rodrigo Dourado está expulso! Dourado é expulso por Jogador estava fora de tomar três socos. Que coisa campo sendo atendido, por ridícula. isso a demora. 23’ Enfim a bola volta a rolar. Quando o Gre-Nal Na cobrança de falta, a bola Vitinho cobra falta na melhorou, brigas estragaram ficou na barreira. barreira. o Clássico. 24’ Geferson cruza de pé esquerdo e a bola morre nas mãos de Grohe. Funcionou bem a pressão do Grêmio. Quero ver se vai ter choradeira de arbitragem depois. Que palhaçada, que coisa ridícula. 25’ Boa jogada de Everton pela Everton entorta Ceará e Anselmo agora salvou a esquerda, passe para trás cruza para Walace, que pátria. Walace ia chutar, e o buscando Walace, mas o chuta em cima de Ernando. volante prensou tirando o chute sai travado e a bola chute. vai para escanteio. 14 Uol Esporte Gremista GZH Colorado GZH 26’ Eduardo Henrique entra na Troca deles: Eduardo Muda o Inter: sai Valdívia, vaga de Valdívia. Henrique entra no lugar de entra Eduardo Henrique. Valmídia. 27’ William recebe pela esquerda e tenta levantamento para Vitinho, mas a zaga aparece para cortar de cabeça. 28’ Grêmio trabalhando a bola no campo de ataque, em busca de espaço. Bom, vamos voltar para o jogo depois de toda a palhaçada. Cuidado ao sofrer faltas, Inter, pois podemos ser expulsos por isso. 29’ Marcelo Oliveira adianta a bola, mas ao tentar passe para Luan erra bisonhamente. 30’ Internacional ganha William cruza e Kannemann Boa combinação de William escanteio após cruzamento rebate. Escanteio para eles. com Sasha. O lateral-meia de William ser desviado. cavou o escanteio. Vamos acertar essa cobrança, gurizada. 31’ Na cobrança, Marcelo Grohe dá um soco na bola e A cobrança não deu em Grohe afasta de soco. afasta o perigo. nada. 32’ Ramiro recebe bola esticada Geromel disputa e tira a demais do lado direito e fica bola de Vitinho. sem equilíbrio para realizar um bom cruzamento na área. Inter antecipa. 33’ Eduardo Sasha caído no gramado com dores no braço esquerdo. Sasha tentou driblar Geromel e Kannemann e foi atingido. Óbvio que o juiz não deu nada, pois pelo jeito a orientação foi para o Inter apanhar quieto. 34’ Walace recebe na Walace tenta fazer o gol em Walace foi tentar o chute da intermediária, arrisca chute chute de longe. A bola saiu intermediária e mandou a e acaba mandando a bola pela linha lateral do outro bola na lateral. pela linha lateral. lado do campo... 35’ Ramiro desce em diagonal Ramiro arrisca de longe e a Ramiro agora arriscou de para o ataque, consegue bola passa pertinho da trave longe, e a bola passou perto bom chute, mas manda à deles. do gol de Danilo. esquerda do gol. 36’ Seis finalizações do Grêmio contra cinco do Inter até o momento. Nenhuma das equipes chegou tão perto do gol. Roth chama Aylon e Ferrareis para o jogo. 37’ Anselmo e Jaílson disputam Jogo parado. Jaílson e bola de forma muito dura e Anselmo trombaram na ficam caídos no gramado. entrada da área do Inter. 38’ Aylon entra no lugar de Vai recomeçar a peleia. Aylon entrou na de Vitinho Vitinho. no Inter. 39’ Maicon sai, entra Troca deles: Aylon no lugar E o Grêmio colocou Guilherme. de Vitinho. Guilherme no lugar de Maicon. 40’ Grêmio tem lateral perto da Troca deles: Guilherme linha de fundo. entra no lugar de Maicon. 41’ Luan leva para o pé Luan cruza, mas Everton Ernando, muito bem, tirou esquerdo dentro da grande não alcança. de Everton dentro da área. área e cruza rasteiro, mas Ernando corta no momento certo. 42’ Ferrareis entra, sai Eduardo Troca deles: Sasha deixa o Última troca no Inter: saiu Sasha. jogo para a entrada do Sasha, entrou Ferrareis. Ferrareis. 43’ Ceará recebe passe longo na direita e ganha escanteio para o Inter. 15 Uol Esporte Gremista GZH Colorado GZH 44’ DEFENDEU!! William Chute cruzado na nossa Escanteio pela direita, bola recebe no lado direito da área e Grohe defende, sem rebatida e, na sobra, William área, finaliza rasteiro e muitos sustos. chutou para defesa do Grohe pega firme. Grohe. 45’ Teremos 8 minutos adicionais nesse segundo tempo. O Fluminense faz 1 a 0 sobre o Coritiba em Curitiba. 46’ Luan recebe na entrada da área, mas usa o braço para dominar e a irregularidade é marcada. Teremos mais oito minutos de acréscimos. 47’ Grêmio chegava com Luan prende demais a bola O Grêmio roda a bola no perigo, mas Luan demora e perde um bom ataque. ataque, mas o Inter está demais para tomar alguma Toca ela, meu filho. bem postado e não permite decisão e atrasa totalmente nada. Mas ainda tem jogo o ataque. pela frente: vamos até os 53. 48’ Geromel erra passe na saída e dá presente para Eduardo Henrique, mas Kannemann aparece na cobertura e salva o Grêmio. Ferrareis agora teve a chance de avançar sozinho rumo ao gol, mas não conseguiu dominar e foi travado pelo Kannemann. 49’ Ferrareis e Kannemann recebendo atendimento médico dentro do gramado. 50’ Ceará cobra lateral direto na área e o árbitro marca falta de ataque colorado. Agora o juiz dá perigo de gol em tentativa do Aylon pelo alto. Parabéns, senhor juiz. 51’ Walace tenta passe entre os Escanteio! defensores do Inter, mas a zaga corta. 52’ Guilherme recebe na direita Marcelo Oliveira cabeceia e tem chute desviado para sem direção e perdemos escanteio. uma boa chance nos minutos finais. FIM DE JOGO FIM DE JOGO FIM DE JOGO Agora o Grêmio cavou um escanteio: Guilherme chutou em cima de Geferson. Marcelo Oliveira cabeceou longe do gol. Terminaram Palmeiras 2x1 Sport e Vitória 0x1 Cruzeiro, ótimos resultados para o Inter. FIM DE JOGO Apita o árbitro! Em dia de quebra de recorde de público da Arena do Grêmio, Grêmio e Inter fazem um jogo abaixo da expectativa e empatam sem gols. Fim de jogo. Mais um GreNal nas nossas vidas. Pena que esse foi ruim, sem uma vitória do nosso Tricolor! Até a próxima, gremistada. Fim de jogo! Nada de gols em um Gre-Nal marcado pela palhaçada da arbitragem. Obrigado por terem acompanhado o jogo pelo Colorado ZH. VAMO INTER! Ah, só para terminar: 154 vitórias do Inter, 129 empates e 128 derrotas. O empate é maior do que eles. 16 Grenal 412 Uol Esporte Gremista GZH Colorado GZH 0' O clássico gaúcho, válido Boa tarde, tricolores de Boa tarde, nação colorada! pela sexta rodada do todas as querências! Hoje é VAMOS PARA MAIS UMA Estadual, encontra Grêmio e dia de Grêmio! É dia do BATALHA! E DIGO PRA Internacional em posições maior espetáculo da Terra, é VOCÊS: O PAPAI que não são as esperadas dia de Gre-Nal! Vamos, VOLTOU!!!!!! para a dupla de rivais. Grêmio! D'ALESSANDRO ESTÁ DE VOLTA AO NOSSO INTER! Pode tremer, gremistada! O PAPAI VOLTOU! 0' O Grêmio, mandante da Ouço de todos os lados Estou achando estranho, partida, que acontece neste Ivete Sangalo: "Arerê..." Por essa turminha de pijama sábado, às 18h30, na Arena que será? VAMOS resolveu homenagear os do Grêmio, está em terceiro TRICOLOR! seus anos de série B? lugar, com 10 pontos (aproveitamento de 67%). 0' A colocação do Já temos time pronto e Vamos ao nosso Inter, o Internacional é ainda pior: confirmado para o clássico. único campeão mundial quinto lugar, com seis Barrios começa na reserva, FIFA no RS: Zago resolveu pontos, obtidos em uma e Maicon foi poupado para a apostar no retorno de vitória e três empates. estreia na Libertadores. William à lateral direita. Na Assim como seu rival, Teremos Paredão Grohe; frente, Brenner e Carlos. perdeu uma vez. Léo Moura, Deus Geromito, Nico López começará na Kannemann e Marcelo reserva. Oliveira; Jailson, Michel e Ramiro; The Killer Bolaños, Pedro Rocha e Luanel Messi! 0' A liderança do Campeonato Já o Binter... bem, quem se Viram a Arena da OAS Gaúcho até o momento é do importa? Aqui é Grêmio! tremer? Sim, O PAPAI Novo Hamburgo, que tem VOLTOU. D'Ale, o terror de 100% de aproveitamento, todos os gremistas, está com 15 pontos em cinco entre nós. jogos. 0' Contratado ao Palmeiras, o Aonde estão? Ninguém os D'Ale à frente do nosso atacante Barrios deve vê! Vão jogar a Série B... Inter. Arena da OAS saúda estrear no clássico. Ele já nosso capitão, o está com a situação exterminador de gremistas. regularizada na CBF e inscrito no Gauchão. 0' A dúvida gremista é o A Arena cada vez mais Times em campo. Arena volante Maicon, com cheia e linda, como OAS está cheia para ver o desconforto na panturrilha sempre... Vamos nessa, nosso show. direita, que só terá sua tricolores! situação definida nos vestiários, pouco antes do início do jogo. 0' Do outro lado, há mistério Quase tudo pronto para o Aqui tem zoeira, corneta e na escalação do argentino jogo. Daqui a pouco os muita amizade com o lado D’Alessandro, com um times entram em campo. azul. Vamos ao estádio sem desconforto muscular na briga, sem violência! coxa direita. A situação será definida no vestiário. 0' O lateral direito Willian, no O time da Segundona já Ganhamos o sorteio! VAMO, entanto, deve voltar ao time. está pronto. Agora chegam INTER! Embora tenha se negado a os pentacampeões da Copa confirmar, o técnico Antônio do Brasil! VAMOS, Carlos Zago deu indícios GRÊMIO! sobre isso. 0' Barrios fica no banco e AÍ ESTÁ O GRÊMIO! "Grandes jogadores devem Grêmio perde capitão; no RESPEITEM O participar de grandes jogos", Inter, D’Ale começa Gre-Nal. PENTACAMPEÃO DA diz Antônio Carlos Zago COPA DO BRASIL! sobre nosso capitão. 0' Marcelo Grohe conversou ARERÊÊÊÊÊÊÊ... O Bola rolando para Grêmio x com Bolaños e sinalizou BINTER VAI JOGAR A Inter! VAMO, INTER! algumas coisas. Apontou SÉRIE B, EEEEE! com as mãos para os dois lados. Dicas, será? 0' Gremistada, corneta é sempre bom. Mas sempre com amizade! Fica sempre o pedido de #PazNosEstádios! 17 0' 0' 1º TEMPO 1’ 2’ 3’ 4’ 5’ 6’ 7’ 8’ 9’ 10’ Uol Esporte Gremista GZH Renato do povo, Renato da gente, Renato Gaúcho, Renato Portaluppi! VAMOS, GRÊMIO!Vamos para o jogo! O Grêmio começa o Gre-Nal atacando para o gol que fica em frente à Geral, à esquerda das cabines. Colorado GZH Começa o jogo! COMEÇA O GRE-NAL! Bola Bola rolando para Grêmio x com o Grêmio! Inter! VAMO, INTER! 1º TEMPO 1º TEMPO 1º TEMPO Saída do Grêmio! Jogo começa disputado no meio de campo. E o time de Segunda Divisão já começa batendo no Pedro Rocha... Vai ser isso aí a tarde toda, pelo jeito. Agora Michel devolve a gentileza e faz a falta no chiliquento do Binter. QUE ISSO? Não foi nada. Levanta Pedro Rocha. Charles deu uma chegadinha e tu já te jogou? Derrubaram o capitão. Segurem essa patinha aí, turminha do pijama! Grêmio troca passes em direção ao ataque, mas defesa do Internacional aperta a marcação. A bola por enquanto é só do Tricolor, que busca os espaços e acua o time de Série B. Grêmio encontra espaço pelo lado esquerdo e vai para cima do rival. Ramiro, cada vez mais mestre, interrompe a tentativa deles e começa a trabalhar o ataque. Pedro Rocha invade a grande área, Paulão chega de carrinho e jogador do Grêmio fica no chão. Time mandante pede pênalti, mas o árbitro marca escanteio. Olha o senhor Leandro Vuaden aparecendo! Pedro Rocha tomou um carrinho de Paulão e caiu, mas o árbitro deu apenas escanteio. E foi MUITO pênalti! Inter troca passes com Carlinhos, Paulão, Léo Ortiz. Busca espaços para avançar o círculo central. ÊÊÊ!!!!!!! VAMOOOOOOOO, PAULÃO! É ESCANTEIO. Nosso zagueiro deu o bote na bola que estava com Pedro Rocha. Na cobrança de escanteio, Internacional retoma a posse da bola. O escanteio parou nas mãos do goleiro... bem, o trabalho da FGF já começou! Mas tudo bem, é sempre assim. O time de Segunda Divisão precisa de um árbitro de primeira para tentar algo. Vamos superar, como sempre, contra tudo e contra todos! Vamos, Tricolor! Não quero grito, não quero chilique da turminha do pijama. Foi lance legal, HABILIDADE PURA DE PAULÃO! Equipes disputam a posse de bola no meio de campo. Marcelo Oliveira agora coloca a Arena abaixo com um balãozinho no tal do "príncipe"! Pedro Rocha é acionado no ataque, mas defesa do Internacional intercepta. O Grêmio é muito grande, caras. Vai ser uma lavada esse Gre-Nal! Vamos nessa, Tricolor! Não vi nada. Um volantezinho de meio metro se jogou quase na linha lateral. Levanta que não foi nada. Jogo volta a ficar concentrado na faixa central do campo. Príncipe Charles para William, era uma jogada com potencial e típico de realeza. Mas paramos no caminho. Grêmio troca passes no campo de ataque. Bolaños arrisca chute de longe e Danilo Fernandes faz segura defesa. Michel, que ficou com a bucha de substituir o capitão Maicon, está muito bem no jogo até agora. Isso aí, guri! Eles tão caçando. O zagueirinho novo agora bateu no Luan. Marcelo Oliveira ajuda a criar mais fantasmas da B com outro lençol. Tá voando! Tavam brincando, tocando bola dali para cá, e Ortiz acabou com a festa! BORA, INTER! Bolaños avançou pela direita e bateu desviado, para defesa do goleiro. Boa tentativa do Killer. ah é? Bolaños tá achando que aqui é o goleiro do time dele? Bateu de longe, de fora da área, pela meiadireita. Danilo, brilhantemente, nem se abalou! Defendeu sem risco. 18 Uol Esporte Gremista GZH Colorado GZH 11’ 12’ Luan deixa Ramiro cara a UHHH! Luan fez grande Sorte que tem perninha cara com o gol, mas não jogada pelo meio e lançou curta. O volante, aquele que domina bem e Danilo Ramiro dentro da área, e mais parece um pintor de Fernandes fica com a bola. por pouco o volante não rodapé, estava na nossa desviou para o gol! pequena área e tentou mandar por cima de Danilo. Sem chance. Aqui é Danilo, ok? 13’ Internacional tem a posse de bola no seu campo de ataque. AH, tão com medo dos balõezinhos do Príncipe, né? Rolou o desespero quando Charles levantou a bola! 14’ Internacional insiste pelo Agora Kannemann dividiu Mimimi do zagueirinho lado esquerdo de ataque. no meio e caiu em cima do argentino do time de ombro. Os médicos foram pijamas. para o atendimento, mas ninguém para este homem maravilhoso! VAMOS, GRÊMIO! 15’ D’Alessandro chega firme Agora acertaram o capitão Agora, o Gelomel caiu. em disputa de bola, e árbitro Dom Pedro Geromito, com Brenner subiu junto com ele marca a falta. um cotovelaço nas costas. pra mostrar que aqui é Inter. Pelo jeito, é MMA. 16’ Michel solta a bomba da Agora o chiliquento acertou VIRAM? PAPAI VOLTOU. E entrada da grande área, e o Jailson. Óbvio que a mostrou pro Jaílson que bola bate em zagueiro. arbitragem não deu cartão aqui não é brinquedo. para o seu parceiro de apito, Gostando de ver nosso né... capitão marcando, correndo, dando carrinho. 17’ Brenner tenta sair em contra-ataque mas sofre falta de Ramiro. E O CARTÃO? O volantezinho de meio metro deu uma entrada forte no Brenner Gol. Que isso? 18’ Vuaden? Tá dormindo? 19’ D’Alessandro cruza da Eles chegaram pela primeira UHHHHHH! PAPAI VOLTOU esquerda e bola vai direto vez. O castelhano lá tentou e cruzou na área agora. nas mãos de Grohe. o cruzamento, mas o Ficou nas mãos do goleiro Paredão Marcelo Grohe fez deles, mas chegamos. bem a defesa. 20’ Cartão amarelo para Michel Michel leva cartão amarelo TINHA QUE SER por falta em D’Alessandro. por falta providencial no EXPULSO! Vuaden aplicou meio de campo. o cartão amarelo para um boneco de pijama que juntou o PAPAI. D'Ale reclamou e com razão. 21’ Internacional tem chance dentro da grande área, mas defesa afasta. 22’ GOOOL DO GRÊMIO! GOL GOL GOL GOL Ah, não. Gol deles. Contra-ataque, Pedro GOOOOOL DO GRÊMIO! Rocha toca para Bolaños, MILLER THE KILLER na área, bater de primeira. BOLAÑOS! QUE CONTRA- ATAQUE MARAVILHOSO! Depois de uma jogada perigosa deles, a bola parou no Pedro Rocha, que deu um passe primoroso para Miller the Killer chutar no ângulo! AONDE ESTÃO? NINGUÉM OS VÊ! 23’ Internacional toca a bola no Bolaños faz o primeiro gol O rapaz que se estranhou seu campo de ataque. de um equatoriano na com William certa vez história dos clássicos! recebeu entre nossos zagueiros e chutou por cima da nossa muralha, sem chances para o Danilo. 24’ Bolaños cruza na área, Esse baile vai longe! Vamos Michel desvia de cabeça à dançar que a Ivete tá aí: esquerda do gol de Danilo ARERÊ... Fernandes. 19 Uol Esporte Gremista GZH Colorado GZH 25’ Rodrigo Dourado e Léo UHHHH! Grande jogada! Nossa zaga dormiu, não é Ortiz se desentendem, e Bolaños chegou pela direita possível. ACORDEM, D’Alessandro acalma os e cruzou na cabeça de ORTIZ E PAULÃO! D'Ale ânimos. Michel, livre na área, mas a acabou com a discussão de conclusão foi pela esquerda Dourado. do gol! 26’ Marcelo Oliveira recebe de Agora é Pedro Rocha quem Bolaños, tenta de voleio dá o chapéu, no volante mas bate pra fora. deles. E óbvio, tomou falta. 27’ Grêmio tenta surpreender o Que coisa linda é o ataque UHHH! William conseguiu Internacional nos do Grêmio! Bolaños foi para cruzar para área, mas o contragolpes. a esquerda e lançou zagueirinho argentino Marcelo Oliveira dentro da mandou pela linha de fundo. área, mas o chute foi por É escanteio. cima! 28’ Bolaños recebe o cartão O que o senhor Leandro O pessoal do pijama amarelo por reclamação. Vuaden fez agora???? reclamando da arbitragem. Só o que faltava, tudo normal. Tudo contra eles sempre. 29’ Grêmio tinha vantagem, Bolaños leva amarelo não mas o árbitro para o jogo e sei muito bem por que. marca falta para o time Explica o Diori Vasconcelos mandante. que é porque ele estava impedido em um lance em que levava vantagem após falta em Luan. Juiz deu a falta... ok, né. 30’ Agora eles chegaram em Vem, Inter. PAPAI D'Ale boa jogada, mas o chute puxa o ataque, mas aciona saiu longe do gol, sem Carlinhos, que chutou por nenhum perigo para o cima. Grohe. 31’ Cartão amarelo para Léo Detalhe sobre o lance em Não concordo, mas Vuaden Ortiz por falta de Bolaños. que o Grêmio sofreu falta e amarelou o Léo Ortiz. Bolaños levou amarelo: não Vamos em frente. havia impedimento na jogada porque a bola veio deles. Valeu, Vuaden. Dois prejuízos já na conta. 32’ Bolaños se desentende com Léo Ortiz leva amarelo por AI, DEUS. Clima esquentou. Charles. Confusão em dar um bico no Bolaños. O rapazinho aquele que não campo. Que fiasquento esse time de se fecha muito com William Segunda… Aí na sequência cobrou de Charles e quem rolou uma troca de carinhos tira as caras é o nosso do Bolaños com aquele lateral-direito (não é lateral de cotovelos altos. remember!). Eles estão descontrolados. 33’ Após confusão, Grêmio tem A cobrança de falta não deu Tudo resolvido, vamos em cobrança de falta. Ramiro em nada, pois a arbitragem frente. lança Geromel, mas o finalmente acertou um árbitro flagra impedimento. lance: Geromel estava impedido. 34’ No lance da confusão, Charles recebeu o cartão amarelo. 35’ Agora o atacante fala fina deles tentou provocar Ramiro, mas não conseguiu. Aqui não, meu amigo! 36’ Grêmio avança pelo lado direito de ataque e Internacional aperta a marcação. Se eu der uma desaparecida é porque a tensão tomou conta. Precisamos de um gol, Inter. 37’ Internacional desce ao Boa jogada do Ramirinho campo do rival, mas Léo pela direita, mas o Moura afasta pela lateral. cruzamento foi desviado, e a bola ficou com o goleiro deles. 38’ Charles, sozinho, perde a Luan fez boa jogada e Tá de brincadeira comigo. bola e Grêmio contra-ataca. chutou em cima da zaga na Príncipe comandava a tentativa de conclusão. jogada e... escorregou. 20 39’ 40’ 41’ 42’ 43’ 44’ 45’ 46’ 47’ 48’ INTERVALO 0’ 2º TEMPO 1’ 2’ 3’ 4’ 5’ Uol Esporte Bolaños troca passes com Léo Moura e tenta uma bicicleta dentro da grande área. Tiro de meta para o Internacional. UUHH! Pressão do Inter. Carlinhos chuta de longe, Marcelo Grohe espalma e salva o Grêmio. Gremista GZH Colorado GZH UHHHHH! Agora Leo Moura voou pela direita e combinou com Bolaños. No cruzamento, o equatoriano mandou de BIKE, mas saiu desviado o chute. AH, NÃO, NÃO, NÃO. Vamos chamar o William, Bolaños! Não te bobeia. Tentou um gol de bicicleta. Recebeu dentro da área e armou. Ortiz tirou. Eles tentaram chegar agora e vieram cheios de graça, mas os chutes não deram em nada. Pressão é nossa. Tentativa de chute de fora da área, de tudo que é jeito. Mas não tivemos sucesso. Internacional mantém a posse da bola no seu campo de ataque. Grêmio recupera a bola e vai para cima do rival. Agora pegaram o Luan. Estão tentando quebrar alguém, pelo jeito... POR POUCO! Bolaños chuta de fora da grande área e bola sai à esquerda do gol de Danilo Fernandes. UHHHH! Bolaños aproveitou o erro e chutou pertinho do gol! Quase ampliamos! Quero que vá para o intervalo de uma vez! Parei de narrar, parei de falar porque tá difícil, amigos. O árbitro sinaliza três minutos de acréscimo. BOA, EL DORADÓN! PRECISO E MUITO EFICIENTE! Desarme espetacular, na bola, dentro da área! Vamos, no contraataque, Inter. Carlinhos cruza da esquerda e bola sai direto pela linha de fundo. Mais uma vez eles tentam chegar, mas não é à toa que estão na Série B. As jogadas de ataque não têm perigo nenhum. PAPAI D'Ale acionou Carlinhos na esquerda, que cruzou direto para a linha de fundo. Grêmio tenta ir para o ataque no minuto final da etapa. Fim de papo no primeiro tempo. Por enquanto, dá a lógica: Grêmio 1x0 no time de segundona. Fim de primeiro tempo! INTERVALO Grêmio soube aproveitar melhor os lances de ataque e vence parcialmente o Internacional. INTERVALO Vai começar o segundo tempo. Times de volta. Começa o segundo tempo! Saída de bola com eles. Vamos, Grêmio! 2º TEMPO 2º TEMPO INTERVALO Bola rolando para o segundo tempo. Pra cima deles, Inter! Lembrando que temos duas alterações: entram Nico e Roberson, saem Charles e Carlos. 2º TEMPO Saída do Internacional! Geromel sofre falta no meio de campo. Pegaram o Geromel de novo. A tática deles é essa. Internacional vai ao ataque pelo lado esquerdo, mas defesa do Grêmio desarma. O jogo começou em um ritmo mais lento neste segundo tempo. Vamos lá, Tricolor! AH NÃO! Inter tentava pela esquerda, com Uendel. Mas nada feito. Que tensão esse jogo, amigos! Grêmio sai em contraataque. Remiro domina dentro da grande área, toca para o lado e defesa do Internacional afasta o perigo. Boa tentativa do Grêmio, que cercou a área deles e chegou bem, mas não houve conclusão. SAI DAÍ! O volantezinho de meia altura tentava cruzamento dentro da nossa área, mas Ortiz tirou. Equipes disputam a posse da bola no meio de campo. Agora tivemos uma boa falta para cobrar, mas a zaga de segunda afastou. Falta para o Grêmio. Na cobrança, Internacional recupera a bola e avança para o campo rival. Uhhh... Luan recebeu ainda no campo de defesa e tentou o lançamento para Pedro Rocha, mas a bola foi muito longe. Boa jogada, Tricolor! Teve falta que só o Vuaden viu. O talibã de pijama, aquele que fica ali na lateral esquerda, foi encostado pelo William e despencou. Levanta que não foi nada. 21 Uol Esporte Gremista GZH Colorado GZH 6’ Grêmio sai jogando pela O atacante uruguaio do DANILO, DANILO! Eles esquerda, mas time do Binter chutou mascado, e tentavam pela esquerda, Internacional aperta a Grohe fez a defesa com mas o lançamento foi muito marcação. tranquilidade. forte. 7’ Nico López faz jogada de Geromel, um homem tão ataque sem sucesso. mito que até amarra a chuteira do Grohe! VAMOS, GRÊMIO! 8’ Grêmio troca passes com tranquilidade e tenta envolver time do Internacional. 9’ Marcelo Oliveira recebe na Que grande jogada do Talibã de pijama chutou de entrada da grande área e Grêmio. A bola rodou o fora da área, óbvio que não chuta de primeira. Tiro de campo todo e chegou no deu em nada! meta para o Internacional. Luan, pela esquerda, que deixou para a conclusão do Marcelo Oliveira. O chute saiu sem direção, no entanto. 10’ GOOOL DO Gol deles. RoBerson. GOOOOOOOOOOOOOOLL INTERNACIONAL! DO INTER! Roberson tabela com ROBERSHOWWWWWWW! Brenner na grande área e deixa tudo igual. 11’ Internacional toca a bola no A zaga dormiu nessa. QUE COISA LINDA! TEVE seu campo de ataque. Demos todo o espaço do TROCA DE PASSES, mundo no meio e a bola BRENNER AJEITOU E caiu no atacante traidor de ROBERSHOW MANDOU, 2009, que chutou no canto CHEIO DE CATEGORIA, do Grohe. PARA O GOL! 12’ GOOOL DO Gol deles. Chega de brincar, GOOOOOOL DO INTER! INTERNACIONAL! Brenner Grêmio. Brenner. O time de COM DIREITO A VIRA- recebe de frente para o gol segunda tá empolgado VIRA! BRENNEEEEER! e bate na saída do goleiro. agora. É sábado, acho que já estão se acostumando a jogar neste dia para a sequência do ano… Vamos acordar, Tricolor! 13’ Internacional vira o jogo em dois minutos. MEU DEUSSSSS, QUE COISA MARAVILHOSA! 14’ Cartão amarelo para Luan É hora de reagir! E com PAPAI D'Ale entrou no jogo, após confusão em campo. Lucas Barrios, que faz sua que acionou Uendel. estreia! Bem-vindo, homem- Brenner recebeu e gol! MANDOU PARA O FUNDO DA REDE DESSE GOLEIRINHO DE BOTÃO! 15’ O mesmo para Nico López. Deu um quiprocó no meio e Teve confusão, mas não dois jogadores levaram consigo narrar para vocês! cartão amarelo. Luan pelo CADÊ ESSA TORCIDINHA Grêmio… E Nico López pelo QUE NEM ESTÁDIO TEM? Inter. CADÊ, NÃO OUÇO NINGUÉM! 16’ Sai Pedro Rocha, entra Grêmio: alô, Grêmio. Vamos Troca no time de pijamas. Barrios. acordar. Não dá para deixar Entrou um argentino, que esse time de Segunda não é mais argentino, que categoria se criar. virou paraguaio, que defendeu o Palmeiras e, coitado, agora tá aí. 17’ Grêmio troca passes no UHHHHH! Barrios, na sua Teve amarelo para o Nico, campo de ataque. Torcida primeira jogada! Bolaños mas não vi nada. incentiva o time na Arena. cruzou e o paraguaio desviou de cabeça, mas o goleiro defendeu. Quase! 18’ Internacional recua ao Eles estão retrancados Amarelo para o rapaz campo de defesa e aguarda agora. Vamos ter que ir pra aquele que só cai e acha chance para contra-atacar. cima, Grêmio! que é amigo do Neymar. 19’ Grêmio insiste pelo lado Escanteio para o Grêmio. VAI, VAI NO CONTRA- direito e ganha escanteio. Na troca de passes, é ATAQUE, PAPAI D'ALE! Na cobrança de Ramiro, possível chegar no gol. UHHHH, QUASE, QUASE, Geromel cai na grande área Vamos lá! Mais um pênalti zaguinha de pijamas se e o árbitro manda o jogo não marcado, agora em assustou. seguir. Geromel, no escanteio. 22 Uol Esporte Gremista GZH Colorado GZH 20’ Contra-ataque do Geromel toma amarelo por Cartão amarelo para o Internacional, mas defesa falta em Brenner na Gelomel. Puxou o Brenner. intercepta. Em seguida, falta intermediária. Justo, tá certo, Vuaden! de Geromel e cartão para o zagueiro. 21’ Falta a favor do Fernandinho vem aí. E aí UHHH! Teve cobrança de Internacional. Na cobrança, eles tremem quando falta, mas Roberson não tiro de meta para o Grêmio. lembram do 5 a 0! conseguiu completar para o gol. 22’ Sai Michel, entra Fernandinho entra no lugar Fernandinho. Começa a de Michel. Vamos lá, chover na Arena do Grêmio. Grêmio! 23’ GOOOL DO GRÊMIO! GOL GOL GOL GOOOL! Ah, não. Gol deles. Fernandinho chuta forte de FERNANDINHO NELES! fora da área e iguala o placar. 24’ TU É HOMEM GRE-NAL, O desgraça que tava no FERNANDINHO! Recebeu banco até agora entrou e, na entrada da área, cortou e de fora da área, chutou. Tá chutou muito forte! O tal do de aniversário, só pode. goleiro deles tomou um frangaço! AONDE ESTÃO? NINGUÉM OS VÊ! 25’ Sai Brenner, entra Anselmo. Última mexida deles. Entra Anselmo no lugar de Brenner. Falta boa para o Grêmio cobrar. 26’ Cai o mundo neste momento na Arena OAS. 27’ Chuva forte na Arena do Mas a falta não deu em Troca no Inter: sai Brenner, Grêmio. nada. E chove muito agora entra Anselmo. na Arena. Vamos virar, Tricolor! 28’ Fernandinho lança Uendel mas bola sai direto pela linha de fundo. EITAAA! ROBERSHOW desarmou gelomel! 29’ Cartão amarelo para Anselmo levou amarelo por Adivinhem? Anselmo levou Anselmo. dar uma porrada no amarelo! hahaha que Bolaños. Eles continuam dúvida, né? batendo... vieram só para isso. 30’ Jogo é disputado na Arena. Equipes oscilam as jogadas no campo de ataque. 31’ Torcida incentiva o Grêmio. Em campo, equipe da casa tenta jogada da esquerda mas bola sai pela linha de fundo. 32’ Após boa troca de passes GEROMEL! Grande jogada UHHHHH! PAPAI D'ALE na grande área, Geromel do melhor zagueiro do estava na área, e ia mandar intercepta e afasta o perigo. Brasil! Travou o uruguaio para o gol, mas foi deles na hora H! desarmado! Quase, quase! Queremos mais uma viradaaaaa! VAMO, INTER! 33’ Escanteio pra nós! VAMO, QUEREMOS MAIS UMA VIRADA! Dourado subiu mais alto, cabeceou e a zaga dos pijamas evitou que a bola fosse pela linha de fundo. 34’ Ramiro arrisca de fora da Uhhh... Ramiro recebeu no MINHA MÃE ETERNA! Bola área, e bola bate em meio e arriscou contra o lá e cá, Danilo se enrolou no Paulão. goleirinho de patê deles, chute do volantezinho de mas a bola explodiu em meio metro. Teve escanteio, alguém no meio do mas nosso goleiro segurou caminho. firme! 23 Uol Esporte Gremista GZH Colorado GZH 35’ Danilo Fernandes afasta O goleiro deles tá fora do ar. mal e cede escanteio ao Vamos aproveitar! Quase Grêmio. que ele entregou os tacos para o Barrios! Escanteio para o Grêmio. 36’ Luan levanta na área e Danilo Fernandes faz segura defesa. 37’ Sai Jailson, entra Lincoln. Entra Lincoln no lugar de Não foi nada. Derrubaram o Jailson! Boa, Renato! gurizinho com nome de Vamos para cima! filósofo do time dos pijamas. 38’ Grêmio vai para cima e Lincoln entrou e já VAMOOOOOO! LÉO ORTIZ tenta pressão contra o rival. conseguiu um escanteio. Na MANDOU PELA LINHA DE cobrança, Barrios se FUNDO UMA INVESTIDA antecipou à defesa, mas ADVERSÁRIA! cabeceou para fora. 45.903 pessoas na Arena. 39’ Luan encara marcação na esquerda e William o desarma. Que tensão esse jogo, amigos! 40’ UUHH! Bolaños tabela com Essa chuva dá um clima de É o Inter que troca passes Barrios e chuta da grande Ivete Sangalo, e não no campo de defesa. Mas área, mas bola sai à consigo parar de cantar perdeu, deu um presente esquerda do gol. “Arerê..." UHHHHHHH! para o aprendiz de filósofo. Bolaños, como tu perdeu esse gol? Aproveitamos o erro deles, e Barrios fez um senhor passe para o Killer, mas o chute passou na frente do gol! 41’ Carlinhos fica no chão e recebe atendimento médico. MINHA MÃE ETERNA! William conseguiu perder a bola para o volantezinho de meio metro. Gerou contraataque, bola passou na frente do gol do Danilo. Sorte que ninguém tava ali. 42’ Anselmo bloqueia Anselmo fez falta em RoberSHOW tá caído. Fernandinho e comete falta Lincoln, mas por algum Volantezinho de meia altura na entrada da grande área. motivo não levou cartão. foi quem fez o crime. Talvez seja por que já tem amarelo? 43’ Na cobrança de Lincoln, Fernandinho foi para a Tem falta para o adversário. defesa afasta pela linha de cobrança, mas a bola Difícil, pela meia-direita. fundo. desviou na barreira e saiu em escanteio. 44’ No escanteio, defesa afasta Lincoln entrou muito bem no Ô, DERRUBARAM O PAPAI parcialmente e na jogo. Confio em ti, guri! D'ALE! Cadê cartão??? sequência D’Alessandro sofre falta. 45’ Paulão recebe o cartão Paulão leva cartão amarelo Cartão amarelo para o amarelo. por cera. O time pequeno Paulão. Será que foi por está contente com o conta do visual dele, que empate. Agora o chiliquento pintou de amarelo os levou amarelo por acertar o cabelos? Podia ser. Léo Moura. Teremos quatro minutos de acréscimos. É o suficiente. Vamos, Grêmio! 46’ Cartão amarelo para D’Alessandro por falta em Léo Moura. Cartão pro PAPAI D'ALE. Não sei o motivo, mas já não gosto. 47’ Grêmio vai para o ataque, Chegamos dentro da área, Teremos mais quatro apenas Marcelo Grohe está mas não conseguimos minutos. Acho que meu no campo de defesa. chutar. Acho que o time coração não aguenta! Minha cansou neste final. Nossa Senhora do Empate, eu fecho contigo! 48’ Grêmio tenta jogada no ataque no minuto final do jogo. FIM DE JOGO FIM DE JOGO Uhhhh... Luan recebeu na área, mas não conseguiu dominar. Agora temos escanteio. É a última chance! Vamos, Grêmio! FIM DE JOGO JESUS! Vem bola na área. Léo Ortiz tirou duas vezes! FIM DE JOGO 24 Uol Esporte Gremista GZH Colorado GZH Grêmio abriu o placar, mas o Internacional voltou melhor no segundo tempo e virou o jogo. Equipe da casa foi para cima e deixou tudo igual no clássico gaúcho. Fim de papo! Um bom GreNal, no fim das contas. Tudo igual no placar – mas nós vamos para a América, e não para a Série B, segundinos! Saudações tricolores a todos! Obrigado pela parceria, gremistada! ACABOU! FIM DE JOGO! Inter mostrou atitude! Vamos em frente, que o ano está só começando! PAPAI D'ALE agradeceu os torcedores! É demais um Gre-Nal com o nosso capitão de volta! 25